Micaela
— Aqui está. Digo ao advogado, colocando uma xícara de café na mesa onde eu o havia acomodado.
Felizmente, não havia muitos clientes quando ele chegou, então pude fechar assim que os últimos saíram.
— Obrigado, Srta. Finnley. Ele responde com um pequeno sorriso.
Apesar do meu medo, o rosto do homem parece amigável, e sei que ele lidará com o assunto com tato.
— O senhor não pode me dizer uma coisa antes que a minha mãe chegue? Pergunto, sentando-me à sua frente.
— Receio que não, senhorita. Ele balança a cabeça. — Não é nada ru*im. É tudo o que posso lhe dizer. Pelo contrário, acho que pode ser muito bom para o seu futuro e para este negócio.
Sinto-me desconcertada. Suspeito que esta seja uma situação bastante surreal, como se eu tivesse recebido uma herança ou alguém tivesse criado um fundo fiduciário para mim.
— Suponho que o meu pai tenha deixado algo para nós. Respondo. — Nesse caso, por que só agora? E, até onde eu sei, ele m*al pensava em fazer um testamento. Ele não tinha nem trinta anos quando morreu.
— Tenha paciência, senhorita. O advogado pousa a xícara e sorri para mim com condescendência.
Essas coisas me irritam. Odeio quando todos me tratam como se eu fosse uma coisa delicada prestes a explodir a qualquer momento. E eu sou. A cada minuto de cada dia, sei que corro o risco de um transbordamento emocional, mas odeio mesmo assim. Só a minha mãe e Íris entenderam que preciso do meu espaço, que preciso fazer mais do que ficar na cama.
O som da campainha me faz virar. É minha mãe, entrando apressada.
— Desculpe, eu estava visitando o meu tio. Diz ela ao advogado, estendendo a mão.
O homem pigarreia e cora um pouco. Eu entendo. A minha mãe é absolutamente linda e costuma chocar alguns homens quando olham para ela. Isso sempre deixava o meu pai com muito ciúme e mau-humor, mesmo que ele não quisesse admitir.
— Posso lhe oferecer algo para comer, se quiser. Ela acrescenta.
— Não, não, Sra. Finnley, estou bem assim. Ele responde. — Agora que vocês duas estão aqui, posso prosseguir com a minha tarefa, que é informá-las dos últimos desejos do Sr. Erick Finnley.
— Meu sogro? Ele morreu? Pergunta mamãe.
Eu não conheço esse homem. Só sei que ele é meu avô. Papai nunca me falou sobre ele, nem para o bem, nem para o m*al, mas mamãe me confidenciou, que quando ele tinha quinze anos e ela ficou grávida ele renunciou à família porque eles não a aceitavam.
— Sim, ele faleceu há alguns dias. Como não tinha outros parentes, decidiu deixar a sua fortuna nas mãos de...
— Espere, Theo tinha uma irmã. Interrompe mamãe. — Ela...
— Ela e a mãe morreram num acidente de carro há três anos. Diz o advogado, me deixando sem palavras. — Sem outros herdeiros, desde a morte do filho, ele decidiu deixar a sua fortuna para a neta, e para você, uma quantia bastante generosa por todos os seus...
— Não, eu não quero nada. Recruta mamãe. — Não posso aceitar, não porque o ressinta, já que ele não me fez nada, mas porque não tenho lugar em...
— Aceite como compensação pelos anos em que esteve casada com...
— Eu não me casei com Theo para receber herança. Eu o amava. Insiste a minha mãe, à beira das lágrimas.
Embora eu me sinta ainda mais devastada do que antes, coloco a mão na de mamãe para acalmá-la.
— Mãe, por favor. Imploro. — Não fique chateada.
— Filha, você tem direito a esse dinheiro, e eu respeitarei o seu desejo de recebê-lo, mas...
De repente, ela se cala, franzindo a testa. O advogado e eu esperamos pacientemente que ela fale novamente.
— Se eu não quiser o dinheiro, será que poderia ser criado um fundo fiduciário para os meus netos? Eu realmente não preciso...
— Você pode fazer o que quiser com o dinheiro. Ele concorda. — Embora você possa investi-lo e gerar mais lucro.
— Vamos pensar nisso. Interrompo. — Eu também não quero ter nada a ver com essa família. Meu avô nunca me procurou.
— Você precisa comparecer à leitura oficial do testamento. Pelo menos faça isso. Pede o advogado. — O último desejo do Sr. Finnley era que eu lhe contar agora, para que você tenha tempo de pensar. Oficializaremos quando você decidir.
— E não há mais ninguém que possa reivindicar a herança? Pergunta a minha mãe. — A última coisa que queremos...
— Não, Sra. Finnley, não há mais ninguém. O homem não tinha irmãos ou outros parentes.
Por um tempo depois que ele sai, nós duas ficamos sentadas, olhando para o vazio. Muitos pensamentos passam pela minha cabeça que não consigo entender, mas entre eles está Caio.
E se eu aceitar esse dinheiro e puder ser digna dele? Talvez, vendo que posso progredir, ele perceba que não precisa do pai e volte para mim. No fundo, sei que a ideia é horrível, mas preciso tanto dele que estou disposta a perdoá-lo por tudo. Os meus filhos merecem uma família completa.
— Quero ficar com o dinheiro. Murmuro. — Isso pode nos ajudar a progredir, a promover o negócio.
— Se você quer assim, eu respeito, querida. Diz mamãe, acariciando as minhas costas.
— Oi, meninas. Exclama Iris, entrando no salão. Mamãe e eu nos levantamos para cumprimentá-la. — Nossa, está tudo fechado. O que aconteceu?
Os seus olhos escuros percorrem o salão, curiosa.
— O pai do Theo morreu e deixou uma herança para a Micaela. Diz mamãe. Íris franze a testa. — Estamos apenas tentando decidir o que fazer.
Íris olha para nós duas com um sorriso atordoado, esperando que brinquemos. Quando percebe que não estamos, pigarreia.
— Então, o que você quer, querida? Ela pergunta. — Porque imagino que te deram uma parte maior.
— Se a mamãe concordar, eu quero fazer. Respondo. — Quero que esse negócio cresça.
— Acho que é uma excelente ideia. Concorda Íris. — Menininha, você merece o mundo inteiro depois de tudo o que aconteceu. Meu filho vai apodrecer no infe*rno por ter deixado você ir.
Eu não quero isso. Quero que ele fique comigo. Penso com tristeza.
— Detesto dizer isso, já que te amo e ele é seu filho, mas você tem razão. Responde mamãe, me abraçando pelos ombros. — Ele vai se arrepender.
— Filha, conte comigo para o que precisar. Oferece Íris, pegando as minhas mãos. — Na verdade, eu venho de uma agência de publicidade. Este negócio é bom, mas não estamos indo muito bem. Precisamos investir em publicidade.
— Sim, Íris, nos ajude. Pede mamãe. — Nós te pagaremos o que...
— Não, não, eu não quero nada. Interrompe a minha sogra. — Isso será para o futuro dos meus netos, a minha razão de viver. Eu sempre os apoiarei, ok? E o que aconteceu é maravilhoso. Eles merecem depois de tudo o que passaram. É um novo começo.
Concordo com a cabeça, sorrindo como não sorria há muito tempo. Finalmente, há uma nova esperança no meu coração.
Com isso, Caio precisa retornar à minha vida, e juntos teremos que trabalhar para dar tudo aos nossos bebês.