Kalie subiu as escadas do alojamento ainda com o gosto do frio nos lábios, Trancou a porta, jogou a bolsa na cadeira e respirou fundo. O coração ainda batia rápido, mas a mente… a mente estava fervendo.
Pegou o celular e, com os dedos firmes, começou a digitar :
— “Você não manda em mim, Não te conheço, O que está buscando com essas mensagens? Lucas é um amigo, É só isso.”
Ela jogou o celular no colchão e começou a tirar os sapatos com raiva mas antes que pudesse soltar outro suspiro, a vibração voltou.
Mensagem recebida.
Número desconhecido:
“Nossa pequena, você fica tão linda quando está brava.”
“mas Lucas… Lucas quer mais do que sua amizade, Eu vejo isso e isso.. eu não vou permitir.”
Kalie engoliu seco, uma mistura de raiva e pavor se acendeu dentro dela, mas não teve tempo de responder, porque a próxima mensagem chegou como uma lâmina no peito.
Uma imagem.
Lucas.. Caído. O rosto ensanguentado, a boca cortada, os olhos fechados como se tivesse sido surpreendido.
A cena parecia recente, Crua, Fria.
Kalie arregalou os olhos e sentiu o estômago virar. Pegou o celular, tremendo, e digitou com desespero:
Kalie:
“O QUE VOCÊ FEZ COM ELE?!”
Kalie desliza para o lado liga para Lucas e toca uma..,duas.., dez vezes.., e nada dele atender
Ela grita:
“LUCAS?! RESPONDE!!!”
Ela mandou uma mensagem para Lucas, ligou novamente em seguida, Uma, Duas,Três vezes.
Nada.
A noite parecia mais silenciosa agora. Como se o mundo tivesse parado pra assistir o jogo doentio de um homem que a observava pelas frestas da realidade.
Naquela noite, Kalie não dormiu, passou horas olhando para o teto, o celular na mão, a mente martelando a mesma imagem: o rosto de Lucas coberto de sangue, a mensagem c***l, o aviso sombrio e os olhos invisíveis que pareciam observá-la até dentro dos seus próprios pesadelos.
Quando o sol finalmente se arrastou por trás da neblina, uma nova mensagem chegou, Dessa vez de Lucas.
Mensagem:
“Kalie, tô bem, Ontem um cara enorme, juro, devia ter uns dois metros, me esbarrou na rua e do nada me deu um soco, Não vi nem de onde veio.”
“Acordei com uma senhora me ajudando a levantar. Fui à polícia, mas como sempre… não deu em nada.”
Kalie sentiu o sangue ferver, Ela pegou o celular e digitou rápido, como se as palavras fossem armas.
Kalie:
“Chega disso, CHEGA, Eu não te conheço, Isso tudo já passou dos limites, Não quero mais ninguém machucado, Você não pode sair por aí atacando pessoas.”
A resposta veio com o mesmo veneno doce de sempre mas havia algo mais agora… um tom de fúria protetora.
Número desconhecido:
“Eu avisei, Eu disse pra você se afastar. Ele tocou em você, Te olhou como se pudesse te ter, Ninguém, princesa, ninguém vai te tocar, eu não vou permitir.”
Ela sentiu o peso daquelas palavras, o perigo nelas mas também algo mais… algo doente e ao mesmo tempo absurdamente protetor, Como se, de alguma forma insana, ele estivesse tentando cuidar dela.
Respirou fundo e pela primeira vez… cedeu.
Kalie:
“Tá. Eu entendi. Você quer que eu escute, então me escute também, Vamos parar com isso, Me escuta de verdade, Eu quero uma trégua, Sem violência, Sem ameaças.”
O silêncio durou alguns segundos eternos.
Até que a resposta chegou, mais calma, quase… gentil Mas ainda com aquele peso másculo, bruto e possessivo.
Número desconhecido:
“Trégua aceita, Mas não esquece, pequena… você me perturba, Me tira o chão, Eu observo cada passo seu porque o mundo é sujo demais pra você andar sozinha, Você é meu caos favorito e vou cuidar de você do meu jeito… mesmo que você ainda não entenda.”
Ela não sabia se chorava ou sorria mas ali, pela primeira vez… sentiu-se estranhamente segura.