Encontro inesperado...cap 4

1792 Words
ALLONSO ALBUQUERQUE Turno encerrado. A única coisa que eu queria agora era minha cama. O dia foi puxado, como sempre. Cheguei em casa sem perder tempo: banho direto e corpo jogado nos lençóis. O cansaço me engoliu em segundos. — Acordei cedo, como de costume. Tomei banho, vesti uma calça jeans escura, camisa preta e desci para tomar café. — Bom dia, Bentinha. — disse, pegando minha xícara. — Bom dia, meu menino. — ela sorriu, como sempre. — E a sua ajudante? A tal da Júlia? — Foi até o quarto, mas já volta. — Hm. Dei um gole no café, e então lembrei. — Ah, Bentinha... Esqueci de te avisar. Hoje viajo. Congresso entre delegados. Dois meses. — Dois?! Nossa… — Pois é. Você pode fazer minha mala? — Faço sim. — Alguém virá me buscar. Vou direto da delegacia. — Tá certo. Boa viagem, meu filho. — Até logo, Bentinha. (***) Graças a Deus o congresso acabou. Foram dois meses de tédio, discursos, politicagem e frases bonitas ditas por delegados que não prendem nem a própria sombra. Voltei direto pra DP, sem tempo nem pra respirar. O dia foi razoavelmente calmo — o que, pra mim, é sempre um mau sinal. Fiz alguns boletins, algumas prisões... e quando olhei no relógio, já passava das onze da noite. Organizei tudo, fechei a sala, e fui pra casa. — Chegando, ainda com a cabeça cheia, decidi treinar. Fazia tempo que não entrava na minha academia particular. Precisava liberar o estresse, o peso, o sangue fervendo. Troquei de roupa, vesti apenas uma calça de moletom e comecei o treino. E por quase uma hora, esqueci do mundo. Depois, banho tomado, corpo mais leve, fui até a cozinha beber água. Foi aí que ouvi. Gritos. Não comuns, não de dor física. Eram mais... profundos. De dentro. Gritos de alguém revivendo um inferno. Andei rápido pelos corredores escuros da casa, atento. Os sons vinham de um dos quartos. Um dos quartos da ala dos empregados. Quando cheguei à porta, já entreaberta, ouvi: — Não… não, por favor… Ricardo, hoje não… por favor... NÃO! Entrei imediatamente. A garota se debatia na cama, visivelmente em meio a um pesadelo. Me aproximei com cuidado, ajoelhei ao lado. — Ei… garota… acorda. É só um sonho. Ela abriu os olhos de repente. Arregalados. Assustados. Tremendo. Me olhou como se estivesse diante do próprio monstro que a assombrava. p**a que pariu... o que essa mulher viu? De repente, pulou da cama e se encolheu no canto do quarto. Chorava. Tremia. Repetia, em voz baixa: — Hoje não… por favor… Levantei as mãos lentamente. — Calma. Eu não vou fazer nada com você. Me afastei e fui até o interruptor. — Vou só acender a luz, tá? Acendi. E foi quando ela me viu de verdade. Ela me analisou, ainda ofegante, confusa. Eu, parado, sem camisa, suado, só de moletom. Os olhos dela passearam por mim antes de se fixarem nos meus. — Quem é você? — ela conseguiu dizer, com a voz fraca. — O que faz aqui no meu quarto? — Eu sou o dono da casa. E você? — Eu… sou a Júlia. Auxiliar da dona Benta. Claro. A tal da nova funcionária. Ela parecia aos poucos recobrar a consciência, mas ainda visivelmente abalada. Peguei um copo de água do criado-mudo e entreguei a ela. — Aqui. Ela aceitou. Bebeu tudo de uma vez, como se fosse a primeira coisa real da noite. — Obrigada. Foi aí que me dei conta do que ela vestia — ou, melhor, do que não vestia. Uma camiseta masculina, leve, que deixava as pernas à mostra. E que pernas. A camiseta não escondia muita coisa, e quando ela notou meu olhar… tentou se cobrir com as mãos, sem sucesso. — Dá pra se virar, por favor? Quero ir pra cama. — disse ela, seca. Levantei a sobrancelha. Direta e atrevida. Mesmo assustada. — O quê? — Se vira, por favor. — disse, fazendo o gesto com a mão. Eu ri de leve, mas obedeci. Ela se deitou, cobriu-se como se fosse levantar um escudo entre nós. Quando olhei novamente, ela estava com o olhar firme, ainda em alerta. — Então… você é o senhor Allonso Albuquerque. — disse. — Sim. — Como entrou aqui? — Vim pegar um copo d’água. Ouvi gritos. Achei que estivesse sendo atacada. A porta estava aberta, então entrei. — Me desculpa... não queria causar incômodo. Ela baixou os olhos. A vergonha era visível. Mas o mais estranho era o nome que ela gritou. — Quem é Ricardo? A mudança no olhar dela foi imediata. — Ninguém. — respondeu rápido. Mentira. O tipo de resposta que só quem sangra por dentro dá. Assenti. Não era hora de pressionar. Saí do quarto em silêncio. De volta ao meu quarto, me joguei na cama. Mas o sono não veio. Fiquei olhando pro teto, as mãos atrás da cabeça, e o corpo ainda reagindo à presença dela. Júlia. O corpo dela era um convite ao pecado. Pele macia. Curvas deliciosas. Boca sensível. Mas o olhar… o olhar tinha sombra. Trauma. Dor. Bentinha foi fazer caridade demais. E me trouxe uma mulher linda, sensível e problemática. Uma mistura explosiva. Uma pena que, mais cedo ou mais tarde, vou ter que mandá-la embora. Depois, é claro… de levá-la pra minha cama. Desejo? Sim. Envolvimento? Nunca. Se tem uma coisa que aprendi, é que nada é mais perigoso do que misturar mulher bonita com sentimento. E esse tipo de mulher… é veneno puro. E o pior? Acho que já tô começando a gostar do gosto. (***) Acordei antes do despertador, como sempre. O sono, mesmo quando vem, nunca é descanso de verdade. Tomei meu banho, me vesti, camisa escura, jeans, e desci pra tomar café. Assim que entro na cozinha, dou de cara com ela. A tal Júlia. — Bom dia. — digo, direto. — Bom dia, senhor Albuquerque. — ela responde, baixando o olhar. Senhor. Droga. Ela não faz ideia do quanto essa palavra me provoca. Faz minha mente viajar por lugares que ela definitivamente não está pronta pra visitar. Tento ignorar, mas tá difícil... ainda mais com ela vestida desse jeito, com aquele uniforme simples que destaca tudo o que eu não devia notar. — E a Bentinha? — pergunto, tentando me concentrar em algo que não seja suas pernas. — Não está se sentindo bem. Pedi pra ela descansar um pouco. — Ela disse o que tinha? — Não, senhor. Ela não consegue manter o olhar em mim por mais de três segundos. Fica vermelha. Envergonhada. E quanto mais se retrai, mais meu corpo responde. Silêncio. Ela me serve o café e se afasta, indo pra cozinha. Aproveito pra respirar. Tomo meu café rápido e, antes de ir pra delegacia, passo no quarto da Bentinha. — Bentinha. — chamo, batendo levemente na porta. — Oi, menino Allonso. Precisa de alguma coisa? — Só vim saber se quer ir ao médico. Está sentindo alguma coisa mais forte? — Não, meu querido. É só um m*l-estar de velha. — Entendo. Mas se piorar, me liga. Sem bancar a durona, entendeu? — Pode deixar. A Júlia tá aqui comigo, não tô sozinha. — Tá certo. Dou um beijo em sua testa, mas antes de sair, a pergunta me escapa. — Bentinha… — Sim, meu filho? — Como você escolheu a Júlia? — Ah, a Júlia… apareceu aqui logo depois que você e o Davi colocaram aquele anúncio. Tava desesperada, coitada. E eu gostei dela logo de cara. É uma boa moça, trabalhadora. — Hm. Só curiosidade mesmo. — Sei… E você reparou como ela é linda, né? — Eu? — finjo. — Nem reparei. Mentira descarada. Reparei, sim. Desde o primeiro segundo. Mas é o tipo de beleza que incomoda, que desarma. — Até mais, Bentinha. Saio do quarto. Vou até o carro, mas assim que coloco a chave na ignição, lembro: deixei uns documentos no quarto. Resmungo e volto. Subo direto. Abro a porta do quarto e… Puta que pariu. Júlia está de costas, abaixada, com a b***a empinada enquanto recolhe roupas no cesto. Aquilo ali deveria ser proibido por lei. Meu p*u responde na hora, como um soldado obediente. — Precisa de ajuda? — pergunto, com a voz um pouco mais rouca do que eu queria. — Ai, meu Deus, senhor Albuquerque! Quer me matar do coração?! — Desculpa. Só vim pegar uns documentos. — Estou recolhendo a roupa suja que a Bentinha, mandou. — Certo. — O senhor precisa de mais alguma coisa? — Não. Pego o que vim buscar e saio sem dizer mais nada. Se ficasse mais um minuto, eu faria uma besteira. E não posso. Chego na delegacia, cumprimento a equipe e vou direto pra minha sala. Me sento, começo a rever os relatórios quando o infeliz do Davi entra sem bater, como sempre. — Fala, viado! — Já falei pra você não entrar sem bater, c*****o! — Deixa de drama, irmão. Como foi o congresso? — Um porre. Delegado só sabe falar merda em microfone. — Não tinha nenhuma gata pra te distrair? — Tinha. Várias. — E nenhuma caiu no teu papo? — Quem disse que eu jogo papo? Elas que se jogam em mim. — respondo, e ele ri alto. — Modestíssimo. Pegou alguma? — Peguei. Peguei forte. — E essa cara de cu por quê? — Porque a mulher era maluca. Duas fodas e já queria me apresentar pra família. Tô fora. — Kkkkkkkk! Ela se apaixonou! — Eu sei que eu sou f**a na cama, mas isso aí foi exagero. Não me relaciono. Eu uso e tchau. — E a Bentinha, arrumou ajudante? — Arrumou. E que ajudante… — Já sei que você vai comer. — Óbvio. Só preciso da deixa. Mas ela tem um parafuso solto. — Como assim? — Ontem à noite ela teve um pesadelo. Gritava um tal de Ricardo, parecia em pânico. Achei que tivesse alguém atacando, entrei no quarto e ela tava em colapso. — Melhor deixar essa aí quieta, mano. Parece problemática. — Eu sei. Mas eu tô há dois meses sem meter. Vou comer e depois mando embora. Simples. — Você é meu ídolo, mano. Quando crescer quero ser igualzinho. — ele ri, provocando. — Vai, desgraçado. Desembucha logo. O que você quer? — Que maldade, irmão! Mas já que perguntou… vai inaugurar uma boate nova hoje, exclusiva. Só pra convidados selecionados. O que me diz? — Tô dentro. Davi sorri, todo animado. Ficamos batendo papo mais um tempo. Depois que ele sai, volto a trabalhar. Mas a imagem da Júlia, de quatro no meu quarto, não sai da minha cabeça. Porra… Essa mulher ainda vai me dar problema. Ou muito prazer. Ou os dois.
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