LUÍZA
Matheus era o meu porto seguro, o único lugar onde eu podia respirar sem medo. Ele tinha 18 anos, dois anos a mais que eu, e era tudo o que eu precisava naquela vida cheia de sombras.
Nos conhecemos há apenas seis meses, mas parecia que já nos entendíamos há uma eternidade. Ele era gentil, atencioso e sempre me tratava como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo.
Enquanto em casa eu era invisível, com ele eu me sentia vista, amada, valorizada.
Matheus tinha um sorriso que iluminava até os dias mais escuros. Seus olhos castanhos claros pareciam carregar toda a calma que eu não tinha, e suas mãos, sempre firmes, eram capazes de afastar qualquer medo que eu sentisse. Ele era o oposto de tudo o que eu vivia em casa. Enquanto Sebastião me oprimia e minha mãe me ignorava, Matheus me ouvia, me abraçava e me fazia acreditar que eu merecia algo melhor.
Apesar de sermos jovens e de nos conhecermos há pouco tempo, já fazíamos planos para o futuro. Sonhávamos em nos casar, em ter uma casa simples, mas cheia de amor. Ele falava em trabalhar duro para nos sustentar, e eu prometia cuidar de tudo, de nós, do nosso lar. Era um sonho distante, mas era o que me mantinha de pé. Saber que, um dia, eu poderia escapar daquela vida e construir algo novo ao lado dele era o que me dava forças para aguentar cada tapa, cada castigo, cada palavra dura.
Matheus sabia um pouco do que eu passava em casa, mas eu nunca contava tudo. Tinha vergonha, medo de que ele me visse como uma vítima, como alguém frágil. Mas ele sempre intuía quando algo estava errado. Nos nossos encontros, ele me perguntava como eu estava, se eu tinha comido direito, se eu precisava de algo. E, mesmo sem eu dizer, ele parecia saber quando eu precisava apenas de um abraço apertado, daquele que fazia o mundo parar por alguns segundos.
Às vezes, eu me pegava pensando como seria se ele descobrisse tudo. Se ele soubesse dos tapas, das humilhações, da fome. Mas, no fundo, eu sabia que ele nunca me abandonaria. Matheus era meu refúgio, meu amor, meu futuro. E, enquanto eu planejava minha fuga para encontrar meu pai, ele era a certeza de que, um dia, eu teria uma vida nova, longe de tudo aquilo que me machucava. Com ele, eu podia sonhar. E, naqueles sonhos, eu era livre.
O Encontro
Naquele dia, eu não tive aula de manhã, o que significava horas a mais de tédio dentro daquele apartamento silencioso e opressor.
Minha mãe, como sempre, não se importava com o que eu fazia. Ela só tinha uma regra clara: eu não podia contar a ninguém o que acontecia dentro de casa, e muito menos pensar em ir ao morro. Fora isso, eu era praticamente invisível para ela. Negligenciada, esquecida, como se eu fosse um peso que ela carregava sem saber por quê.
Mas eu já estava acostumada. A única coisa que me importava naquele momento era que, à tarde, eu poderia ver Matheus.
Depois de tomar um banho demorado, me arrumei com cuidado. Escolhi uma blusa que ele gostava e uma calça que destacava minhas curvas.
Eu queria me sentir bonita para ele, mesmo que, dentro de mim, ainda carregasse a dor e a insegurança que a vida em casa me causava. Quando estava pronta, peguei minha bolsa e saí, sem me despedir de ninguém. Afinal, ninguém se importava mesmo.
Chegando no apartamento dele, fui recebida com um beijo quente, daqueles que fazem o mundo girar mais devagar. Matheus estava sem camiseta, apenas de bermuda, e o calor do corpo dele me envolveu como um cobertor em um dia frio.
Minhas mãos deslizaram quase que instintivamente pelo seu peitoral definido e pela barriga sarada, sentindo cada músculo sob a pele macia. Ele era lindo, e eu me sentia sortuda por ter ele ao meu lado, mesmo que, às vezes, eu não entendesse o que ele via em mim.
Apesar de namorarmos há seis meses, eu ainda era virgem. Era uma decisão que eu tinha tomado dentro de mim, queria esperar até o casamento. Mas Matheus tinha um jeito de me deixar excitada como ninguém mais.
Seus beijos, seus toques, a forma como ele me olhava... Tudo isso fazia com que eu questionasse minhas próprias decisões. Eu o amava, e ele me respeitava, mas era difícil manter a cabeça fria quando ele estava perto.
Naquele dia, como em muitos outros, nos deitamos no sofá da sala, abraçados, enquanto ele passava os dedos levemente pelas minhas costas. Eu sentia o coração acelerar, aquele frio na barriga que só ele conseguia me causar. Ele sabia dos meus limites, sabia que eu queria esperar, e nunca me pressionou. Mas, mesmo assim, eu sabia que ele também sentia desejo. Dava para ver no jeito que ele me beijava, no jeito que suas mãos exploravam meu corpo com cuidado, como se tivessem medo de me machucar.
— Luiza... — ele sussurrou, afastando um pouco para me olhar nos olhos. — Você sabe que eu te amo, né? Não importa o que aconteça, eu sempre vou cuidar de você.
Eu sorri, sentindo um nó na garganta. Ele era tudo o que eu precisava, tudo o que eu não tinha em casa. E, naquele momento, eu sabia que, não importava o que acontecesse, eu faria de tudo para ficar ao lado dele. Mesmo que o mundo inteiro parecesse estar contra mim, Matheus era a minha luz, o meu refúgio. E, com ele, eu me sentia segura para sonhar com um futuro onde eu seria feliz, longe de tapas, castigos e fome.
A Decisão
Eu olhei nos olhos de Matheus, aqueles olhos castanhos claros que pareciam carregar todo o calor do mundo, e senti algo mudar dentro de mim. Até então, eu tinha sido firme na minha decisão de esperar até o casamento. Era uma promessa que eu tinha feito a mim mesma, uma forma de manter algum controle sobre a minha vida em meio ao caos que eu vivia em casa. Mas, naquele momento, deitada no sofá com ele, sentindo o calor do seu corpo tão perto do meu, eu percebi que não queria mais esperar. Não porque eu estava desesperada, ou porque ele me pressionava, ele nunca faria isso, mas porque eu confiava nele. Eu o amava. E eu queria que fosse com ele.
— Matheus... — eu comecei, minha voz um pouco trêmula, mas firme. — Eu não quero mais esperar até o casamento.
Ele parou, seus olhos se encontrando com os meus, surpreso. Eu vi uma faísca de algo nele, esperança, talvez, ou até mesmo alívio, mas ele não disse nada, apenas me deixou continuar.
— Mas também não quero que seja aqui, no sofá, como se fosse algo qualquer. Eu quero que seja especial. Que você crie um dia... um momento que faça disso algo único. Algo que eu nunca vou esquecer.
Os olhos dele brilharam como só acontecia quando ele estava verdadeiramente feliz. Ele sorriu, aquele sorriso largo e sincero que eu adorava, e pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Luiza, você não tem ideia de como isso significa para mim, ele disse, sua voz carregada de emoção. — Eu nunca iria pressionar você, nunca. Mas se você está pronta... eu vou fazer disso o dia mais inesquecível da sua vida. Eu prometo.
Eu senti meu coração aquecer, como se o sol tivesse surgido depois de uma longa tempestade. Ele sempre soube exatamente o que dizer para me fazer sentir segura, amada. E, naquele momento, eu sabia que tinha tomado a decisão certa.
— No fim de semana — ele continuou, seus olhos brilhando com determinação. — Vamos fazer disso algo inesquecível. Eu vou cuidar de tudo. Só... confia em mim, tá?
Eu sorri, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto, mas dessa vez não era de tristeza. Era de alívio, de felicidade, de antecipação. Eu confiava nele. Eu sempre confiei.
— Eu confio — eu sussurrei, apertando sua mão. — E eu te amo.
— Eu também te amo, Luiza — ele respondeu, me puxando para um abraço apertado. — Mais do que tudo.
Naquele momento, deitada nos braços dele, eu senti que, finalmente, as coisas estavam começando a mudar. Eu tinha um plano para encontrar meu pai, um amor que me fazia sentir viva, e agora, a promessa de um dia que seria só nosso. Pela primeira vez em muito tempo, eu me senti esperançosa. E eu sabia que, com Matheus ao meu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.