Halley Narrando...
Cheguei no escritório, ajeitei meu óculos e sentei em minha mesa. Tenho milhares de coisas pra fazer. Parece que o serviço se acumula em cima de mim, porque Allan não faz nada. Ele passa mais tempo bebendo e putanhando por aí do que trabalhando e realmente sendo o chefe da empresa.
– Bom dia, Halley. – Levantei o rosto e vi Allan vestindo... Terno? É um milagre ele chegar completamente pronto na empresa, ainda mais... Dentro do horário. E segunda-feira, ainda.
– Bom dia. – Falei.
– Quero conversar com você. – Ele disse. Arregalei os olhos e me levantei, indo em direção ao escritório junto com ele. Ele fechou a porta e sentou na sua cadeira de chefe, enquanto eu estava em pé o olhando.
– Pode falar, Allan. Fiz algo de errado? – Ele negou com a cabeça e passou as duas mãos no próprio rosto.
– Não. Eu... Eu tô pensando no que você me disse sexta, no dia da festa, quando me levou pra casa. Você tem razão. – Ergui as sobrancelhas. Me sentei na cadeira à frente da mesa dele, o olhando, interessada.
– Continue.
– Eu realmente não sei o que fazer para ser mais responsável, Halley. Eu... Eu tô tentando. – Concordei com a cabeça.
– Já é um começo. – Comentei.
– O que eu posso fazer, Halley? – Questionou, me olhando de forma esperançosa.
– Eu acho que você pode demonstrar que é um homem e não um moleque, começando a vir mais cedo pro serviço, arrumado de forma adequada... Cara, você tem todo direito de beber, encher a cara e vomitar por aí. Mas não na festa da empresa, sabe? E não dá pra você chegar com aquela moto fazendo randandandan todo dia... É tão...
– Irresponsável? – Concordei com o que ele disse.
– Isso, Irresponsável, Allan. Você precisa crescer. Mas... Por que todo esse interesse em crescer agora? – Ele respirou fundo e passou as duas mãos pelo próprio rosto.
– Meu pai tá me cobrando responsabilidade e me disse que tiraria meu cargo da empresa se eu continuar assim. E eu não quero perder porque gosto de trabalhar aqui. – Lancei um olhar penetrante nele, o observando como se olhasse sua alma.
– Você gosta de trabalhar aqui ou gosta do status de chefe? Porque eu não vejo você fazer muita coisa pela empresa. – Ele arregalou os olhos.
– Halley! Eu sou seu chefe, você não pode me falar essas coisas. – Disse, depois fechou a cara.
– Eu sei. Mas foi você quem me disse que quer ser mais responsável.... E eu estou te dando dicas, ué. – Dei os ombros.
– Você é uma atrevida. Mas eu gosto disso. – Ele soltou uma risada. – Você vai me ajudar então, não vai?
– Vou. Se você prometer se esforçar. – Allan esticou a mão para mim e eu estiquei para ele. Nos cumprimentamos, como se estivéssemos fechando um acordo.
– Negócio fechado, Halley. – Ele piscou um dos olhos. O que ele tem de irresponsável, tem de bonito, infelizmente.
Saí da sala dele e minha colega de trabalho veio até mim. Ela é ruiva, tem um corpo violão e é apaixonada pelo Allan.
– O que ele disse? Vocês estão bem próximos ultimamente... – Ela comentou. – Ele perguntou algo de mim?
– Lia, ele não perguntou nada sobre você nem sobre mim. É só trabalho. E a gente acabou fazendo amizade por causa da amizade entre minha avó e o pai dele... Não é nada de mais. – Dei os ombros.
– Você precisa falar de mim para ele. Ele vai te ouvir. Você sabe disso. – Dei os ombros mais uma vez.
– Você já foi pra cama com ele quantas vezes? – Ela respirou fundo e colocou uma mecha do cabelo ruivo atrás da orelha.
– Quatro. – Respondeu.
– Se ele quisesse algo sério com você, já teria dito. E sinceramente, eu não acho que ele seja alguém que namora sério. Olha pra ele, Lia. Ele vive a vida como se estivesse em uma ladeira e fosse um carro sem freio. O que você vai fazer com um homem como ele? – Ela fez um bico com o lábio inferior enquanto me olhava.
– Não fala assim dele. Ele com certeza não achou a mulher certa, é só isso. Alguém que o faça mudar. – Girei meus olhos.
– Por favor. Você acredita nisso? Assistiu filmes de romance demais, Lia. Homens assim raramente mudam. Sai dessa... Olha, o Jack tá solteiro e eu sempre o vejo olhando pra você. Ele sim é um homem de respeito...
– Ele é feio. Combina mais contigo. – Olhei para ela, surpresa. – Amiga, calma... Você não é feia. Você é só m*l arrumada.
– m*l arrumada? – Minha cara de surpresa aumentou.
– Você tá sempre com essas camisas super fechadas, essa calça social larga e esse tênis Oxford... Fora esse coque m*l arrumado e esse óculos esquisito. Você devia se arrumar mais.
Talvez ela esteja certa.
– Nossa, Lia. – Eu fiquei triste, confesso.
– Não tô falando pro seu m*l. Eu até te ajudo a fazer umas compras e se vestir melhor... Olha, nada melhor do que uma saia lápis, camisa social de seda com corte bem feminino e um scarpin. Se você não gosta de salto, a gente pode achar uma opção mais feminina pra você. – A olhei desconfiada. É difícil deixar meus tênis Oxford.
– Tipo?
– Tipo mullets. Ou sapatilhas de bico fino, sapatos sociais de salto baixo... Tem tantas opções. Você vai se sentir mais bonita e confiante. E, você precisa soltar esse cabelão.
– Tá...
– Vamos fazer assim. Eu te ensino a se arrumar, e você me ajuda com o Allan. – Ela bateu palminhas e sorriu.
– Eu posso te ajudar, mas não sei se vou conseguir. – Falei.
– Só o fato de tentar será o suficiente. Compras depois do expediente? – Ela sorriu.
– Fechado.