Sophia
Olhei para o meu dedo — o diamante lapidado em formato de princesa reluzia sob a luz do salão, cravejado numa faixa grossa de ouro branco. Eu nunca tinha possuído uma joia tão magnífica. Uma parte mesquinha de mim até se gabava do tamanho da pedra… até perceber que era muito maior que o anel de noivado da minha madrasta.
Antes mesmo que ele o colocasse no meu dedo, eu já estava pronta para fugir. Ainda estou.
Mas havia algo na voz dele — uma sombra de sinceridade — quando disse que o anel pertencia à mãe dele. Isso me desconcertou.
Quando atravessamos a sala de estar e chegamos ao pátio dos fundos, meu pai nos apresentou à multidão que nos aguardava. As luzes dos lustres refletiam nas taças, os convidados cochichavam, e eu sentia cada olhar pesar sobre mim.
Alguns aplaudiram. Outros apenas analisaram.
E, entre eles, Tatiana — minha meia-irmã — me lançou um sorriso venenoso que gelou meu sangue.
— Os futuros Sr. e Sra. Bonanno — anunciou meu pai, erguendo uma taça. — Esta é uma noite histórica. O noivado da minha filha com Andrew une duas das famílias mais poderosas desta cidade.
Seu tom de orgulho me deu ânsia. Aquilo não passava de uma transação disfarçada de aliança. Um acordo lucrativo — e eu era a moeda de troca.
Andrew passou o braço ao redor da minha cintura com uma segurança ensaiada. O toque dele me pareceu frio, calculado.
— Seu pai acabou de me dar você — murmurou, tão baixo que apenas eu ouvi.
Um arrepio percorreu minha espinha.
— Ao casal! — meu pai bradou. — Que o futuro seja próspero e… longo.
Longo demais, pensei.
— Estamos honrados em unir forças — disse Andrew, sua voz firme e sedutora. — A lealdade entre nossas famílias será inquebrável.
Ele me puxou para mais perto, a mão pousando na base das minhas costas — um gesto que, de longe, parecia romântico, mas de perto soava como uma marca de posse.
As mulheres o observavam com fascínio. Os homens, com respeito.
E eu… com medo.
— Você parece tensa — sussurrou ele.
— E você parece gostar disso — respondi, forçando um sorriso para os fotógrafos.
Ele soltou uma risada baixa. — Talvez eu goste mesmo.
O noivado seguiu entre brindes e disfarces. Eu tentei me misturar aos convidados, mas Tatiana se aproximou, o sorriso preguiçoso e a taça de champanhe balançando entre os dedos.
— Que espetáculo, mana — disse ela, inclinando-se para mim. O perfume doce demais quase me sufocou. — Andrew Bonanno… um homem de muitas mulheres.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei, sem disfarçar o incômodo.
— Só uma observação inocente. — Deu um gole na bebida, observando Andrew conversar com um grupo de investidores. — Ele tem… fama de não se contentar com uma só. Achei que você gostaria de saber o tipo de noivo que papai escolheu pra você.
Meu estômago se revirou.
Tatiana não precisava mentir. Bastava insinuar.
— Se está tentando me assustar, não vai conseguir. — Cruzei os braços.
Ela riu, o som cristalino e c***l. — Claro, irmãzinha. Mas não diga que não avisei.
Quando ela se afastou, Andrew reapareceu.
— O que foi isso? — perguntou, os olhos escuros analisando meu rosto.
— Nada que te interesse — murmurei.
Ele inclinou a cabeça, o sorriso voltando aos lábios. — Tudo que te envolve me interessa. Principalmente quando é sobre mim.
— Então talvez devesse se perguntar por que sua reputação chega antes de você. — O encarei, firme.
Por um instante, vi algo atravessar o olhar dele — uma sombra de desafio, de prazer talvez.
Ele se aproximou, roçando os lábios perto do meu ouvido.
— Fale o que quiser, Valentina. Mas lembre-se… a partir de agora, tudo o que dizem sobre mim também recai sobre você.
Sua voz era suave, mas havia uma ameaça escondida ali.
Eu recuei, sentindo o chão oscilar.
Ele sorriu. — Não tema, dolcezza. Vou fazer de você a mulher mais poderosa dessa sala. Mesmo que tenha que ensinar isso à força.
Olhei para o anel no meu dedo. A joia brilhava como uma promessa… ou uma sentença.
E quando Tatiana, do outro lado do salão, me lançou outro sorriso, percebi:
ela queria que eu sofresse.
Mas Andrew…
Andrew queria que eu aprendesse a sobreviver.