Lorena A Madrugada amanhece por dentro antes que o céu se lembre do sol. É assim todas as noites: o concreto respira, a música acende o sangue, o círculo de metal no teto — a lua de aço — paira como promessa. Eu visto o vermelho como quem desenha um perímetro. Fendas calculadas, salto firme, perfume que não faz concessões. No espelho do camarim, a cicatriz no meu queixo é o travessão entre passado e agora. Pisco para mim mesma: “Bússola, não vitrine.” Deise surge com seus grampos de guerra. — Mesa três pediu sua presença quando você puder — informa, olhos atentos. — Gente nova. Cheiro de dinheiro velho. — Dinheiro velho costuma feder — respondo, prendendo o cabelo num coque que não cede com elogio. Pipa aparece na porta, alto e discreto. — Se precisar de “luz baixa”, um gesto com a mão

