CAPITULO 1
alguns anos atrás...
Após algumas semanas depois do certo acontecimento, eu estava com uma certa insegurança de ir para a farmácia. Não pode ser possível ficar grávida na sua primeira vez. Eu preciso de coragem, e com a ajuda de Carol que estava no banheiro ao meu lado segurando meu cabelo enquanto eu colocava todo meu almoço para fora, eu conseguiria. Ela realmente é uma amiga excepcional, sempre ao meu lado, independente do que aconteça.
- Tem certeza que não quer que eu vá com você? Eu não me importo de faltar na aula. - Carol pergunta, com suas mãos acariciando minhas costas.
- Tenho certeza, já causei prejuízo demais para você. - levanto e dou a descarga.
Abro a torneira da pia e faço uma concha em minha mão, espero encher e jogo a água em meu rosto, que estava pálido. Ao enxugar meu rosto percebo que meu reflexo estava diferente do que eu me lembro. Meus cabelos pretos e longos que costumam a ser super bem penteados, agora estavam completamente desgrenhados, meus olhos azuis que antes tinham vida, agora não passa de um vazio, com olheiras em baixo por conta de noites m*l dormidas.
Prendo meu cabelo em um coque, e observo Carol, que tentava me estudar com seus olhos.
- Que foi? - passo por ela e vou em direção à minha jaqueta na poltrona de meu pai.
- Nada. Eu só estava pensando como você está f**a. - sua risada percorre o ambiente, fazendo eu soltar um sorriso silencioso.
- Nem vem, você também não é assim tão linda. - soco seu braço com delicadeza.
- Vai sonhando... - pego as chaves de casa e vou com a Carol até a porta.
É claro que eu queria Carol comigo para quando eu recebesse o resultado, mas ela com certeza iria entrar em pânico caso desse positivo, e quando alguém chora, eu instintivamente choro junto. Sem contar que ela tem prova de história hoje e não pode faltar.
- Você irá ficar bem sozinha? - ela para na frente da porta e passa a mão em minha bochecha.
- Vou sim, arrasa na prova! - sorrio e dou um abraço muito forte nela.
Como Carol é bem mais alta que eu, meus braços alcançavam sua cintura fina. Com certeza a Carol é uma típica menina perfeita. Seus cabelos louros na altura do ombro, seus olhos verdes e seu corpo impecável é um conjunto de perfeição. Apesar de ela não achar que é tão bonita assim e nunca deixar nenhum garoto chegar perto dela.
Depois que ela me soltou do abraço, seus olhos estavam lacrimejando, e essa era minha deixa para ir embora antes dela chorar. Tranquei a porta atrás de mim e peguei minha bolsa de costas. Dei um aceno para ela, que sorriu e acenou de volta.
Meu rumo para a farmácia estava quase completo, e no caminho meus fones tocavam uma música com certeza nada animada. - Hearts Don't Break Around Here - Ed Sheeran.
Abri a porta da farmácia ainda trêmula, fui andando pelos corredores até achar os testes de gravidez. Tinha diversos. Escolhi o mais caro, e comprei dois deles - só para ter certeza. Quando cheguei na fila do caixa meus dedos roçavam um no outro, minhas unhas já eram inexistentes, já que eu comi todas. Finalmente chegou minha vez, dei os dois testes para ela, e a vi passar com um olhar diferenciado.
- Deu trinta e cinco. - ela esticou a mão em espera pelo dinheiro.
Retiro de meu bolso uma nota de cinquenta e entrego. Enquanto ela pegava meu troco, ela não parava de me fitar com seus olhos. Até que decidiu abrir a boca.
Lá vem bomba.
- Desculpe eu ser intrometida, mas... Quantos anos você tem? - ela me entrega o troco e espera pela minha resposta.
- Tenho quinze. - dou um sorriso falso e guardo o troco em meu jeans rasgado.
- Quinze? - sua surpresa não era nada discreta. - Esses testes são para você?
Eu provavelmente mentiria em uma situação como essa, mas meus pais sempre me dizem que mentiras não levam a nada.
- São sim, obrigada. - pego a sacola com os testes e saio da farmácia o mais rápido possível.
[========]
Ao chegar em casa, abro a porta e avisto minha mãe sentada no sofá. Vou sem fazer barulho para o banheiro e tranco a porta atrás de mim. Faço os dois testes e espero um certo tempo para dar o resultado. Eu andava em círculos com a mão em minha cabeça.
Por favor, não dê positivo. Por favor, não dê positivo. - fico repetindo esse mantra por alguns segundos.
Ao ver no relógio que o tempo já tinha batido, me aproximei dos dois testes e os peguei.
Os dois deram positivo, não pode ser possível.
Jogo os testes no lixo ainda perplexa, vou dando passos para trás até sentir a parede em minhas costas. Escorrego até o chão, e ali eu fico. Não demorou muito para minhas pequenas lágrimas virarem um choro gigantesco com soluços.
Ouço uma voz familiar falar atrás da porta.
- Filha, você está bem? - seu tom soava preocupação.
Não respondo, apenas abro a porta. Ao encontrar seus olhos, eu a abraço com todas as forças possíveis. Minhas lágrimas deslizam como água em torneira, eu não consigo parar de chorar. Minha vida está estragada.
- Você está machucada, o que aconteceu meu docinho? - ela me afasta e olha para todas as partes de meu corpo, para se certificar que eu estou bem.
Tomo coragem e consigo pronunciar umas palavras.
- Você irá brigar comigo se eu te contar uma coisa? - limpo a lágrima que acabara de cair.
- Óbvio que não, o que aconteceu? - suas mãos acariciam meu cabelo ainda preso.
- E-eu estou grávida. - gaguejo.
Seu rosto ficou sem expressão nenhuma.
- Tem certeza?
- Sim. - aponto para a lixeira, com os testes feitos.
- Ah, minha filha... - ela me abraça novamente.
Após me soltar, ela me levou para o sofá e sentamos juntas.
- Quem é o pai?
- Isso não é importante. - agarro uma almofadinha e fico abraçada à ela.
- Ele é o pai do meu neto, é claro que é importante. Quem é o garoto Maria Eduarda? - ela faz uma carranca.
- Seu nome é Richard. - confesso. - Ele tem dezessete anos e está no último ano.
- Dezessete anos? - seus olhos se abrem. - Ele não te obrigou a fazer isso né?
- Não mãe, eu quis. - coloco a almofada em meu rosto, para tampar minha vergonha.
Bem que a almofada poderia me engolir.
- Como vamos contar isso para seu pai? - ela passa a mão pelo rosto, preocupada.
- Eu não sei, estou com medo mamãe. - retiro a almofada do meu rosto e apoio a cabeça em seu ombro.
- Vai dar tudo certo, não se preocupe. - ela passa seus braços em minha volta, me trazendo um conforto enorme.
- Eu te amo! - sorrio.
- Eu também te amo meu amor. - ela deposita um beijo no topo de minha cabeça.
Ficamos assistindo filmes de comédia, até nós duas pegarmos no sono.
[========]
Acordo com um estrondo e um grito vindo à seguir. Abro meus olhos com a certeza do que acabará de acontecer. Ao ver meu pai na minha frente, com uma cinta em sua mão e com seus olhos soltando fogo, senti um medo que nunca pensei que sentiria. Olhei para minha mãe, que também estava com a mesma reação que a minha. Nós duas sabemos o que ele descobriu e como minha mãe não pode ter mais filhos, ele deve ter constatado que aqueles testes eram meus. O silêncio estava me sufocando, não só a mim mas sim a todos.
- Aquilo é seu Maria Eduarda? - ele suspirou, buscando calma e apontou para o banheiro.
Não respondi, apenas fiquei olhando seu rosto, que me fitava com raiva. Eu nunca apanhei de meu pai, mas acho que isso pode mudar hoje. Agarrei a mão de minha mãe e fechei meus olhos ao ver sua mão se levantar em minha direção. Fiquei aguardando o t**a, mas nada veio.
- Quem foi o desgraçado? - ele pergunta soltando a cinta e se apoiando na parede.
- Ninguém. - tomo coragem para falar.
- Então você fez com o dedo? Me fala quem foi e isso acabará! - ele ordena.
Ao ver que não iria conseguir retirar nenhuma resposta minha, ele em um surto de raiva passa a mão por todos os enfeites da prateleira. Derrubando fotos de família, vasos, entre outras coisas. Vi os cacos quebrados no chão, quando olhei para ele novamente, o mesmo estava vindo em minha direção com um olhar que nunca havia visto.
- Vá para seu quarto Maria! - minha mãe levanta em um pulo e entra na minha frente.
- Mas mãe... - fui interrompida.
- Vá agora! - ela gritou, e eu sai correndo para meu quarto.
Fico ouvindo por horas os dois brigarem. Enfio minha cara no travesseiro e choro a noite toda.