Capítulo 6

1195 Words
Terror Já passava das sete da noite. Os cara ainda tavam espalhado aqui em casa, rindo, conversando, mas a maioria da tropa já tinha dispersado. Dentro da cozinha, dava pra ouvir a conversa da Manuela e da Ágata fofocando. Do lado de fora era só nós: eu, o Iago, Renan, RD e o WL. Várias garrafas de whisky abertas em cima da mesa de madeira perto da churrasqueira, fumaça de baseado e a carne queimando na grelha. O Arturo rodava por perto, macaco bonitinho. Me amarrei nele. Eu tava com a cabeça leve da cachaça, mas a mente ainda a mil, visão total. O papo, inevitável, caiu na cadeia. Os caras queriam saber como era lá dentro. — c*****o… cadeia é f**a, mano — soltei, girando o copo de lado, o gelo batendo na borda. — Vi n**o vender o cu por um pacote de biscoito. Outros recebia da família e tinha que dividir com a cela toda, senão apanhava. Comigo nunca rolou essas fita, não. Nunca meteram a mão no que era meu, afinal não eram nem doido. Iago tava sério, baforando a fumaça do beck e com um olhar frio. Já o Renan deu uma risadinha curta, soltando fumaça do cigarro pelo nariz. — Lá dentro o bagulho é maluco, fi — WL falou, acendendo outro cigarro, o olho meio baixo, mas a voz alta. RD segurava a garrafa, encarando antes de virar um gole. — Eu achei que tu não ia sair fácil daquela p***a… aquele promotor tava embaçando legal. Renan já veio cuspindo ódio: — Mó tiração daquele doutor. Mó s*******m o que ele fez. Filho da p**a, arrombado do c*****o. Fiquei quieto uns segundos, olhando o líquido rodar no copo, girando devagar, como se fosse hipnose. Respirei fundo e soltei. — Tá guardado. Deixa ele.— falo mirando cada um deles e me ajeitando no banco de madeira. O Iago ergueu o queixo e me olhou serio. — Tinha que fazer esse cuzão pagar na mesma moeda. Fazer ele sentir na pele o que fez a família dos outros passar — mandou na lata, de um modo que remetia a sua frieza. Renan estalou a língua e deu risada. — É isso mesmo, p***a. Família é intocável, parceiro. A gente tinha que pegar a mulher dele e fazer pior. Balancei a cabeça devagar, apoiando o cotovelo na mesa e com o olho rodando a cara de cada um. — Tu acha que eu não pensei nessa p***a? O bagulho é que ele anda cercado, parceiro. Carro blindado e quem cuida da segurança desse merdinha é a PF. Como que chega num homem desse, p***a? — falo pra geral. RD cortava um pedaço de carne. — Todo mundo tem um ponto fraco, irmão. Se não dá pra pegar ele, a parada é pegar alguém da família dele. — RD fala com aquela cara de doido dele. Cada um de nós ficou na sua, maquinando, porque a fita era séria. — Ele tem mulher? Filhos? — WL perguntou, soprando fumaça, o baseado queimando entre os dedos. — Tem uma filha única. — respondi, rápido, e na hora encarei o Iago, que continuava baforando o baseado, caladão. Dei o bote. — Botar o Iago nesse corre… tem peito, Iago, de colar na filha do promotor? Tu todo bonitão. Ficha limpa. — falei cravando o olho nele. Ele tirou o beck da boca, soltou a fumaça devagar e retrucou. — É só apagar ela? Eu e os caras soltamos uma gargalhada curta, debochada, mas o moleque não riu, não mudou a cara. Ficou sério, postura gelada. — Aí, Iaguin… teu pai não te conhece não — Renan falou rindo, apontando com o queixo pra ele. — Tem que ver esse moleque negociando fuzil pro morro. Moleque é frio que nem máquina iceberg. — O maluco comprou mais de cem fuzis, por seis milhão — WL completou, soltando a informação com aquele ar de respeito. Sorriso de canto veio automático no meu rosto. — Meu filho, caraí — falei sorridente, peito estufado de orgulho. O papo continuou, girando, copo cheio e risada. Logo depois, as mina chegaram: a Manuela e a Ágata colando juntas, trazendo outro clima. Tava com saudade dessa p***a aqui. Iago Tava a mais de seis horas preso naquela p***a de festinha, cercado de n**o bebo, falando cuspindo e repetindo história como se fosse engraçado. Eu já tava sem paciência nenhuma. Não curto gente chapada enchendo meu ouvido. Fiquei só pra não ficar feião com os caras e com o meu pai. Mas na mente já tava contando os minutos pra meter o pé. Quando bateu umas nove da noite, falei "já era". Dei o salve em geral, botei o Arturo na moto e vazei. No pião que dei pelo morro, acabei cruzando com a Alicia. Ela vinha subindo com uma bolsa vermelha no ombro, acelerei a moto, vendo ela caminhando de cabeça meia baixa e sorrindo pro celular. Encostei do lado com a moto, e ela tomou um susto, até pulou. — c*****o, que susto! — levou as mãos ao peito. — Tava onde? — larguei reto, sem firula, queimando ela no olhar. — Na faculdade. — respondeu ajeitando o cabelo por trás da orelha, sem me encarar direito. — Sabia que o pai ia sair da tranca hoje não? — cravei, falo serio. — Sabia. — Eeeee...? — forcei, levantando o queixo, esperando a real. Estavamos no meio de um beco. Ela botou as mãos na cintura e meteu o olhar direto nos meus olhos, sem recuar. — Quantas vezes eu já esperei ele sair e não saiu? Eu tinha uma matéria importante hoje. Por isso eu tive que ir na aula. Na hora que soltou essa, já pego o caô dela na hora. Porque minha mãe deu outro papo. Ela pode mentir pra todo mundo, mas nunca vai mentir pra mim. Porque eu conheço essa peste desde pequena, sei quando tá inventando. Ela tá metida em algum bagulho, mas ainda não sei qual, mas eu vou descobrir e se ela tiver de pilantragem eu vou cobrar ela. — Escuta o papo, Alicia. Tu pode meter esse caô pra cima da mãe, que é burra, mas eu não sou. Tu tá enfiada em encrenca e eu sei... se liga porque se eu pegar... vou te dar um corretivo na frente de geral. Ela ficou firme e não tirou o olho de mim. Atrevida, sangue r**m, igual eu. — Você tá drogado, isso sim. Eu não tô metida em nada de errado não. — levantou a mão, jurando pro céu. — Juro pela alma da minha avó que eu tava na faculdade. Falou olhando dentro da minha cara, sustentando a mentira como se fosse verdade. Assenti devagar, só movimentando o queixo pra cima, e bate a palma da mão no banco da moto. Ela subiu sem discutir, abraçando a minha cintura. Toquei direto pra casa dos meus pais. Parei na porta, deixei ela lá sem trocar mais nenhuma palavra. Daí já vazei pro meu canto. Não moro mais com meus pais tem um tempo. Queria ter meu espaço, privacidade, fazer meus corres sem ninguém buzinando no meu ouvido o tempo todo.
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