capítulo 1
ALEMANHA 2018.
A vida é como uma roda gigante. Ela gira e gira e sempre para sempre no mesmo lugar. É atraente, é convidativa, mas é muito traiçoeira também. Aprendi de uma forma amarga, o quanto ela machuca e brinca conosco. Meu nome é Edgar Fassini. Sou descendente de italianos imigrantes que vieram para o Brasil e aqui se estabeleceram. Meu pai Enrico Fassini, abriu aqui as indústrias de laticínios Fassini e cresceu em solo brasileiro e se tornou um homem muito rico e poderoso na região de Goiás. Minha mãe, Giovanna Fassini é uma mulher exemplar. Boa esposa, boa mãe, dona de casa. Cresci tendo de tudo. Boas escolas, melhores roupas, frequentei as melhores festas sociais e como todo garoto bem-sucedido, tinha qualquer garota aos meus pés e isso era motivo de orgulho para o meu velho. Entretanto, o que Enrico não sabia, é que apenas uma garota me interessava. Rose Falcão, era a garota mais linda daquele lugar. Ela era perfeita. Quando chegou a região tinha apenas quinze anos e apesar de morar na fazenda dos meus pais e de seus pais trabalharem para os meus, nós não tínhamos muito contato. Meu pai fazia questão de manter a distância entre os empregados e o seu filho. Eu era filho único e Rose também. Costumava olhá-la da janela do meu quarto e por muitas vezes, a vi correr pelos campos e juro que fiquei fascinado ao ver seus cabelos negros e lisos soltos ao vento e para o meu desespero, nesse mesmo dia eu a vi como uma linda mulher. No entanto, isso ficou no passado e é algo que luto para esquecer a vinte anos.
— Tudo bem com você, querido? — Andréa pergunta quase sussurrante, beijando o meu rosto e me trazendo de volta ao meu presente. Dou uma traga forte no cigarro que está entre os meus dedos e em seguida o apago no cinzeiro de cristal que está sobre a mesinha branca de ferro da sacada. Solto uma fumaça densa com um sopro lento e encaro a linda mulher, completamente nua na minha frente.
— Vista- se, está na hora de ir! — respondo secamente e ignoro sua pergunta com falsa preocupação.
Andréa Magliano é a filha do embaixador, Rodrigues Magliano. É uma mulher linda e exuberante. Seus cabelos são curtos, de um corte rente ao seu lindo pescoço. É alta e tem algumas curvas que dá vontade de apertar, de chupar e de não soltar mais. Meneio a cabeça fazendo um não internamente. Não é o meu caso. Desde que fui abandonado pela única mulher que amei na minha vida, decidi não me entregar mais ao amor. Então eu não me casei e não tive filhos, mas fiz fortuna e me tornei um homem de grande influência aqui na Alemanha e em outros países considerados a potência do mundo e conhecido por ser um punho de ferro no meio comercial. Andréa parece não se incomodar com as minhas grosserias e sorri envolvendo o meu pescoço com os seus braços macios e esguios. Ela aproxima o seu rosto do meu e me beija levemente a boca.
— Que tal se voltássemos para aquela cama e fazermos amor matinal bem gostoso? — Ela sugere com uma voz rouca e manhosa. — Ah! Como eu queria me esbaldar nesse corpo jovem e vivido! Nos meus 45 anos, dificilmente me deitei com mulheres maduras. Andréa tem seus 22 anos e como dizem os matutos, é apenas um pitéu. Dou um tapa forte e seguro em sua b***a, fazendo-a gritar e a safada rir em seguida.
— Não dá, Andréa. E você já conhece as regras — advirto-a.
— Ah! Mas você já quebrou uma delas deixando que eu dormisse com você. Então pensei que…
— Pensou errado! — Corto-a com frieza na voz. — Você sabe que não me prendo a ninguém. Agora saia, tenho que ir para o aeroporto. — Ela me lança um olhar surpresa.
— Você vai viajar?! — inquire altiva.
— Sim.
— Para aonde vai?
— Não é da sua conta!
— Edgar, você não pode falar assim comigo! — esbraveja, roubando a minha paciência. Irritado, seguro firme em seus cabelos e a encaro com dureza. Logo vejo o medo estampado em seus olhos e isso me satisfaz.
— Quem você pensa que é, p***a?! A minha namorada, minha esposa? — questiono com um tom baixo, porém intimidador o suficiente para ela empalidecer. Andréa engole em seco.
— Me solta, você está me machucando! — geme com irritação, levando sua mão a minha, tentando soltar-se do meu agarre.
— Ponha uma coisa nessa sua cabeça oca, Andréa — ordeno ríspido, enquanto bato com meu indicador na lateral da sua cabeça. — Você é só a p***a de uma transa, não é a minha dona, não é nada para mim! Agora seja uma garota inteligente, vista a p***a da sua roupa e saia das minhas vistas, agora! — A solto e ela me encara irritada. Seu medo se foi, há apenas mágoa a raiva nos olhos claros.
— Você vai se arrepender de ter feito isso comigo, Edgar Fassini! — rosna entre dentes. Dou de ombros e acendo outro cigarro, lhe dando as costas e observo para as ruas frias da Alemanha.
— Entre na fila, Andréa, entre na fila — sibilo com um tom baixo, dando uma tragada forte no cigarro e libero a fumaça logo em seguida. Minutos depois escuto o som do salto alto ecoar pelo assoalho. Não olho para trás, mas sei que está bem atrás de mim, encarando as minhas costas.
— Estou saindo — avisa. Ainda sem olhá-la, dou mais uma tragada no cigarro. — Da sua cobertura e da sua vida também. — Completa, fazendo um silêncio em seguida e parece esperar que eu fale algo, mas permaneço calado, na mesma posição. — Adeus, Edgar! — diz finalmente.
Ela se vai, outra vem. Penso. Sempre foi assim.
Escuto o som a porta bater com mais força que o necessário e respiro fundo, entrando na sala extremamente luxuosa, seguro a alça grossa da minha mala que estava no canto da parede e me dirijo para saída do quarto de hotel. Após longos vinte anos estou voltando ao Brasil. Voltar para casa que evitei por todos esses anos é o motivo das fortes lembranças do passado me assombrarem nesses dias. Minha mãe Giovanna está muito doente e há meses necessita me ver, só, que a última mensagem que recebi, pede a minha presença com urgência.
— Para o aeroporto, Charles! — peço com o meu habitual tom frio assim que entro no carro de vidros escuros. Charles, meu motorista me olha sério pelo retrovisor e ajeita o seu quepe, ligando o carro em seguida. Pego o telefone no bolso interno do meu sobretudo e ligo para o meu escritório.
— Bom dia, senhor Fassini! — Angelina, minha secretária diz assim que atende o telefone.
— Estou indo para o Brasil, Angelina — aviso, dispensando sua cordialidade. — Ficarei uma semana fora. Avise ao Alfred que cuide de tudo até eu voltar e, não quero falhas! — Não é um pedido e sim, uma ordem.
— Sim, senhor! Darei seu recado… — Não espero que termine sua frase e desligo o aparelho. Quando chego ao aeroporto, Vivian, a comissária de bordo vem ao meu encontro com seu sorriso profissional e com o seu jeito prestativo de sempre. Ela dá a ordem para levarem a minha mala para dentro do jatinho particular.
— Bom dia, senhor! O jatinho já está pronto, e o capitão Julian já o aguarda — informa, enquanto adentramos o enorme salão movimentado do aeroporto.
— Certo — falo sem emoção alguma e caminho direto para o portão de embarque. Ao meu lado, dois seguranças me acompanham de perto. Sou um homem poderoso, muito visado e tenho muitos inimigos tanto no meio social, como no comercial. Por isso ando sempre prevenido.
No jatinho me acomodo nas primeiras poltronas, aperto o cinto de segurança e a comissária de bordo se aproxima com o meu melhor uísque. Tomo um gole da bebida e puxo o meu MacBook de dentro de uma pasta de couro preto. Abro a tela e começo a trabalhar, pois, o voo longo é e eu não posso parar, afinal, tempo é dinheiro. Durante todo o voo, não dormi, dediquei-me ao máximo ao meu trabalho e bebi para quando chegar ao Brasil, eu esteja ao menos anestesiado. Chegou a hora de encarar o meu passado. Penso. Pergunto-me se ela se casou? Se teve filhos? Se me esqueceu? Se é que um dia me amou de verdade. O som ecoa no alto-falante da aeronave avisando que pousaremos em solo brasileiro em alguns minutos e imediatamente sinto o meu coração pular no peito. Eu sempre planejei esse dia, mas sempre o adiei também. Respiro fundo, guardando o meu material, aperto o cinto e me preparo para o que me espera na mansão Fassini. Depois do desembarque, ando pelo salão do aeroporto, pego a mala e caminho para fora do lugar. O calor escaldante de Goiás me abraça imediatamente e eu me livro do sobretudo que me manteve aquecido do rigoroso inverno da Alemanha. Um Lander Houver n***o, de vidros escuros já me aguarda na frente, com um motorista a minha disposição. Suspiro e antes de entrar no carro, olho ao meu redor. É, o dinheiro é tudo. Penso. É solução, transformação e poder. Com ele, domino o mundo e o moldo do jeito que eu quero. Entro no carro, me acomodo no banco traseiro e automaticamente sinto a brisa refrescante do ar condicionado que envolve o pequeno ambiente. A minha frente tem um frigobar com uísque francês e alguns copos. Sirvo-me de um copo e encaro o lado de fora de Goiás através dos vidros nebulosos. Enquanto o veículo se movimenta pela cidade que não mudou quase nada. Lembro-me dos amigos, das brincadeiras, de alguns momentos de diversão. São tempos que se foram e que não voltam mais. O carro para em frente aos enormes portões negros da mansão Fassini, me fazendo respirar fundo e no mesmo instante me revisto da minha tão conhecida armadura, saindo do carro assim que ele para em frente ao antigo casarão. Fecho o botão do meu terno e encaro a fachada da casa por trás das lentes dos óculos escuros. O lugar me traz lembranças que não queria ter. Subo os três degraus na entrada com passos firmes e determinados e assim que me aproximo, as portas largas de madeira colonial se abrem para mim, antes mesmo de tocar a maçaneta, e Mariajú surge me recebendo com um forte abraço. As emoções desse gesto tentam me dominar, me amolecer, mas não permito.
Mariajú foi a minha babá e é quase como uma mãe para mim. Confesso que estar em seus abraços me fez sentir em casa outra vez e logo senti as minhas barreiras ruírem também. As lágrimas lutaram para sair, mas as afastei e respirei fundo e as contive.
— Entre, querido! — Ela pede me dando passagem. — Seu pai não está em casa — informa. — Mas a sua mãe está no quarto te esperando. — A doce senhora de faces rosadas força um sorriso. Eu apenas assinto em concordância e adentro na casa. Observo o interior da casa antiga e constato que nada mudou por aqui. Tudo está exatamente igual, desde quando saí. Os móveis com seu estilo colonial exala o poder do senhoril Enrico Fassini, a madeira escura que traz um ar rústico e elegante ao lugar. Os tapetes persas de cores fortes e escuras é a única coisa alegre no ambiente. As estantes antigas estão cheias de livros igualmente antigos, os sofás com suas estampas florais e seus estilos imperiais. Olho para as escadas de madeiras escuras assim como os móveis, com seus degraus forrados com um carpete cinza e grosso, e um corrimão dourado que faz um contorno na metade dela.
— Senhor Fassini! — Um jovem rapaz diz atrás de mim, me fazendo parar minha inspeção para encará-lo. Não acredito que aquele pirralho cresceu tanto assim! Penso tomado de surpresa. Douglas tinha apenas 9 anos quando saí dessa casa.
— Doug? — indago indeciso e ele sorri.
— Sim, senhor! Vim para ajudá-lo com a sua mala — diz, apontando para o objeto perto da porta.
— Claro. — Ele caminha em direção da única mala que trouxe, pois, não pretendo ficar muito tempo por aqui. O garoto segue para as escadas e eu vou até uma das janelas da sala, e observo a pequena casa ao longe através dela. Passo longos minutos esperando que algo aconteça, mas nada realmente acontece. Não vejo o senhor Genaro, nem a senhora Luciana e nem mesmo ela.
— Pus sua mala no seu antigo quarto, patrão. — Doug avisa, me fazendo tirar os olhos da janela.
— Pare de me chamar assim! — resmungo com um tom rude e seco, e volto o meu olhar para janela.
— Desculpe, senhor! — sibila receoso, me fazendo fechar os olhos, tentando não perder a paciência.
— Querido? — A voz de Mariajú ecoa na sala quando penso em repreendê-lo mais uma vez. Então me viro para olhá-la e a mulher me parece receosa. — Sua mãe acordou e deseja vê-lo agora — avisa.
— Não! — falo rígido demais, trincando meu maxilar e pressionando os dentes com força. A mulher parece surpresa com a minha atitude, ela balbucia, mas as palavras parecem não querer sair de sua boca. Tenho vontade de perguntar por ela, de saber como ela está, saber se ainda mora aqui, mas não faço. — Vou para o meu quarto. Preciso tomar um banho e tirar essa roupa de cima de mim. Depois a verei — informo, me afastando da janela e ando com passos largos, direto para as escadas.
— Mas, menino, sua mãe… — A empregada tenta protestar e paro os meus passos na metade do caminho, lançando lhe um olhar duro.
— Basta, Mariajú! Já disse, depois! — rosno demostrando a minha impaciência. Ela engole suas palavras e aceita, acenando com a cabeça, e sai da sala em seguida e o garoto Doug vai atrás dela. Olho de relance para a janela e subo as escadas em seguida.
O meu quarto. Mais que diabos! Este cômodo é o cenário mais forte de toda essa imensa casa. Onde eu estava com a cabeça quando pedi para ficar aqui? Porque não fui direto para um hotel? Largo o sobretudo que estava em meu antebraço, o dobro cuidadosamente e o ponho em cima da cama gigante, que fica bem no centro do quarto. Faço o mesmo com meu terno, a camisa e a calça. Após livrar-me dos sapatos lustrosos e das meias, sigo para o banheiro. Lá dentro, eu tiro a única peça que envolve o meu corpo e entro debaixo do chuveiro. A água fria é a melhor coisa nesse momento. Ela acalma as minhas emoções, estabiliza a minha sanidade e renova as minhas forças. Minutos depois, saio do cômodo envolvido apenas com uma toalha na cintura e uso outra toalha menor para secar os meus cabelos. Ao entrar no quarto, meus olhos vão para cama e as lembranças de uma noite de amor me invade a mente imediatamente. Ainda consigo escutar os seus sons, ver o brilho dos seus olhos e sentir o seu calor em minha pele. Mais que p***a, eu preciso esquecê-la! Isso tudo é uma grande merda! Alguém bate à porta e eu visto apenas um short folgado e peço que entre. Mariajú adentra o quarto com uma cara de pânico.
— O que houve? — pergunto encarando o seu rosto pálido.
— É a sua mãe. — Ela diz me deixando em alerta. — Ela não está bem. — Não espero que termine de falar e saio correndo para fora do quarto e em direção a primeira porta do longo corredor.
Dona Giovanna Fassini descobriu a alguns anos uma doença congênita no coração e desde então fez muitos tratamentos que não ajudaram em nada. A cada dia ela foi perdendo as suas forças e ficando cada vez mais fraca. Sim, tenho recebido notícias suas durante esses dois últimos anos através de Mariajú. Ela tem me pedido insistentemente para voltar para casa, mas eu não estava preparado, não ainda. Na verdade, eu nunca estive preparado para esse dia e talvez nunca estivesse. Fiz das tripas coração para vir até aqui hoje, porque ela insistiu que tem algo para me falar. O que ela teria para me dizer que eu já não saiba? Perguntei-me por várias vezes. Entro no quarto e a observo deitada em sua cama, no meio dos lençóis brancos. Ela está assustadoramente magra, pálida e respirando através de uma máscara. A visão é de cortar o coração. Lentamente vou até a sua cama e ela me estende uma mão trêmula. Eu a seguro, me aproximando ainda mais. Sinto a sua pele gelada na minha e seus olhos claros se enchem de lágrimas no mesmo instante. Sinto-me um filho da p**a por não ter vindo antes. Totalmente desarmado, me sento ao seu lado e de frente para ela.
— Meu filho. — Ela sussurra emocionada e com a voz fraca.
— Oi, mãe!
— Você veio, meu menino — Volta a sussurrar.
— Sim. — É tudo o que consigo dizer. Em algum momento ela para de falar e parece que morrerá bem na minha frente. — Vou chamar um médico — aviso, fazendo menção de me afastar da cama, porém, ela segura a minha mão fazendo um não lento com a cabeça. — Mãe, por favor, você precisa… — insisto.
— Não, Edgar, eu preciso falar! — Eu não entendo essa relutância. — Querido, eu não tenho muito tempo.
— Tempo para quê?
— Para te contar o que realmente aconteceu. A Rose… a…
— Não quero saber dela! — A corto impaciente. — Por que quer falar dela justo agora? — rosno irritado, tentando mais uma vez me afastar dela.
— Porque ela não fugiu, filho. — confessa com dificuldade e com a respiração ainda mais curta. Surpreso, solto a sua mão. O que ela está me dizendo? Que p***a é essa?
— O que está me dizendo, mãe? — pergunto em um fio de voz. Dona Giovanna leva a máscara ao rosto e respira algumas vezes. Depois, a afasta e continua.
— Seu pai, Edgar, ele sabia de vocês, sempre soube. Ele sabia que você desistiria de tudo se soubesse… — Ela para de falar e puxa a respiração com dificuldade. Seus lábios começam a ficar roxos.
— Alguém chame um médico! — grito no quarto. — Mãe, me escute, não quero que fale mais nada, você precisa descansar…
— Não, Edgar, me deixe falar, é a minha última oportunidade — insiste. Sem alternativas, aceito o que me pede.
— Rose estava grávida, filho — confessa e imediatamente meu coração pula com violência dentro do meu peito e sinto o ar me faltar.
— Do que está falando, mãe?! — questiono contendo uma dor que parece me rasgar por dentro.
— Seu pai descobriu tudo. Você tinha que ir para a faculdade, e ele não queria que você soubesse. — Uma lágrima escorre pela minha face e um nó aperta a minha garganta, impedindo que o ar passe.
— Isso já não importa mais, mãe. Ela me deixou. — Deixo que a mágoa fale mais alto.
— Não, querido, ela nunca te deixou. — Suas palavras são como vários punhais penetrando a minha carne e rasgando o meu peito e sem dó perfura o meu coração, o fazendo sangrar. É inevitável. As lágrimas agora rolam pelo meu rosto como uma torrente.
— Por Deus, não me diga isso! — peço baixo demais e com desespero na alma.
— Enviamos você para os Estados Unidos no dia seguinte e ela não teve a menor chance, Edgar. — Transtornado, não espero que termine de falar. Simplesmente largo a sua mão, levanto-me da cama bruscamente e me ponho a andar de um lado para o outro do quarto, me sentindo traído por minha própria mãe.
Vinte e oito anos… Eu a julguei por longos vinte e oito anos. A vi como uma maldita traidora, a acusei de tudo de r**m que aconteceu na minha vida. Perdi quase três malditas décadas de nossas vidas, do nosso amor, de tudo que podíamos ter construído juntos. Enquanto lamento, caminho desolado para a porta e saio do quarto com passos largos.
— Edgar?! Edgar, filho?! — A escuto me chamar, mas não posso… simplesmente não dá para olhá-la nos olhos agora. Desço as escadas apressado e alcanço a saída da casa, procurando ar para respirar. Entro na garagem e caminho entre os automóveis luxuosos, e chego a única coisa que me dará a sensação de liberdade nesse momento. Puxo sua capa preta, jogo-a em qualquer lugar e observo a Suzuki GSX 1000 por um curto espaço de tempo. Pego a chave no suporte que tem na parede e o capacete em uma prateleira, e em segundos ganho a estrada. Saio sem rumo e sem direção, deixando que as lágrimas encham os meus olhos e embaçassem a minha visão.
Rose… Meu Deus como eu pude? Como eles puderam? Sinto a dor lancinante arder dentro meu peito. Meu Deus, um filho! Isso é desesperador! Eu tenho um filho e se quer sabia disso. Enrico Fassini, conseguiu destruir mais um pedaço de mim.