Joshua Hélio.

995 Words
Uma semana desde aquele fatídico dia se passou. Eu não ouvia mais nada sobre o Adam, nem havia esbarrado com ele em canto algum. Addison também deixou de menciona-lo, então achei que finalmente estávamos livres dele. Parte de mim se entristeceu por isso. Eu sei que não era o certo, mas doía perdê-lo de novo. Me fez lembrar o martírio que foi da primeira vez. Como de costume, saí de manhã para o trabalho. Na segunda feira geralmente recebo novos pacientes e quando consigo, encaixo um horário para eles durante a semana. Minha mente estava particularmente leve hoje, talvez porque estávamos nos aproximando do nosso aniversário de casamento. As vezes custava acreditar que eu realmente tinha me casado com o Jasper, e então, senti arrepios quando imaginei o Adam encarando os nossos votos. E ainda admitir como se fosse uma prática comum. O quão doentio isso é? Entrei no consultório quando minha secretária afirmou que o primeiro paciente entraria em poucos minutos. Ela me entregou uma ficha com os dados básicos de cada um. Folheei as fichas com cuidado, procurando reconhecer algum paciente. Nenhum deles me pareceu familiar, exceto a Tonya Peggie, que havia se consultado comigo já algumas vezes, mas nunca se compromissou realmente em estabelecer uma rotina semanal, por isso nunca saia das segundas-feiras. O primeiro paciente se chamava Joshua Hélio, nome que parecia ter saído de um seriado de televisão. Sorri imaginando como seria caricata uma personalidade guiada por esse nome. O homem entrou de óculos escuros e boné, como se escondesse um certo tipo de segredo. Eu sorri. Aquilo não me intimidava. — Senhor, não pode usar isso aqui. — Alertei. A secretaria que estava na porta fez uma feição preocupada. — Eu tentei avisar, mas ele insistiu. — Tudo bem. Obrigada, Luísa! — Disse e ela fechou a porta. O paciente se sentou na poltrona, calado. E delicadamente retirou o boné e o óculos. Mesmo tendo permanecido com a cabeça baixa, eu o reconheci. Era difícil não reconhecer aquela sua tatuagem do pescoço. — O que você faz aqui? — Preciso de uma psicóloga. — Respondeu, simplesmente. Eu senti tontura, parecia que todos os problemas estavam voltando de uma só vez. — Achei que tinha me entendido. — Retruquei. — Eu te avisei. Não posso desistir. Eu me levantei, bufando em direção à porta. Segurei a maçaneta e ameacei gira-la. Adam se levantou da poltrona. — Eu paguei. Você precisa cumprir seu horário comigo, caso contrário vai ser bem anti-ético da sua parte. — Não temos nada pra conversar! — Você, talvez não. Mas eu tenho muitas dúvidas — Afirmou. Eu suspirei. Esperando que ele continuasse. — Nunca conheci a minha filha — Disparou — Nós conversamos algumas vezes, quando eu fingi que trabalhava na escolinha que ela estuda. Mas nunca nos conhecemos de verdade. O pior é que foi como se eu a conhecesse quando brincamos, pouco tempo antes de uma professora notar que eu estava lá e eu precisei fingir novamente que era pai de uma das crianças. Eu ouvia aquilo com certo medo, mas por outro lado, lhe entendia totalmente. — Ela é linda. Isso puxou de você definitivamente. Eu revirei os olhos. — Você não vai me comover com isso. — Não quero te comover. Nunca tive sucesso com isso antes. — Então o que você quer? — Quero uma segunda chance. — Admitiu e eu senti minha garganta travar — E eu sinto muito, Safira, mas se eu não tiver sua ajuda, vou fazer sem você. — O que está insinuando? Ele não me respondeu, mas eu previ o pior. — Jasper nunca vai permitir isso. — Acrescentei. — Isso nunca me parou antes. Eu abaixei a cabeça e esfreguei os olhos. Isso não podia estar acontecendo! — Qual é, Safira! Eu não acredito que você não esteja nem um pouco feliz que eu esteja vivo. Olha para mim, me olha nos olhos e admite que não está feliz por me ver. Não fui capaz de olhá-lo nos olhos, mas respondi: — Não. Isso me deixa muito mais assustada e com medo do que feliz. Isso não é brincadeira, Adam. É de uma criança que estamos falando. — Eu sei. — Confirmou, sério. Eu suspirei fundo e chequei o relógio. — Ainda está usando. — Ele disse, de repente. — Do que está falando? — Do colar que eu te dei na sua formatura. Você quis disfarçar então pegou o pingente e colocou no anel, mas eu sei que é a mesma pedra porque eu mesmo quem lapidei. Levei os meus olhos para o anel no meu dedo, bem acima da aliança. Ele estava certo. Eu transformei o colar em um anel, não queria me desvincular totalmente dele, mas também não queria que Jasper pensasse que eu ainda pensava no Adam dessa forma. — Isso não significa nada. — Murmurei. — Talvez. Mas eu não acredito nisso. Adam se aproximou de mim e meu olhar despencou para o chão. Senti todos os meus ossos arrepiarem, se é que isso era possível. Pigarreei e finalmente tomei coragem de abrir a porta do consultório, ignorando o fato de que não haviam se passado nem 5 minutos de consulta. — Se você quer saber, eu nunca desejei tanto que você tivesse realmente morrido. — Exclamei. O olhar dele murchou. E eu vi Adam caminhar até a saída como quem acabara de perder uma batalha. Eu sei que não seria tão fácil, ele não desistia das coisas assim e eu precisava estar preparada pra enfrentá-lo de novo. Mas se eu queria proteger minha filha, precisava manter o Adam longe, mesmo que isso custasse alguns dos meus neurônios e toda a minha sanidade mental. Saí da sala logo em seguida. Luísa, minha secretária-estagiaria de apenas 22 anos, me encarou, assustada. — Cancele todas as consultas de hoje. Não estou bem para trabalhar. — Afirmei. — Pode tirar o dia de folga depois disso. A menina aquiesceu, e eu fui embora.
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