CAPÍTULO 2

2411 Words
WILLIAM Puxo a máscara, olhando para o garoto ao meu lado, que fica me olhando, com os olhos escuros brilhantes. Nathan estava apreensivo, mas o pedido dele era claro como a água, não queria desfazer o pedido dele, não sabia como ele iria reagir durante e após, mas estava pronto. De verdade? Não estava totalmente pronto assim. Era uma criança vendo uma mãe que não estava muito bem, eu quando moleque já não gostava de ver minha mãe Íris doente, imagina em uma cama, sem previsão de melhora. Não. Não tinha como uma criança ficar pronta pra isso, era impossível. Dava vontade de trocar de lugar com Ellen, só pra não ver o garoto passar por isso, mas não dava. - Eu também tenho que colocar isso? – Balanço a cabeça e puxo a máscara, mesmo grande, eu coloco nele, para podermos fazer o que ele tanto pediu e que eu também estava querendo. - Isso coça o meu nariz, tio William – Eu me levanto e fico parado, encarando Facini que abre a porta do quarto, quando eu me movo, Nathan segura a minha mão e aperta, entrando na quarto ao meu lado, um lugar iluminado, com uma cama, ao lado a aparelhagem e bem ali é onde eu vejo o rosto familiar demais para mim. - Ela está dormindo? Ele falou baixinho, um único barulho diferente e eu não teria escutado ele falando. Ele está sendo cuidadoso até agora, de um jeito Nathan de ser, de querer ser um bom garoto. Quando paramos ao lado da cama, eu puxo a escada de debaixo da cama e uso com Nathan, fazendo o ficar de pé e ver finalmente Ellen, tem o oxigênio nas suas narinas, há um corte no lábio inferior e um roxo próximo a mandíbula, junto com os fios que entra para dentro do lençol e faz o único barulho da sala dos aparelhos. Um som que eu não queria escutar. Há uma coisa r**m dentro de mim acontecendo, mesmo eu calado, engolindo tudo. Há uma sensação r**m dentro de mim. Tem um sentimento de não saber o que fazer e querer mudar aquilo. De não querer ver ela deitada daquele jeito. Nathan se inclina um pouco e eu coloco a mão no rosto dela, acaricia devagar e com cuidado, parece analisar o rosto da mãe e o que havia acontecido com ela. Ele parou com a mão no ombro dela e ficou alguns segundos sem mexer nada. - O que foi? - Pergunto. - Vamos chamar ela, para ela acordar, não está na hora de dormir – Dou um sorriso, tentando parecer natural e não um bundão triste diante ele. - Mamãe? - Fico quieto, por não saber o que fazer. - Mamãe acorda, eu e o tio William estamos aqui com você, acorda, vamos jantar com a gente – Ele se vira para mim, eu respiro fundo. - Ela não vai responder? Não Nathan, ela não iria responder, ela está em coma. - Ela tem que acordar pra isso. Ela está se recuperando do acidente. - O braço dela – Ele ergue a mão e toca a faixa. - Ela está machucada – Nathan se inclina mais um pouco. - Eu vou cuidar da senhora, ouviu? - Nós vamos, cabeludo – Sussurro baixo. - Quando ela vai acordar? - Eu não sei Nathan, mas agora você entende que ninguém está te afastando dela? Que ela está se recuperando do acidente? Por isso está assim, paradinha? - Ele se vira para mim, fica ereto e me encara. - Não pode fazer o que fez mais cedo, temos que ficar bem, tudo bem? Assim as coisas se encaixam até ela voltar pra nos. - Me desculpa se magoei o senhor, eu só queria ver ela, ela é um pedaço de mim e eu sou um pedaço dela, tio William – Me inclino um pouco e ergo a mão, acariciando o rosto dele e arrumando a máscara que insiste em não ficar no lugar. - Ela faria a mesma coisa se fosse você – Afirmo com tanta certeza, que uma cena se passa na minha cabeça, um que me faz pensar se fosse Nathan ali, mas isso e afastando, antes que eu tenha um troço só de imaginar Nathan, se com Ellen já estava difícil. - Vamos ter que esperar ela acordar e ficar bem, você me entende? - Sim, mas vai demorar? Eu não gosto disso, desse barulho todo. - Eu não sei, mas pode acreditar que ninguém vai te afastar dela – Ele se vira para ela. - Mãe, vamos esperar a senhora acordar e sair daqui – Ele da um risadinha por baixo da máscara. - Eu machuquei meu braço, mas ele já está bom, dói um pouco. Ele para de falar. - Fale com ela, logo teremos que voltar para o quarto, aproveite. - O que eu falo, tio William? - O que sentir vontade e necessidade, o que puder. Ele acena e se vira pra ela, dando um sorriso pequeno. - Eu amo a senhora e vou esperar a senhora acordar, eu posso fazer aquela vitamina verde que a senhora toma – Ele ergue o olhar para mim. - Você me ajuda, tio William? Ela gosta daquilo. - Claro. - Viu, eu e o tio William vamos fazer. A gente bateu o carro, o barulho era alto mãe, muito alto – Ele ergue a mão e coloca sobre os ouvidos. - Mas depois saímos de lá, agora estamos aqui – Nathan desce da escada e olha para mim. - Fala com ela também, assim ela acorda mais rápido. - Eu? - Ele balança a cabeça e desliza a mão dele até a minha, eu olho para Ellen e aperto a mão dele. Fico parado. - Ellen? - Balanço a cabeça pelo impulso de tentar chamá-la. Mas isso não funciona. - Eu estou aqui com Nathan, estamos esperando você acordar, seja rápida e não demore, difícil sem você aqui, estou quase surtando – Olho brevemente para o rosto de Nathan. - Me desculpe, eu não queria que estivesse aqui, as coisas não saem como planejamos e se tivesse saída estaríamos em casa, sua companhia e sua atenção tem sido importantes para mim. Vejo o pigarreio na porta e sei que os minutos acabaram, que a visita chegou ao fim. Aquilo me deixa frustrado, sair sem ela e sem ao menos saber ou escutar algo vindo dela. Pra quem conhecia ela fazia diferença a presença que ela tinha. Ellen tinha presença e tinha minha atenção sempre que aparecia, agora ali ela também tinha, mas de uma forma diferente, uma atenção que me deixava triste e com a sensação de faltar um pedaço de mim. - Temos que ir? - Pergunta Nathan, me olhando. - Sim cabeludo, quer se despedir? – Ele balança a cabeça. - Tchau mãe, vou esperar a senhora melhorar, viu? Eu amo a senhora – Nathan se encosta em mim mais um pouco e olha para mim. - Estaremos aqui – Isso é a única coisa que eu falo, antes de me virar e sair do lugar, retirando a mascara e ajudando Nathan. - Vamos? - Pra onde? - Quer ir para casa ou não se sente pronto ainda? - Pergunto, pensando como as coisas ficam por agora. - Vamos ficar com a mamãe, não podemos? - Balanço a cabeça. - E se ela acordar? - Se ela acordar, eu aviso você e você vai ser o primeiro a ver ela. Rick está aqui, vamos – Eu me mexo com ele, quando chego ao quarto de Nathan, eu vejo os rostos conhecidos da minha mãe e de Rick. - Voltamos – Anúncio, me aproximando da cama e me sentando. Por Deus, meu corpo parecia estar no automático depois desse tempo todo. Parecia que uma tropa havia feito continência em mim todo. Bem, ainda estava em choque pelo acidente e não havia melhorado nada disso, apenas colocado de lado e segurado as pontas. Mas uma hora a conta vem, geralmente não é de graça e muito menos barata como pensamos. - Viram ela? - Sim tio Rick, ela está dormindo e está machucada, mas ela vai ficar bem – Nathan fala, se aproxima da cama e passando por mim, indo até um vaso de flores e puxando uma. - Minha mãe é forte, ela vai acordar e eu vou estar esperando ela. - O que vai fazer, cabeludo? - Me inclino para trás e me encosto, vendo ele se mover até parar na frente da minha mãe, erguendo a flor, ela fica olhando o gesto e sorri, erguendo a mão e segurando a flor amarela. Vejam, aquilo é Nathan, com um gesto genuíno e que me faz perder a linha, penso nele e em Ellen ao meu lado, o pensamento me alegra e ao mesmo tempo me deixa ansioso quando penso em Ellen naquela cama. Estava acabado, eu queria não só Ellen, mas aquele garoto na minha vida. Eles eram fundamentais agora. Faziam um bem danado. - Obrigado. - Me desculpa por mais cedo, eu estava nervoso – Ele suspira. - Você é mãe do tio William, prazer – Dou um sorriso, todo bobo pra cena. - Você me desculpa? - Claro que sim! - Vejo a empolgação na voz dela de longe e aquilo me aquece um pouco, me faz ver que ele estava melhor e não aquela pilha de mais cedo. - Que tal agora você aceitar aquele lanche, Nathan? Minha mãe não teve filhos, mas eu sabia da alegria dela ao ver uma criança, ela fazia isso com Nathan, assim como fez comigo tantas vezes. Ela era incrível. Eu entendia agora a falta de uma criança, essa coisa da infertilidade era complicado, em alguns momentos da minha vida eu queria ter uma chave de escape e em outros eu realmente achava que aquilo era de boa e normal pra mim. Mas ser infértil é não ter uma criança pra chamar de sua, não, não é questão de posse, mas de alguém por quem ir, fazer, desenvolver e buscar. Como um propósito. Uma criança se torna um propósito quando chega, mas nunca tive isso, esse propósito. Não saído de mim. Ellen tinha um propósito, isso era um fato, acompanhando ela desde que a conheci, entendi o motivo pra ela ser como é, tentar cuidar e proteger o garoto. Sem ele, bem, ela não teria um propósito, poderia ter, como eu tive em todos esses anos, mas se não fosse o propósito de ser uma boa mãe, bem, ela poderia não ser a Ellen que eu conheço. Eu gosto dela, além disso vejo que ela me proporcionou conhecer um garoto incrível e que me fazia não ter um propósito específico, mas uma meta de fazer ele bem ao extremo. - Está de noite, minha mãe diz que eu estou em fase de crescimento – Minha mãe se levanta. - William, temos que jantar, você e ele não comeram nada. Então, o que acha? - Eu estou bem, pode levar ele, mas não demore – Olho para Rick, enquanto vejo minha mãe íris arrumar as coisas pra irem. - Você está bem, Rick? - Sim, estou bem - Fala, mas noto o tom de voz e o olhar distante dele. - Quer vir com a gente, tio Rick? - Rick balança a cabeça e se inclina um pouco, tocando o cabelo de Nathan. - Come bastante por mim – Quando minha mãe sai com o cabeludo, eu sei que ele vai poder comer algo e ficar ainda melhor. - Você está bem, William? - Balanço a cabeça em negativa, ergo o olhar para o teto. - Eu queria ter a visto, foi tudo uma correria sem fim. - Amanhã te enfio lá, eu precisava muito ter ido, me desculpa se passei na sua frente. Você é família dela. - Não se preocupe, o garoto viu ela, então isso vale por mim. - Ela parece dormir – Fico calado. - Profundamente. - E quando ela vai acordar? - Eu espero que rápido Rick, ela não pode deixar o cabeludo esperando e nem eu, h******l essa sensação de ficar sem resposta dela ou um sinal que está bem – Fecho os olhos. - Minha cabeça parece querer estourar, além do meu corpo ter passado por um rolo compressor. - Vai ficar tudo bem agora. Ficamos em silêncio, até eu pensar em Nathan e o que fazer com ele depois que sairmos do hospital, ele já estava liberado, assim como eu, então tinha coisas a resolver nesse critério. Eu não queria pensar em um responsável, porque na falta de uma mãe, quem substitui é o pai, mas o pai de Nathan não era uma opção, não por mim e nem nada, mas pelo processo em andamento. - O que vamos fazer com, Nathan? - Pergunto. - Eu não quero deixar ele – Me ergo da cama. - Pensei em levar ele comigo, até as coisas voltar ao normal. Meu apartamento comporta uns 10 dele. - Ele pode ficar comigo, não precisa se preocupar. Eu nem tive tempo de ver isso, vim pra cá assim que me ligou, isso foi assustador! - Assustador foi ver ela parada dentro daquele carro, isso foi assustador, receber a notícia fica sendo só o choque – Reflito. - Você precisa descansar, você está um caco– Dou um sorriso. - Eu estou todo dolorido. - Está no automático, eu sei o que é isso, você precisa descansar, logo a ficha vai cair e você vai se livrar dessa tensão. - Se ela acordar hoje isso vai sumir rapidinho – Pulo da cama. - Eu vou atrás deles, quer vir? Preciso enfiar algo dentro da boca, antes que eu enlouqueça. - William. - Sim. - Você é como ela – Encaro ele. - Você não desaba, mesmo indicando que tudo está r**m. Foi isso que ela viu em você, não foi? Vocês são iguais em personalidade, não em tudo, claro. Agora entendo a compatibilidade. Dou um sorriso satisfeito na direção dele. - Ela viu muita coisa em mim, Rick . Nathan falou uma coisa quando viu ela – Suspirou fundo. - Que ela era um pedaço dele, sabe o que é entender isso? Ellen fez uma coisa importante na minha vida Rick, eu tenho que admitir. - E o que foi isso? - Revirou ela, se encaixando nela, com tudo dela. Ellen é minha, ela vai ficar bem, não existe João sem Maria.
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