Jacare narrando
capítulo 07 cont...
Às vezes eu tento imaginar o que passa na cabeça da Luna. Fico calado, olhando praquela menina que virou mulher tão depressa, e penso no tanto que ela guarda pra ela . A Luna sempre teve um olhar que fala mais do que qualquer palavra. Quando era pequena, bastava eu sair pra um corre que ela ficava esperando eu voltar, com medo de eu ser mais um nome nas manchetes da manhã. Hoje ela já não espera mais , aprendeu a lidar com as ausências, a esconder as dores. Mas eu sei que, por dentro, ela ainda sente.
A ausência da mãe deixou um buraco que nem o tempo, nem eu, consegui tapar.
Vejo ela tentando se preencher com os estudos , com os livros, com qualquer coisa que distraia o peito. Mas eu conheço aquele olhar vazio que vem de quem sente falta de colo, de quem dorme com a saudade de um abraço que não volta nunca mais. Às vezes escuto ela falando sozinha, pedindo conselho pra uma foto antiga da mãe. Isso me destrói.
Eu sei que ela culpa o destino, mas também me culpa. E com razão. Eu devia ter estado mais presente, devia ter sido o porto seguro quando o mundo dela desabou. Só que eu também tava perdido, tentando segurar o morro, a dor, e uma promessa que fiz pra mim mermo , a de nunca deixar faltar nada. E acabei confundindo “não faltar nada” com encher de tudo, menos o que mais importava tempo, afeto, escuta.
Tem dias que eu vejo a Luna calada demais, o olhar distante, e juro que vejo a mãe dela ali , a mesma mania de esconder o que sente pra não preocupar os outros.
Ela finge que tá bem, mas o coração dela tá cheio de perguntas que não têm resposta.
.Às vezes penso que a raiva dela é o jeito que encontrou pra me chamar de volta.
Cada palavra atravessada, cada silêncio, é um pedido de atenção que eu demorei pra entender. Mas entendi agora. Tarde, talvez. Mas entendi.Eu só queria poder olhar nos olhos dela e dizer:
“Filha, teu pai errou pra caramba, mas te ama mais do que tudo.”
Só que amor não basta quando o estrago já foi feito. O que resta é tentar reconstruir, passo a passo, sem promessa bonita, só com atitude.
E talvez… elas se de bem , a dondoca seja um empurrão do destino pra ela ter uma presença feminina mas presente , que não seja a Joyce. Não pra substituir ninguém, mas pra mostrar pra mim e pra Luna que a vida continua, que ainda dá pra recomeçar, mesmo com cicatriz. Mas antes de qualquer coisa, eu preciso alcançar minha filha.
Fazer ela entender que o pai dela ainda tá aqui, mesmo com o peito cheio de falhas.
Quando ela gritou faz oque quiser e subiu correndo pro quarto . Meu coração deu uma baqueada, ela não aceitou legal não, já era de se esperar. A porta bateu e eu me joguei no sofá procurando calma pra lidar com a situação. Fiquei olhando pro teto, tentando entender onde foi que a gente se perdeu de vez. A casa tava em silêncio, mas o eco do grito dela ainda rodava dentro de mim. “Faz o que quiser.” Palavras curtas, mas que vieram com um peso desgraçado. Não era só raiva, era dor.
Peguei o isqueiro na mesa,fui pra beira da piscina acendi um cigarro e deixei a fumaça subir lenta, como se ela pudesse levar junto esse nó que me aperta o peito. A Luna cresceu vendo o pior de mim. Viu as noites que eu não dormia, as vezes que eu voltava sujo de sangue, a tensão de cada toque no rádio. Eu sempre achei que tava protegendo ela do perigo, mas, na real, eu sou o perigo dentro de casa. Ela nunca me pediu luxo, nunca me cobrou nada além de presença. E isso foi justamente o que eu menos dei.
Agora eu tô pagando o preço, vendo minha filha me tratar como estranho.
Pensei em ir atrás dela, mas o orgulho segurou. O mesmo orgulho que já me fez perder gente demais. Só que orgulho nenhum vale mais que o amor de um filho, e isso eu tô aprendendo do jeito mais amargo. Depois de mó tempão pensando eu levantei decidido eu não vou trazer ela aqui , não ainda . Talvez um pouco mais de tempo. Levantei, fui até o quarto dela. A porta tava trancada .Mas eu sabia que ele não tava dormindo a luz ainda tava acesa , fui no meu quarto peguei um papel qualquer e escrevi rápido, sem pensar muito.
“Quando quiser conversar, teu pai tá aqui. Sem grito, sem cobrança. Só eu e você.”
Deixei embaixo da porta e saí em silêncio.
Entrei no meu quarto encostei na parede e fiquei um tempo parado so olhando o comodo foi aqui que vivi os melhores momentos da minha vida com a minha fiel a unica mulher que tinha o poder de me tirar do eixo e me colocar novamente. Ela sempre vai ser o grande amor da minha vida , nunca nenhuma outra vai alcançar o lugar que ela teve no meu coração. Mas eu não vou negar que tenho sim vontade de ter uma pessoa na minha vida . E a dondoca pode até ter entrado sem pedir licença, mas talvez seja isso mesmo que a vida tá tentando me mostrar que eu não posso continuar preso no passado, que preciso abrir espaço pra algo novo. A real é que as vezes eu não me vejo com outra é como se fosse uma traição com a mãe da Luna, como se a qualquer momento ela fosse voltar mesmo depois desses anos .
E Traição é uma parada que eu não engulo. Nunca aceitei e nem vou aceitar.
No meu mundo, isso tem peso de sentença. Já vi amizade virar guerra por causa disso, sangue de irmão derramado por causa de mulher, e mulher chorar por homem que jurava lealdade. A palavra é o que segura o homem de pé, e quando ela se quebra… já era.Com mulher, então... pior ainda. Eu não sou santo, nunca fui. Mas nunca brinquei com sentimento. Quando tô com alguém, tô de verdade. Posso ser bruto, posso errar no jeito, mas não erro na lealdade. Isso é regra.
Adicionem meus amores .....