Ah, o doce aroma de café que vinha do refeitório era, definitivamente uma coisa magnifica. Ali, havia alguns professores que gostavam de saborear esta maravilha quente logo de manhã. E também, havia um garoto de quinze anos que gostava de tomar café com estes professores; gostava trocar palavras com eles, gostava da presença deles, era um belo garoto com palavras mansas. Uma pequena estatura, mas um enorme coração. Era simples. E esse simples havia conquistado o coração de alguém, logo assim de cara. Não era alguém popular; era apenas o garoto que gostava de tomar café com os professores.
— Onde ele está?
— Quem você está procurando?
Eram quatro garotas. As quatro aproveitavam as sombras de algumas árvores agrupadas no pátio de entrada. Era comum que as pessoas ficassem naquele espaço, grama, sombra fresca. O vermelho que antes predominava agora já dava espaço para o branco da camisa social; o dia estava limpo, o céu sem nuvens, uma brisa calma e refrescante, quase acolhedora. Era verdade que aquele era um lugar incrível. E apenas aquelas pessoas ali é que sabiam disso.
— É o Thony? – perguntou Kate Block.
— É claro que sim. Teria mais alguém que eu iria querer ver?
Quem respondia era Hillary MacDonald; uma garota que só se importava consigo mesmo, alguém que era conhecida por muitas coisas. Mas tem algumas que são incrivelmente óbvias, como, por exemplo, sua beleza, sua personalidade azeda... E o fato de que perseguia um garoto que, pelo seu status social na escola, não deveria sequer estar nos pensamentos dela.
— Eu nunca vou entender o motivo de você querer tanto ele pra você. Tantos caras aos seus pés... E você querendo alguém que toma café com os professores — provocou Nanná, uma garota branca de cabelos curtos e claríssimos.
— É, e eu sei o quanto você gostaria de tomar café com o Jeong, não é? — Era uma provocação, mas logo elas começaram a rir.
Era tão obvio o quanto a jovem Nanná Solveig era completamente maluca para experimentar o sabor de Jeongwoo, sim, isso mesmo, o professor Baek Jeongwoo. Isso era muito mais óbvio do que o fato de Hillary ser bonita.
— Enfim. Eu quero ver o Thony. Vamos procurar ele.
— Ah, por favor, não! Eu quero ficar aqui. Aqui está bom, além disso, eu quero aproveitar o tempo que resta antes da cerimônia. Vá você e corra atrás dele sozinha hoje — respondeu Kate, e Nanná concordou com ela, algo que geralmente nunca acontecia.
Basicamente, nenhuma das duas quis acompanha-la. Afinal, nunca iriam entender o motivo dessa paixão doentia que ela começou a desenvolver por ele desde o fundamental. Hillary apenas deixou as duas sozinhas, revirou os olhos e as abandonou ali, enquanto caminhava com os olhos atentos a qualquer sinal de cabelos negros e óculos de grau.
— Ele nem é tão bonito assim — Kate começou a expressar sua opinião assim que viu sua amiga virar num corredor distante.
— Eu me pergunto o motivo. Deve ser pelo fato dele não gostar dela, Thony deve ser o único garoto da escola que nunca pensou em estar com ela.
Kate Block e Nanná Solveig eram amigas por causa de Hillary. As três se conheceram em uma cafeteria passaram a andar juntas desde então; Hillary ainda era do Departamento Fundamental na época, então não estudavam juntas, mas agora, que estava no primeiro ano, sentia que poderia ser muito mais divertido com elas por perto, por mais que fosse por apenas um ano.
Nanná sempre se mostrou uma garota fútil, apesar de que, no fundo, ela não era assim de verdade. No fundo, ela era apenas mais uma pessoa a espera de alguém que aqueça seu coração. Ela era alguém tão encantadoramente simpática... Apenas não demonstrava tanto.
Bem, talvez esse fosse o ano em que Nanná Solveig finalmente tivesse algo que pudesse esquentar seu coração e trazer novamente o conforto e a segurança. Apesar de ter, assim como sua amiga Hilary, todos os caras aos seus pés, ela só queria o abraço de um deles. Ela só precisava abrir os olhos deles; afinal, era o último ano dela no ensino médio. Pode ser que os outros considerem seus sentimentos como apenas simples diversão..., mas ela sabe muito bem o que sente. E no fundo, estava certa de que iria lutar por isso.
— Eu vou dar uma volta.
Sua amiga apenas acenou a cabeça, Nanná levantou-se e pôs-se a andar, procurando dois olhos gentis e um tanto inchados. Ela adorava aqueles olhos como ninguém; enquanto andava pelos corredores lotados de gente e barulho, alguns garotos paravam para olhá-la, porque sua beleza era realmente de outro mundo. Nanná vinha da Noruega, viera estudar no início do ano, quando conseguiu transferência para Dongsi da Oslo Catedral, na capital do país, após um gigantesco escândalo na sua escola, que fizera seus pais praticamente a obrigarem a deixar Oslo pra bem longe. Ela vivia em um apartamento pequeno perto da escola, onde alguns estudantes da universidade também viviam; às vezes era algo que gerava incomodo nela, porque ela sentia falta dos pais. Andando pelo corredor com a mochila na costa, ela viu um par de olhos inchados, embora estes vinham acompanhados de um par de óculos. Nanná andou em direção a eles.
— Corra — Ela disse assim que se aproximou dele. — Ela está te procurando...
Thony fez uma cara de tédio e deu meia volta. Andava mancando porque havia caído da escada havia duas semanas e seu joelho andava dolorido; de teimosia, ainda não havia ido ao hospital. Ele até tentou andar rápido pra chegar o mais longe possível da entrada da escola, mas foi em vão. Em minutos, Hillary já o tinha encontrado.
— Apenas me deixe em paz.
— É apenas um sorvete.
— Eu estou ocupado!
— Não está não!
— Me deixa! Eu não gosto de você, me deixa em paz!
Hillary e Thony discutiam alto no corredor da biblioteca. De um lado, Hilary parecia extremamente patética por perseguir alguém que claramente não a suporta. Ali estava o motivo dela gostar tanto dele. Parecia meio masoquista da parte dela, mas ela meio que gostava dessa negação dele em manter uma conversa de mais de um minuto por ela. Ela gostava pelo fato de ser a única com quem ele mantinha esse relacionamento estranho. Ela se sentia especial dessa forma. Estranho.
Thony era o tipo doce e simples, era gentil com as pessoas, até gostava de conversar com alguns colegas, mas quando se tratava de Hillary, havia apenas uma saída: fugir dela.
— Haru!
Thony havia avistado um velho amigo andando distraído no corredor; ambos eram amigos desde os nove anos de idade, quando Thony e sua família se mudaram para a casa vizinha da família Nishimura, Hillary sempre ficava morrendo de ciúmes vendo os dois juntos e Haru sempre se divertia com a situação.
— Você não é muito malvado com ela?
— Vou ser malvado até o dia em que ela finalmente se tocar — disse ele, com os braços cruzados nos de seu amigo.
— Você é realmente m*l, não vê que ela está apaixonada?
— Apaixonada minha b***a. Não me venha com esse negócio de apaixonada só porque você tem uma quedinha pelo Cameron e acha que é amor. Aliás, olha seu amor ali.
Nishimura não era mais apaixonado por Cameron por motivos que você logo mais descobrirá, mas isso não o impedia de se encantar pela beleza estupenda do garoto enquanto ele andava sem olhar completamente para frente, esbarrando na jovem Shin Hayoung. Ela havia acabado de comprar seu café.
Shin Hayoung retirou os fones de ouvido e encarou Cameron Jones, que sentiu um calafrio com seu olhar penetrante e misterioso. Acontece, meu caro leitor, que o café entornou.
— Você pode, por favor, olhar para frente enquanto anda?
— Sim — Cameron se curvou, em um pedido de desculpas. — Por favor, me deixe pagar um novo café para você.
— Não precisa, tá tudo bem — o jovem galanteador, que já andava em direção ao refeitório, deu meia volta e se curvou novamente, repetindo sua primeira frase. — É melhor você ir.
Shin Hayoung estava em seu terceiro ano. Costumava ser uma aluna exemplar, mas devido a problemas familiares, sua média despencou. Misteriosa, assim como seu olhar, a garota tinha seus motivos para ser do jeito que era. E esse seu jeito havia a tornado alguém solitária e cansada. Sempre sozinha, ela fazia parte dos poucos alunos que não faziam parte de qualquer clube. Ela também já havia escutado rumores por toda a escola sobre sua vida. Lembra-se de escutar uma garota da sua turma dizendo que ela poderia ser uma mafiosa. Ela costumava sorrir sozinha quando pensava nesse boato específico.
Para não dizer que sua lista de contatos era nula, havia um jovem, que era tão misterioso quanto ela, quase como um clone, diferenciando apenas pelo fato de que eram de sexos opostos.
Yoon Dojae.
Eles não eram exatamente amigos, apenas duas pessoas que não mantém contato os outros alunos. Ambos tidos como estranhos e mafiosos. Existia uma leve diferença entre eles, entretanto; enquanto Hayoung era tida como uma rebelde, Dojae era tido como convencido. As histórias eram diversas: ele era rico, realmente rico. Bem, caro leitor, algumas pessoas acham que dinheiro bastava para que uma pessoa fosse considerada convencida. Mas o que dizer quando aquele ambiente era envolto de pessoas na mesma situação financeira que ele?
Ele rebatia qualquer tipo de amizade que tentavam, não gostava de conversar. Escutar sua voz era um feito magnífico e ele rejeitava toda e qualquer declaração. Mas seu professor conversava com ele com uma facilidade incrível, assim como Hayoung. Até mesmo o convenceu de que entrar em um clube faria bem para seu convívio com os demais alunos.
Precisou passar metade do antigo ano letivo tentando. Um dia, ele resolveu se juntar ao conselho estudantil e se tornou um monitor. A faixa em vermelho e amarelo com letras bordadas em dourado diziam bem o que ele fazia.
Ali estava o verdadeiro motivo dos boatos. Como um monitor e conhecedor de cada regra descrita no manual “Direitos e Deveres de um Aluno em DongSi: Conselhos para uma Vida Escolar Agradável”, ele tinha o poder de deixar alunos em detenção. E era conhecido por deixar um grande número de alunos detidos, então diziam que ele abusava do poder, mas ele estava apenas fazendo seu trabalho, assim com seu professor havia pedido.
— Conseguiu aquele emprego?
— Não. Quando cheguei, haviam acabado de contratar alguém.
— E o da lojinha perto da cafeteria?
— Vai coincidir com o da cafeteria. E a cafeteria paga seis won a mais por hora.
Alguns estudantes conseguiam empregos de meio período para conseguirem seu próprio dinheiro, afim de gastar em coisas para si mesmos. Hayoung necessitava de dinheiro para continuar estudando. E para sustentar a casa. E um emprego de meio período não sustentava ambos. Seu cansaço, por vezes, parecia em vão. Afinal, ela não tinha como lidar com todas as despesas sozinhas.
Cortando a conversa daquela estranha dupla de amigos, o sinal ecoava pela escola, era apenas o primeiro. Em quinze minutos, o segundo sinal ecoaria e a cerimônia de volta às aulas daria início.