Eu ainda estou aqui.

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo de novo. Após anos do meu casamento com Jasper, a morte do Adam e o nascimento da minha filha Addison, eu simplesmente não conseguia crer. Eu estava de frente a escolinha com as mãos tremendo, enquanto encarava o que eu pensava ser uma assombração. Não podia ser. Eu fui ao funeral dele. O caixão estava fechado, mas mesmo assim, eu o senti, morto e frio. Jasper participou de sua perícia. Seria ele um cúmplice desse terror? O que eles queriam? Me torturar? Addison não era crescida o suficiente para entender que seu verdadeiro pai não era um policial bondoso e leal, e sim um dos criminosos mais procurados de Boston, Massachussets. Pisquei meus olhos mais algumas vezes para garantir que minha mente não estava me pregando uma peça. O rapaz se virou de costas e saiu andando. Tive a audácia de segui-lo, afinal ainda faltavam pouco menos de 10 minutos até que Addison fosse liberada da aula, tempo que eu julguei ser suficiente para acabar com isso. Chegamos na esquina do colégio quando toquei a jaqueta de couro preta do rapaz. Ele se virou para mim e abriu um sorriso, meio falso, meio desesperado. Seus olhos estavam estreitos, mas continuavam bem azuis. Seu cabelo estava mais crescido, e seu corpo mais maduro, mas ainda era ele. Ainda era Adam Sprouse, o criminoso por quem me apaixonei. O pai biológico da minha filha. — Adam? — Indaguei. Minha voz estava tão rouca que saiu quase inaudível. — É você mesmo. Como? — Perguntei, assustada. Agora que tinha certeza, meu coração palpitou mais forte. Eu estava com medo, confesso. Nada disso era real antes, tudo não passava de uma mera especulação. — Eu te vi morrer. — Você viu o que eu queria que você visse. — Afirmou, seriamente. Arregalei os olhos. Ele continuava tão frio, como se o peso das suas ações não importassem. — Diz que isso é um pesadelo. Diz que isso tudo não é real e que você não está aqui. — Mas eu estou. Meus olhos começaram a arder. Eu queria chorar, bater nele e ao mesmo tempo queria fugir com a Addison dali. Não queria correr o risco que ela o visse. — Como? — Eu fiz o que precisei fazer. — Por que? — Eu estava em perigo. Você estava em perigo. Envolver você nisso poderia te m***r. — Contou. Mas apesar de haver gravidade em sua fala, seu rosto parecia despreocupado. — O que está dizendo? O que está fazendo aqui? Por que está perseguindo a minha filha? — Eu sei que estive distante nesses últimos anos, mas eu não perdi nada. Eu estava lá no Canadá quando você passou seus primeiros meses de gravidez. — Disparou — Quem você acha que enviava aquelas pizzas para você? Eu franzi a testa. Sempre achei que o dono da pizzaria gostava de mim quando chegava na minha casa pizzas grátis. — Eu estava no seu casamento com o Jasper. Ninguém me viu, mas eu estava lá. Com o tempo me tornei bom em me esconder. Eu estava tão assustada que poderia fugir, mas além disso, também estava intrigada. Não entendia por que isso estava acontecendo. Eu queria ser acordada daquele pesadelo! — Mas eu te achei agora — Retruquei. — Porque eu quis que fosse assim. Estou preparado. Eu estive em todos os seus momentos importantes. E quero estar nos próximos, só que de verdade. — Você enlouqueceu? — Explodi — Acha que pode voltar depois de anos como se fôssemos os mesmos adolescentes idiotas? Você não pode, depois de anos, voltar e estragar com a minha vida, Adam! Eu não vou permitir. Eu era inocente para perceber isso na época, mas agora eu tenho uma vida. Um emprego, uma filha e um marido pelo qual eu não trocaria por nada nesse mundo! Então seja lá de onde você saiu, eu espero que você volte e que pare de atormentar a minha filha, você me entendeu? — Me virei na intenção de dar o assunto como encerrado, mas ouvir sua voz exclamar as seguintes palavras me impediram. — Ela sabe? Eu parei no meio do caminho. Aquilo soava como uma ameaça para mim. — Sabe o que? — Indaguei, retornando meu olhar, fingindo não saber do que a pergunta se tratava. — Que sou o verdadeiro pai dela. — Não. Porque você não é. Pai é quem cria e você não fez isso. — Disse, com firmeza — Afinal, o que houve com o "Jasper será um pai melhor do que eu"? — Porque era a verdade. Mas eu não corro mais perigo, e pretendo mudar por vocês. Já estou mudando. — Falou, com os olhos semicerrados. Eu dei uma risada sarcástica. — O que quer dizer com isso? Não corro mais perigo? — Demoraram alguns anos, mas sim. As pessoas que ameaçaram a minha vida já não estavam mais entre nós. — Você quis dizer que morreram? Ele fez que sim com a cabeça. — Você os matou? — Eu, não. Mas pessoas que trabalhavam para mim. Retrocedi alguns passos. — Você é um assassino. — Murmurei. — Eles queriam me m***r! — Retrucou. — Isso não faz você diferente. — Eu larguei tudo. Estou vivendo na margem! — Explicou, desesperado dessa vez. — Tudo que eu fiz foi tentando ser digno para vocês! Eu comecei a negar continuamente, ainda esperava ser acordada por um súbito momento. Fiquei tentando observar qualquer outra coisa que me desse um sinal de que aquilo não era real. — Tarde demais. Você demorou muito, Adam. Se presenciou mesmo todos os momentos, deveria saber que eu sofri todos os dias esperando que você voltasse. Mas você não voltou! Então me deixe em paz. E deixe a Addison também. Adam tocou nas minhas mãos e eu rapidamente removi sua mão. — Desculpa, Safira. Eu queria respeitar sua decisão, mas eu não posso. Não tentei até agora para desistir. Se você não me quer, eu entendo. Mas não pode me impedir de ver a minha filha. — Ela não é sua filha! — Exclamei. — Ela está registrada com o sobrenome do Jasper, ela não tem nada seu. — Exceto o sangue. E a genética não mente. — Afirmou, com certa ironia. Senti meu sangue ferver. Queria que aquilo simplesmente parasse. — Adam. — Apelei — Eu te suplico. Se você ama a Addison como diz que ama, por favor, deixe ela em paz. Jasper é tudo que ela mais se orgulha. Por favor, não tire isso da minha garotinha. Ele abaixou a cabeça e por um segundo eu jurei que o havia convencido. — Ela vai ter que saber um dia. — Falou. Eu ignorei aquilo e segui até o portão do colégio novamente onde Addison me esperava com uma mochilinha de rodinhas na mão. Eu dei um sorriso e ela fez careta. — Cadê o papai? — Perguntou. — Hoje somos só você e a mamãe.