Capítulo 3
Bruna narrando
Renan me leva até a sua casa, que ele deveria chamar de barraco apenas por carinho, porque era uma casa enorme, que dava umas cinco do meu barraco em Diamantina. Coloco a minha mochila em cima do sofá.
— Não vai ficar aqui por muito tempo — ele fala. — Gosto da minha privacidade.
— É só até arrumar um emprego e um lugar para ficar — respondo.
— Aqui no morro é difícil achar algo — ele diz, encostando-se na porta e me encarando enquanto acende um cigarro. — Tu é nova, não vai ser de confiança de ninguém.
— Mas sou sua prima, você pode me ajudar.
— Já tô te dando teto — ele responde. — E outra, faz mó tempo que a gente não tem nenhuma ligação. Confio em ti não! Eu ocupo um lugar grande dentro do morro; como vou confiar em você?
— Sou teu sangue, não quero te prejudicar — digo, e ele me olha. — Você não está vendo meu estado? — Ele me olha, vendo meus machucados e as marcas pelo corpo. — Ele tentou me matar a facada! Tem noção disso?
— Como é o nome do cara que fez isso com você? — ele pergunta.
— Vladimir — respondo, e ele começa a rir.
— Caraca, é o quê? Um velho de 70 anos? — ele fala.
— Nem tanto — respondo. — Tu quer o quê? Minha mãe morreu, e eu tive que me virar sozinha na vida. Ele é dono de um bar. Comi o pão que o d***o amassou. Mas não quero mais viver aquilo. Me diz, o que eu preciso fazer pra ganhar tua confiança e pra você me ajudar a arrumar emprego? Não conheço nada aqui dentro!
— Fica na tua — ele diz. — Não arruma confusão e nem problemas pra minha cabeça. Se tu arrumar problema, tu vai ser levada pras ideias, e não vai ser comigo que tu vai negociar.
— Fica tranquilo, não vou te trazer problemas — falo, e ele me olha.
— Vou voltar pra boca, tenho que trabalhar. Tem comida na cozinha — ele diz. — Se precisar comprar algo... — Ele tira uma quantia em dinheiro e coloca na mesa. — Tem uma venda aqui perto; anda na disciplina.
— Valeu.
— Tem dois quartos sobrando lá em cima. O do esquerdo é meu, os outros dois, pode escolher.
— Ok.
Ele sai de dentro da casa, e eu fico ali. Pego minha mochila e subo, escolhendo o quarto da direita. Era um quarto simples, mas bem arrumado. Coloco a minha mochila ali e pego meu celular, ligando a rede móvel e vendo que tinha mensagens de Saluza, preocupada.
— Desculpa — falo quando ela atende. — Não consegui ligar antes!
— Você chegou?
— Cheguei — respondo. — Como estão as coisas por aí?
— Horríveis — ela diz. — Ele quer você a todo custo, chama por você o dia inteiro, não sei mais o que fazer.
— Eu vim pra cá por um motivo, eu vou ter que ficar até o final, vai dar certo!
— Não sei se vamos poder ficar aqui por muito tempo — Saluza fala.
— Eu tô chegando aqui agora, preciso ganhar a confiança de todos — respondo, suspirando. — Assim que conseguir serviço, um barraco pra mim e ter confiança, eu mando grana.
— Me mantém informada — ela fala.
— Você também, por favor! Me conta tudo, não me esconde nada. Tô aqui, mas meu coração tá aí, Saluza.
— Toma cuidado — ela diz. — Você sabe que as coisas aí são complicadas e, com um passo seu em falso, acaba tudo!
Desligo o celular e coloco a mão sobre minha correntinha da minha padroeira. Respiro fundo e me olho no espelho. Desenrolo a faixa do meu braço e passo água oxigenada sobre os cortes que eu mesma causei. Sinto uma ardência e fecho os olhos, respirando fundo, depois dou uma breve olhada no morro pela janela.
Eu estava aqui por um motivo. Precisava ganhar a confiança de todos, especialmente do alto comando. Precisava ser esperta a ponto de ir conquistando um por um aos poucos, para alcançar meu objetivo, custe o que custar!
Saluza, amiga dela que ficou em Diamantina! Esqueci de mencionar nos personagens.