Coragem

1024 Words
Os resultados dos exames da Sofia saíram na madrugada, eu estava acordada e vi o médico se aproximar. Sofia dormia tão profundamente que eu conseguia ouvir sua respiração expirando e inspirando várias vezes num minuto. Eu me levantei assim que ele chegou perto o suficiente. Sua expressão foi gentil o que acabou me transmitindo muita paz. — Como ela está, doutor? — Tudo indica que se trata apenas de uma gastroenterite. Mas preciso que ela fique aqui por pelo menos mais uma noite para ficarmos de olho nela. Eu respirei fundo aliviada. — Se for realmente o que pensamos, ela ficará 100% boa em até 7 dias. — Concluiu. Quando ele virou as costas, apressei meus passos até ele. — Doutor? — Chamei, quase num sussurro. Ele se virou para mim. — Pois não? — Por acaso você poderia me dizer quem era aquele rapaz que estava chorando hoje de manhã com um casaco de capuz no corredor? Ele franziu a testa. — Desculpe, senhorita, eu não diria nem se pudesse, são muitos pacientes, eu realmente não sei de quem você está falando. Mas por que? Conhece ele? Eu fiz que não com a cabeça. — Fiquei preocupada — Comentei. — Entendo. Me perdoe não conseguir ajudar, eu realmente não tenho controle de entrada, são muitos médicos, e muitos pacientes também. Quase todos eles se encaixam nesse perfil que você acabou de dizer.  — Tudo bem, eu entendo demais. Muito obrigada mesmo assim! — Falei, já morrendo de vergonha. Então ele foi embora, e eu voltei para o lado da Sofia até cair no sono. De manhã, contei a boa novidade a Sofia, sobre os exames. Ela se animou e seus olhinhos se encheram de lágrimas. Algumas poucas horas se passaram, resolvi me levantar, encher o peito de coragem e ir até o quarto onde eu havia encontrado o moço chorar. Me levantei com astúcia e marchei até lá. O rapaz estava com o mesmo capuz que antes, mas não chorava. Seu rosto estava borrado, não entendi bem por que. Me aproximei e toquei-lhe seu ombro, ele rolou seus olhos pelo meu corpo e levantou uma sobrancelha. Eu pigarreei. Talvez não tivesse sido uma boa ideia ter vindo. Resolvi fingir que não havia chamado sua atenção e retornar os passos, mas o rapaz já estava curioso. Então, fui pega pelo braço e aquele garoto olhou no fundo dos meus olhos. E aí... Eu despertei. Tudo não havia se passado de um sonho. Aquilo já estava me consumindo, quanto mais eu queria saber, mais isso fixava na minha mente como se fosse um certo tipo de obsessão. Estava tão curiosa sobre esse tal rapaz que perdi as ligações do Jasper e da mamãe. Retornei para ela, que não me atendeu, então liguei para Jasper que atendeu depois do 3⁰ toque. — Como estão as coisas? — Ele disse ao atender. — Bom dia. Está tudo bem, ele disse que ela estava com gastroenterite, mas que ficaria bem. — Já posso buscar você? Ou quer que eu leve sua mãe? Você precisa de um banho, comer, não sei... — Ela precisará ficar de observação esta noite, mas sim, se puder trazer a mamãe enquanto eu vou em casa tomar banho, iria ser muito bom... — Tudo bem, assim que eu conseguir falar com ela, te retorno, certo? — Ok — respondi e desliguei. Fui até a máquina de bebidas a fim de pegar uma para mim. Coloquei 1 dólar e naquele instante o suco apareceu na boca da máquina. Me abaixei para pegá-lo, e depois me viro para voltar. Me esbarrei com um corpo desconhecido, que parecia ser muito forte. Quando levantei o olhar, era ele. Ele tem os cabelos pretos, os olhos azuis, a barba para fazer, seu maxilar marcado e uma feição desconfiada. Quando eu percebi que fiquei o encarando, inclinei de novo a cabeça pra baixo e dei um passo ao lado. Ele não deu uma palavra. Seguiu em frente e colocou, assim como eu, 1 dólar na máquina. — Você está bem? Ok, me julgue. Esse não é o tipo de pergunta que se deve fazer. Eu concordo. Mas eu queria muito saber sobre ele. — Está falando comigo? — Falou, se virando para mim. Fiz que sim com a cabeça. — Por que? — Quis saber. Sabia que ele era desconfiado. — Eu... — Não queria ser intrometida, ou magoá-lo. — Eu vi você chorando. Ele virou o olhar pra mim e desviou novamente. — Estamos em um hospital, não estamos? — Desculpa — Respondi. — É a d***a de um câncer no cérebro! Quando eu ouvi ele anunciar essas palavras, senti que meu corpo todo paralisou, como se eu tivesse flutuando. Eu sentia como se conhecesse ele há anos, e isso de alguma forma me abalou. — O que? Ele não respondeu, como eu já previa. — Eu posso ajudar de alguma forma? — Você tem a cura do câncer? Dessa vez, eu quem não respondi. — Então não. — Ele disse, respondendo a minha pergunta. Eu nunca imaginei que sairia de uma conversa tão devastada como saí dessa, parecia que ele havia jogado meu coração no chão e o pisoteado. Eu achava que eu era muito forte, até ter essa conversa. Entrei no banheiro e comecei a chorar. Não podia chorar na frente da Sofia para ela pensar que estava piorando, ou até mesmo ficar preocupada comigo. Então depois que chorei no banheiro, me recompus, e voltei para o quarto, decidida que iria esquecer essa história. Um tempo se passou e minha mãe chegou ao hospital para trocar de lugar comigo enquanto eu tomaria um banho em casa e almoçaria. Quando ela me avistou, mesmo de longe abriu um sorriso e retirou os óculos de sol. — Oi, mãe! — Afirmei, a abraçando. — Olá, querida. Como está a Sofia? — Ela vai ficar bem... —  E você? Parece abatida. — Observou. Ela sempre conheceu muito bem minhas expressões. — Não é nada, só cansaço. — Certo, então vá para casa e descanse. Ela deu um sorriso e entrou na recepção. E eu vim embora com o coração machucado.
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