Estefano atravessou os corredores da mansão com Amélie nos braços, o coração batendo forte de preocupação e raiva.O corpo dela era leve demais tão leve que parecia quebrar a cada movimento. O rosto pálido e a respiração fraca faziam o desespero crescer em seu peito.
Empurrou a porta de seu próprio quarto e a colocou sobre a cama, cuidadosamente.O contraste era c***l: os lençóis de linho branco, perfumados, e ela frágil, com o uniforme simples sujo de ** e o cabelo desgrenhado.
— Amélie… — murmurou, tocando o rosto dela com delicadeza. — Fale comigo, por favor…
Nada.Ela apenas respirava com dificuldade.
Ele correu até o armário, pegou uma jarra de água e molhou um lenço, passando suavemente pela testa dela.Depois chamou por uma criada de confiança Lucía, a única que ele sabia que não tinha medo de contrariar Francesca.
— Traga algo para ela comer. Qualquer coisa — ordenou. — Pão, caldo, frutas, o que for. E não diga uma palavra à minha mãe.
Lucía assentiu, assustada, e desapareceu pelo corredor.
Estefano se sentou à beira da cama, observando-a com uma mistura de dor e ternura.Ela parecia ainda menor ali, envolta pelos travesseiros, as mãos entrelaçadas sobre o peito.Ele fechou os olhos por um momento, tentando conter a raiva que ainda queimava por dentro.
“Como ela pôde fazer isso com ela?”, pensou, lembrando da expressão fria da mãe.A cada instante, a admiração que tinha por Francesca se transformava em uma sombra amarga.
Quando Lucía voltou, ele mesmo segurou a tigela e ajudou Amélie a beber o caldo, devagar, gota a gota.
— Calma… — sussurrou. — Você está segura agora.Ninguém vai te machucar.
Ela gemeu baixo, abrindo os olhos por um breve momento.E quando o olhou, fraca, seus lábios se moveram:
— Por… favor… não… se envolva… vão… puni-lo também…
Estefano apertou sua mão.
— Que me punam, então. Mas você não vai sofrer mais.
Na mesma hora, do outro lado da mansão, o patriarca da família Cavalcante, Don Alonso estava em seu escritório quando ouviu a notícia.Uma das criadas, apavorada, contou-lhe o que havia ocorrido e o que Francesca havia ordenado.
A raiva subiu-lhe ao rosto imediatamente.Saiu do escritório sem o chapéu, os passos pesados ecoando pelo mármore até o salão, onde Francesca ainda jantava, fingindo normalidade.
— Francesca! — a voz dele retumbou pelo cômodo.
Ela ergueu o olhar, serena, mas surpresa.
— Querido… o que houve?
— O que houve? — repetiu ele, incrédulo. — Você mandou a moça ficar três dias sem comer? Está fora de si?
Francesca pousou calmamente o talher sobre o prato.
— Exagerei um pouco, talvez. Mas precisava colocar limites.Ela estava ultrapassando seu papel.
— “Limites”? — ele se aproximou, a voz baixa, grave.
— Isso não é disciplina, é crueldade!Eu não admito esse tipo de castigo, se fosse para fazê-la sofrer assim eu ordenaria a morte do pobre do pai dela.
— Fez um escândalo na frente de convidados, Alonso. — retrucou ela, mantendo a compostura. — Precisava aprender o lugar dela.
— O lugar dela? — ele bateu a mão sobre a mesa, fazendo as taças tremerem. — O lugar dela é o de uma jovem que nos deve respeito, não sofrimento dessa maneira.
Francesca respirou fundo, o olhar gélido.
— Esá defendendo uma criada ? O que foi ? Está interessado no amor platônico do seu filho ?
Alonso se dirigiu a Francesa e lhe deu um t**a no rosto com tanta força que fez ela virar o rosto.
Francesa respirou fundo, mas não disse nada, sabia que tinha passado dos limites.
— Quantos dias ordenou que ela ficasse sem comer ?... Responda.
— Três.
— Ótimo. Você ficará quatro então para se lembrar que não é nada nessa casa, além de minha mulher, deve respeito a mim. Na próxima vez pense bem em levantar a voz pra mim, mulher.—Alonso a fitou por um instante longo, o rosto endurecido.Ele se virou e saiu, batendo a porta atrás de si.
No quarto, Amélie já dormia, o rosto mais tranquilo.Estefano, sentado à sua cabeceira, observava-a em silêncio.