Capítulo 4 - Limites

654 Words
Kalie subiu as escadas do alojamento ainda com o gosto do frio nos lábios, Trancou a porta, jogou a bolsa na cadeira e respirou fundo. O coração ainda batia rápido, mas a mente… a mente estava fervendo. Pegou o celular e, com os dedos firmes, começou a digitar : — “Você não manda em mim, Não te conheço, O que está buscando com essas mensagens? Lucas é um amigo, É só isso.” Ela jogou o celular no colchão e começou a tirar os sapatos com raiva mas antes que pudesse soltar outro suspiro, a vibração voltou. Mensagem recebida. Número desconhecido: “Nossa pequena, você fica tão linda quando está brava.” “mas Lucas… Lucas quer mais do que sua amizade, Eu vejo isso e isso.. eu não vou permitir.” Kalie engoliu seco, uma mistura de raiva e pavor se acendeu dentro dela, mas não teve tempo de responder, porque a próxima mensagem chegou como uma lâmina no peito. Uma imagem. Lucas.. Caído. O rosto ensanguentado, a boca cortada, os olhos fechados como se tivesse sido surpreendido. A cena parecia recente, Crua, Fria. Kalie arregalou os olhos e sentiu o estômago virar. Pegou o celular, tremendo, e digitou com desespero: Kalie: “O QUE VOCÊ FEZ COM ELE?!” Kalie desliza para o lado liga para Lucas e toca uma..,duas.., dez vezes.., e nada dele atender Ela grita: “LUCAS?! RESPONDE!!!” Ela mandou uma mensagem para Lucas, ligou novamente em seguida, Uma, Duas,Três vezes. Nada. A noite parecia mais silenciosa agora. Como se o mundo tivesse parado pra assistir o jogo doentio de um homem que a observava pelas frestas da realidade. Naquela noite, Kalie não dormiu, passou horas olhando para o teto, o celular na mão, a mente martelando a mesma imagem: o rosto de Lucas coberto de sangue, a mensagem c***l, o aviso sombrio e os olhos invisíveis que pareciam observá-la até dentro dos seus próprios pesadelos. Quando o sol finalmente se arrastou por trás da neblina, uma nova mensagem chegou, Dessa vez de Lucas. Mensagem: “Kalie, tô bem, Ontem um cara enorme, juro, devia ter uns dois metros, me esbarrou na rua e do nada me deu um soco, Não vi nem de onde veio.” “Acordei com uma senhora me ajudando a levantar. Fui à polícia, mas como sempre… não deu em nada.” Kalie sentiu o sangue ferver, Ela pegou o celular e digitou rápido, como se as palavras fossem armas. Kalie: “Chega disso, CHEGA, Eu não te conheço, Isso tudo já passou dos limites, Não quero mais ninguém machucado, Você não pode sair por aí atacando pessoas.” A resposta veio com o mesmo veneno doce de sempre mas havia algo mais agora… um tom de fúria protetora. Número desconhecido: “Eu avisei, Eu disse pra você se afastar. Ele tocou em você, Te olhou como se pudesse te ter, Ninguém, princesa, ninguém vai te tocar, eu não vou permitir.” Ela sentiu o peso daquelas palavras, o perigo nelas mas também algo mais… algo doente e ao mesmo tempo absurdamente protetor, Como se, de alguma forma insana, ele estivesse tentando cuidar dela. Respirou fundo e pela primeira vez… cedeu. Kalie: “Tá. Eu entendi. Você quer que eu escute, então me escute também, Vamos parar com isso, Me escuta de verdade, Eu quero uma trégua, Sem violência, Sem ameaças.” O silêncio durou alguns segundos eternos. Até que a resposta chegou, mais calma, quase… gentil Mas ainda com aquele peso másculo, bruto e possessivo. Número desconhecido: “Trégua aceita, Mas não esquece, pequena… você me perturba, Me tira o chão, Eu observo cada passo seu porque o mundo é sujo demais pra você andar sozinha, Você é meu caos favorito e vou cuidar de você do meu jeito… mesmo que você ainda não entenda.” Ela não sabia se chorava ou sorria mas ali, pela primeira vez… sentiu-se estranhamente segura.
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