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1096 Words
Allan Narrando... Halley entrou na empresa brilhando. Saia lápis preta, um sapato de salto diferente dos tênis que geralmente usa, cabelo solto e agora está com um óculos mais bonito, que valoriza seu rosto. Nunca pensei que diria isso, mas a Halley é uma tremenda gostosa. Ouvi passos apressados vindo do corredor enquanto eu me ajeitava na cadeira para começar a trabalhar. Quando vi, meu pai entrou na minha sala furioso e arremessou uma revista em minha cara. Eu peguei a revista enquanto ele gritava. - Você apareceu drogado na cama de umas prostitutas, seu desgraçado! A empresa desvalorizou ainda mais, eu não aguento mais ter você como filho! - Meu pai tremia. - Pai, eu... - Peguei a revista e vi a foto do dia em que aquelas vadias me drogaram. Eu estava nu, coberto por uma tarja preta, completamente drogado na cama e rindo. Que cena ridícula. - Eu nem sei o que te falar. - Você tem uma semana pra dar um jeito na sua vida. Uma semana! Ou eu te deserdo, entendeu? Você vai perder cada centavo meu, eu vou fazer questão de colocar na poupança de quem quer que seja, mas meu dinheiro você não vai ver! - Ele saiu batendo os pés e eu fiquei sem chão. Realmente, eu mereço tudo isso. Mas eu quero mudar, eu estou tentando... Talvez eu não esteja tentando o suficiente. Abaixei minha cabeça na mesa e respirei fundo. Ouvi uma batida suave na porta, e vi Halley parada na minha frente. - Veio rir de mim? - Ela sorriu e olhou para baixo, negando com a cabeça. - Não, Allan. Vim conversar com você. - Pode falar. - Falei. Halley entrou na minha sala e fechou a porta. Eu a olhei e ela notou que eu estava chateado, pelo olhar de pena que lançou para mim. -Vi o que aconteceu. Acho que metade do setor viu. - Bufei. - Pois é. Como vão me respeitar assim? - Eu questionei. - Se dê ao respeito. Mostre que você está mudado. Isso pode te fazer bem... Acho que tá na hora do Allan adolescente morrer, e o Allan homem surgir das cinzas. - Comentou. - Pensamento legal. Eu só não sei como faço isso. Como eu vou limpar isso? - Levantei a revista e a joguei de volta na mesa, indignado. - Olha, eu realmente não sei. Mas você pode começar sendo menos o****o. Mostrando... Que você se importa com as pessoas. - Halley sorriu de forma doce. - Como? - Vamos no sopão da cidade hoje. Eles sempre precisam de voluntários. E pelo menos uma vez por semana eu vou lá. - Eu ergui as sobrancelhas. - Acha que isso ajudaria a limpar minha imagem com a mídia? - Ela sorriu. - Melhor que isso. Acho que isso te ajudaria a ser uma pessoa melhor. - Levei um tapa na cara com luvas macias. - Isso me parece um bom começo. - Sorri de volta para ela, e ela se levantou para sair. - Você tá linda, gostei do novo visual. Halley ficou vermelha dos pés a cabeça. - Obrigada. - Disse, e saiu. Eu fiquei na minha sala imaginando o que uma pessoa responsável faria. E então, olhei para Halley e lá estava ela, concentrada em seu trabalho... Era óbvio o que eu tinha que fazer, era só difícil admitir para mim mesmo. E então, eu peguei alguns documentos e comecei a conferir, pela primeira vez. E isso me fez um bem danado. Eu me senti útil e definitivamente, mais responsável. Pela primeira vez também, eu senti que o horário de serviço passou rápido. Isso porque fiz coisas o dia inteiro, e sempre que eu sentia vontade de desistir, olhava para Halley e lá estava ela, brilhando, e fazendo tudo de forma responsável. Ela é o tipo de pessoa que eu quero me tornar. - Tá pronto para irmos para o sopão, Allan? - Ela entrou na minha sala. Eu ainda estava trabalhando, após o expediente. - Sim, só vou assinar esse documento e já vamos. - Falei. Eu fiz o que falei e logo saí com ela. Fomos no carro dela, e logo nós estávamos no local do sopão. São pessoas realmente carentes, crianças, idosos, moradores de rua, pessoas pobres num geral e todas estão ali porque pessoas como Halley se disponibilizam para ajudar. - Há quanto tempo você faz isso? - Eu perguntei. - Desde que minha avó começou a morar na parte de cima desse salão. Aqui é um asilo, e eu faço porque sempre os vejo aqui. Tem sopão todos os dias a noite. As pessoas não param de chegar... Então eu ajudo como posso, com meu tempo. Os ricaços bancam, a gente serve. E todos nós somos importantes, porque sem eles não teria os mantimentos, e sem nós, não teria quem cozinhasse e servisse. - Eu concordei com a cabeça ao ouvir. Halley colocou uma touca de cozinheiro em mim e colocou uma nela também. Achei engraçado. Servimos o sopão juntos, e eu comecei a ter uma ideia maluca: Ela é o tipo de pessoa perfeita para que eu apresente para a mídia como minha namorada. Nós não temos nada, mas poderia ser uma espécie de contrato ou favor... Eu posso prometer algo legal em troca, e isso poderia muito bem melhorar minha imagem. - Halley? - Chamei. - Diga, Allan. - Ela questionou, enquanto colocava a sopa em um pote de isopor. - Quer namorar comigo?  - Ela me olhou confusa, e quase derrubou a sopa. Arregalou os olhos, chocada. Eu dei risada com a reação. - Quê? - Questionou. - Não de verdade, eu acho que se eu estivesse com alguém como você, a mídia pararia um pouco de encher o saco. - Ela entregou a sopa nas mãos de uma idosa e sorriu para ela. - Entendi. E o que eu ganho com isso? - Eu entreguei uma sopa também, para uma criança. - Quer dinheiro? - Ela soltou uma risada. - Não, eu já tenho o suficiente. Quero viajar e conhecer lugares legais. E aí, eu topo. - Ela falou com um sorriso no rosto. - Quais lugares você tem vontade de conhecer? - Ela deu os ombros. - Milhares. Nenhum me vem a mente agora. Mas eu vou arranjar algo. - Ela riu. Levantou o dedinho mindinho, e olhou para mim. - Fechado? - Fechado, Halley. - Eu encostei meu dedo mindinho no dela e fechamos a promessa, como fazemos quando somos crianças. Eu só espero que essa promessa de dedinho me faça amadurecer.
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