The Pony Bar

1650 Words
O corredor que levava até o caminho para os dois quartos do apartamento do senhor Elliot me fez estremecer. Ouvia o som marcando os meus próprios passos. Respirei fundo. A primeira porta estava entreaberta, com a luz interior acesa. Olhei pela pequena fresta. Havia gotas de sangue no chão. Pus minha mão sobre a porta, abrindo-a lentamente. Não vou falar a palavra exata em que pensei quando vi o senhor Elliot deitado em uma poça de sangue. Vamos mensurar esta parte. -Meu Deus. -disse, apavorado. Senti minha alma sair do meu corpo por um segundo. O quarto estava destruído, sangue para todos os lados. Havia uma mancha em formato de uma mão no espelho de Ell. Olhar para ele me fez sentir medo, dor. Isso é o que um infectado pode fazer. Meu irmão, pensei. Pisei em um caco de vidro, o que me fez chutá-lo em seguida. Agachei-me vagarosamente para ver o corpo de perto. E então, de repente, a porta se fechou. Olhei para trás por um reflexo, e aquilo, me fez ter medo. Medo de morrer. A filha do senhor Elliot estava de pé, com seu vestido azul de pano fino um pouco rasgado, com marcas de sangue. Seu cabelo estava ralo. Essa é uma característica dos infectados. Eles vão perdendo, aos poucos, os pelos do corpo. Seus olhos estavam fundos, seu rosto pálido e seco. Mas sua expressão era distante. Parecia estar desnorteada e com raiva ao mesmo tempo. Comecei a me levantar lentamente, tentando não irritar a infectada. Esse é o meu fim. Pensei em chamar o homem armado, mas não sabia o seu nome. Quando pensei em gritar, ela correu para cima de mim, e em desespero, corri em direção a sacada do apartamento. Fechei a porta rapidamente, e a cara da filha do senhor morto no quarto bateu de cara com o vidro. Ficamos frente a frente, bramei. A infectada começou a bater com força no vidro. Peguei meu celular. -Desgraçada. -o homem do apartamento ao lado chegou até o quarto, disparando três vezes contra a mulher. Ela caiu, de cara para o chão. O homem respirou fundo, acenando para minha saída da sacada. Esse cara deve estar acostumado a m***r. Abri a porta com dificuldade, ainda assustado. Olhei para os dois corpos. Pai e filha. Era apenas o começo. -Acho que ele não queria entregar a filha infectada. -disse, quando saímos do quarto. -Ele acabou pagando caro pelo seu erro. -o homem lamentou. Quando chegamos a sala do apartamento, a Polícia estava entrando. Muitos moradores de vários andares estavam a porta do apartamento do senhor Ell. -O que aconteceu? -um deles perguntou, observando a situação do local. -Uma infectada. -o homem disse, com arma em mãos. -Vasculhem as câmeras da casa. -outro policial disse. Passei por eles, correndo para fora do apartamento, passando entre os curiosos apavorados. Corri até o fim do corredor, onde mamãe abraçava Summer. -Me desculpe. -disse, com lágrimas nos olhos, um abraço em trio. -O que deu na sua cabeça, Hector? Por que se meteu nessa confusão? Deixou sua irmã aqui, sozinha! -minha mãe falou, jogando um abismo sobre meus ombros. -Mas mãe, o senhor Elliot... -Você não é adulto, Hector. Não é um super-herói. Por que insiste em ser assim? Eu estava preocupada, você achou sua irmã e nem teve a piedade em me avisar. E você ainda arriscou sua vida. Tem de parar em colocar a vida das pessoas em primeiro lugar. -ela disse em um tom alterado. -Mãe, pare com esse seu egoísmo t**o. Eu acabei de presenciar uma morte, vi o senhor Elliot com a cabeça semiaberta, quase fui morto por uma infectada, e a senhora está brigando comigo por não ter feito uma ligação. Foi uma fatalidade! -Você não devia ter entrado nesse apartamento, Hector. -mamãe vociferou. -Sua irmã estava desamparada, e eu também. Suspirei. O mundo parou por um momento. Uma lágrima desceu, enquanto ouvia a pessoas andarem de um lado por outro, todos querendo saber o acidente do 32. Summer estava limpando suas lágrimas, muito assustada. Eu prometo. Sempre estarei ao seu lado. Lembrei-me. Quebrei a promessa que fizera momentos antes de abandoná-la. Não consegui segurar. Mamãe olhou para mim, sua feição mudou. Ela me abraçou forte, também chorando. -Me desculpe. -disse, em um fio de voz. -Eu errei. Não deveria ter deixado Summer aqui. Ela é apenas uma criança. -Você foi corajoso. -ela disse, quando interrompemos o abraço. -E maluco. -Eu quase morri. -sussurrei, enquanto ela acariciou os meus cabelos. Desviei meu olhar para Summer, e ela abaixou a cabeça. Mamãe assentiu, me deixando ir até ela. -Summ, me desculpe. Você sabe que eu te amo. -disse, pegando em sua mão. -Você prometeu. -ela sussurrou, levantando a cabeça. -Eu tinha que ajudar aquele homem, você sabe que ele não estava bem. -Ele morreu? -Infelizmente, sim. -disse, pegando-a no colo, mesmo já estando grande para isso. -Não me abandone mais. - ela disse, sorrindo, com o rosto vermelho. -Nunca mais, Summ. -confirmei, dando um beijo. A polícia verificou as imagens das câmeras do apartamento. Toda a história contada pelo atirador fora confirmada pelas imagens. Por isso, não recebera nenhuma punição. As pessoas conversavam no corredor, mas os policiais ordenaram a saída de todos do local, que estaria interditado para que viessem fazer a retirada dos corpos. -Você não teve contato físico direto com nenhum dos corpos, correto? -um policial me perguntou, sério. -Não. Nem com a infectada. -engoli seco. -Recebeu a vacina obrigatória? -perguntou. -Sim. Mas sei que devo fazer outro exame. -Obrigatoriamente. -ele confirmou. -O vírus demora cerca de cinco dias para assumir todo o corpo. -Você foi corajoso, moleque. -o atirador chegou até nós, batendo em minhas costas. -Ainda estou com medo. Obrigado por salvar minha vida. -falei. -Tudo já se acalmou. Vão para suas casas. -o policial alegou. -Até mais. - o homem disse, abraçando-me. -Sou Hector. -falei. -Oliver. -ele respondeu, sorrindo. Passei o resto do dia deitado, pensando sobre tudo. A imprensa chegara logo após minha saída do 32. Oliver foi raptado por uma das empresas de televisão, respondendo perguntas sobre como ele matou uma infectada. A imagem da filha de Elliot correndo até mim, nossos rostos separados por um vidro. Também pensei na última vez que olhei para o senhor Elliot vivo, no elevador, enquanto as portas se fechavam. Fiquei tão desnorteado que não pensei muito no momento. O Golden Retriever também apareceu nas redes, todos se comoveram. Ele estava bem. Nada daquilo saíra de minha mente. Nunca esqueceria. No fim, pensei em como foi bom achar minha irmã. Mamãe levou o jantar até meu quarto. Bateu na porta e entrou com uma bandeja, um prato com sopa de legumes. -Quanto tempo não faço isso? -ela sorriu, deixando na mesa ao lado da cama. -Acho que voltei a ser criança. -disse. -Você sempre será o meu filhinho. -mamãe riu. -Verdade. -ri junto a ela. -Coma. Foi um dia difícil, precisa se alimentar. -Ele era um bom homem... -Uma pena, meu amor. Mas Oliver e você foram incríveis. -Oliver me salvou. -concordei. -Eu sei. -mamãe disse, sentando-se na cama. -E serei muito grata a ele, para sempre. -E o pai? -Ainda não atendeu nenhuma das minhas ligações. Talvez esteja voltando. -Para onde Tony foi? -perguntei. -Para a zona dos infectados, você sabe. -A prisão dos infectados. -corrigi. -Estou péssima. -ela disse. -Tudo vai ficar bem. -disse. Logo em seguida, recriminei meus pensamentos. Tudo iria piorar. Mas não queria desanimar minha mãe. Precisava de consolo. Eu a abracei. E foi então que descobri que nunca fomos tão sinceros um com um outro. Quanto tempo fiquei sem abraçar minha própria mãe? Senti muito. A dor também aproxima as pessoas. Vinte três horas e quarenta e dois minutos. Depois de conversar com City e Paul, contando sobre tudo o que aconteceu, resolvi agendar meu exame pela internet. Em seguida desci para ver como mamãe estava. Papai ainda não voltara para casa, e não tínhamos notícias. Minha mãe falou com alguns amigos dele, Summer adormecera. Estávamos preocupados, sem saber o que fazer. -Preciso ir atrás dele. -disse. -Está tarde, Hector. Não mesmo. Você precisa descansar. -Achei a localização dele. -Ah. -mamãe disse, temendo pela resposta. -Onde ele está? -The Pony Bar, avenida 638. -Não acredito. -mamãe desabou no sofá, decepcionada. -Vou pegar o meu carro. -disse, saindo em seguida. As ruas estavam silenciosas. Nova York não era mais como antes. Liguei a televisão no painel do carro. Notícias me bombardearam instantaneamente. O recomendado é que fiquem em casa durante a noite. Estipula-se que mais de 15% da população já está infectada. As escolas fecharão as portas por tempo indeterminado em breve. Aos cidadãos que ainda não compareceram as Unidades de Saúde, o governo alerta que em breve serão vacinados em casa, queiram ou não. Um forte exemplo disso são os grupos chamados de Positivistas que insistem em um futuro melhor. Hesitei ao ouvir a primeira frase dita pela apresentadora. Um carro desgovernado passou por mim, e reparei que até osestabelecimentos que ficam aberto até mais tarde, fecharam as portas mais cedo. Na avenida 538, senti o medo me engolir. Não havia sinal de vida. Vire a próxima direita. Quando girei o volante, um susto. Havia alguém parado, no meio da rua. Pisei no freio com força rapidamente, mas não fora o suficiente. E então o seu rosto bateu de cara com meu capô. d***a, pensei. Hoje está um bom dia para morrer. Saí do carro à tona para ver o ferido. Sua cabeça. Metade tinha cabelo, a outra metade, praticamente vazia. Olhei para os seus braços, finos como um palito. Um infectado. -Você matou o Frankie. -alguém disse atrás de mim, rancorosa, com dificuldade. Virei-me para trás, eram mais dois infectados. Quando olhei para o homem na qual atropelei novamente, ele já estava de pé, com um olhar tenebroso. Sem pensar duas vezes, corri.
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