— Isso deve ser suficiente — ouvi-o murmurar antes que me levantasse e abrisse a porta. Ele me conduziu para dentro, e cambaleei para me equilibrar quando meus calcanhares tocaram o chão.
Fui direcionada a um assento e reuni coragem para olhar para meu agressor. Ele não me era familiar, alguém que eu nunca tinha visto antes. Senti um aperto no estômago, a dor fez minha boca salivar e deixou um gosto metálico na língua. Minha visão estava um pouco turva e pequenas manchas brancas me atrapalhavam, mas consegui perceber que havia uma mulher sentada atrás de uma mesa. Não conseguia distinguir seu rosto ou a conversa que ela teve com o homem antes que ele saísse.
— Beba.
A palavra me sobressaltou e olhei para o rosto da mulher. Seus cabelos estavam presos em um coque loiro e seus olhos eram grandes e azuis. Vestindo uma saia lápis e uma blusa branca, ela estendeu uma garrafa de água para mim.
— O-o que...
— Não tente falar. Beba. — Ela insistiu, levando a garrafa aos meus lábios. O líquido tinha um gosto diferente do meu sangue na boca. Bebi, sentindo até isso me machucar.
— A reunião começará em breve. Você vai precisar de... — Ela hesitou, pegando a garrafa vazia de mim. — Ajuda.
— Obrigada — murmurei.
— Desculpe — ela disse antes de ir até a lixeira perto da porta e desaparecer em um corredor.
Por que ela estava arrependida? Ela sabia que eu tinha sido sequestrada? Ou era por ter me machucado? Ironizei comigo mesma por desejar que um soco no rosto fosse a pior coisa que poderia ter me acontecido. Fui nocauteada e ainda me sentia como um animal preso em um zoológico.
Conseguia sentir meu rosto inchado no lado que bateu no chão. Pressionei a mão na bochecha. Estava quente, latejando. Eu devia estar horrível. Só podia imaginar o quão irreconhecível meus ferimentos me fizeram.
O que Luke pensaria?
Não tive tempo para pensar, pois a mulher voltou com dois homens que me levantaram da cadeira e começaram a me levar em direção à sala de reuniões. Eu não conseguia andar direito, doía demais, e meus calcanhares apenas roçavam o chão enquanto eles suportavam meu peso.
Paramos em frente a uma porta, e a mulher a abriu. Se eu esperava exclamações de choque, fui recebida por um silêncio decepcionante. O olho que menos sentiu o impacto do ataque se voltou para Luke. Sua testa estava franzida, e se não fosse por isso, eu teria pensado que ele não estava surpreso em me ver assim.
Notei outra pessoa do outro lado da mesa. Josh. Seus ferimentos haviam cicatrizado. Ele parecia surpreso, mas não de uma forma que demonstrasse preocupação, mas sim como se tivesse sido pego de surpresa.
Eles me colocaram em uma cadeira e foram para o lado de Luke, enquanto ele se sentava na ponta da grande mesa redonda. A sala era uma sala de reuniões de negócios normal, mas eu podia sentir um arrepio na espinha, como se coisas terríveis tivessem acontecido ali.
— Como podem ver... levamos as dívidas muito a sério — disse Luke. Josh se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, seus olhos fixos em meu rosto machucado. Boas lembranças de nós invadiram minha mente e fui dominada pela vontade de chorar. Lamentar. Todos os momentos maravilhosos que eram mentiras e levaram a este momento. Este momento de traição.
O que ele tinha a dizer? Ele se desculparia? Imploraria por meu perdão?
Ele estava perturbado pela forma como meu olho estava quase fechado, ou pelo fato de meu cabelo estar coberto de sangue seco, ou por meu vestido estar rasgado?
Ele permaneceu em silêncio por um longo tempo, antes de desviar o olhar de mim e olhar para Luke. Ele se endireitou, como sempre fazia quando queria parecer mais confiante e maduro do que realmente era, e sorriu.
Ele sorriu.
O canalha sorriu.
Sentei-me ali, impotente, chocada com a expressão em seus lábios. Ele juntou os dedos e se recostou na cadeira.
— Então... — Josh deu de ombros. — Essa v***a não significa nada para mim.
Os seis meses que compartilhamos foram destruídos bem diante dos meus olhos, e eu deixei escapar um som. Não percebi que um ruído havia saído dos meus lábios até que os olhos de Luke se estreitaram em minha direção.
— Você pode fazer o que quiser com ela.
Eu não conseguia entender como ele podia ser tão frio com uma mulher que ele amava? Ou que eu pensava que ele amava. Se Luke ficou surpreso, eu não saberia dizer. Ele inclinou a cabeça e observou Josh, que engoliu em seco. Mais um sinal de que ele estava com medo. Medo da vida, medo do amor, medo do compromisso. Ele era um covarde, maior do que eu jamais seria. Se Margo testemunhasse este momento, ela quebraria suas pernas com um taco de beisebol.
— Eu estava esperando que você dissesse isso — Luke riu. Foi curto, rouco e perturbador. Não era o som que um amigo faria depois de uma piada engraçada, mas sim os barulhos de alguém que estava prestes a machucar outro ser humano.
— P-por quê? — Josh gaguejou. Os lábios de Luke se abriram em um sorriso.
— Porque agora a única forma de garantir o pagamento é causar dor. Eu poderia acabar com você, mas isso não me traria nenhum benefício — Luke estalou os dedos, a ação soando tão casual que me deu vontade de rir.
— Talvez devêssemos quebrar algum osso? — Ele jogou a ideia como se estivesse pensando em coberturas de pizza. O sorriso de Josh vacilou.
— Olha...
— Você já deixou isso perfeitamente claro — Luke se levantou. — Dou a você uma semana para pegar meu dinheiro — Ele arrumou a gravata e caminhou em direção a Josh. — Se você não tiver até lá, a cada dia de atraso, mandarei alguém quebrar alguma coisa sua.
— Q-quebrar alguma coisa?
— Talvez os dedos dos pés ou das mãos... isso parece divertido — disse ele. O rosto de Josh se contorceu em puro medo. — Mas até lá... — Luke fez um gesto com a cabeça para os dois homens que me trouxeram para a sala. Nenhum deles era o cara que me atacou.
Josh tentou afastar a cadeira da mesa e fugir, mas os homens o seguraram no lugar, mantendo as palmas das mãos apoiadas na mesa.
Luke pegou outra faca parecida com a que tinha no bolso na noite em que me disse para matá-lo, só que maior.
— Por favor... — Josh implorou.
— Vou levar uma lembrança — Luke disse antes de pressionar a lâmina no dedo de Josh e separá-lo de sua mão. Sangue jorrou do corte. Os gritos de Josh ecoaram no ar, mas eu sabia que ninguém viria.
Eu deveria estar sentindo dor. Chocada ao ver seu sangue e o quão c***l e psicopata Luke era. Meu reflexo na janela ao longo da parede me assustou, pois em vez de medo em meu rosto, como qualquer ser humano solidário e moral sentiria, algo mais tomou conta da minha expressão.
Eu estava sorrindo.