Olhei para o prédio com tristeza. Já não evocava a alegria de antes; a casa aconchegante que construí com Josh nos últimos seis meses parecia uma miragem.
Como as coisas poderiam dar certo?
Como alguém podia decidir, de repente, que você não era mais suficiente? Ao menos, ter a decência de terminar. Encolhi os joelhos contra o peito no banco do carro de Margo. Estávamos estacionadas em frente ao prédio há uns vinte minutos, e eu tentava reunir coragem para encará-lo.
— Acho que não consigo fazer isso. — A ideia de cruzar a porta da frente me causava repulsa, e meus olhos marejaram. Eu me sentia patética e desamparada.
Como sofrer por um homem que você não ama mais? Era a traição derradeira.
Margo fechou os olhos com força e massageou a testa. Eu sabia o quão difícil era para ela se conter; assim como eu, ela queria transformar Josh em um amontoado de carne e osso. Seus cílios tremeram antes de ela me encarar com firmeza.
— Escute. Você não precisa dele. É uma mulher talentosa e extrovertida, que pode e merece coisa melhor. Lembre-se, Jenna: você não é a culpada. É ele!
— Você tem razão.
— Tem certeza de que não quer que eu vá com você? — Ela insistiu. Empalideci ao imaginar os dois no mesmo cômodo, enquanto Margo fervia de raiva e balançava a cabeça.
— Tenho certeza. Você está certa. Eu consigo.
— Claro que consegue.
Suspirei, abri a porta e saí do carro. O céu nublado lançava uma sombra cinzenta sobre a cidade, e as calçadas estavam úmidas da chuva. Subi os degraus do prédio e atravessei a porta da frente. Nosso apartamento ficava no segundo andar e, à medida que subia as escadas, meu corpo se tensionava. Havia algo de errado, algo muito estranho.
A porta do apartamento estava arrombada. Entrei na sala e meus olhos se arregalaram diante do caos: móveis derrubados, vidros por todo o lado. Cacos estalaram sob meus pés enquanto eu me movia em direção ao quarto. Um rastro de sangue vinha do sofá e seguia até a porta. O que diabos tinha acontecido? Talvez a vizinha fosse psicótica, afinal.
— Josh? — , chamei, em voz baixa, enquanto girava a maçaneta. — Josh... onde você está?
Minha voz era um sussurro. Se quem havia feito aquilo ainda estivesse ali, não seria bom alertá-lo da minha presença.
Abri a porta do quarto, me preparando para o pior, e encontrei Josh caído no chão. Seu nariz e olhos estavam inchados de forma grotesca.
— Jenna... — ele sussurrou, estendendo a mão para mim.
— O que aconteceu aqui?
Uma crise de tosse o interrompeu, e ele se curvou, agarrando as costelas. A julgar pelos hematomas que se formavam, ele havia sido chutado.
— Quem fez isso? — insisti. Ele balançou a cabeça e se afastou.
— Não.
— Você tem que me dizer. Quem fez isso com você? Por favor, Josh — falei, impaciente. Ele era um i****a traidor, mas não merecia apanhar até quase morrer. Teria que lidar com as consequências de perder uma boa mulher.
— Não.
— Não? — exclamei, erguendo as mãos em frustração. — Que ótimo! Estou tentando ajudar você, Josh. Será que pode colaborar?
— Está... — ele grunhiu.
— Está...? — repeti. O que ele queria dizer? Estendi a mão. Estava me oferecendo algo? — O quê? Eu não sei o que 'está' significa.
— Ainda está... — ele gemeu, seguido por outra crise de tosse. Agarrou o peito e tossiu ruidosamente. Tentei disfarçar o horror, mas minha expressão vacilou quando meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu ao ver sangue escorrendo por seus lábios. Soltei um gemido e me abaixei ao lado dele.
— O quê?
Eu não conseguia entender o que ele dizia. Inclinei o ouvido perto de sua boca.
— Ainda está aqui... — ele sibilou, mas era tarde demais. A porta do quarto se abriu e um homem grande e corpulento entrou. Tinha cabelo curto e uma expressão dura no rosto. O medo me invadiu quando seus olhos se iluminaram em reconhecimento ao me ver.
— Achei a v***a. Ela está aqui! — gritou, antes de se lançar em minha direção. Desviei-me rapidamente e corri para a porta. De jeito nenhum ficaria ali para descobrir o que fariam comigo. Josh obviamente se metera em algo sujo, e eu não queria fazer parte disso. Finalmente estava livre dele, e lá vinha sua bagagem para reivindicar minha vida mais uma vez.
Antes que eu pudesse alcançar o sofá, fui agarrada. Minha cabeça bateu no chão. Gemei e coloquei a mão na cabeça, apenas para vê-la coberta de sangue.
— O que estão fazendo? — perguntei. — Por favor, não me machuquem.
Implorei enquanto outro homem, aquele para quem o brutamontes devia ter ligado, se aproximava.