Micaela
A notícia da minha gravidez continua me motivando a sobreviver, mas cada dia que passa é mais difícil que o anterior, sabendo que Caio não queria saber, que não há como contactá-lo para avisá-lo. Tento não deixar a tristeza me atacar novamente como naquele dia, e não tentei nada desde então, embora às vezes pense e fantasie sobre isso.
A vida sem Caio é cinzenta, sem sentido e desprovida de qualquer alegria. Não importa o quanto os outros tentem me convencer de quão forte sou, de que o meu bebê trará à tona o melhor de mim, o meu coração e o meu cérebro simplesmente não conseguem processar a informação como uma pessoa corajosa faria.
Sem ele, não sou ninguém, não sou nada, e tenho quase certeza de que continuarei pensando assim até o último dia da minha vida. Só espero conseguir suportar toda essa dor até dar à luz e decidir o que farei. Não acho que consigo ser uma boa mãe, nem dar a ele todos os cuidados que ele ou ela precisa. Por mais amor que eu tenha no coração, também estou devastada, incapaz de ver a luz no fim do túnel.
— Filha, você está se sentindo m*al? Pergunta mamãe ao entrar na cozinha e ver o meu rosto. — Se o cheiro te enoja...
— Não, estou bem. Minto. — Você já abriu?
— Sim, mas acho que não virão clientes tão cedo. Ela responde. — Ainda são poucos, mas você verá que as coisas vão melhorar muito para nós com o tempo. Vamos superar isso.
— Sim, mãe, claro que sim. Dou a ela meu melhor sorriso antes de continuar com o ensopado que estou preparando.
Apesar da minha profunda tristeza, cozinho bem. Só imagino preparar algo para ele, como já fiz muitas vezes, e tudo fica delicioso.
Com as nossas economias — o dinheiro que mamãe passou meses juntando e o dinheiro que eu tinha na conta que Caio abriu para mim para que poupássemos até nos casarmos — conseguimos abrir um restaurante. Desde que o meu pai morreu, a minha mãe vende sobremesas e trabalha meio período num escritório de contabilidade, do qual ela agora se demitiu para se concentrar totalmente em cuidar de mim e colocar o nosso negócio em funcionamento. Ainda não podemos nos chamar de grandes empresárias, mas tenho a sensação de que isso vai decolar a qualquer momento, especialmente porque temos tudo em perfeita ordem graças ao meu primo, que está noivo da linda loira da casa ao lado.
— Você está mesmo bem, linda? Pauline me pergunta quando a minha mãe sai da cozinha. — Se quiser, posso terminar de cozinhar para você descansar.
— Não, não, estou bem.
— Você tem ultrassom à tarde, querida. Acho que o mais sensato seria...
— Não. Prefiro me manter ocupada, sinceramente. Respondo.
— A alegria do lugar chegou! Austin exclama, abrindo abruptamente as portas da cozinha. Elas se abrem, empurrando-o para fora.
— Meu Deus, eu vou mesmo me casar com ele? Pauline pergunta, rindo. — Ele é tão bobo.
— Mas ele te ama. Murmuro com um sorriso fraco que desaparece quase instantaneamente quando me lembro de que não sou mais amada. — Não há nada melhor do que saber que...
— Querida, não pense nisso. Ela diz, me abraçando pelos ombros. — Desculpe, eu não deveria ter dito aquelas coisas.
— Não, você não deveria. Diz Austin, entrando com a mão no nariz, onde a porta o atingiu. — Você não tem permissão para romper o noivado.
— Eu nunca romperia, passarinho. Ela responde, mandando um beijo para ele.
— Acho que você tem razão. É melhor eu descansar um pouco. Sussurro, desligando o fogão.
Eu amo esses dois, mas sinceramente não suporto ver casais apaixonados.
Mamãe não se importa que eu dê uma volta pelo lindo jardim da entrada, onde montamos mesas para quem prefere saborear a sua comida com vista para o lindo parque do outro lado da rua. A área é muito bonita, para falar a verdade. Investimos tudo no desenvolvimento deste negócio, que começou com uma boa quantia graças às minhas economias. Parte do meu orgulho não queria tocar nelas, mas acabei aceitando porque, afinal, é uma compensação para minha mãe por tudo o que ela fez por mim, e não posso deixar o meu bebê sem futuro.
Coloquei as mãos na barriga, suspirando tristemente. O que Caio teria feito se descobrisse?
Pego o meu celular e, movida pela curiosidade, procuro nas redes sociais dele. Não há nada. Onde há, está no noticiário, e tudo continua igual. Ele está feliz com a pessoa que ainda é a sua meia-irmã.
— Filha, você deveria parar de assistir isso. A minha mãe me diz, aproximando-se de mim. — Não é bom para você. Muito menos para o meu neto.
— Não consigo evitar, mãe. Digo com a voz trêmula. — Ele me amava tanto, como pôde parar de me amar?
Uma tontura me faz sentar. Mamãe, preocupada, me dá um copo de limonada fresca. É uma delícia, mas agora que ele se foi, não consigo aproveitar mais nada.
Minha mãe está arrasada, preocupada comigo durante as horas que esperamos para ir ao hospital, que fica perto. Durante o trajeto, não falo nada, o que ela respeita. Ela apenas segura a minha mão e sorri.
Por isso e muito mais, eu a amo. Ela me perdoou pelo meu comportamento desde que Caio foi embora e não guarda rancor de mim por isso.
— Bem-vinda. Diz o médico designado para minha consulta de gravidez. — Primeira gravidez?
Aceno fracamente. O obstetra me faz perguntas complementares que não tenho mais vergonha de responder na frente da mamãe, que não se incomoda com o que digo. Ela sempre soube que eu estava tendo uma vida ativa com Caio e que éramos responsáveis.
— Houve alguns deslizes com o anticoncepcional. Admito. — Não tomei a injeção no dia certo.
— Entendo. Então isso pode mudar um pouco o tempo de gravidez. Também é considerada a consulta do primeiro trimestre. Vamos ver se você está com 12 semanas.
Depois disso, me mandam trocar de roupa. Mamãe está muito animada, enquanto eu estou letárgica, sem saber o que vou ver. Até acho que não adianta nada se ele não estiver lá.
No entanto, mudo de ideia quando o médico começa a ultrassonografia e consigo ver o meu lindo bebê se formando dentro de mim. Mamãe e eu nos olhamos com lágrimas nos olhos e tanta emoção que o médico conteve um grito.
— Ai, meu Deus.
— Tem alguma coisa errada? Perguntei, muito assustada. — O que há de errado com o meu bebê?
— Está tudo bem com o bebê. É só que ele vem com uma grande surpresa.
Ele moveu o aparelho de ultrassom um pouco mais, e a minha boca quase se abriu até o chão.
— Isso significa...
— É isso mesmo, Micaela. Ele anunciou com um grande sorriso. — Você está esperando gêmeos.