A Primeira Noite Queima

906 Words
O relógio marcava 23h04 quando ouvi os passos no corredor. Rítmicos. Firmes. Sem pressa. Eles pararam bem diante da minha porta. Houve uma pausa. E então, três batidas. – Não estou com paciência, Lorenzo – gritei. A maçaneta girou mesmo assim. Ele entrou. Usava uma calça de moletom cinza escura e uma camiseta preta ajustada. O cabelo ainda molhado denunciava um banho recente, e o perfume amadeirado e fresco invadiu o quarto antes mesmo de ele dizer qualquer coisa. – Você nunca está com paciência, Alina – disse, se encostando na porta. – Mas continua me provocando com essa camisola ridícula. – É só uma camisola – respondi, cruzando os braços, consciente demais de como o tecido fino marcava meu corpo. – Justamente – ele disse, caminhando até o centro do quarto. – Fina demais pra dormir sozinha. Ou pra manter segredos. – Se for sobre aquela sala secreta, já disse que não quero mais saber. – Mentirosa – ele murmurou. – Você quer. Está morrendo de curiosidade. Mas tem medo do que vai encontrar. – E o que eu encontraria? Ele sorriu, mas havia algo sombrio nos olhos. – Um homem quebrado. Um passado podre. Um motivo legítimo pra me odiar… ou pra me entender. Engoli em seco. Lorenzo se aproximou mais um passo. Eu podia ter recuado. Podia tê-lo mandado embora. Mas não me movi. Meu corpo inteiro parecia hipnotizado. – Por que está aqui? – perguntei. – Porque estou cansado de fingir que não quero te tocar. – Então não finja. Apenas vá embora. – E deixar de fazer isso? – Ele ergueu uma mão e deslizou os dedos pela alça fina da minha camisola. Meu coração disparou. – Lorenzo… – Shhh – ele sussurrou, os olhos presos nos meus. – Me diga que não quer. Me diga que não sonhou comigo essa noite. – Você está sendo… – Verdadeiro – ele interrompeu, e, em um movimento suave, me puxou pela cintura. – Pela primeira vez. Seu corpo roçou no meu. Quente, firme, totalmente ciente da tensão entre nós. Seu nariz roçou minha bochecha. Sua respiração era pesada, irregular. Assim como a minha. – Você acha que pode me dominar com esse joguinho? – Eu não jogo, Alina. Eu pego. Eu tomo. – Isso não é tomar – sussurrei. – Isso é pedir. Ele riu, rouco. – Você ainda não entendeu. Eu não preciso te forçar. Você já está cedendo. E então ele me beijou. Dessa vez, o beijo não foi roubado. Foi aceito. Meus braços foram para o pescoço dele antes que minha mente pudesse protestar. Sua boca se moldou à minha com precisão, calor e fome. Foi lento no começo, depois mais intenso. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, firmes, possessivas. Arfei contra sua boca quando senti seu corpo me empurrar levemente contra a parede. Ele segurou minha coxa, puxando-a para cima, encaixando nossos corpos de um jeito que tirou meu ar. – Lorenzo... – murmurei, entre um beijo e outro. – Fala – ele disse, a voz rouca, os lábios na minha clavícula. – Isso não devia estar acontecendo. – Mas está. Sua boca desceu para meu pescoço, deixando um caminho quente que fazia minha pele formigar. Quando sua mão entrou por baixo da barra da minha camisola, minha respiração falhou de novo. – Me diga pra parar – ele disse, roçando os lábios no meu queixo. – Agora. Só precisa dizer. Fechei os olhos. Meu corpo gritava “fica”. Meu orgulho berrava “vai”. E eu... fiquei muda. Ele entendeu. Me pegou no colo com um só movimento e me levou até a cama. Deitou-me com cuidado, mas seus olhos estavam carregados de desejo bruto, como se estivesse se contendo por um fio. – Você é insuportável – murmurei, enquanto ele tirava a própria camiseta. – Mas você me quer mesmo assim. – Infelizmente. Ele sorriu, como quem vencia uma guerra que já sabia ser dele. Deitou-se ao meu lado e puxou minha perna sobre a dele. Sua mão subiu por minha coxa devagar, explorando, marcando território. Beijou meu ombro. Depois meu colo. Sua respiração era quente e compassada, e cada toque parecia milimetricamente calculado para me enlouquecer. Minhas mãos passearam por seu peito, sentindo os músculos, o calor, o controle absoluto que ele tinha do próprio corpo… e do meu. – Isso muda tudo, Lorenzo – sussurrei. – Você sabe disso. – Eu quero que mude. Seus olhos estavam escuros. E, por um instante, vi neles algo mais que desejo. Vi verdade. E foi isso que me desarmou. Beijei-o de novo. Mais profunda, mais certa. A noite explodiu ao nosso redor com gemidos abafados, mãos impacientes, roupas pelo chão. Naquela noite, eu o desejei. Naquela noite, eu o deixei me ter. E naquela noite… eu comecei a cair. Acordei no meio da madrugada. Ele ainda estava ali, deitado ao meu lado, com o braço jogado sobre minha cintura, o corpo quente e pesado. O lençol nos cobria parcialmente, e a lua iluminava seu rosto como se quisesse me mostrar a parte dele que ninguém via. A respiração dele era calma. Tranquila. Mas eu não sentia paz. Eu sentia pânico. Porque Lorenzo Salvatore estava quebrando todas as minhas defesas. Uma a uma. E, quando eu menos esperasse, ele estaria dentro de mim de um jeito que não poderia mais ser desfeito. Fechei os olhos, tentando enganar meu coração. Mas ele já estava traindo minha razão.
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