Salva pelo chefe..cap..5

2388 Words
JÚLIA FERNÁNDEZ Depois de dar conta de todos os afazeres da casa, finalmente me permito um momento de paz. Passo antes no quarto da Bentinha pra saber como ela está e, graças a Deus, ela parece bem melhor. Me tranquilizo. Vou pro meu quarto, me jogo na cama e deixo o corpo relaxar. Fecho os olhos por um instante… e claro, o celular toca. Olho a tela. Jade. Lá vem. Ligação on — Oi, miga ingrata! — ela diz, sem nem dar tempo de respirar. — Nossa, que é isso, Jade?! — Você me abandonou, Jujuba! Desde que começou a trabalhar na casa do delegado gostoso, sumiu do mapa! — Não te abandonei, não exagera. Só tô trabalhando demais, minha rotina tá puxada. — Sei… nem pra me mandar um “tô viva”. — Ai, desculpa, sua dramática. Vai, o que eu faço pra você me perdoar? — Qualquer coisa? — ela pergunta com uma risada maliciosa. — Talvez. Depende do pedido. — rio. — Quero você comigo hoje à noite. Vamos sair. A boate nova inaugurou, e é hoje o grande dia! — Boate? Não quer ir ao cinema, não? Pipoca, drama romântico, ar-condicionado? — Não, senhora! Hoje é dia de salto, batom vermelho e rebolado no ritmo da música. Coloca uma roupa linda. Eu quero a Júlia versão deusa. — Sei não, hein… tá bom, eu aceito, mas não fico até tarde. — Maravilhosa! Só quero sua companhia, Jujuba. — Tá. Te espero aqui. — Te adoro, sua doida. — Também te adoro, sua peste. Ligação off Desligo com um sorriso no rosto. Mas logo o pensamento pesa: e agora? É minha folga, sim, mas Bentinha não está no seu melhor hoje. Será certo sair? Olho no relógio. Já é quase hora de começar o jantar do senhor Albuquerque. Ele não apareceu pro almoço, como de costume, mas o jantar… sempre chega. Me levanto e vou até a cozinha. Mas ao chegar, dou de cara com Bentinha mexendo nas panelas. — Benta! O que tá fazendo aqui? — pergunto, preocupada. — Vim preparar o jantar do meu menino. Hoje é sua folga, vá se divertir. Você tá trabalhando demais, minha filha. — Eu tô bem, Benta. E gosto de cuidar das coisas por aqui. — Mas hoje é seu dia. E eu já estou melhor. Foi só um m*l-estar de velha. Pode sair tranquila. — Tá bom… mas pelo menos deixa eu ajudar no jantar antes. Pouco depois de terminarmos, estou indo pro meu quarto quando ouço a porta da frente se abrir. Quando olho... Pai eterno… Senhor Allonso Albuquerque entra como se o mundo girasse em torno dele. Camisa branca de botão que grita contra o tecido pelos músculos, jeans escuro, passos firmes, olhar gelado… e lindo pra caramba. É o tipo de homem que bagunça a cabeça de qualquer mulher, até de quem jurou não confiar em homem nenhum. Tipo eu. Dou uma balançada sutil na cabeça. Foco, Júlia. Foco. — Boa noite. — ele diz, a voz grave. — Boa noite, senhor. — respondo, me virando para sair. — Espere. Paro. Me viro devagar. — O senhor deseja algo? — Você conseguiu dormir melhor depois do pesadelo? A pergunta me pega de surpresa. — Sim, senhor. E… desculpa pelos gritos. Ele não diz nada. Só me olha. Um olhar intenso, quase perdido. Como se tentasse decifrar algo em mim — ou em si mesmo. — E a Bentinha, como está? — Bem melhor, senhor. — Ótimo. — Ah… senhor Albuquerque? — Sim? — Hoje é minha folga. Vou sair com uma amiga. — Tudo bem. — Obrigada. — O jantar está pronto? — Sim, senhor. Preparei antes de subir. — Vou tomar banho e já desço. — Com licença. — digo, e saio. Antes de me arrumar, volto à cozinha, preparo a mesa e deixo tudo organizado. Espero o delegado terminar o jantar pra limpar tudo. Só depois vou pro quarto, tomo meu banho e me preparo. Escolho uma roupa linda nem sempre é um drama. O problema é quando a louca da Jade manda eu “caprichar”. Quando ela faz isso, é porque tem plano — e o plano geralmente envolve empurrar um macho em cima de mim, como se eu fosse encalhada há vinte anos. Ela não existe… e é exatamente por isso que eu a amo. Depois de meia hora encarando o guarda-roupa como se fosse uma batalha, escolho algo que é a minha cara — e que ela com certeza vai aprovar: blusa preta de manga longa, shortinho jeans azul bem justo, uma camisa xadrez amarrada na cintura e tênis preto. Simples, confortável… e sexy sem forçar. Deixo o cabelo solto, um pouco ondulado, e faço uma make básica: delineado leve, cílios caprichados e gloss nos lábios. Antes mesmo de terminar, meu celular vibra. Mensagem da Jade: "Tô te esperando, sua deusa." Desço e encontro minha amiga já encostada no carro, toda montada: blusa preta decotada, short de couro justíssimo e um batom vermelho digno de guerra. — Oi, bicha. — diz ela, sorrindo com malícia. — Oi, maluca. — Tá um arraso, Jujuba. — Você tem certeza? — Absoluta. Agora me diz a verdade, vaca. Por que me mandou vir toda produzida? — Por nada… só quero ver minha amiga linda e confiante. — responde, piscando. — Sei. Já tô sentindo a cilada. — Anda, entra logo no carro. Bora curtir essa noite. — Tá bom, tá bom… Chegamos na boate em menos de vinte minutos. A fila na entrada parecia de show internacional. — E agora, Jade? Olha o tamanho dessa fila! — Calma, amor. Você está com a Jade. Relaxa. Ela vai até o segurança, cochicha algo no ouvido dele. Ele sorri — e nos libera sem nem olhar a lista. — O que foi isso? — pergunto, boquiaberta. — Nada demais… charme e autoestima. Agora, vamos dançar. — Não! Eu vou pro bar. Você sabe que não danço. — Covarde! Dou risada e sigo pro bar. Peço uma bebida sem álcool, claro. Minha história com álcool morreu anos atrás, junto com um passado que prefiro manter enterrado. De costas pro balcão, observo Jade se jogando na pista com um loiro que mais parecia uma girafa bêbada. Rebolo pra lá, risada pra cá. Do jeito que ela gosta. É aí que um cara surge ao meu lado. Bonito até. Cabelos bem cortados, sorriso treinado, olhos verdes demais pra parecerem inofensivos. — Oi, gata. — diz ele, já colado demais.— Qual o seu nome? — devolvo. — Ué… por que quer saber? — Porque você me chamou atenção. Quero te conhecer melhor. — Mas eu não quero conhecer você. Ele ri. Arrogante. — Que princesa brava. Tá sozinha? — Não. — respondo firme. Que parte de "não tô interessada" é tão difícil de entender? — Olhei o lugar todo. E você é, sem dúvida, a mais linda da boate. — Que frase criativa. Já usou em quantas hoje? — Que tal sairmos daqui? Um lugar mais... tranquilo. — Não, obrigada. Tento virar, mas ele segura meu braço. — Me solta. — Calma, gata. Só quero conversar. — E eu já disse que não quero conversar. Solta. — Para de bancar a difícil, v***a. Só vem comigo e para de show. O sangue ferve. Tento puxar o braço, mas ele aperta mais. Quando tento sair, ele me prende pela cintura e tenta me beijar. Sinto o desespero subir como uma onda. — Me solta, seu i****a! — Só um beijinho, princesa… não vai doer… — NUNCA, seu babaca! Mas antes que ele consiga se aproximar, alguém me puxa com força, me empurra pra trás e... PAH! Um soco certeiro explode no rosto dele. — Ela disse que não quer, seu filho da p**a. É surdo, por acaso? — rosnou uma voz grave e conhecida. Olho, ainda assustada… e quase não acredito. Allonso. Allonso Albuquerque. Em carne, osso, moletom preto e fúria nos olhos. O cara sai quase correndo, pressionando o rosto sangrando. Jade chega logo atrás, esbaforida. — Jujuba, você tá bem?! Que p***a foi essa?! — Tô bem. — digo, a voz trêmula. — Ele tentou… — Te machucar? — Não conseguiu. Percebo que ainda estou nos braços do Allonso. Corpo colado. Mãos firmes nas minhas costas. Me afasto, sem jeito, mas os olhos dele continuam presos em mim. — Uau… — murmura Jade, reparando. — Quem é esse gato? — Jade… esse é o Dr. Allonso Albuquerque. Meu chefe. Lembra? Ela fica vermelha como um pimentão. — Prazer, Jade. — diz ela, envergonhada. — Prazer. — responde ele, ainda sem tirar os olhos de mim. — Tá… já que você tá bem acompanhada, vou terminar o que comecei com a girafa. — diz Jade, piscando e sumindo na multidão. Fico ali, sozinha com Allonso, e cada segundo parece carregar mil volts. — Senhor Albuquerque… obrigada. — Hm? Pelo quê? — Por me defender. — Não foi nada. — diz, se aproximando mais. — O que o senhor tá fazendo aqui? — Vim com o Davi. Fui buscar bebida no bar e me deparei com essa cena ridícula. — Mas não foi minha culpa! Aquele i****a me agarrou do nada. — Mas também… com essa roupa… não esperava que não chamasse atenção? — O quê? — falo, indignada. — Qual o problema com a minha roupa? É só um short e uma blusa! — Curto demais. Justo demais. Normal, se a ideia for provocar. — Eu me visto pra mim. Não pra agradar homem nenhum. — Claro. — diz ele, com sarcasmo, e se aproxima ainda mais. Dou um passo pra trás, mas ele me cerca contra o balcão. O perfume dele preenche todo o ar. Um misto de poder e tentação. — Você está linda, Júlia. Até nesse mini short aí. Não respondo. Só encaro. Meu corpo está em alerta máximo. Ele se aproxima e, com um toque suave, ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Me arrepio. Ele me prende com o olhar. Fico imóvel, sem voz. A mão dele desliza e com o dedo ele contorna meu lábio inferior. — Desde que entrei naquele quarto, você não sai da minha mente. Meu coração dispara. O mundo para. Ele vai me beijar? Não posso. Não devo. Mas... eu quero. E isso, isso é o verdadeiro problema. Antes mesmo que eu pudesse pensar em recuar, ele toma minha boca em um beijo quente, urgente, faminto. Nunca fui beijada assim. Seus lábios são macios, mas dominadores. Sua língua pede passagem com firmeza, e por um segundo, resisto… mas é inútil. Quando cedo, é como se o mundo ao redor desaparecesse. Sinto seu corpo colado ao meu, o peito firme, a mão quente segurando minha cintura como se dissesse você é minha agora. Minha mente gira. Isso não está certo. Ele é meu chefe. Mas cada parte do meu corpo parece não dar a mínima pra isso. Reuno as últimas gotas de autocontrole, empurro-o com força e me afasto, saindo quase correndo da boate. Preciso respirar. Preciso fugir. Droga, por que o Dr. Allonso Albuquerque foi me beijar? Saio pra calçada, o ar noturno batendo no meu rosto. Coloco a mão no peito. Meu coração ainda parece preso entre os lábios dele. — Por que saiu correndo, Júlia? — ouço a voz grave atrás de mim. Viro assustada. — Droga, quer me matar do coração? — Não... — ele sorri com aquele ar canalha irresistível — ...quero te matar de outro jeito. — dá um passo em minha direção. — Você é bem direto, né? — Não gosto de rodeios. — Tá bem claro isso. Dou um passo pra trás. Preciso de distância. Porque perto… eu não respondo por mim. — Por favor, Dr. Allonso, fique onde está. — Me chama só de Allonso. — diz, avançando mais um passo. — Mas... o senhor é meu chefe. — E eu sou um homem. Não me chama de senhor nem de doutor. Só... Allonso. Engulo seco. — Tá bom, Allonso... mas fica aí, por favor. — Por que você não quer que eu chegue perto? — ele pergunta com um sorriso torto nos lábios. — Porque não é certo. Isso… o que você quer fazer… não devia acontecer. — Engano seu. Eu sou um homem livre. E você é uma mulher linda. Suponho que solteira, certo? — S-sim... — Então não vejo problema. Sem joguinhos, sem mentiras. Só dois adultos... querendo a mesma coisa. Ele se aproxima mais. Me puxa pela cintura e me prende em seus braços. Braços fortes. Braços que parecem feitos pra proteger... e seduzir. O peito dele encosta no meu e sinto o calor que emana de sua pele. Estou completamente à mercê dele. Seus olhos cravam nos meus. Intensos. Escuros. Perigosos. Ele toca meu rosto, afasta uma mecha de cabelo, e então… roça a barba devagar no meu pescoço. Me arrepio da cabeça aos pés. Não. Eu não posso ceder. Mas se ele continuar... vou desmoronar. Quando sua boca se aproxima da minha novamente, o destino — ou um milagre — aparece na forma de Jade. — JUJUBAAAA! Ainda bem que te achei! A voz dela me resgata. Consigo me soltar dos braços de Allonso, que me encara com a mandíbula travada. — O que houve, Jade? — pergunto, tentando parecer normal. — Vou sair com o meu loiro. Sabe como é, faz tempo que eu não… — ela faz uma careta maliciosa. — Miga, você é impossível. — Ai, jujuba, eu tô precisando tirar o atraso. Me entende, né? — Sei, sei... Vai, vai logo. — Você vai se virar sozinha? — Sim. Vou pegar um Uber. Ela me abraça apertado, dá um beijo no rosto e sai animada atrás do loiro-girafa. Fico sozinha novamente. Quer dizer… quase. — Você vai pra casa comigo. — diz Allonso, com a voz firme. — Não, obrigada. Eu ainda sei chamar um Uber sozinha. — Júlia... — ele dá um passo. — Eu não estou pedindo. Estou mandando. Cruzo os braços, encaro-o. — Acho que estou sem escolha, né? — Boa menina. — ele sorri com arrogância. — Fez a escolha certa. E no fundo, lá no fundo, eu sei: Essa escolha pode ser exatamente o meu pior erro. Ou… O melhor pecado da minha vida.
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