capítulo 05 - Mano G

1093 Words
Mano G narrando capítulo 05 Acordar no morro é sempre uma roleta russa , nunca sabe se o barulho que te tira do sono é o despertador, o motor de uma moto descendo na banguela ou o som seco de tiro cortando o ar. Hoje foi o ronco do motor. Quatro da manhã e o rádio já chiava. “Jacaré quer geral no pátio antes do sol nascer.” Vida de segurança não tem descanso, irmão. Levantei, lavei o rosto na água fria da caixa, joguei uma blusa por cima da bermuda e calcei o tênis. A pistola tava onde sempre fica, embaixo do travesseiro. A gente aprende a dormir com ela como se fosse extensão do braço. No Cruzeiro, confiança é luxo e eu já vi n**o morrer só por ter esquecido de trancar a arma. Desci a viela sentindo o cheiro do café das tias misturado com o de fumaça do meu verdin . No caminho, uns moleque indo pra escola, uniforme amassado, rindo alto. Me dá uma paz ver isso, mesmo que dure pouco. Penso que podia ter sido eu, se o mundo tivesse dado um empurrão diferente. Mas o morro não dá escolha, ele escolhe por você. Cheguei no pátio e o clima já tava tenso. Jacaré, sentado na cadeira de praia dele, com o cigarro aceso e o rádio na mão. O olhar dele é daquele tipo que pesa, sabe? Frio, calculista, mas respeitado. Eu sou segurança dele há quase três anos. Já vi muita coisa que nem o vento leva corpo sendo carregado, promessa quebrada, aliado virando traidor. E ainda assim, é aqui que eu tô. - G, vigia a parte de cima hoje. Fiquei sabendo que o pessoal da Baixa tá se movimentando . ele disse, sem nem levantar o olhar. - Pode deixar, chefe. respondi firme. Fiquei o dia todo nesse vai e vem. A gente protege as bocas, cuida do movimento, garante que o dinheiro chegue no cofre certo. E no meio disso tudo, ainda tem que fingir que o coração é de ferro. Porque não dá pra se apegar. Já tentei, e deu r**m não pra mim , pra ela e ela nada mais é que a filha do finado sub do Jacaré, aposto que se ele tivesse vivo hoje em dia quem estaria morto seria eu. De tarde, o sol descia rachando o asfalto. Fiquei sentado na escadaria com o Alemão e o Pinguim, trocando ideia, rindo das mina que passavam rendendo , querendo um patrocínio. Mas, eu não podia ficar de bobeira . Foi ai que vi ela vindo la longe , ja ajeitei a postura, encostei na moto já falei pros cria da um giro por ali da um espaço .Não perdi a oportunidade, cada dia que passa ta mais linda papo reto . Desde que nois se pegava eu nunca esqueci o beijo dela , o cheiro , mas sou muito filho da p**a pra ser de uma só. Sou conhecido por aqui como rei delas , as Paty sobe e se acaba sentando pra nois , só por adrenalina tá ligado ? Ela é cria , mas cara de Paty ainda mais depois que começou descer pra pista no sonho de ser “professora do morro”. Ela Sempre teve um brilho diferente, mesmo quando a gente era pivete. E ver ela desse jeito, segura, com aquele olhar desafiando o mundo... mexe comigo. Mas eu sei que ela não quer mais essa vida, que ela olha pra mim e vê o passado que tenta esquecer. E, de certo modo, eu entendo. O problema é que eu não consigo me desgrudar desse morro , desse mundo que o crime proporciona. Isso aqui me criou, me ensinou o que é lealdade com o chefe , ja com muie é outra conversa .Eu nunca prometi romance , mas também não evitei de rola coisa mais séria. Ela passou por mim com aquele ar de quem já sabe o efeito que causa. O cabelo solto , shortinho curto pronta pra matar sem arma , o cheiro doce misturado com o vento da tarde e o olhar... frio, cortante, como se cada piscada dela fosse uma navalha. - Tu não muda nunca, né, G? ela soltou, sem nem parar de andar. Dei aquele meio sorriso, o de quem finge que não sente, mas sente pra c*****o. Cada palavra dela batia onde nenhuma bala acertou. A mulher sabe o poder que tem, e usa com precisão.Fiquei olhando ela sumir na curva, o shortinho marcando na b***a ,cabelos ao vento, chinelinho branco naquele pezinho 33/34 coisa linda . O tipo de cena simples que me bagunça inteiro.O Alemão, que assistia tudo de camarote, soltou a risada debochada. - Ih, esquece, pai. Essa daí já tá em outra. Peguei o baseado do bolso e acendi devagar. - Ninguém tá em outra de verdade, irmão. Coração de cria sempre volta pro mesmo beco. Falei sem olhar pra ele, soltando a fumaça pro alto. Porque, no fundo, eu sabia por mais que ela fingisse, e por mais que eu tentasse me convencer, nós dois ainda táva presos no mesmo morro , e um no outro também. Mais tarde, quando o rádio avisou “tudo limpo”, subi pro alto, sentei na laje e fiquei olhando a cidade lá embaixo. As luzes piscando como se nada de errado existisse aqui em cima. Fumei um cigarro, o vento batendo no rosto e o pensamento voltando pra Helena de novo. Ela com aquele shortinho jeans, o cabelo solto, o riso debochado.Eu sei que devia esquecer. Que ela é o tipo de mulher que quer futuro, e eu sou o tipo de homem preso no presente. Mas tem coisa que a gente não escolhe. Quando escurece, o morro muda de tom. As luzes piscam, os rádios não param. A gente fica de olho nas vielas, pronto pra qualquer movimento estranho. Às vezes parece que a gente é o próprio fantasma do lugar que vive, mas não vive de verdade. O Jacaré fala que cada um aqui tem seu papel o dele é mandar, o meu é proteger. Então, sigo jogando o jogo. Amanhã tem mais ronda, mais calor, mais tiro, mais silêncio entre um grito e outro. Mas também tem açaí na esquina, e talvez o sorriso da Helena passando de novo pela viela. E isso, por mais errado que pareça, ainda é o que faz eu querer acordar no dia seguinte. vamboraaaaa indique pras amigas ajude a autora , quem puder divulgar na praça da dreame fico grata ....
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