Mansão Ravenscroft mais tarde
A porta da frente se abre com um estrondo característico. Peter entra primeiro, silencioso como sempre, a expressão fechada. Draco vem logo atrás, já largando a mochila no chão da entrada como se fosse a casa dele e infelizmente, é.
Laila está sentada no tapete da sala, rodeada de bonecas… pelo menos, as que ela ainda não decapitou.
— Estava esperando por vocês dois
digo, cruzando os braços enquanto eles se aproximam.
Draco ergue as sobrancelhas, desconfiado.
— O que foi, Nicolas? A Laila aprontou na escola de novo?
— Ela é temperamental, sim…
olho para minha irmã, que só sorri como um anjinho m*l disfarçado
— mas não tanto quanto você, Draco.
Ele solta uma gargalhada debochada.
— Então o que é?
pergunta.
Caminho até o centro da sala para ter certeza de que os três vão me ouvir.
— A nova babá chega neste fim de semana.
Draco abre um sorriso… perigoso demais.
— Oba. Um novo brinquedo.
— Draco!
rosno, mas Peter fala antes que eu continue.
— Sério, Nicolas… você não desiste? Essa já vai ser a quê? Quarta? Quinta?
ele pergunta, jogando o corpo no sofá, cansado do mundo como sempre.
— Quinta
confirmo com um suspiro.
— E se vocês dois, Draco e Laila, se comportarem, talvez ela dure mais do que um dia.
Laila olha para mim, piscando devagar, quase inocente.
— Eu sempre sou boazinha
ela diz, com aquela voz doce que faria qualquer adulto acreditar nela… menos eu.
— Aham…
Draco ri.
— Até ela abrir a boca, né?
Peter massageia as têmporas como se eu estivesse anunciando o fim do mundo.
— Qual é o nome dela?
ele pergunta, sem realmente demonstrar interesse, mas eu o conheço… ele está curioso.
— Ravena Veras. Tem 22 anos. Vai estudar na mesma faculdade que vocês.
O silêncio que se instala é estranho.
Até Draco para de sorrir por um segundo.
Peter franze o cenho, pensativo.
Laila inclina a cabeça, como se estivesse ouvindo algo que ninguém mais ouve.
E eu sinto um leve arrepio subir pela minha nuca.
— Quero todos no seu melhor comportamento
digo, quebrando o clima.
— Chega de assustar babás.
Draco sorri devagar, aquele sorriso torto que eu odeio.
— Não posso prometer nada… mas vou tentar.
Peter apenas solta um suspiro longo, olhando para a janela...
— Ravena, você já ouviu falar que a cidade de Vale das Sombras é sombria e fria… que o sol quase não aparece?
Luna diz, abraçando uma almofada como se esperasse que ela a protegesse do próprio nome da cidade.
Estamos na sala antiga da casa dos meus pais. As cortinas fechadas, a luz suave… tudo parece menor agora que sei que vou embora.
Eu respiro fundo.
— Sim, eu sei.
digo com sinceridade.
— Já vi fotos da cidade. Realmente… dá um ar de mistério.
Um sorriso leve surge em meus lábios.
Eu gosto disso. Confesso.
Luna me olha como se eu tivesse acabado de dizer que vou morar numa cratera de vulcão ativa.
— Você e esse seu gosto estranho por coisas misteriosas…
ela resmunga, mas acaba sorrindo também.
Ela muda de posição, se vira para mim e pergunta:
— Mas você já viu onde vai morar?
fala com o olho arregalado, como quem teme a resposta.
Eu balanço a cabeça devagar.
— Ainda não. Só vi uma foto da parte de fora.
Uma mansão enorme… meio antiga. Lembra aquelas casas de filmes de vampiro.
Luna engole seco.
— Ravena…
ela diz devagar
— se você chegar lá e o lugar tiver paredes rangendo, portas que se fecham sozinhas e um mordomo que aparece atrás de você do nada… você me liga.
Na hora.
Eu rio, finalmente.
— Para de drama, Luna.
— Não é drama
ela insiste.
— É… é instinto de amiga! E uma mansão dessas sempre tem histórias estranhas. Aposto que tem até lenda envolvendo aquela família.
— Bom… o Nicolas disse que tem dois irmãos. E uma irmãzinha de seis anos.
comento.
— Talvez eles sejam só… pessoas normais.
Luna arqueia a sobrancelha.
— Com um sobrenome como Ravenscroft? Ninguém é normal.
Ela aperta meu braço levemente.
— Eu só não quero que você vá para um lugar sombrio sem saber no que está se metendo.
Eu a encaro por alguns segundos.
O medo dela…
O meu desejo de recomeçar…
A dor que ainda vive dentro de mim…
E respondo baixinho:
— Talvez esse seja exatamente o lugar onde eu preciso estar.
A sala fica silenciosa.
Como se até o mundo estivesse prendendo a respiração.
Luna suspira e deita a cabeça no meu ombro.
— Só… promete que vai tomar cuidado.
— Prometo.
digo, mesmo não sabendo se posso cumprir.
A verdade é que…
Nem eu faço ideia do que me espera em Vale das Sombras.
E, por algum motivo, isso me atrai ainda mais.