Capítulo 9. primeiro encontro

733 Words
O sol daquela manhã parecia tímido, escondido atrás de nuvens densas. Após uma noite praticamente em claro, Amélie decidiu sair para respirar, mesmo com os olhos ainda vermelhos do choro. Caminhou pelo vilarejo sem destino certo. As ruas de terra, ainda úmidas da chuva, estavam tranquilas; apenas algumas pessoas iam e vinham da feira. Ela queria apenas se afastar da dor, da culpa que pesava nos ombros… De repente, percebeu que havia saído da vila estava perto dos campos que se estendiam até a estrada principal. Amélie suspirou, abraçando o próprio corpo para se proteger do vento frio. Foi quando escutou o som de cascos. Uma carruagem elegante aproximou-se vagarosamente. O cocheiro a reconheceu e sinalizou para o passageiro dentro. A porta se abriu, e Estefano Cavalcante desceu com a postura impecável de sempre botas limpas apesar da lama, casaco escuro alinhado, o cabelo cuidadosamente penteado.Ele parecia deslocado naquele ambiente rural… ou talvez fosse o ambiente que se curvava à presença dele. Amélie prendeu a respiração. — Bom dia, senhorita Pérez — cumprimentou ele com uma inclinação suave da cabeça, a voz firme, mas cordial. Ela piscou, surpresa e desconfiada. — Senhor Cavalcante… — Não esperava encontrá-la aqui. — Ele analisou seu rosto com discrição. — Aconteceu algo? Você parece… abatida. Amélie ergueu o queixo, tentando recuperar alguma dignidade antes de que sua dor ficasse tão exposta. — É apenas o frio da manhã. O canto dos lábios de Estefano se curvou levemente, como se ele soubesse que era mentira, mas escolhesse não dizer nada.Ele deu alguns passos mais perto suficientes para que ela sentisse a imponência daquela presença… mas não o bastante para ser invasivo. — Peço desculpas se nossa visita de ontem lhe trouxe alguma preocupação — disse ele, mantendo o olhar firme no dela. — Meu pai pode ser… ríspido às vezes. Amélie abaixou o olhar. — O senhor estava apenas cumprindo seu dever. — Cumprindo, sim… mas não com orgulho. — Estefano respirou fundo. — Confesso que não gosto da ideia de causar medo em pessoas inocentes. Ela o observou, surpresa pela sinceridade ou pelo que parecia ser. — Por que está me dizendo isso? — perguntou. Estefano inclinou a cabeça de leve, como quem estuda uma peça rara de porcelana. — Porque temo que sua família tenha sido colocada em uma posição desconfortável… e eu gostaria de esclarecer que não desejo m*l algum a você. O coração de Amélie bateu mais rápido, embora ela não soubesse se era medo… ou outra coisa. — Agradeço sua preocupação, senhor Cavalcante — disse ela, tentando manter a voz firme. — Mas, mesmo assim, minha família tem motivos para temer a sua. Ele sorriu não de modo arrogante, não dessa vez mas com algo que pareceu quase… admiração. — Você é corajosa, senhorita Pérez.Poucos falariam assim comigo. Amélie desviou o olhar para os campos, tentando se afastar daquele encanto perigoso. Estefano percebeu a hesitação, então recuou um pouco, oferecendo espaço. — Permitiria que eu a acompanhasse de volta ao vilarejo? A estrada pode ser traiçoeira quando se está distraída. Ela considerou a proposta por um instante. Parte dela queria dizer não afastar-se de tudo que envolvesse os Cavalcante. Mas a outra parte… a mesma que sentira o coração acelerar quando ele se aproximou… hesitou. — Está bem — respondeu, por fim. — Mas não é preciso me acompanhar até minha casa. — Como desejar — respondeu Estefano, estendendo gentilmente o braço para que ela caminhasse ao seu lado. Eles seguiram em silêncio por alguns metros, exceto pelo som das botas sobre a terra. Amélie, tentando não olhar para ele, acabou percebendo que Estefano a fitava com interesse discreto… porém constante. — A vida nem sempre é justa com aqueles que mais merecem paz, senhorita Pérez — disse ele, com um tom enigmático. — Mas, às vezes, um encontro inesperado pode mudar destinos inteiros. Amélie parou de andar por um instante, olhando-o com confusão. — O que quer dizer com isso? Ele apenas sorriu. — Você entenderá em breve. E antes que ela pudesse perguntar mais, ele inclinou-se: — Tenha um bom dia, Amélie. Nos veremos novamente. Com um sinal, o cocheiro guiou a carruagem adiante, deixando-a ali com o coração inquieto e perguntas demais. Amélie respirou fundo, sentindo o vento bater no rosto. Não queria admitir… mas parte dela temia e outra parte desejava que o próximo encontro acontecesse o quanto antes.
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