Sei que não deveria ter feito o que fiz, mas o Michael estava me tirando do sério. Eu tinha que mostrar pra ele que as coisas não podiam ser como ele queria. Ele não tinha o direito de mandar em mim daquele jeito.
Como ele não quis deixar que eu viesse para o Rio de boa vontade, eu tive que vim do meu jeito.
Ele realmente aumentou o limite do meu cartão e minha amiga Amanda fez o que eu precisava. Ela passou o cartão na loja da mãe dela e me deu o dinheiro.
- Kelly! O Michael vai te matar.
Eu tinha rido sacudindo os ombros.
- Problema dele, eu só fiz trocar meu próprio dinheiro. Não peguei nada de ninguém.
E agora eu estava ali no Rio na casa da irmã do Diogo e fingia não ver as trocentas mensagens que o Michael enviou para o eu celular. Na volta eu lidaria com ele.
O Diogo brincava com o sobrinho sentado no chão da sala e eu me perguntei se eu realmente queria namorar com ele. Ele era bonito. Não. Ele era lindo. Tinha 18 anos e estava se preparando para entrar na faculdade de medicina. Não que o Diogo fosse estudioso, mas o dinheiro dos pais dele podiam pagar qualquer faculdade que ele quisesse. O Michael disse que eu não casaria com um pobretão porque ele só ria querer meu dinheiro. O Diogo era rico, então ele não iria implicar. Tudo bem que a gente estava só começando a namorar, mas eu tinha pressa. Eu precisava arrumar um marido antes que o Michael resolvesse cumprir aquela determinação maluca do meu pai. Eu não podia casar com o Michael. Ele era como se fosse meu pai, ele praticamente me viu crescer, não fazia sentido eu me tornar mulher dele. Eu podia me casar com qualquer um e depois me separar. Era isso. Eu nem precisava gostar do Diogo. A gente poderia fazer um plano e depois cada um ia para seu lado.
- Oi Kelly.
Me assustei com a voz da Michele, irmã do Diogo, atrás de mim.
- Oi Michele.
Ela sorriu e acompanhou meu olhar em direção ao Diogo.
- E ai? Estão namorando mesmo?
Eu ri meio sem jeito.
- Não sei, acho que estamos.
Ela me olhou de alto a baixo.
- Vocês combinam. Os dois loirinhos, bonitinhos, riquinhos.
Eu ri com ela.
- Falando assim, parece que fica até meio sem sal e sem açúcar.
Ela deu uma gargalhada.
- E fica. O bom do amor é a diferença. O conflito.
Eu estava fugindo dessa diferença e desse conflito.
- Eu não acho não. Eu quero paz.
Ela me olhou incrédula.
- Credo garota! Toda história de amor que se preze tem que ter conflito.
A irmã do Diogo era uma moça de 25 anos que criava um filho sozinha e tinha feito fortuna como modelo. Ela era muito bonita.
- Então. A festa vai ser onde?
Entramos na sala e sentamos no chão ao lado do Diogo e do Mateus de 04 anos.
- Vamos a um restaurante bem chique daqui a pouco. O pessoa da agencia vai estar lá e eu vou receber um prêmio pela minha última campanha publicitária.
- Que maravilha! Se você quiser eu fico aqui com o Mateus e vocês podem ir.
- De jeito nenhum! Eu já contratei uma babá. Ela chega daqui a pouco.
- Tudo bem, então.
Diogo se virou pra mim sério.
- Seu papai já parou de mandar mensagens?
- Ele não é meu pai!
- Mas parece não é Kelly?
Respirei fundo irritada.
- Esquece o Michael, eu me acerto com ele quando eu voltar.
Levantei e fui para o quarto me arrumar.
Abri a mala em cima da cama e olhei a infinidade de roupas que eu tinha trazido.
Meu celular apitou de novo. Era mais uma mensagem do Michael.
Michael - Tudo bem garota, você acha que pode me passar para trás não é? Me aguarde.”
Mostrei a língua para o celular e o joguei em cima da cama.
Escolhi um conjunto de saia preta e blusa branca. A saia era rodada e curtinha e a blusa mostrava metade da minha barriga. Coloquei uma jaqueta de couro preta mais comprida para dar um toque mais sério à roupa e calcei tênis preto.
Me olhei no espelho. Eu era bonita. Como diziam as minhas amigas. Eu era uma verdadeira patricinha.
Verdade que eu tinha dinheiro para comprar muito luxo e eu seria hipócrita se dissesse que não gostava. Eu adora me arrumar com roupas caras e joias, mas eu não uma garota fútil como todo mundo achava. Eu só escondia bem por trás daquela fachada de garota impulsiva e volúvel. Não era pecado gostar de luxo. Meu pai era rico e eu podia aproveitar aquilo, mas todo mundo ficava me condenando. Eu tinha culpa de ter nascido rica.
Apenas ajeitei meu longo cabelo loiro com os dedos. Meu cabelo era fácil de arrumar. Era só lavar e sacudir e pronto, estava lindo.
Lembrei da Mônica, a namorada do Michael. Ela era loira também e tinha um cabelo perfeito. Aliás, ela toda era perfeita. Era modelo e era filha de um juiz amigo do meu pai. Ela e o Michael já namoravam fazia um tempo e ela já tinha ido com ele algumas vezes na minha casa, quando meu pai era vivo. Agora porém, depois que o Michael tinha se mudado pra lá, ela não tinha aparecido. Com certeza ela não estava gostando nada daquela história.
Ouvi batidas na porta e o Diogo apareceu vestido com uma calça preta desfiada e uma camisa de botão amarela.
- Uau! Você tá lindo.
Ele me olhou e deu um assovio.
- Você tá deslumbrante gata, vamos.
Na sala, a Michele estava estonteante em um vestido vermelho brilhante colado ao corpo.
- Diga ai se minha irmã não está show?
- Lindíssima.
Ela pegou a bolsa e se despediu do Mateus nos braços da moça que ficaria com ele.
- Vamos! vamos curtir a noitada galera.
***
O restaurante era perfeito e luxuoso. As pessoas super simpáticas e a comida muito gostosa, mas eu não consegui relaxar. Meu coração estava acelerado de um jeito estranho. Eu estava um pouco arrependida de ter vindo escondido do Michael.
Diogo percebeu minha inquietação.
- O que foi Kelly? Está tudo bem?
Tentei sorri pra ele.
- Sim, tudo bem.
Ele pegou minha mão.
- Então sorria garota!
Eu me forcei a entrar no clima da festa para não estragar o aniversário da irmã dele.
Mais tarde quando voltamos para casa eu fiquei um bom tempo deitada na cama sem consegui conciliar o sono. Eu sabia que quanto chegasse em casa ia ouvir um sermão sem tamanho do Michael, por ter vindo escondida e por ter tirado o dinheiro do cartão.
Peguei o celular e fiquei uns 20 minutos pensando antes apertar a tecla da ligação.
O Celular dele tocou umas 10 vezes. Também já passava da meia noite, ele devia estar dormindo.
- Alô...
Olhei a tela pra ver se eu tinha discado o número correto.
- Alô, quem é?
Aquela voz não era da Mônica.
- Eu... quero falar com o Michael.
- Ele está dormindo.
- Quem é você?
- Eu sou a Jéssica.
Quem merda era Jéssica?
- Não perguntei seu nome, perguntei o que está fazendo com o celular do Michael?
Ela bocejou.
- O que você quer garota? Eu e o Michael queremos dormir. Estamos bem cansados, se é que você me entende.
Desliguei o telefone e fiquei longos minutos pensando sobre aquilo.
- Que safado! Ele está traindo a Mônica. Ele vai ver!
Joguei o celular no chão e cobri minha cabeça com o travesseiro. Era melhor tentar dormir.