Capítulo 3 - Vozes no Vento

544 Words
O celular de Kalie vibrou novamente, Lucas tinha saído para ir aos banheiro, Kalie segurou o celular por alguns segundos a mais do que deveria. O coração batia mais rápido, mas os olhos..ah, os olhos marrons estavam firmes, Ela digitou devagar, com o maxilar cerrado e o orgulho intacto. Kalie: “Quem é você? Por que me observa? O que quer de mim?” Ela apertou enviar sem hesitar, Chega de medo, Chega de fugir de fantasmas digitais e foi nesse exato momento, enquanto ainda processava a própria coragem, que Lucas se aproximou para se despedir. — “Kalie precisamos ir, amanhã será um dia importante na faculdade.” — disse com aquele sorriso amigável que ela conhecia desde o colegial mas dessa vez ele fez algo diferente. Tocou suavemente o queixo dela, erguendo-o como se fosse íntimo demais pra alguém que nunca teve permissão. Damon viu.. Ah Damon viu muito bem, do outro lado da rua, entre sombras e fumaça de cigarro, ele viu. Os punhos se fecharam, a respiração falhou por um segundo, ele se levantou abruptamente e jogou a cadeira que estava sentado na parede e desapareceu com a neblina que vagava na rua fria de Londres. Um poema, nascido do caos que ardia dentro dele: “Te tocam com dedos que não sabem rezar teu nome, Te olham com olhos que não conhecem tua fúria. Mas eu.. eu sou o abismo que canta pra tua alma, O fim do mundo que virá só pra te manter pura.” A mensagem seguinte chegou antes que ela pudesse guardar o celular. Ele não costumava responder. Mas hoje… hoje ela o tinha provocado de um jeito diferente. Número desconhecido: “Você desafia o escuro, pequena.. e eu estou gostando disso.” — Você quer que eu te leve pra casa?”, —perguntou Lucas, ajeitando a mochila nos ombros. Kalie hesitou por um segundo, mas assentiu com um sorriso educado. O clima tinha mudado de repente, O céu, que ainda tinha tons de azul-escuro há poucos minutos, agora parecia completamente engolido pela noite. A neblina descia devagar, densa, quase viva, lambendo os postes, os carros e a calçada como uma criatura antiga rastejando pela cidade. Caminharam juntos até o alojamento de Kalie, em silêncio por alguns minutos. Ela sentia os passos ecoarem de forma estranha naquela neblina, cada barulho parecia mais alto, mais perto, como se estivessem sendo seguidos por algo que respirava no compasso deles. Lucas, distraído, ainda parecia tranquilo, porém Kalie, não, se não chegasse no alojamento rápido, ela poderia sair gritando pela rua. Quando chegaram à porta, ele virou-se pra ela e sorriu. — “Se cuida, tá?”— E antes que ela pudesse responder, ele se inclinou devagar, pressionou um beijo leve no rosto dela e deixou a mão repousar por alguns segundos em sua bochecha quente. Kalie congelou, Não por ele, mas por outra coisa, Um arrepio subiu por sua espinha como um fio de gelo, Ela sentia de novo aquela presença. Lucas se afastou, deu um aceno e desapareceu na neblina como se tivesse sido engolido pela noite. Assim que a porta do alojamento se fechou atrás dela, o celular vibrou. Número desconhecido: “Ele tocou em você de novo!!, Não quero mais avisar.”
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