Capítulo 2 - Michael Barreto

1077 Words
Se meu dia não estava um dos melhores, com certeza ia piorar no minuto seguinte. Avistei a Kelly encostada no meu carro no estacionamento do fórum onde eu tinha acabado de perder um caso importante. Merda! O que ela queria agora? Me aproximei devagar não deixando de notar como aquela garota estava arrumada. Não sei como ela conseguia estar sempre pronta como se estivesse indo para um desfile de modas. De longe notei as unhas postiças enormes, com um detalhe vermelho na ponta e um cristal em cada uma delas. Aquelas unhas às vezes me dava medo, outras vezes.... - Oi Kelly, pensei que tinha dito pra você me esperar no escritório. Ela abriu os lábios pintados de um rosa claro em um largo sorriso. - Você disse, mas eu estou com pressa. Imagino a pressa dela. Comprar uma roupa nova ou simplesmente desfilar no shopping com aqueles amigos delinquentes que ela tinha. - Com pressa? Para que mesmo? Ela cruzou os braços fazendo birra. - Eu tenho compromissos Michael. - Então porque não assume esses compromissos? O que eu mais tenho feito nesses último mês é resolver seus problemas Ela balançava a perna impaciente. Uma perna totalmente à mostra através do short branco curto e uma sandália da mesma cor de salto altíssimo. Alguém precisava parar aquela menina. - Então não resolva Michael, deixe que eu cuido dos meus problemas. Respirei fundo. - O que quer agora? A pressa é para que mesmo? - Eu preciso de dinheiro. Arquei a sobrancelha. - Dinheiro pra que? eu não te dei um cartão de crédito? Ela levantou as mãos rindo. - Um cartão com um limite que só da pra comprar uma blusa né Michael! - Compre uma blusa mais barata. - Nós vamos ficar conversando aqui no meio da rua? Abri a porta do carro e a encarei. - Entre, vamos para casa. Ela entrou resmungando. - Eu preciso resolver umas coisas, só quero meu dinheiro. Liguei o carro. - Em casa, conversaremos. - Na minha casa, você quer dizer não é? Parei e olhei firme para ela. - Você ainda não se acostumou Kelly? Eu agora sou seu tutor. Eu sou responsável por tudo que você faz. Ela bateu as mãos na perna. - E precisava se mudar pra minha casa? que inferno! Voltei minha atenção para a rua, dirigindo devagar. - Precisava. Você é um perigo ambulante Kelly Velasco, Alguém precisa ficar de olho em você. Ela foi calada até o casarão localizado em um bairro de luxo. Josué Velasco não economizou quando pensou em construir aquela mansão. Agora que ele tinha morrido e só restou a única filha eu me perguntava se não seria melhor ela vender aquela casa tão suntuosa e comprar uma apartamento. Era mais a cara dela. Manter uma casa daquelas custava dinheiro e tempo. Abri o portão e levei mais tempo para atravessar o jardim da casa do que para entrar e sair da garagem do meu prédio. Kelly esperou que eu parasse o carro e desceu marchando firme para a entrada da casa. Será que tinha sido uma boa ideia realmente ter me mudado para aquela casa? Com certeza não, mas eu não podia deixar aquela garota sem um pingo de juízo morando sozinha. Entrei atrás dela e subi as escadas. Ela entrou no quarto e se jogou na cama. Eu evitava entrar no quarto dela. Era uma forma de deixar que ela tivesse um pouco mais de privacidade, mas volta e meia isso era preciso. O quarto era típico de uma adolescente meio rebelde como ela: desarrumado e cheio de coisas espalhadas pela cama e pelo chão. O cheiro de perfume chegava a incomodar, mas era o cheiro típico dela. Eu já estava acostumado. - Deixa de birra Kelly, fala logo o que você quer. Ela cruzou as pernas. - Eu vou viajar para o Rio esse fim de semana. Mas não vai mesmo! - Viajar para o Rio? Pra que? - É aniversario da irmã do Diogo e ele me convidou. - Quem é Diogo? Ela respondeu distraída. - O cara que estou namorando. Como? - O cara que você... o que? Ela me encarou cinicamente. - Meu namorado. Coloquei as mãos na cintura. - Desde quando você tem namorado Kelly? Ela levantou e tirou a sandália. - Ora, eu preciso arrumar um marido não preciso? Estou começando a busca. Aquela garota ia me matar do coração se eu não mostrasse pra ela quem mandava ali. - Você não vai. Ela parou na minha frente de braços cruzados me desafiando. - Claro que eu vou. Não estou te pedindo permissão, estou pedindo meu dinheiro. Apontei o dedo para o rosto dela. - Eu não sou seu pai Kelly, que você fazia de gato e sapato. Ela apontou o dedo imitando meu gesto. - Ótimo, você não é meu pai, enfim você entendeu. Você não manda em mim. - Você não vai viajar sozinha com um cara que eu não conheço. - Você não tem que conhecer ninguém. O namorado é meu e não seu. Que vontade de apertar o pescoço daquela garota insolente e baixar aquele topete dela, nem que fosse por um misero minuto. Respirei fundo. - Kelly, vamos parar com essa briga, você não vai e pronto. Ela demorou alguns minutos calada e me olhou rindo suavemente. - Tá bom papai, eu não vou. Simples assim? - Como assim? - Eu não vou. Você disse não e eu não vou. - Ótimo. - Mas você pode aumentar o limite do meu cartão? Eu quero comprar um celular novo. - Tudo bem. Amanhã eu faço isso. Ela se virou e começou a tirar o short. Menina maluca! -Ei! O que está fazendo? Ela se voltou com a cara mais cínica do mundo. - Vou tomar banho, não posso tomar banho vestida não é? - Espere até eu sair do quarto! Ela chutou o short da minha direção e caminhou até o banheiro. - Pede uma pizza, estou com fome. Jesus! Com certeza aquela menina ia tirar minha sanidade. Peguei o short no chão e joguei em cima da cama. Fiquei alguns minutos parado tentando ordenar meus pensamentos. Calma Michael. Você vai conseguir domar essa fera. Bati a porta e fui em direção ao meu quarto. Sentei na cama e abri o celular no aplicativo de delivery. Eu já sabia o sabor que ela gostava. Eu só precisava aprender como lidar com o que eu gostava.
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