— O que você está vestindo?
A surpresa com a observação de Luke quando entrei na sala de jantar era evidente. Seu tom continha um desgosto que me fez questionar minha escolha de roupa. Recuei ligeiramente e examinei a calça azul e a camisa marrom de manga comprida, tentando entender o problema. Todos ali pareciam menos formais do que ele, que sempre se apresentava impecável.
Naquele dia, ele usava um terno cinza, sob medida e de corte elegante. O contraste com seus cabelos escuros era notável. Seu olhar era penetrante enquanto se levantava. Dei um passo para trás, sentindo-me desconfortável sob seu escrutínio.
— Algum problema, senhor? — Perguntei, alisando a camisa. — Achei que estivesse apropriada.
Ele se aproximou, segurou meu braço e me conduziu de volta ao corredor. O aroma de sua colônia era inebriante.
O que estava acontecendo comigo? Balancei a cabeça e consegui dizer:
— E o seu café da manhã? — Gaguejei, sendo levada para o corredor. Ele não parecia ser alguém que ignora suas próprias regras. Ele apertou meu pulso, e senti uma leve corrente elétrica.
— Esqueça — Resmungou.
Ele abriu a porta do quarto e pediu que eu entrasse.
— Troque de roupa. Agora. — Um déjà vu. Em vez do desconforto, senti uma leve ansiedade, e meus dedos tremeram ao desabotoar a camisa. Luke examinou as peças no armário e escolheu um vestido cinza que ia até os joelhos.
Ele me entregou o vestido com um olhar sério enquanto eu tirava as calças. Vi seus olhos avaliarem minha silhueta antes de voltarem ao meu rosto. Ele pareceu engolir em seco, e o ar ficou carregado de uma intensidade estranha. Inquieta, saí das calças.
— Vista isso — Insistiu. Peguei o vestido, fechei o zíper e o vesti. Observei-o me seguir com o olhar, mas hesitei em perguntar o motivo.
Inclinei a cabeça enquanto ajeitava o vestido. Talvez fosse parte de algum plano? Agir com cortesia para me fazer ceder? Encarei-o.
Ele pegou um par de sapatos vermelhos e os colocou aos meus pés. Calcei-os.
— Senhor?
Ele permaneceu em silêncio.
— Pode fechar o zíper?
Virei-me, sentindo-me vulnerável. Seus dedos roçaram minhas costas, causando um arrepio. Não era natural sentir atração por alguém que complicava minha vida.
A sala estava silenciosa, exceto por minha respiração e o zíper sendo fechado.
— Não posso levá-la para uma reunião vestida assim — Murmurou.
— Uma reunião? Eu não sabia.
— Esta é especialmente importante. Você entenderá.
— E eu vou porque...? — Hesitei, esperando uma explicação.
— Vamos — Ordenou, saindo da sala. Segui-o, e mantive o olhar fixo em suas costas.
Um encontro? Uma reunião importante? Um certo pânico começou a crescer. Será que ele planejava me vender? Essa era a razão de tanta hospitalidade, e agora ele estava cansado. Eu seria vendida ao maior lance, como um objeto.
— Vai me vendar? — Perguntei.
Ouvi um leve riso de Luke, e ele abriu a porta, destrancando-a com certa dificuldade.
— Não estou preocupado.
— Por que não?
— Céus, Jenna, cale a boca!
Ele parou na porta e me encarou.
— Porque... — Sua mandíbula se contraiu. — Você poderia fugir... mas não vai.
— Eu...
— Já percebemos que você não é corajosa — Meu rosto se fechou. Para alguém que me conhecia há pouco tempo, ele parecia me julgar com convicção. Cruzei os braços.
— Posso surpreendê-lo — Afirmei. Um sorriso surgiu no canto de seus lábios antes de indicar um sedã preto do lado de fora.
— Vá.
— Você vem comigo?
— Não.
— Por que não?
— Preciso fazer uma parada. — Admitiu.
— Então... vou sozinha?
— Sim — Respondeu, lacônico. Com um gesto rápido, fui em direção aos degraus. Não olhei para Luke. Ele podia mudar de ideia sobre me deixar ir sozinha, e eu precisava de toda a ajuda possível para me livrar daquilo. Eu poderia encontrar uma delegacia ou um telefone.
Pelo menos eu estava vestida de forma apresentável. Isso podia fazer a diferença. Ou talvez me confundissem com outra pessoa.
Enquanto descia, o motorista abriu a porta traseira. Era um homem mais velho, e me agarrei à ideia de que poderia convencê-lo.
— Senhorita Martini.
— Obrigada — Murmurei, entrando no carro. Senti o cheiro forte do couro. Testei a maçaneta e notei que estava trancada.
— Droga — Praguejei.
— Disse algo, senhorita?
— Está tudo bem — Respondi. Ele não fez mais perguntas. Antes de partirmos, olhei para a porta, mas Luke havia desaparecido.
[...]
A viagem foi longa. Mais tempo do que eu esperava, e enquanto tentava continuamente abrir a porta, minha fé desapareceu com a medida em que os quilômetros aumentavam e avançávamos. Isso era inútil. Eu nunca mais veria Margo e não seria capaz de dar uma surra em Josh por me colocar nesta situação.
Pelo menos ele levou uma surra. Ser sequestrada e tratada como propriedade e quase estuprada é muito pior. Se eu pudesse trocar isso por um soco na cara, eu o faria. Senti falta da civilização. Seres humanos, com conversas de adultos e café gelado. Senti falta do jeito que Margo me provocava, dos fins de semana de bebedeira e de como ela conhecia cada palavra de Forrest Gump.
Esta não era mais uma vida que valesse a pena ser vivida, e se Luke estivesse me vendendo, eu não continuaria com ela. Eu não era forte o suficiente para suportar uma vida de sexo com um velho desprezível, que provavelmente me viciaria em drogas e me faria orgia com estranhos. Estranhos ricos. Essa realidade estava se estabelecendo. Se eu tivesse dinheiro, poderia me tirar dessa enrascada.
Paramos em frente a um prédio vazio. Nenhuma vida ou som emanava dele, e franzi as sobrancelhas com uma expressão confusa.
— Tem certeza de que este é o lugar?
O motorista sorriu educadamente.
— O Sr. Bianchi instruiu que você entre direto e espere por ele no saguão.
— Por que eu deveria?
O motorista não precisou responder. Ambos sabíamos que o meu destino não seria bom se eu desobedecesse. Luke tinha homens por todo lado, e talvez eles estivessem até me observando de dentro do prédio através das múltiplas janelas.
Depois de estacionar o carro, o motorista, que descobri se chamar Jameson, abriu minha porta. Ele apontou para uma porta na lateral do prédio.
— Está bem ali a entrada.
— E se estiver trancada?
— Não está. — Ele parecia tão certo, mas eu estava instável quando saí do carro. Jameson observou enquanto eu caminhava, com as pernas bambas em direção à porta.
Antes que meus dedos envolvessem a maçaneta para abrir a porta, fui puxada para trás e jogada contra o concreto. Eu gemi enquanto uma dor lancinante irradiava do meu ombro. Apertei os olhos para ver que me atacou, mas fui interrompida pelo chute nas costelas. O ar deixou meu corpo rapidamente e eu lutei para respirar. O homem era grande, mas seu rosto era um borrão quando ele me puxou do chão e me jogou na lateral do prédio. Meu vestido rasgou, bati minhas costas na parede de tijolos e deslizei contra ela, caindo no chão.
Minha cabeça latejava. Eu não conseguia respirar e implorei ao agressor que parasse.