Capítulo 3: O Encontro no Shopping

1306 Words
Depois de sair da casa do Matheus, com o coração ainda acelerado e a mente cheia de pensamentos sobre o que havia decidido, eu fui encontrar Raquel no shopping. Ela era minha melhor amiga, a única pessoa além do Matheus com quem eu podia ser completamente eu mesma. Nos conhecíamos desde os dez anos, quando estudamos juntas por dois anos. Mesmo depois que ela mudou de escola, mantivemos a amizade forte. Raquel era do tipo de pessoa que irradiava energia, sempre falava alto, ria mais alto ainda e tinha uma opinião sobre tudo. Ela era o oposto de mim em muitos aspectos, mas talvez fosse por isso que nos dávamos tão bem. Quando nos encontramos na praça de alimentação, ela já estava lá, sentada em uma mesa com um sorvete na mão e o celular na outra. m*l me viu, já começou a acenar freneticamente, como se eu pudesse não notar ela no meio da multidão. — Luiza! Aqui! — ela gritou, ignorando completamente o fato de que todo mundo ao redor estava olhando. Eu sorri, me sentindo um pouco envergonhada, mas também aliviada por ver ela. Sentei à mesa e ela imediatamente começou a me bombardear com perguntas. — E aí, como estão as coisas com o gato gostoso? — ela perguntou, com um sorriso malicioso. Ela sempre se referia ao Matheus como "o gato gostoso", e eu já tinha desistido de tentar fazer ela parar. Eu hesitei por um momento, mas sabia que não podia esconder nada dela. Então, baixei a voz e contei sobre minha decisão de não esperar até o casamento. Raquel quase derrubou o sorvete de tão animada que ficou. — Finalmente! — ela exclamou, batendo na mesa com a mão. — Já estava na hora, Luiza. Sério, você é a única pessoa que eu conheço que ainda é virgem. E com um namorado daquele jeito? Mulher, você tem mais autocontrole do que eu jamais vou ter. Eu ri, mas senti meu rosto queimar de vergonha. Raquel sempre foi muito aberta sobre sua vida s****l. Ela tinha perdido a virgindade dois anos antes e, desde então, vivia contando suas experiências com detalhes que me deixavam tanto curiosa quanto envergonhada. Ela falava sobre os caras, seus corpos, seus desempenhos... e eu, como boa amiga, ouvia tudo, mesmo que muitas vezes quisesse tampar os ouvidos. — E então, como vai ser? — ela perguntou, inclinando para frente, como se estivesse prestes a ouvir o segredo do universo. — Ele disse que vai fazer disso algo especial — eu respondi, tentando manter a voz estável. — No fim de semana. Ele prometeu que vai ser inesquecível. Raquel soltou um suspiro dramático, colocando a mão no peito. — Que romântico! — ela disse, com um sorriso de aprovação. — Mas, sério, Luiza, você tem que me contar tudo depois. Cada detalhe. Eu quero saber se ele é tão bom quanto parece. Eu ri novamente, mas dessa vez senti um frio na barriga. Raquel sempre falava sobre sexo como se fosse a coisa mais natural do mundo, e eu admirava isso nela. Mas, ao mesmo tempo, eu me sentia deslocada. Eu não tinha experiência, e a ideia de falar sobre isso depois me deixava nervosa. Enquanto ela continuava falando sobre suas últimas aventuras, dessa vez com um cara que ela conheceu em uma festa e que, segundo ela, tinha um "p*u impressionante" —, eu me peguei pensando na minha memória fotográfica. Todo mundo achava que era um dom, mas, para mim, parecia um fardo. Eu conseguia lembrar de cada nome, cada local, cada detalhe que Raquel contava, e isso às vezes me assustava. Era como se eu carregasse um diário álbum na mente, cheio de histórias detalhadas que eu nem sempre queria ler. Mas, naquele momento, eu decidi focar no que importava. Eu tinha Matheus, tinha Raquel, e tinha um futuro que, pela primeira vez, parecia brilhante. E, mesmo que minha memória fosse um fardo, eu sabia que também era uma parte de mim. E, talvez, um dia, eu aprenderia a usá-la a meu favor. — Então, no fim de semana, hein? — Raquel disse, interrompendo meus pensamentos. — Você vai finalmente entrar no clube, Luiza. E eu m*l posso esperar para ouvir tudo sobre isso. Eu sorri, sentindo uma mistura de nervosismo e antecipação. O fim de semana não podia chegar logo. A Prisão Quando cheguei em casa, já era depois da meia-noite. O apartamento estava escuro e silencioso, como sempre. Achei que todos já estivessem dormindo, mas, ao acender a luz, levei um susto. Sebastião estava sentado no sofá, imóvel, os olhos fixos em mim como se estivesse esperando minha chegada há horas. Meu coração disparou, e eu senti um frio percorrer minha espinha. Aquele olhar gelado, cheio de desprezo, era algo que eu conhecia bem. — Que horas são essas? — ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de raiva. Ele não gritava. Nunca gritava. Era sempre assim, um tom controlado que, de alguma forma, era mais assustador do que qualquer berro. Eu engoli seco, tentando me manter calma, mas minhas mãos já tremiam. — Eu estava com a Raquel... — comecei a explicar, mas ele nem me deixou terminar. — Eu não quero saber com quem você estava — ele cortou, levantando do sofá com um movimento brusco. — Você acha que esta casa é um motel? Que pode chegar na hora que quer, fazer o que quer, e ninguém vai dizer nada? Ele veio em minha direção, e eu instintivamente dei um passo para trás, mas não adiantou. Ele agarrou meu braço com uma força que fez eu soltar um gemido de dor. Seus dedos apertaram minha pele como uma garra, e eu sabia que, no dia seguinte, haveria marcas roxas ali. — Sebastião, por favor... — eu tentei falar, mas ele não estava interessado em ouvir. — Chega de conversa — ele disse, me arrastando pelo corredor em direção ao meu quarto. Eu tentava me soltar, mas ele era muito mais forte. — Você precisa aprender a respeitar as regras desta casa garotinha levada. Quando chegamos ao quarto, ele me empurrou para dentro com tanta força que eu quase caí. Antes que eu pudesse reagir, ele fechou a porta com um golpe seco e ouvi o som da chave girando na fechadura. Ele tinha me trancado. — Fica aí e pensa no que você fez — ele disse do outro lado da porta, sua voz ecoando pelo corredor. — E não adianta chorar, porque ninguém vai te ouvir. Eu me sentei no chão, encostada na porta, e as lágrimas começaram a escorrer. Eram lágrimas de raiva, de frustração, de medo. Eu me sentia como um animal enjaulado, presa naquela casa que nunca tinha sido um lar para mim. Minha mãe, como sempre, não apareceu. Ela devia estar no quarto, fingindo que não ouvia, como sempre fazia. Era mais fácil para ela ignorar, fechar os olhos e deixar que Sebastião fizesse o que quisesse. Eu chorei até não conseguir mais. Meu corpo tremia, e meu braço ainda doía onde ele tinha me agarrado. Eu olhei para as marcas que já começavam a aparecer e senti um nó na garganta. Como podia ser tão injusto? Por que eu tinha que viver assim, enquanto outras pessoas tinham famílias que as amavam, que se importavam? Mas, no meio daquela escuridão, uma pequena chama de esperança ainda queimava dentro de mim. Eu tinha Matheus. Eu tinha Raquel. E, mais importante, eu tinha um plano. Eu sabia que, um dia, tudo isso ia acabar. Um dia, eu ia sair daqui e nunca mais olhar para trás. Enquanto isso, eu só precisava aguentar. Respirar fundo, enxugar as lágrimas e esperar pelo fim de semana. Porque, no fim de semana, eu ia ver Matheus. E, com ele, eu podia sonhar com um futuro onde eu seria livre.
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