Lucas
729 Words
Narrado por Dara
As meninas aparecem no quarto, tentando me arrancar da solidão que já virou rotina. Falam mil motivos para eu ir ao baile hoje, mas nenhum parece suficiente. Eu não tenho motivos pra sorrir.
Geovana: Vamos, amiga, vai ser legal!
Sophia: É, você vai se divertir, sair desse quarto, respirar um pouco.
— Não tô afim, meninas. Se divirtam por mim...
Geovana: Dara, você fica comigo. O Dante nem vai chegar perto de você.
Sophia: A gente fica longe deles. Vamos, por mim! — Elas fazem aquela cara pidona que só elas sabem fazer, e eu fico pensativa. Talvez... talvez seja bom eu ir. Talvez eu encontre uma brecha pra sumir, sei lá.
— Tá, eu vou. Mas eu não quero nem olhar na cara do Dante.
Geovana: Fechado! Vai ser ótimo. — Elas me abraçam e pulam animadas. Eu aceitei, mas sinceramente... ainda não tenho ânimo nenhum pra isso.
Me sinto perdida, sufocada por uma realidade que nunca escolhi. O baile seria só uma distração, um momento de liberdade disfarçada. Mas, por dentro, estou morrendo. A tristeza me consome, o desânimo me acompanha como uma sombra. Dante, o homem que um dia jurou me amar, hoje é meu pesadelo vivo. Estou indo ao baile pra fugir. Respirar. Tentar lembrar quem eu era.
Escolho um dos vestidos da Geovana. Elas estão animadas, fazendo de tudo pra me distrair. Pego um vestido vermelho, colado ao corpo. Percebo o quanto emagreci, mas curiosamente isso me fez me sentir ainda mais bonita. Faço uma maquiagem marcante, olho fundo no espelho... estou linda.
Geovana: Deslumbrante!
Sophia: Hoje você está de m***r qualquer um... de d****o ou de inveja.
— Hoje eu vou aproveitar a noite. Deixar a tristeza pra depois...
Geovana: É isso aí, garota!
Sophia: Assim que eu gosto de ver: Dara perigosa na área! — Rimos e saímos do quarto. O carro para bem em frente à quadra do baile.
Desço... e não é difícil sentir os olhares sobre mim. Eu, Geovana e Sophia atraímos atenção como um imã. Por um segundo, o mundo parece desacelerar. Os homens me desejam. As mulheres... talvez me desejem também. Ou só desejem ser eu. Os vapores da multidão se abrem como um corredor. Caminho escoltada por homens fortemente armados. Subo as escadas e, então, meu olhar cruza com o dele.
Dante.
Seu olhar mistura surpresa e possessividade. Um arrepio percorre meu corpo. Meu sorriso se desfaz. O baile, que seria meu refúgio, agora virou palco da nossa tensão silenciosa.
Geovana: Vamos pra lá. — Ela aponta pra um canto mais afastado e eu concordo. Sophia logo traz nossas bebidas e eu bebo sem temor. O álcool desce queimando, se misturando com a angústia. Uma combinação perigosa... e perfeita.
A música nos envolve. Dançamos, rimos, gritamos. Por algumas horas, me sinto viva. O salão gira, as luzes piscam, o som pulsa em cada batida do meu coração. Esqueço Dante. Esqueço tudo. Me perco no momento.
Geovana e Sophia estão ao meu lado o tempo todo, me protegendo como sempre. E então, percebo... estou sendo observada. Um rapaz se aproxima. Bonito. Fisicamente forte. Provavelmente um traficante também, mas... nada mais me abala. Já estou no fundo do poço.
Continuo dançando. Ele se aproxima sem hesitar.
Geovana: Não dá corda! Se o Dante ver... já era! — Ouço o alerta, mas o olhar de Dante me encarando lá de longe me provoca. Me instiga. Me desafia.
O rapaz chega mais perto.
???: Com certeza, tu é a mulher mais linda que já vi.
Dara: Se fosse a mais bonita da noite, eu acreditaria melhor.
???: Pode acreditar. Não sou de mentir. Qual é seu nome?
Dara: Dara.
Lucas: Você está linda.
Dara: Você já falou isso.
Lucas: Posso repetir a noite inteira, se quiser. Eu sou Lucas. Prazer, Dara.
Dara: O prazer é meu.
Lucas: Quer dançar?
— Pode ser.
Lucas: Você é incrível.
Dara: Você também não é tão r**m assim. — Respondo, olhando diretamente nos olhos dele, mas sentindo o peso do olhar de Dante queimando minhas costas. Lucas se aproxima... e me beija.
Eu retribuo.
Não porque quis. Não porque senti algo. Mas porque eu queria ferir Dante. Queria destruí-lo. Nem que fosse por um único segundo. Uma vingança fria e impulsiva. Mas no fim... tudo que faço sempre acaba voltando contra mim.
E com isso, mais uma vez... não foi diferente.
- Writer
