O silêncio da mansão naquela noite parecia mais denso do que o habitual. Cada passo que eu dava pelos corredores ecoava alto demais, como se a própria casa me lembrasse de que eu não pertencia ali. E, mesmo assim, estava presa àquele lugar. Àquele homem.
Subi as escadas devagar, o vestido vermelho ainda colando ao meu corpo depois de horas naquela festa infernal. A maquiagem já começava a borrar, e meus pés doíam com os saltos. Mas o que mais pesava era a sensação que ainda queimava sob minha pele.
O toque dele.
As palavras dele.
Aquela sacada. Aquele maldito momento em que meu corpo traiu minha mente.
Entrei no quarto, joguei os sapatos no canto e me encarei no espelho. A mulher que me olhava de volta parecia outra. Tinha os olhos acesos, o coração na boca e os lábios ainda um pouco inchados de tensão.
Eu estava enlouquecendo. Só podia ser isso.
Ou pior: estava começando a me acostumar com Lorenzo.
Tirei o vestido com raiva, jogando-o sobre a cadeira. Vesti um robe preto de seda que encontrei no armário e soltei os cabelos. Estava prestes a deitar quando ouvi um leve bater na porta.
Uma. Duas. Três vezes.
Suspirei. Já sabia quem era.
– O que foi agora? – perguntei, abrindo.
Ele estava ali. Lorenzo. Com a gravata solta, os cabelos um pouco bagunçados e os olhos intensos, como se estivesse prestes a me engolir inteira.
– Posso entrar?
– Isso é um pedido?
– Considere uma gentileza. Não costumo bater.
Revirei os olhos e dei um passo para o lado. Ele entrou, caminhando pelo quarto como se fosse dele. E talvez fosse. Tudo ali era dele. Até eu, em teoria.
– Veio conferir se eu dormi sorrindo depois da humilhação pública?
– Vim conversar.
– Conversar. Com você? Essa é nova.
– Algo está acontecendo, Alina – disse, se virando para mim. – E quero deixar claro desde já: não fuja.
Cruzei os braços.
– Fugir do quê? Do seu ego inflado?
Ele se aproximou um passo. Depois outro.
– Do que está crescendo entre nós.
Soltei uma risada irônica.
– Ah, não. Vai bancar o sedutor agora?
– Não preciso bancar. Basta observar seu corpo toda vez que chego perto.
– Vai se ferrar, Lorenzo.
– Não – respondeu, com a voz baixa, rouca. – Eu vou te ferrar. Quando você deixar.
Arfei, surpresa com a ousadia. Com a forma como ele disse aquilo, como se fosse uma promessa inevitável.
– Você está confuso se acha que eu algum dia vou...
– Beijar você? – interrompeu. – Deixar que eu toque você? Sussurre no seu ouvido enquanto sua respiração falha?
– Eu te odeio.
– E mesmo assim, está tremendo.
Olhei para minhas mãos. E ele estava certo. Tremiam levemente. De raiva. De medo. De desejo.
Lorenzo deu mais um passo. Agora estava a poucos centímetros. Podia sentir seu calor, o cheiro amadeirado do perfume, o toque implícito no ar.
– Acha que não percebi? – ele sussurrou. – Seus olhos me seguem. Seu peito acelera. Seu corpo quer o que sua mente se recusa a admitir.
– Cala a boca.
– Cala você – ele retrucou, agarrando minha cintura com firmeza.
Tentei empurrá-lo, mas ele era muito forte. E, pior, meu corpo cedeu antes da mente. A proximidade me desarmava. O toque dele me confundia.
– Solta – sussurrei, fraca.
– Me diga que não quer – ele desafiou, os olhos nos meus. – Olhe nos meus olhos e diga que não deseja isso.
Abri a boca, mas as palavras não vieram.
E então ele me beijou.
Foi como uma explosão silenciosa. Um choque quente, faminto, voraz. Ele me puxou com força contra o corpo dele, e a boca dele tomou a minha como se me possuísse. Não houve delicadeza. Só urgência. Domínio. Fome.
E eu… cedi.
Por um segundo, um maldito segundo, beijei de volta. Agarrei sua camisa, puxei seu cabelo, deixei que sua língua invadisse a minha boca e me levasse para um lugar que eu não queria explorar.
Mas então…
– Não – sussurrei, empurrando-o com força. – Não!
Ele recuou. Ofegante. Os olhos queimando.
– Por quê?
– Porque eu te odeio – disse, recuando. – Porque isso não pode acontecer. Porque você é meu inimigo, Lorenzo. Isso tudo é um jogo sujo. Eu só estou aqui por causa do meu irmão!
– E isso muda o que está acontecendo entre nós?
– Isso muda tudo!
Ele se aproximou de novo, mas eu levantei a mão, firme.
– Sai. Agora.
Ficou me encarando por um longo momento. Depois assentiu.
– Isso não vai desaparecer, Alina. Está crescendo. E vai te engolir.
Virou-se e saiu, fechando a porta atrás de si com um clique abafado.
Fiquei ali, parada, com o coração martelando no peito e os lábios ainda pulsando com o gosto dele.
Aquilo não era só desejo.
Era o começo de algo muito mais perigoso.
E eu sabia que, se não me protegesse, Lorenzo Salvatore acabaria me consumindo inteira.