Capítulo 3

1631 Words
- A gente tem que sair pra comemorar! - Matheus diz entusiasmado. - Espera, você não terminou de ler - digo limpando o rosto - Quanto tempo de curso? Ele procura a informação na carta. - Duração de dois anos - ele finalmente responde. - Dois anos? - pergunto chocada - É muito tempo! - Não se atreva a dizer que não vai! - ele grita comigo - É o seu sonho desde antes de entrar na faculdade! Você vai nem que eu tenho que te arrastar até lá! - São dois anos! – repito - Dois longos anos! - Não inventa história, Sarah! - ele diz me pegando pelos ombros - Você parece que esqueceu tudo o que lutou pra conseguir isso! É Salamanca, Espanha! - É Salamanca, Espanha... - repito sem entusiasmo. - O que foi? - ele pergunta com um olhar severo. - Ela - digo desviando o olhar. - Escuta aqui, Sarah! Se ela te impedir de ir, sinto te informar que ela não te ama! Olha o tanto que você apoia a carreira dela, você largou tudo pra seguir ela, sua vida virou uma bagunça, seu mundo gira em torno dela! Minha amiga, essa é uma chance única! - Eu sei Matheus, mas encontrar o amor da sua vida também é uma chance única! - digo me afastando dele e me sentando no sofá. Ele se senta do meu lado. - O que vai fazer? - ele pergunta passando a mão em torno de meus ombros. - Eu não sei! - abaixo a cabeça. - Em todo caso, vamos comemorar porque você conseguiu! Se você vai ou não pra Espanha, aí depende de você! - ele diz me puxando pelo braço. Matheus acaba me arrastando pra um barzinho e convida alguns amigos. Tento sorrir e disfarçar a preocupação e a dúvida do que fazer com a minha vida. Voltamos pra casa de madrugada. Ela me liga assim que entro no quarto. - Oi, meu amor! - ela diz entusiasmada - Eu tô morrendo de saudade! Essa cama de hotel é tão grande sem você aqui! - Oi, meu amor - respondo forçando um entusiasmo - Eu também estou morrendo de saudade de você! - Aconteceu alguma coisa? Sua voz tá diferente! - Não, minha vidinha, tá tudo bem, é só saudade. - Acabou o show agora pouco.. você volta amanhã? - Não sei, nem passei na editora ainda. Tenho que autorizar por escrito a próxima edição da biografia. - Isso vai demorar muito? - ela diz com voz dengosa. - Não sei. Vou fazer o possível pra que não demore. - Tudo bem! - Não esqueça nunca que eu te amo! - digo tentando não chorar. - O que aconteceu? Eu tô ficando preocupada! - Nada! - respiro fundo - Só não esquece! - Eu não vou esquecer. Eu também te amo! - Preciso desligar, até amanhã! - Até amanhã! Quando desligo, fico olhando pro celular e tentando não chorar. Estava entre a cruz e a espada... escolher minha carreira era perder o amor da minha vida e escolher ela era perder a melhor oportunidade que a vida colocou em meu caminho! Não sabia o que fazer. Me deito na cama e passo a noite em claro. Pela manhã, o Matheus bate na porta e entra. - Que cara horrível! - é a primeira coisa que ele me diz assim que senta ao meu lado na cama - Parece que você foi atropelada por uma colheitadeira! - É exatamente assim que eu me sinto! - respondo sem entusiasmo. - Para de drama! - ele grita me assustando - É o seguinte: você tem que decidir o que vai fazer! - Maninho, respeite meu tempo e meu espaço, está sendo muito difícil pra mim - recomeço a chorar e ele me abraça. - Desculpa! - ele diz me apertando - Você já contou pra ela sobre a bolsa? - Ainda não... - digo me afastando e limpando o rosto - Não sei como contar! - Você sabe o que eu acho sobre isso! - ele diz me encarando - Mas vou estar com você independentemente do que você decidir! Eu vou estar com você sempre! Abraço ele forte e me sinto protegida ali, sei que ele me ama e irá me apoiar mesmo. Meu telefone toca. Atendo. - Só liguei pra dar bom dia pra mulher mais linda do mundo! - ela me diz alegre. - Poderia ter feito isso olhando no espelho, não precisava me ligar pra dar bom dia pra si mesma! - digo animada. - Boba! - ela ri - Não aguento mais essa distância! Quero te beijar, te abraçar e fazer coisinhas! - ela ri mais. - O que seria da gente se tivéssemos uma relação à distância? - digo rindo pra tentar disfarçar o nervosismo que estava sentindo. - Eu não consigo imaginar minha vida longe de você! Não brinque com essas coisas! - Se fosse necessário a gente ficar separadas por algum tempo, o que você faria? - pergunto, temendo a resposta. - Nada pode ser maior que o nosso amor e eu não aceitaria que nada nos separe! Mas por que tá perguntando isso? Tá pensando em ficar por aí e me abandonar? - Não, não é nada! Esquece! - Você tá me escondendo alguma coisa? Tem algo que eu deva saber? - Não, não tem nada! Posso te ligar depois? - peço porque sei que não vou aguentar muito tempo sem chorar. - Tudo bem! Ela desliga. Sei que ela está desconfiada e, com a resposta dela, sei que ela não aceitaria manter um relacionamento à distância. Fico em silêncio fitando o vazio. O Matheus também não fala nada, ele sabe que estou sofrendo. Algum tempo depois, me recomponho, me levanto e vou em silêncio pro banheiro. Tomo um banho demorado e dou de cara com o Matheus ainda na minha cama. - Vamos tomar café naquela padaria aqui da frente? - digo quando ele levanta os olhos do chão e me encara. - Não vai me contar o que ela disse? - ele diz sério. - Matheus, não precisamos falar disso! Você sabe o que ela disse e sabe tão bem quanto eu que se eu fosse embora ela terminaria comigo. Agora vamos mudar de assunto e fingir, pelo menos por hoje, que eu não tenho que decidir nada! Vamos tomar café juntos e depois vou resolver os problemas da editora, vou voltar pra casa dela e só aí vou pensar no que fazer! - Como você quiser - ele diz forçando um sorriso e levantando da cama. Tomamos café evitando tocar nesse assunto. Depois vou pra editora. Eles me pedem pra ficar mais uma semana e já resolver os assuntos de outra obra que estava pra ser publicada. Não tenho muita opção a não ser aceitar. Volto pro apartamento. Com calma, leio a carta da Universidade. Era uma proposta excelente, dois anos de curso, um orientador maravilhoso e uma bolsa que iria cobrir todos os meus gastos. Ainda me davam um mês pra estar lá. O Matheus chega em casa pra almoçar e fica todo animado ao me ver analisando a carta. - Você está cogitando a ideia de aceitar a bolsa? - ele pergunta. - Não sei, é uma proposta tentadora! - Não vou influenciar em nada, vou apenas aceitar o que você decidir! Sorrio e ele vai pra cozinha preparar algo pra comer. Almoçamos juntos, rindo de coisas de nossa infância. Depois ele vai trabalhar e eu passo a tarde revisando o que a editora disse que precisava ser corrigido na obra nova antes da publicação. À noite, o Matheus retorna, se arruma e vai pra casa de uns amigos. Invento uma desculpa e permaneço em casa. Perto das 23:00, a Helena me liga. - Fica calma! - ela diz assim que falo alô. - Já tô nervosa! O que aconteceu com ela? - o efeito de um "fica calma" em uma ligação é totalmente contrário. - Ela tá bem, eu juro! – Helena diz mais nervosa que o normal - Ela se machucou no show e viemos parar em um hospital! - Como ela tá, Helena? O que aconteceu? Ela se machucou muito? Ela tá consciente? Deixa eu falar com ela! - digo tudo muito rápido e já chorando. - São muitas perguntas! Ela tá fazendo um raio x, da perna ou do pé, eu não sei direito. Ela me pediu pra te ligar. Ela caiu no palco, mas ela vai ficar bem! Em mais ou menos meia hora ela liga! - Me fala a verdade, como ela tá? - quase imploro. - Eu juro que é verdade! Ela parece bem! Eu tô nervosa, mas ela tá bem! Queria que você estivesse aqui. - Tô indo ai! - digo quase desligando o celular, mas ouço ela me dizendo pra esperar. - Ela tá chegando! - Helena diz assim que recoloco o celular na orelha - Vou passar pra ela. - Me diz que você tá bem e que foi só um susto! - peço em lágrimas assim que ouço a respiração dela no telefone. - Se acalma, meu amor. Pedi pra Helena te ligar pra você não ficar sabendo pelas redes sociais e se preocupar mais, mas parece que não adiantou muita coisa! - ela diz rindo - Eu vou ficar bem! - Vai ficar bem? - pergunto quase gritando - Isso quer dizer que você não está bem agora? - Eu não vou morrer! Só machuquei o pé, fica calma! - Eu tô indo aí agora! Não saia desse hospital sem mim! - Não precisa! Eu vou colocar uma bota ortopédica e vou pra casa. Quando você volta? - Agora mesmo! Nada vai me deixar longe de você! Eu não ligo pra editora!
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