Capítulo 32. O doce gosto de Amélie

685 Words
O vento frio da noite varria o jardim da mansão, fazendo dançar as chamas tímidas das lamparinas presas nos muros de pedra.Amélie havia fugido da cozinha, sem forças para conter as lágrimas.As mãos ainda tremiam podia sentir o calor do vexame queimando-lhe o rosto. Encontrou abrigo atrás da estufa de flores, onde o perfume das rosas abafava o gosto amargo da humilhação.Ali, longe dos risos e das vozes do salão, ela desabou.Ajoelhou-se na terra úmida, escondendo o rosto entre os braços. “Por que ela me odeia tanto?.murmurou entre soluços. As lágrimas caíam em silêncio, misturando-se à terra. Ela lembrava-se do olhar de Francesca, gelado, e das risadas contidas dos convidados.Mas o que mais doía era o olhar de Estefano aquele instante em que ela percebeu a raiva e a dor dele antes de virar o rosto. Foi então que ouviu passos atrás de si.Suaves, mas firmes.Amélie se encolheu, enxugando o rosto rapidamente. — Amélie… — a voz de Estefano rompeu o silêncio como um sussurro tenso. Ela virou-se devagar. Ele estava ali, de pé, sem o casaco, o colarinho ainda desalinhado.A expressão no rosto dele misturava fúria e desespero. — O que está fazendo aqui, senhor? — ela perguntou, a voz falhando. — Se sua mãe souber que… — Que eu vim falar com você? — interrompeu ele, dando um passo à frente. — Eu não me importo mais com o que ela sabe ou deixa de saber. Amélie se levantou às pressas, evitando o olhar dele. — Por favor, volte. Já basta o que aconteceu hoje. Não quero causar mais problemas. Estefano respirou fundo, aproximando-se mais. — Problemas? — repetiu, a voz baixa. — O problema é o que estão fazendo com você dentro desta casa. O problema é ver você sendo tratada como se fosse um fardo quando foi a única pessoa que já me olhou com verdadeira bondade. Amélie tentou falar, mas as palavras morreram nos lábios. Ele estendeu a mão, hesitante, como se temesse que ela recuasse e ela recuou. — Não pode — disse ela, a voz embargada. — Se continuar assim, sua mãe vai me mandar embora… ou pior. — Amélie— A voz de Estefano agora tinha uma força contida, perigosa. — Por favor... O vento soprou entre eles, levantando algumas pétalas brancas do chão.Por um instante, ficaram em silêncio, apenas se olhando dois mundos distintos, prestes a se chocar. Estefano deu um passo, mais um, parando próximo a Amélie, tão próximo que ele podia ver os olhos cor de mel dela que o fascinavam de perto, ele não conseguia raciocinar o perigo que podia colocar ela pelo simples fato de estar tão perto. Sem pensar, Estefano subiu a mão acariciando os cabelos de Amélie. Amélie baixou os olhos. — O senhor não entende… o que sua mãe sente por mim é ódio. E eu não quero ser a razão de vocês se destruírem. — Já é tarde para isso, Amélie. — sussurrou. — Ela pode mandar em tudo dentro desta casa… menos em mim, ou, pelo menos o que você faz eu sentir. As lágrimas voltaram aos olhos de Amélie, mas agora eram diferentes havia medo, sim, mas também algo mais profundo, que ela tentava negar desde o primeiro instante em que o vira. Ele passou os dedos pelo seu rosto e desta vez ela não recuou. Ficaram assim por um momento ela, com os dedos trêmulos, e ele, firme, olhando-a como se fosse a única coisa verdadeira em sua vida, chegou perto o suficiente para que o hálito quente de Amélie o embreagassem. Sem pensar ele encostou seus lábios no dela.Ao longe, o som da porta do salão se abrindo quebrou o silêncio.Vozes. Risos.Francesca chamando por Estefano. Amélie recuou de súbito, o medo tomando conta. — Vá… por favor. Se alguém nos vir… Ele hesitou por um instante, mas então assentiu. Antes de se afastar, murmurou: — Eu vou terminar isso, Amélie. E desapareceu de volta para a mansão, deixando-a ali, com o coração disparado e o cheiro das rosas ao redor o perfume suave de algo proibido, que ela já não podia mais negar.
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