CAP 2- A MENTIRA

5000 Words
Os três, simultaneamente, se entreolham. Arthur vai atender sussurrando e olhando para Floriani: - Nada de trejeitos. - Vira para Rebeca e diz: - Nada de fazer aquilo de olhar para cima. Abre a porta e, saindo, fecha a mesma. Ele então vê Alzira, a vizinha. Ela sorri e diz: - Sejam bem vindos vizinhos. - Entregando uma cuca de banana que tem nas mãos. Arthur responde: - Quanta gentileza. Nisso Floriani abre a porta, coloca sua cabeça para o lado de fora e diz: - Oh, quanta gentileza. Rebeca também coloca a cabeça para o lado de fora da porta, mas embaixo da cabeça de Floriani e diz: - Vocês são rápidos para socializar, né? Arthur olha para os dois com cara f**a e abre mais a porta, para entregar a cuca, dizendo ao mesmo tempo para Alzira: - Não convido para entrar porque está tudo uma bagunça. Nisso fecha a porta, com os dois, para dentro. Alzira responde: - Capaz não quero atrapalhar, mas precisando de uma mãozinha…- fala em reticências, sorrindo meio que forçado. Arthur rapidamente diz: - Agradecemos, mas vamos fazer tudo com calma. Alzira sorri e pergunta: - Vocês são casados? – pergunta tentando olhar pela janela, procurando pelos outros dois. Arthur responde com um sorriso sem graça: - Sim. Alzira arregala os olhos entendendo que todos são casados. Arthur percebe e fala sem graça: - Quer dizer, Floriani é casado com Rebeca. Eu sou só um amigo do casal. Alzira fala com som de reticências...- Amigo do casal é? Arthur, já ficando nervoso, deixa claro não gostar da insinuação velada e afirma: - Sim! Amigo! Alzira sem ligar continua seu questionamento: - E vocês moram todos juntos? Arthur mais uma vez responde sem graça: - Sim! Estamos em 2021 e creio ser isso perfeitamente normal. Alzira sorri disfarçadamente dizendo: - Ah, sim... Arthur enfatiza: - Isso. Alzira saindo de costas, devagar e acenando, comenta: - Precisando estou bem em frente. Arthur sinaliza com a cabeça que sim e, rindo com a boca fechada, mordendo a língua para não ser grosso, entra e fecha a porta. Rebeca sentada no sofá ao lado de Floriani, fala com sarcasmo: - Fiz tudo certinho? Arthur fala com altivez: - Combinamos que iríamos nos policiar. Vocês dois são totalmente diferentes. Preciso ficar de olho. Rebeca retruca: - Ah sim, somos “diferentes”. – diz olhando para Floriani, buscando sua aprovação, continuando com tom de sarcasmo: - Você é o único “comum” por aqui. Floriani, com a voz doce de sempre, interrompe: - Vocês parem com isso. Você Arthur está sendo um i****a. E você Rebeca aceitou vir nas condições dele. Não quero vocês brigando e deixando a vibração baixa desta casa. Nada de provocações! Somos uma família! – Diz isso em tom mais firme. Arthur e Rebeca estão cabisbaixos, como crianças, levando bronca. Floriani volta-se para Arthur e investiga: - Ela perguntou algo? Arthur responde: - O que você acha? Floriani, batendo em sua própria perna, fala em tom impaciente: - Fala logo o que ela disse, homem! Arthur: - Ela perguntou se éramos todos casados e se morávamos todos juntos. Rebeca abre bem a boca e arregala os olhos e, olhando para Floriani, diz:- Sério que nem deixou a gente se instalar? Arthur, em tom de tudo saber, comenta: - Eu avisei vocês. Chatville é uma cidade de mentalidade provinciana. Aqui todos são assim. Precisamos ter muito cuidado. - Fala ficando triste e mudo. Nisso, Rebeca levanta aflita do sofá, abraça Arthur e pergunta: - O que aconteceu? Floriani vem também e abraça os dois. Arthur pega com a mão direita no braço de Rebeca e com a esquerda no braço de Floriani. Precioso vem e arranha a perna de Arthur. Rebeca e Floriani falam junto - Oh! Arthur pega Precioso no colo e acrescenta: - Sei que não é o ideal, mas será por pouco tempo. Só precisamos deixar minha mãe feliz. Floriani sai e diz: - Estamos juntos, isso que importa. Rebeca interfere como sempre, fazendo uma cara de quem discorda de mim, que falei que ela sempre interfere: - Mas não seria melhor dizer que éramos parentes? Para evitar que falem que temos um caso, nas barbas do Floriani? Arthur: - Aí que está. Tirei o foco de nós três e coloquei em nós dois. Os três se entreolham, concordando com a malícia. Eles seguem arrumando tudo. A noite cai e tudo está ajeitado. Cada um vai ao seu quarto tomar banho. Beca está com uma touca de plástico azul, esfregando com uma escova, suas costas, fazendo do chuveirinho seu microfone, cantando a música que colocou para se banhar Soul Deep de Roxette: “Save a prayer for a sinner and a saint My baby's coming back Say a prayer, hide hide away Yea baby's coming back He-He-Hey Ain't gonna trouble his wandering mind Gonna take on the time to find out if my love is Soul Deep - spinning the heart round a wire Soul Deep - a heavenly wave Soul Deep - heating the heart like a fire Soul Deep is taking my breath away-ay-ay Save a tear till the curtain will fall Well I'm saving them all for you Knock on wood, is it understood That I'm saving it up for you He-He-Hey Love is a hustle just a moment behind Gonna walk on the line to find out if my love is Soul Deep - spinning the heart round a wire Soul Deep - a heavenly wave Soul Deep - heating the heart like a fire Soul Deep is taking my breath away-ay-ay Save a prayer for a sinner and a saint My baby's coming back Say a prayer, hide hide away Yea yea baby's coming back He-He-Hey Ride on the Soul Train now I'm too close to hide Gonna take on the time to find out if my love is Soul Deep Soul Deep - spinning the heart round a wire Soul Deep - a heavenly wave Soul Deep - heating the heart like a fire Soul Deep is taking my breath away-ay-ay Soul Deep - spinning the heart round a wire Soul Deep - a heavenly wave Soul Deep - heating the heart like a fire Soul Deep is taking my breath away-ay-ay” A tradução logicamente coloco abaixo: “Do Fundo da Alma Salve do pecado um pecador e um santo Meu bem está voltando Faça uma oração, esconda-se, esconda-se Sim meu bem está voltando He-He-Hey Eu não vou arrumar problema pra sua cabeça Vai levar um tempo para descobrir se meu amor é Do fundo da alma - o coração gira como uma ventoinha Do fundo da alma - Um sinal divino Do fundo da alma - o coração queima em brasas Do fundo da alma - tire o meu fôlego Seque as lágrimas antes que a cortina caia Bem, estou guardando tudo o que tenho para você Bata na madeira, está entendido Que eu estou me guardando pra você He-Hey-Hey O amor é uma confusão só por um momento para trás Vou andar na linha para saber se meu amor é Do fundo da alma - o coração gira como uma ventoinha Do fundo da alma - Um sinal divino Do fundo da alma - o coração queima em brasas Do fundo da alma - tire o meu fôlego Salve do pecado um santo e um pecador Meu bem está voltando Faça uma oração, esconda-se, esconda-se Sim meu bem está voltando He-He-Hey Passeio no Trem das Almas agora estou muito perto de me esconder Vai levar um tempo para descobrir se meu amor é Do fundo da alma Do fundo da alma - o coração gira como uma ventoinha Do fundo da alma - Um sinal divino Do fundo da alma - o coração queima em brasas Do fundo da alma - tire o meu fôlego Do fundo da alma - o coração gira como uma ventoinha Do fundo da alma - Um sinal divino Do fundo da alma - o coração queima em brasas Do fundo da alma - tire o meu fôlego” Beca dança e rebola exageradamente o compasso da música, mexe a cabeça para frente e para trás e parece estar possuída. Ela então e olha dizendo: - Oh! Possuída não! Eu respondo: - Que seja. Flor já está em seu mundinho cor de rosa e lilás. Ele delicadamente esfrega seus cachos com shampoo vegano e totalmente natural. Aproveita para ouvir uma música romântica e calma Con Te Partirò com Andrea Bocelli: “Quando sono solo Sogno all'orizzonte E mancan le parole Si lo so che non c'è luce In una stanza quando manca il sole Se non ci sei tu con me, con me Su le finestre Mostra a tutti il mio cuore Che hai acceso Chiudi dentro me La luce che Hai incontrato per strada Con te partirò Paesi che non ho mai Veduto e vissuto con te Adesso si li vivrò Con te partirò Su navi per mari Che io lo so No no non esistono più Con te io li vivrò Quando sei lontana Sogna all'orizzonte E mancan le parole E io si lo so Che sei con me, con me Tu mia luna tu sei qui con me Mio sole tu sei qui con me, con me Con me, con me Con te partirò Paesi che non ho mai Veduto e vissuto con te Adesso sì le vivrò Con te partirò Su navi per mari Che io lo so No no non esistono più Con te io li rivivrò Con te partirò Su navi per mari Che io lo so No no non esistono più Con te io li rivivrò Con te partirò Io con te Che io lo so No no non esistono più Con te io li rivivrò Con te partirò Io con ” Cuja tradução também coloco aqui: “Com Você Partirei Quando estou só Sonho no horizonte E faltam as palavras Sim, eu sei que não há luz Em um quarto quando falta o Sol Se você não está comigo, comigo Erga as janelas Mostre a todos o meu coração Que você acendeu Feche dentro de mim A luz que Você encontrou pelo caminho Com você partirei Países que nunca Vi e vivi com você Agora sim os viverei Com você partirei Em navios por mares Que, eu sei Não, não existem mais Com você eu os viverei Quando você está distante Sonha no horizonte E faltam as palavras E eu, sim, sei Que você está comigo, comigo Você, minha Lua, você está aqui comigo Meu Sol, você está aqui comigo, comigo Comigo, comigo Com você partirei Países que nunca Vi e vivi com você Agora sim os viverei Com você partirei Em navios por mares Que, eu sei Não, não existem mais Com você eu os reviverei Com você partirei Em navios por mares Que, eu sei Não, não existem mais Com você eu os reviverei Com você partirei Eu com você” Nos tons mais altos do tenor, Flor suspira e, mais para o final da música, já está em lágrimas. Arthur já está em silêncio. Faz tudo minimamente o mais objetivo possível e sai. Rebeca coloca a música mais uma vez e Flor fica no chuveiro até a música acabar. Ela está com uma camisola cor de rosa, de malha, com ursinho desenhado. Floriani está com um pijama de cachorrinho amarelo bebê. Arthur está com um pijama de seda preto. Precioso está com um gorrinho com a mesma estampa do pijama de Floriani. Rebeca questiona olhando para Arthur: - Com quem você vai dormir hoje? Arthur responde: - Vou para meu quarto. Floriani e Rebeca se entreolham. Floriani ergue um canto da boca. Rebeca acena com a cabeça, entendendo o que Flor quis dizer, erguendo o canto da boca. Os três entram nos seus respectivos quartos, Flor com Precioso, e desligam a luz. Rebeca tenta dormir, mas não consegue. Ela fica percebendo a luz que vem do poste e entra pela janela, mesmo com a cortina. Olha para cima, sorri e levanta. Calça seus chinelos de pano com cara de cachorrinho e corre, abraçada no travesseiro, até o quarto de Floriani. Ela abre a porta deixando entreaberta. Floriani olha para ela e sorri. Vai para o canto da cama, cuidando para que Precioso não se machuque. Ele deita, virado para ela, e bate no colchão do seu lado. Rebeca sorri e, colocando o travesseiro ao lado do dele, deita de lado e vira para ele. Flor a abraça. Rebeca se aninha nele cheirando seu pescoço. Precioso deita entre os dois, encostando-se em ambos. Após alguns segundos Floriani sussurra: - Beca quer conversar? Rebeca: - Pode ser… Floriani então comenta: - Você precisa ser mais paciente com o Arthur. Rebeca responde ainda abraçada nele: - Você tem que parar de defender tanto ele. Floriani: - Não posso! Vocês dois são meus amores. Na verdade, vocês três, mas Precioso não me deixa no meio de uma briga sempre. Rebeca então começa a se justificar: - Flor, às vezes ele me tira do sério. Desculpa, não quero deixar você sempre no meio de uma briga, mas Arthur só escuta você. Flor interrompe rindo: - Quase sempre. Sei que você não faz premeditadamente. Rebeca, também rindo, diz: - Verdade. Tem vezes que acho que vocês são almas complementares e nós somos almas cármicas. Floriani pergunta, todo bobo, por Beca dizer que ele e Arthur são almas complementares: - E eu e você? Rebeca diz olhando para ele: - Somos almas gêmeas, bobão. Sim porque gêmeo para mim é de irmão... Não entendo essa terminologia mundana. Ela faz uma pequena pausa e questiona: - Você concorda que a gente esconda nossa família desse jeito? Floriani, como sempre tentando apaziguar, responde: - Nem discordo, nem concordo. Rebeca diz contrariada: - Lá vem você. Floriani: - Deixa eu explicar! Rebeca: - Explica o inexplicável. Floriani: - Beca, eu concordo com você que a gente não pode viver em mentira, que temos que ser nós mesmos e, termos orgulho de quem somos. Rebeca interrompe: - É! Floriani continua: - Porém… Rebeca mais uma vez interrompe: - Você sempre tem um porém… Floriani: - Porém...entendo o pensamento de Arthur. Ele só está tentando nos proteger. Ele é assim. Parece um muro, uma parede em volta da gente. Sempre protegendo. Com aqueles ombros largos e fortes… Rebeca complementa: - Verdade, são mesmo lindos parecendo um bloqueio, um escudo. Floriani: - Não é? Você esquece que ele parece um durão, mas tem um coração enorme. Faz esse gênero “bad boy” por fora. Sempre que precisamos está sempre do nosso lado, enfrenta tudo a nosso favor e, quando a coisa fica f**a, ele fala com aquela cara f**a que é linda, né? Mas fala tudo que precisamos ouvir e para quem quer que precise. Rebeca: - Com aquelas sobrancelhas grossas bem desenhadas. Floriani: - Não é, menina? Gente, como ele consegue? Rebeca: - Como quando pegamos o Precioso daquele cara terrível, lembra? Floriani: - Ele, fingindo não querer o bebê, reclamando, e quando o cara descobriu que estávamos com o Precioso, e veio pegá-lo de volta, o que ele fez? Rebeca: - Apontou o dedo na cara do sujeito e ameaçou denunciá-lo por abandono e maus tratos. Nunca o vi tão bravo… Eu e você chorando e ele furioso. Floriani: - Quando ele falou: “Levem o Precioso lá para o quarto, que daqui ele não sai!” Eu me arrepiei todo. Rebeca: - E daí ele virou para o cara e descascou ele. - Os dois se olham e riem. Floriani: - Está vendo? Você precisa tratá-lo menos como um objeto s****l e mais como um ursinho fofo. Rebeca: - E gostosinho. Floriani: - Não é? Ele precisa de carinho, Beca. Ele se faz de forte, que teve uma infância melhor que a gente, mas ele na verdade foi o que mais demorou a se assumir de nós três. Já pensou como foi difícil? Nós vivemos sem família porque nos assumimos e nos excluíram. Aceitamos e seguimos em frente. E ele que até hoje, por medo de perder a mãe, vive uma mentira? Rebeca: - Sim, agora que ele já é homem feito e não depende mais dela, tinha que falar a verdade. Ele tem a gente. Se ela não aceitar, paciência. Mas ela sabe... Floriani: - Também acho. Ou não impunha a vinda dele para cá. Quer controlá-lo. Penso que se ele falasse, ela aceitaria. Rebeca: - Sabe que eu também tenho essa impressão? Ele fica tentando proteger ela de uma decepção, mas eu acho que ela não se sentiria decepcionada. No fundo, se ela entendesse que poderia perdê-lo, ela racionalizaria isso tudo. Floriani: - Eu gostaria que ele contasse antes dela morrer. Iria fazer bem para ele. No fundo pensa que ela não o ama. Vive mendigando amor, por medo de não ter. Rebeca: - Eu também. Ele acha que ela nunca o aceitaria, mas ela não demonstra ser radical, só fria. Floriani: - Acho que isso acaba com ele… Rebeca: - Vou tentar ser mais paciente. É que esconder a gente, parece que estamos nos negando, ou sentindo vergonha do que somos. Floriani: - Beca, não adianta impormos nossa verdade, para quem não está preparado para descobri-la. Rebeca: - Então quero ir onde as pessoas enxerguem a verdade! Floriani: - Também sinto falta de casa... da Mama Diva...de Ana Maria e Ariel, da nossa comunidade assumida. Rebeca: - Nossas vidas, com quem nos aceita e nos ama como somos. Floriani: - É por pouco tempo. Nossa sogrinha está doente e Arthur acha que ela não vai durar muito. Rebeca: - Falando nisso temos que convencer o Arthur a procurar um médico e prevenir essa doença maldita. Floriani: - Concordo. Vai ser difícil porque ele está fugindo do assunto. Também pensei em fazer uma alimentação toda natural, e cromoterapia… Rebeca: - Isso!!! Tem tantas terapias alternativas, mas quero ver o ogro aceitar. Floriani: - Ogro e carnívoro. Como come bacon! Ou ele faz ou me separo dele! Rebeca complementa: - Eu também! Floriani: - Quando eu quero eu sei ser m*l! - diz soltando uma gargalhada baixa. Rebeca: - Malvadão, mas ainda ursinho fofo. Floriani: - Oh! - diz abraçando-a apertado. Rebeca: - Boa noite malvadão. Floriani: - Boa noite Beca. Te amo. Rebeca: - Te amo também. Floriani: - Você é minha. Arthur é nosso t***o. – Diz dando outra leve gargalhada baixa. Rebeca: - Eu sei. - Os dois ficam em silêncio por segundos. Rebeca sussurrando diz: - Porque nos julgam tanto, Flor? Floriani: - Não sei Beca. É tão mais fácil amar do que odiar… Rebeca: - O que tem de errado eu amar você e não querer dormir com você? Não que você não seja um gato. Floriani: - Obrigada. - Fala exibido. Rebeca: - O que tem de errado se nós aceitamos dividir ele? E o que tem de errado em você sentir desejo pelo Arthur? E ele por nós dois? E eu por ele? Floriani: - Nada. Aceitamos dividi-lo. Isso só diz respeito a nós três. Rebeca: - E sempre foi tão fácil para nós né? Nem tivemos crise com isso. Desde que nos conhecemos, nos entendemos e entendemos os sentimentos do Arthur. Floriani: - Sim. Eu e você já, no primeiro olhar, nos reconhecemos espiritualmente. Já com Arthur tivemos que desenhar... – diz rindo. Rebeca: - Lembra quando fomos propor ficarmos os três juntos, tipo “Armação Ilimitada'', e ele ficou todo nervosinho, arrumando justificativas? Floriani sorri e responde: - Levou um tempo para ele não se sentir culpado. E eu e você já trocando figurinhas... – Fala gargalhando baixo. Rebeca: - Sei, que além de nossa orientação s****l diferente da maioria, ainda tempos essa questão de poligamia… Floriani: - Não escolhemos viver assim, vivemos assim porque nos escolhemos. Rebeca: - Mas as pessoas julgam, rotulam, condenam e executam. Floriani: - Nem todas nesse mundo, mas a maioria. Rebeca: - Eu só queria poder amar vocês livremente. Floriani: - Eu também Beca...eu também… - Os dois se calam mais um pouquinho. Beca então senta na cama. Flor, olha para ela, perguntando: - Porque você está agitada? Rebeca: - Arthur está esquisitinho. Floriani: - Também notei. Deve ser pela doença da mãe. Rebeca: - Não sei…. Flor: - O que você está pensando? Rebeca: - E se ele tem um passado n***o? Flor: - Deixa de ser boba, vai? Rebeca: - E se ele estiver escondendo algo? Flor: - Lá vem você, de novo, pensar errado dele. Beca: - Não é pensar m*l. Vamos combinar que, Arthur, não é um livro aberto. Flor: - Mas daí a ter um passado n***o, já é imaginação de escritora. Rebeca gargalha baixo, dizendo: - Acho que sempre quis escrever um romance ardente. Flor olha com cara de descrente: - Justo você que é pouco romântica? Rebeca olha com cara de decepcionada: - Aí, vai Flor, que malvado. Flor: - Lembra do primeiro aniversário de namoro de você e Arthur? Até ele lembrou. Você nem se deu conta quando ele chegou com as flores. Rebeca ri descompassadamente. Flor rindo também: - Ainda perguntou de quem era o enterro. A tal sutileza de um elefante. Beca: - Às vezes exagero na piada. Flor: - Às vezes? Lembra o que você disse para Arthur, quando ele quis te levar para jantar fora? Beca: - Ah, Flor, odeio consumismo exagerado. Para que ficar esbanjando? Flor: - Ele só quis te agradar. Beca: - Então que fizesse alguma caridade. Floriani: - Ele queria fazer algo de casal com você. Beca: - Que me perguntasse o que eu gostaria. Flor: - E a surpresa. Beca: - Odeio surpresas. Ele pode ter tudo isso com você, não comigo. Eu sou assim. Ou ele gosta ou não podemos ficar juntos. Flor: - Bom, ele continua com você, então gosta, né? Beca: - Tá, mas voltando ao assunto… Flor: - Que assunto? Beca - A esquisitice de Arthur. Flor: - Ih, é né menina? A gente fala tanto que até esquece sobre o que falamos. Beca gargalha: - Verdade. Flor: - Talvez ele tenha péssimas lembranças. Foi difícil lembrar de coisas boas daqui. Beca: - Verdade, mas a gente tem péssimas lembranças também, da nossa infância, e não ficamos esquisitos. Flor: - Porque estamos longe do lugar que passamos os dias negros. E se voltássemos para lá? Eu não gosto de pensar no lugar que cresci, já fico com calafrios. Beca: - Também não gosto de lembrar de onde nasci. Aperta meu peito, que não consigo respirar. Flor: - Vai ver o mesmo acontece com ele. Só que como sempre não nos diz nada, guarda para si. Beca: - O que me irrita. Ele acha que somos feitos de açúcar. Flor: - Eu ia adorar ser um açúcar de confeiteiro. Beca: - Eu seria qual? Flor: - Cristal. Os dois riem juntos. Eu interfiro: - Foco. Beca me responde: - Ih, olha Ai Gal. Flor: - O que ela disse? Beca: - Mandou a gente ter foco. Flor: - Ela bem que tem razão né? Sempre viajamos nas nossas conversas. Falamos muita besteira. Rebeca: - Sempre continuamos nossas piadinhas. Isso que amo na gente. Arthur está sempre muito sério. Adoro ele, mas desde que pensamos em vir para cá ele piorou. Flor: - Ele está nervoso, tentando nos ajudar a controlar nosso jeito. Rebeca: - A evitar quem somos, você quer dizer? Flor: - Lá vem você de novo. Beca: - E você não cansa de defendê-lo, quando ele faz coisa errada? Flor: - eu confio no coração dele. Beca: - Ele é um ser humano, Flor, às vezes vai errar f**o. Não é por isso que vamos deixar de amá-lo. Podemos nos decepcionar, mas relacionamentos são assim mesmo. Você parece que quer enfiar a cabeça em um buraco, feito avestruz. Flor: - Beca, eu vejo os defeitos dele. Não fico idealizando. Você que tem momentos que parece ser crítica demais, e sempre pensar o pior dele. Beca olha para mim: - Gal, precisamos de um juiz. Flor: - Não vale. Vou saber se o que ela disse é o que você diz que disse? Aí, isso ficou confuso. Beca: - Agora quem está desconfiando de quem? Eu Falo: - Nem muito a Deus, nem muito ao d***o. Beca repete. Flor: - Isso parece ser coisa dela mesmo. Beca: - Eu não iria mentir para você sobre isso, né? Flor: - Sobre outra coisa você mente? Beca: - Ai, me expressei m*l. Você não deixa passar nada né? Flor: - Argumente, Gal. Beca: - É, argumente. Eu respondo: - Creio que passar a mão na cabeça de Arthur. Beca me interrompe dizendo: - Peraí que vou repetir, ou esqueço. Vai com calma. Então começo a falar pausadamente e Rebeca a me repetir: - Creio que passar a mão na cabeça de Arthur sempre, não é saudável nem para ele, nem para vocês. Ele precisa crescer. Agora ficar esperando sempre o pior dele, não é gratificante e correto. Todo mundo tem que ter um voto de confiança. Críticas construtivas tudo bem, mas nem sempre. Beca: - Ai Jesus, mas como conseguir esse meio termo? Flor: - Vamos combinar assim: quando você quiser criticá-lo, você me fala antes de externar para ele. E toda vez que eu quiser desculpar ele, pelas suas cacas, vou te falar, para você me ajudar e ser menos babão. Beca: - Menos babão foi muito hilário. e a gente faz o que com o Arthur nesse meio tempo, congela? Flor: - Aí, às vezes queria ter esse super poder? Beca: - Eu não. Queria poder explodir cabeças com a mente. Flor olha para ela dizendo: - Credo, que horror! Eu então, mais uma vez interrompo, fazendo uma canção com a palavra: - Focooo. Beca:- Aí, a chata está de novo chamando nossa atenção e pedindo foco. Flor: - Ih menina, fizemos de novo né? No que eu digo: - Sempre, irritantemente. Beca repete. Flor ri, colocando a mão na boca. Beca: - A questão toda é quando Arthur falar, temos que agir em conjunto. Flor: - Tipo anjo e demônio. Beca: - Muito engraçadinho. Flor: - Você ia ser uma diabinha linda. Beca: - E você tem cabelo de anjo. Eu também tenho… Flor: - Mas uma língua ferina. Beca: - Aí, não tenho não. Eu faço um som de pigarrear, para ver se tocam-se, do falatório em demasia. Beca então conta para Flor o que eu disse e ele puxa o canto da boca. Beca fala em tom sarcástico, para me retrucar: - Continuando… Sim. Eu ataco, você defende. Então criamos uma discussão saudável, e o melhor argumento, vence. O outro vai, certamente, entender e ser convencido. Flor: - O bom que até Arthur vai ouvir e chegar às suas próprias conclusões. Acho que seria uma ótima tática. Beca, estende a mão para selar um acordo, dizendo: - Fechou? Flor, corresponde a mão estendida, respondendo: - Fechou. Ela então deita no peito de Flor que a abraça. Beca: - Você é tão cheirosinho. É o que? Flor: - Óleo essencial de lavanda. Beca: - Amo o de arruda e o de alecrim. Flor - Mas não dá para passar na gente, né? Bêca: - Arruda não. Eu digo: - Misericórdia. Beca me diz: - Boa noite, Gal. Vai dormir vai. Respondo: - Tá, vai. boa noite. Flor: - Ela ainda está aí? Beca: - Narrando, mas quieta, finalmente. No que respondo: - Eu ouvi. No que Beca, ri. Flor pergunta: - O que? Beca faz não com a cabeça. Eu coloco, para provocar, uma música de ninar no fundo. Beca começa com um ataque de riso. Flor então olha e pergunta: - O que foi? Beca: - A Gal, Bocó, colocou uma música de ninar. No que eu digo: - Se você não forem dormir, tenho que continuar narrando. Beca: - E, espírito, lá dorme? Eu então respondo e, Beca, fala em voz alta, para Flor ouvir: - Dependendo do grau de evolução sentimos sono, fome, frio, essas sensações da matéria, ainda. Flor não resiste à pergunta safadinha: - E vocês fazem, você sabe o que, aí? Eu pergunto: - Você sabe o que? Beca faz uma voz de óbvio: - Aquilo Gal. No que percebo o que significa e digo: - Sim. Casais se relacionam dependendo da evolução. Quanto mais elevado, o s**o é substituído por outra forma de comunhão. Flor: - Hum… melhor? O que respondo: - Sim, melhor. Flor: - Como seria esse melhor, gente? Beca olha para Flor respondendo: - Ai florzinho, certamente não vamos entender. Outro tipo de matéria, outro tipo de energia. Pare de pensar como um encarnado. Flor: - Só fiquei curioso com o melhor. Beca: - Homens, mesmo gays, só pensam nisso. Flor: - Aí, Beca, isso foi preconceituoso. Beca: - Foi real. Eu tento mais uma vez: - Gente, crianças, é para hoje? Beca: - Ih, Gal está nos chamando de crianças. Flor solta uma gargalhada. Beca: - Ai, Gal, não estou com sono. Flor: - Já tentou contar cachorrinhos? Beca: - Eu já, mas daí eles ficam tão fofinhos pulando nuvens, que não consigo dormir, com vontade de apertar. Eu então digo: - Desisto. Beca: - Você não pode. É a narradora. Eu: - Isso é tortura. Beca: - Vingança. Isso que dá não nos contar o que precisamos saber, antes de acontecer. Eu: - Você sabe que não posso. Viola as regras. Beca: - Então aguenta. Agora eu e Flor vamos fazer assim, para te castigar. Ela olha para o lado e Flor já está dormindo. Então faz cara de apaixonada, cobre ele e se deita, finalmente. Beca cochicha para mim: - Eu ouvi isso. Eu cochicho para ele: - Eu sei, fiz de propósito. Beca: - Boa noite Gal. Eu respondo: - Boa noite querida. Durma bem. Arthur, que escutava atrás da porta entreaberta, espera um pouco, sorri e vai para seu quarto.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD