Prólogo
" Eu sei o quanto é dificil acordar e adormecer com o coração partido."
Myo começou a abrir os olhos lentamente, tentando se ajustar à luz que penetrava na sala. O último vestígio de memória da noite anterior a atingiu como um choque. Ela não costumava beber muito, mas havia exagerado no champanhe e agora sua cabeça latejava, cheia de confusão. Ao olhar ao redor, percebeu que não reconhecia o lugar onde estava. Um turbilhão de lembranças a invadiu e com um sobressalto assustado, se levantou da cama.
— Por Deus, não acredito que eu... — sussurrou, o coração disparando ao buscar com o olhar algo familiar. Foi então que seus olhos se fixaram em uma figura loira sentada em uma poltrona, observando-a com seriedade. Um arrepio percorreu seu corpo e ela segurou o lençol sobre sua nudez, encarando-o com uma mistura de tensão e medo. Antes que pudesse articular qualquer palavra, a voz rouca de Noah a interrompeu:
— Acho que você me deve explicações, Myo Kobayashi.
Os olhos dela se arregalaram e ela levou as mãos aos cabelos, percebendo que a peruca que usava na noite anterior não estava mais sobre sua cabeça. Sua cascata n***a-azulada agora caía livremente, cobrindo suas costas nuas. A expressão dele era intensa e ela ficou em silêncio, apenas o fitando.
— Vamos, Myo. Não acha que me deve satisfações? Por que você fingiu ser outra pessoa? Qual era a sua intenção?
Noah levantou-se e se aproximou, sua presença imponente a fazendo sentir-se pequena.
— Isso é alguma pegadinha? Ou foi um plano combinado com alguém? Quis rir da minha cara depois ou ter benefícios na empresa porque transou com o chefe? Responde, c*****o! — sua frustração era palpável.
Myo levou um momento para absorver tudo o que ele havia dito, respirando fundo antes de responder:
— Posso me vestir antes de conversarmos?
Noah soltou uma gargalhada irônica e cruzou os braços sobre o peito.
— E quem você será? Ayumi Kamata ou Myo Kobayashi?
A ironia nas palavras dele a atingiu e ela sentiu uma onda de emoções conflitantes. Noah estava lutando contra seus próprios sentimentos, sentindo-se traído e enganado. A noite passada havia sido uma das melhores de sua vida, e ele se permitira ser vulnerável com ela de uma forma que nunca havia feito antes, nem mesmo com Claire.
Myo suspirou, compreendendo a dor que ele estava sentindo. Fechou os olhos por um momento, e ao abri-los, disse com firmeza:
— Serei eu mesma.
O olhar de Noah se endureceu, e ele se aproximou ainda mais.
— Se troque. Estarei te esperando lá fora para conversarmos melhor.
Deu as costas e bateu a porta ao sair, deixando-a sozinha e angustiada.
Com as mãos nos olhos, Myo não conseguiu conter as lágrimas. O medo a consumia, não queria enfrentar aqueles olhos azuis novamente. As lembranças da noite anterior a invadiram. Como foi fazer amor com ele, como ele foi paciente e romântico. Agora, a ideia de misturar os sentimentos se tornava insuportável. Determinada a se recompor, levantou-se, tomou um banho rápido e se vestiu. Ao sair do quarto, buscou por Noah com os olhos. Ele estava sentado no sofá da sala, com o olhar perdido, como se estivesse tentando entender o que sentia. A confusão o consumia; sentia-se usado, enganado... e o pior de tudo, havia realmente gostado de fazer amor com ela.
— Fazer amor? O que há de errado com você? — pensou consigo mesmo. Ele tinha tido uma noite de sexo com uma mulher que m*l conhecia.
Quando viu Myo se aproximar, já sem a peruca e as lentes de contato, o coração dele disparou. O olhar dela, com aqueles olhos azuis, o deixou confuso. Por um momento, ele sentiu vontade de puxar aquele corpo delicado para si e beijar os lábios rosados que haviam sido tão intensamente explorados na noite anterior.
Myo sentou-se diante dele, a cabeça baixa e começou a falar:
— Sou muito amiga da Ayumi desde pequena. Ela sempre teve dificuldades em se livrar de seus pretendentes, e um dia, numa brincadeira... eu passei por ela. Foi na época da faculdade e...
Noah a observava atentamente, a expressão deles se intensificando.
— O resto da história você já sabe.
— Isso que vocês fazem… é muito sério, sabia? Por isso, Toshiro pediu para eu me afastar de você.
Noah suspirou, a frustração evidente em seu tom.
— Olha, Myo, vamos esquecer o que aconteceu na noite passada, foi um erro.
Myo levantou os olhos, encarando aqueles azuis que pareciam confusos e cheios de incerteza.
— Já que estamos sendo honestos um com o outro... — ele se aproximou, a voz mais suave agora. — Preciso que você mantenha essa farsa por mais um tempo.
— Mas Noah, eu...
— Escute, o que você tem a perder? Você sabe que colocou seu emprego em risco. — O tom de ameaça na voz dele a incomodou profundamente. — Basta você fingir ser minha namorada. Mas deve continuar sendo a Ayumi.
Myo levantou a cabeça, lutando contra a vontade de protestar. Não queria continuar vivendo como outra pessoa, mas compreendia que para Noah, namorar Ayumi era mais aceitável socialmente. Afinal, quem era a Kobayashi? Seu pai era um homem de renome nos Estados Unidos, mas estava no Japão.
— Não se preocupe, será apenas uma farsa, até que meu avô passe a empresa para mim. Depois disso, podemos acabar com essa mentira. E sobre ontem... — ele a olhou nos olhos, e o coração de Myo acelerou. — Espero que não tenha significado nada para você, assim como não significou nada para mim.
As palavras dele a atingiram como uma flecha e Myo sentiu seu coração despedaçar. Ele falava da boca para fora; a noite que haviam compartilhado significava muito mais para ela do que ele poderia imaginar. Era a primeira vez que se entregava a alguém e era orgulhosa demais para deixar transparecer sua mágoa. Com um esforço visível, colocou o melhor sorriso que conseguiu e respondeu:
— Não se preocupe, senhor Heinsen, não foi nada além de sexo!
Noah sentiu o peso de suas palavras, mas, no fundo, sabia que merecia ouvir aquilo.
— Agora que estamos claros, preciso ir. Ao contrário de você, eu tenho trabalho a fazer.
Se levantou e saiu da sala, com o coração apertado, deixando um loiro pensativo para trás.