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Antônio se tornou íntimo de Felipe Casagrande seu patrão quando a esposa dele faleceu de uma forma trágica e muito triste. Felipe tentou o suicídio para ir de encontro a sua amada e Antônio o peão que havia ficado limpando o estábulo dos animais viu o patrão sair em direção a colina levando consigo uma corda grossa, daquelas que ele usava para prender os cavalos. Imediatamente Antônio sentiu seu coração acelerar em ansiedade, sabia o que aquilo significava e não podia ficar ali apenas assistindo passivamente. Já fazia seis meses desde a morte de Violeta e com ela a alegria e o vigor do patrão havia ido junto. Felipe Casagrande era um homem jovem, rico, herdeiro de uma fortuna impregnada nas maiores terras de criação de gados e plantação de café da região. Há dois anos fazia planos de ter filhos com a esposa e ela encarava um tratamento caro para ativar sua fertilidade. Porém o destino havia sido c***l com Felipe, ele perdeu a mulher que amava em um gravíssimo acidente de carro na rodovia, em que ele saiu milagrosamente ileso entre as ferragens do seu carro e sua mulher foi arremessada fora, e não sobreviveu. Felipe se apegou ao luto e não se conformava com sua morte. Entregou sua vida a uma completa solidão e procrastinação e tudo que queria era morrer, não havia mais sentido algum viver sem a presença de sua amada Violeta. Antônio foi atrás do patrão aquele dia que deveria ser o último de sua vida e o impediu de se suicidar. O agarrou ainda segurando a corda que seria a ferramenta maligna para lhe tirar a vida e naquele abraço Felipe chorou feito uma criança. A partir daquele dia Felipe Casagrande depositou toda sua confiança em seu simples empregado que tinha lhe salvado da morte. Pediu a ele para ser seus olhos e ouvidos nos negócios da fazenda "Aliança" enquanto ele ainda tentava se levantar da sua dor. Passava o dia fechado em seu quarto, olhando álbuns de fotografia onde se perdia nas memórias de um casamento feliz e abençoado que durou por cerca cinco anos. Certa vez mexendo nas coisas de Violeta descobriu diversos cadernos em que ela escrevia romances e poesias. Sabia que sua mulher gostava de escrever, sempre expressava seus pensamentos através da escrita o que não o surpreendeu pois ela era professora de português e só parou de lecionar depois que se casaram. Ele não queria sua esposa trabalhando em escolas, pois tinha condições suficiente para oferecer uma vida confortável ao seu lado. Violeta deixou sua profissão para ser esposa de um homem rico e nada lhe faltava pois o amor que tinha por Felipe supria todo sentimento negativo que poderia domina-la. Porém nós instantes de solidão quando o marido estava no trabalho e ela sozinha na mansão da fazenda tudo que lhe restava era escrever e por cinco anos fez uma coleção de oito histórias. Ao descobrir o acervo literário de sua falecida esposa Felipe muito emocionado chamou Antônio para revelar ao seu empregado de confiança sua intenção. Quando Antônio chegou na sala de reuniões do patrão o encontrou bebendo seu copo de vinho como era de costume beber aquele momento do dia. Os olhos com olheiras denunciavam sua insônia constante, mas havia aquele momento um brilho diferente em seus olhos castanhos e o empregado percebeu isso imediatamente: ___ Tenho uma missão a você! (Disse Felipe encarando Antônio) Antônio sabia que qualquer pedido do patrão era uma honra cumprir, pois o alto salário que lhe pagava lhe incentivava a ser cada vez mais eficiente para atender os desejos do seu chefe: ___ E quero que seja discreto! (Disse Felipe colocando o copo vazio sobre a mesa) Felipe pegou uma quantidade considerável de cadernos e os colocou na mesa na frente de Antônio que olhava tudo aquilo com curiosidade e atenção: ___ Isso aqui são romances de minha mulher! Quero publicá-los, porém até que eu conheça todos um por um por meio da leitura não quero que sejam vendidos... Você deve promover uma série de entrevistas, para que eu contrate alguém cuja função será ler para mim! Antônio tentava compreender as palavras de Felipe mas cada vez que ele falava menos entendia onde o patrão queria chegar com tudo aquilo. ___ Eu posso ler para o senhor! (Disse Antônio) O olhar de reprovação de Felipe pousou sobre o rosto de Antônio que naquele momento se arrependeu de fazer aquela zombaria: ___ Quero uma voz suave e que me faça ouvir a voz de Violeta lendo para mim... por essa razão sua voz grossa e assustadora não se encaixa no perfil! (Disse Felipe sorrindo) Raramente o patrão sorria e aquele momento era raro. Felipe sabia que era difícil se manter sério com Antônio, ele tinha um humor natural que fazia parte de sua personalidade. ___ E quais os critérios dessa função de leitura ao senhor? Preciso fazer um anúncio de emprego? (Perguntou Antônio) ___ Sim! O anúncio deve conter: Uma pessoa reservada, discreta, que não fique conversando com outros empregados da casa, que serve o tempo vago das horas de leitura para descansar, cuidar da voz que será sua única ferramenta de trabalho! Essa pessoa deverá morar na fazenda, com disponibilidade de horário sempre que o patrão solicitar a leitura das obras... Que não tenha filhos, que não tenha outros compromissos... e A voz é o principal requisito para conseguir esse emprego! Felipe lia um papel que depois Antônio teve conhecimento que se tratava de um contrato de emprego. Antônio ainda estava confuso, mas não questionou seu patrão o que foi uma decisão sabia aquele momento. Compreendia que as decisões de Felipe não estavam sendo lúcidas desde que perdeu sua esposa e se negava a um tratamento psiquiátrico. Nem mesmo seus pais conseguiram convencê-lo a fazer terapia para amenizar sua depressão. Antônio anotou tudo que Felipe dizia para cumprir sua nova missão. Ainda aquela tarde deveria levar até Felipe os primeiros a serem entrevistados para esse novo cargo nada convencional.