CAPITULO 1
Coloquei a minha roupa esportiva e fui correr. Eu precisava sentir o ar no rosto, respirar oxigênio puro e liberar adrenalina.
Era a melhor maneira de se sentir livre como os pássaros.
Enquanto fazia isso, pensava no anúncio do site onde procuravam um estagiário para trabalhar numa zona média-alta aqui em Huelva.
Disse que pagavam bem e neste momento precisava de dinheiro para comprar um carro novo e poder fazer a viagem dos meus sonhos, dar a volta na Espanha pela costa e visitar todos os recantos possíveis do território, aqueles que os postos de turismo não permitem falar, mas eles têm o verdadeiro charme das pessoas e da região.
— Lembre-se, Sam, eles estavam procurando por pessoas na casa dos 50 anos, se candidatar será uma perda de tempo. Eu relutantemente me lembrei.
Desci a rua correndo e, quando cheguei à porta, parei. A fachada era bonita, mas não dava para ver por dentro.
Por que queriam alguém com essa idade? Talvez pela experiência?
Eu poderia ligar e fingir que não percebi quantos anos tenho.
Também não havia nada a perder tentando.
Naquele momento, me veio à mente o rosto do meu pai com os seus olhos vazios me dizendo que eu iria para uma entrevista suado e com roupas esportivas, mas... Eu não era meu pai e vivia um pouco na correria. Ele nunca entendeu a minha parte
impulsiva e atrevida, talvez porque ele fosse totalmente diferente.
Toquei a campainha e ouvi passos se aproximando. Tentei enxugar o suor com a camiseta e controlar a minha respiração pesada.
— Uh... sim? Um homem loiro de cabelos ondulados e levemente desgrenhados, olhos azuis que pareciam brilhar ao sol e corpo alto e musculoso, abriu a porta surpreso.
Ele estava bem vestido. Estava vestindo uma camisa pólo Lacoste verde-garrafa e shorts bege que contrastavam com os ténis com cadarços desamarrados que ele usava, ele parecia ter colocado eles naquele momento.
Enquanto eu pensava no que dizer a ele, senti duas mulheres vindo atrás de mim e nos cumprimentando.
— Oi, como estão as coisas? Elas tinham a idade do anúncio.
— Olá. Respondi com uma careta.
Olhei para aquele homem novamente e me apresentei.
— Oi, sou a Samantha e estou aqui pelo trabalho, mandei um e- mail para você com os meus dados. Coloquei o meu melhor sorriso e mostrei a minha confiança cativante, mas vê-lo me olhar de cima a baixo me deixou um pouco envergonhada.
— Quantos anos você tem? Ele perguntou surpreso.
— Vinte e cinco. Há algum problema? Eu era ótima em mentir, eu só tinha que colocar a minha boa cara e é isso era fácil para mim.
— Sim, te falta vinte e cinco anos. Ele nem hesitou.
— A..., eu não sabia disso... Mer*da, ele me pegou.
— Você veio correndo? Bastava olhar para ele para ver como ele estava confuso ao me ver ali daquele jeito.
— Sim. Ok, eu não ia conseguir o emprego, é melhor eu sair antes de fazer papel de boba.
— Desculpe, você não é o que estou procurando. Ele me olhou de cima a baixo e eu respondi da mesma forma, olhando para ele o mais descaradamente que pude. Então ele sorriu maliciosamente e eu estreitei os meus olhos com raiva.
— Boa sorte com as... Mary Poppins. Eu olhei para as duas senhoras esnobes que estavam esperando e saí.
— Não era o que eu estava procurando? Talvez... Eu estava ficando cada vez com mais raiva.
Continuei correndo até voltar para casa, cada vez conseguia fazer mais quilômetros seguidos.
— Olá, já estou aqui! Pai? Fiquei surpresa por você ele não responder.
— Sam, o seu pai foi fazer compras, eu que estou aqui. Fiz bolo de cenoura que sei que você adora. A doce voz de Ângela, esposa do meu pai, chegou aos meus ouvidos.
— Perfeito, diga a ele que fui à entrevista e não era o que eles estavam procurando, vou tomar um banho e vou embora, ok?
— Perfeito, querida, não se preocupe, você vai achar outra coisa. Ângela sempre tão carinhosa.
Enfim... a vida continuou e eu tinha que começar a procurar outro trabalho, talvez Carlos e Adan possam me ajudar.
Tive dificuldade em arrancar o carro, ele já estava muito r**m, iria durar mais um ano com muita sorte, mas, ainda me levava onde eu queria, como neste caso é a casa dos meus amigos.
— Carlos!! Eu gritei enquanto subia as escadas. —Adão!! Sou eu. Toquei a campainha várias vezes seguidas para deixá-los nervosos.
— E com ela veio a loucura. Disse Carlos. Eu agarrei as suas bochechas e as belisquei.
— Como a vida seria chata sem mim Carlos. Olhe para Adan, deitado no sofá como se estivesse morto. Corri na sua direção e pulei em cima dele. — Adão... acorde.
Ele abriu os olhos e voltou a fechá-los.
— MMM. Ele era tão magro que estava cavando nos meus ossos.
— Como assim? Adão, acorde. Eu tenho um problema.
Enquanto ele acordava, acompanhei Carlos até a cozinha.
Ele começou a preparar algo para comer, mas seu extremo perfeccionismo me deixou nervosa, eu não tinha paciência.
Contei a ele o que havia acontecido comigo na entrevista, tentando lembrar cada palavra e cada gesto.
— E eu disse a ele... para ele ter sorte com as Mary Poppins, e fui embora.
Adan veio por trás, de olhos arregalados e se aproximando com a mão no peito.
— Desculpe... o que você disse a ele? Eu comecei a rir.
— Para ele ter sorte com as Mary Poppins, para as mulheres lá, isso me lembrou do filme e eu deixei escapar. Tentamos segurar o riso, mas nós três explodimos.
— Garota, você é louca, você é demais, muito bom. Adan era muito feminino falando, qualquer um poderia imaginar que ele era gay, muito pelo contrário de Carlos que era muito mais masculino. — Como ele era? Mais velho, mais novo, feio, alto...
— Ele tinha... não sei... trinta e poucos anos, eu acho. A verdade é que era um armário. Eu olhei para cima lembrando do seu físico impressionante.
— Esse é o seu problema? Carlos perguntou. — Que ele não me deu o emprego e o emprego era bom?
— Não, o meu problema é que preciso de um emprego para trocar de carro. Você tem que me ajudar a encontrar um. Você conhece alguém que está com alguma vaga disponível? Coloquei a minha cara de pena para ele com beicinho incluído.
— Vamos ver o que podemos fazer. Podemos perguntar ao Hugo, outro dia disse-nos que estava cheio aos fins-de-semana, mas não sei se já arranjou alguém. Vou ligar para ele e ver o que posso fazer.
— Obrigado, Carlos, você é o melhor. Eu pisquei para ele.
Não era o que eu procurava, porque trabalhando só nos finais de semana ia demorar uma eternidade para juntar dinheiro para um carro, mas... era alguma coisa. Eu esperava ter sorte.