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1890 Words
Sophia Poucos dias depois da festa, encontrei um pequeno pacote embrulhado em papel preto, com um X vermelho proeminente no topo. Ele estava pousado no travesseiro extra ao lado da minha cabeça. Andrew e Gio podem ter tido livre acesso à casa durante a festa, mas não havia como nenhum deles ter entrado ali e deixado um presente para mim sem que os seguranças percebessem. Será que poderiam? Sentei-me e coloquei a caixa no colo. Será que ele me explodiria desta vez? Provavelmente não. Rasguei o papel e levantei a tampa. O conteúdo não parecia ameaçador: um molho de chaves e um bilhete com meu nome. Sophia, Encontre-me na North Haven Av, 223, às 13h. Não se atrase, ou haverá consequências. A Segurei o molho de chaves. Para que serviriam? Peguei o celular e procurei o endereço. A casa ficava em um bairro isolado em Nova Jersey, a cerca de trinta minutos da cidade — não era longe de onde eu morava. De quem seria a casa na North Haven? Por que ele queria me encontrar lá? Não nos falávamos desde a noite da festa. Uma parte de mim se alivou por não ter que lidar com sua personalidade intimidadora. A outra parte — a que duvidava da própria sanidade — sentia falta dele. Não conseguia parar de pensar na ereção dele quando dançávamos, em como ele ameaçou enfiar o p*u na minha boca. Eu deveria ter sentido nojo e fingido que sentia, mas não era verdade. Seus gestos rudes, a maneira como me tratava e falava comigo, me excitavam. Eu não sabia o que fazer com aquilo. Sua personalidade dominadora me aterrorizava, mas o corpo dele me assustava ainda mais. Nunca estive com um homem assim. Já saír com garotos no ensino médio e com um ou outro na faculdade, mas nada sério — ninguém por quem me interessei se parecia com ele: músculos, tatuagens, ternos caros. Desde que ele me jogou na traseira da SUV e arrancou meu vestido, seu corpo forte não saía da minha cabeça. Ele era firme, poderoso, duro. Tão duro. O que há de errado comigo? Ele era um homem das cavernas. Eu li romances suficientes para saber que a forma como me tratava não era certa. Queria me possuir. Era doentio e distorcido. Aquela situação inteira estava errada. Minha família me forçou a concordar com o casamento. Ele não tinha intenção de facilitar nada para mim. Eu precisava descobrir como ser esposa dele, fazer o que minha família queria e não morrer no processo. Mais fácil falar do que fazer. Depois do banho, de escovar o cabelo e de me maquiar com cuidado, vasculhei o armário. Queria estar bonita, mas, dessa vez, a roupa seria minha escolha. Por que eu me dava ao trabalho? Será que eu me importava com o que ele pensava de mim? Sim. Demais. Joguei cinco ou seis peças no chão até encontrar o que queria: um vestido branco sem alças, com uma jaqueta curta de couro preta por cima. Para completar, sapatos vermelhos de tiras abertas. Ele parecia gostar de vermelho. O traje estava exagerado para um encontro à tarde? Provavelmente. Seria suficiente para seduzir meu futuro marido? Tomara. Não sabia bem por que queria provocá-lo daquele jeito — mas por que não? Peguei a bolsa na cadeira da penteadeira e desci as escadas correndo, atravessando o hall de entrada. Não queria me atrasar. Andrew não parecia o tipo que deixaria isso passar pela segunda vez. Tirei as chaves da bolsa e corri para a porta. — Sophia — Mason saiu do escritório do meu tio. — Para onde você está indo com tanta pressa? — Ah, vou me encontrar com o Andrew. — Quero falar com você. — Pode esperar até hoje à noite? Não quero me atrasar. — Pareço ansiosa demais? — Estou tentando ganhar a confiança dele, sabia? — Ele pode esperar. — Mason apontou para o escritório. — Serei breve. Por que todos os homens da minha vida eram tão mandões? — Tudo bem. — Corri para o escritório, com Mason logo atrás de mim. — O que foi? — Acho que você não está preparada para o que está se metendo. — Ele sentou-se no sofá. — De jeito nenhum. — Agora você parece a sua mãe. — Revirei os olhos. Disseram para casar com Andrew, e eu disse que casaria, mas ninguém parecia acreditar que eu conseguiria fazer o que eles queriam. — Você também não confia em mim para isso? — Não disse isso. — O que está querendo dizer? — Digo que eu não teria colocado você nessa situação. — Ele passou a mão pelos cabelos negros e grossos. — Não questiono meu pai, mas o que ele pede é arriscado. — Por que acha que eu não consigo? — Não sei se você consegue, Sophi. Não por falta de fé, mas porque Bonanno é um filho da mãe implacável. — p**a merda. Ele é imprevisível, com um lado violento. É impulsivo e tem o dedo no gatilho. — Mas isso não impede que me mandem para cá. — Cruzei as pernas. — Alguém já pensou que, se esse plano i****a der errado, Andrew vai apontar essa arma para mim? Mason ficou em silêncio. — Claro que não. Ou, se pensaram, nenhum de vocês se importa. Eu sou dispensável. Entendo. — Isso não é verdade. — Você permitiria que Sebastian fizesse algo tão perigoso? Enviaria ele a território inimigo para espionar? — Sebastian não pode fazer esse trabalho em particular. — Não, só eu posso. — Levantei-me e andei de um lado para o outro no quarto. — Agora que seu pai me colocou nessa situação e praticamente me entregou ao Andrew, deixe-me fazer o trabalho. Você terá de confiar em mim. — Independentemente do que pense, eu sempre me importei com você. — Ele veio por trás e pousou a mão no meu ombro. — Quando você veio morar conosco, eu nunca tive uma irmã. Achei que não precisava — mas precisei. Me arrependo de coisas que essa família fez com você. Talvez não tenhamos sido a melhor opção quando seus pais morreram, mas somos sua família. Virei-me para encará-lo, com uma lágrima solitária escorrendo pela bochecha. — Não te culpo pelo que me aconteceu aqui. Sempre soube meu lugar. Posso não ter gostado desse lugar, mas sobrevivi. — Você se tornou uma mulher incrível, e eu não quero que Bonanno a destrua. — Ele fechou os olhos. — Eu o mato antes que isso aconteça. — Ele não vai me quebrar. — Dei um tapinha no peito firme dele. — Sou mais forte do que pensa. — Eu sei. Disse que não posso questionar meu pai, mas se isso se tornar demais, ou no minuto em que você achar que Andrew está atrás de você, eu vou te tirar daqui. — Obrigada. — Beijei sua bochecha. — Isso significa muito. É bom saber que tenho um plano B. — Ninguém quer te ver em perigo. Não achei aquilo inteiramente verdade — a mãe dele, certamente, não se importava se eu sobrevivesse. — Preciso ir. — Corri para a porta depois de olhar o relógio. — Chego em casa a tempo para o jantar. — Quero que o Sam te leve. — Ele me acompanhou até o saguão. — Isso é necessário? — Eu estava tentando ganhar a confiança de Andrew. Como ele reagiria se eu aparecesse acompanhada por um guarda dos Torello? — Dirijo poucos minutos daqui. — Não é negociável. — Ele colocou a mão no quadril. — Bonanno não é e******o o suficiente para te machucar — pelo menos não agora. Mas tem inimigos, e meu pai também. Agora que o noivado é público, precisamos ser cautelosos. — Entendo. — Eu gostava mais de ser a prima descartável do clã: ninguém me dava atenção, ninguém me usaria como vantagem. Tudo mudou quando Andrew colocou aquele anel de diamante no meu dedo. — Cuidado. — Mason pegou o celular. — Vou mandar uma mensagem para o Sam e pedir que traga o carro. — Obrigada. — Abri a porta e esperei no portão a chegada do Sam. Com cada minuto que passava, mais ansiosa eu ficava. Saí com antecedência para não me atrasar; a ideia de perder o horário me dava náusea. Ele avisou que haveria consequências. Que tipo de consequências? — Ei, Sam — disse quando ele parou e abriu a porta. — Estou um pouco atrasada. — Para onde vamos? — Vou mandar o endereço por mensagem, você coloca no GPS. — Certo. — Ele entrou e seguiu pela longa entrada. Ao chegar ao fundo, parou para checar o celular. — Área privada. É uma comunidade exclusiva, só tem umas poucas casas. — Andrew me pediu para encontrá-lo no endereço que te mandei. — Olhei o relógio. — Não quero me atrasar. — Tudo bem. — Ele entrou na estrada principal. — Ainda não te parabenizei. — Tudo bem. — Mentir para o Sam não me deixava confortável, mas logo estaria mentindo para todo mundo — até para meu marido. Isso realmente importava? Tudo aconteceu tão rápido. — Nunca imaginei que você fosse espontânea. — ele comentou. Quando ele se concentrou na estrada, decidi encerrar a conversa. Quanto menos falasse, melhor. Minha vida inteira estava prestes a se complicar. Logo depois, o carro parou: à nossa frente, luzes de polícia brilhavam. — O que houve? — perguntei. — Por que não estamos nos movendo? — Parece que uma árvore caiu na estrada por causa da tempestade de ontem. — Sam olhou o GPS. — Vou dar a volta e ver para onde o mapa nos redireciona. — Vai demorar muito? — Eram quase 13h e eu definitivamente me atrasaria. — Tenho que estar lá às 13h. — Farei o possível, mas não há muitas rotas alternativas para aquela comunidade. Não se preocupe — tenho certeza de que seu futuro marido saberá esperar. Uma risadinha nervosa escapou dos meus lábios. Por que Andrew e eu não trocamos os números? Estávamos tão ocupados brigando na outra noite que nem passou pela cabeça. Se eu tivesse o número dele, eu poderia ter avisado que atrasaria. Apoiei a cabeça no encosto do banco, fechei os olhos e respirei fundo para tentar me acalmar. Não controlava a tempestade nem a árvore caída. Não podia evitar que Andrew escolhesse um ponto de encontro de difícil acesso, nem que se comunicasse por bilhetes suspeitos. Poucos minutos depois Sam encontrou uma rota alternativa; pelo GPS, desviamos só dez minutos. Talvez não chegasse tão atrasada. Será que Andrew se importaria? Quando o carro parou, Sam puxou o veículo e me deixou na entrada. Era uma casa colonial de dois andares, aninhada entre árvores — grande, mas com um ar acolhedor. Não lembrava em nada a fortaleza que deixei para trás. — Não vou demorar. — Ele encostou a cabeça pelo vidro. — Me manda mensagem quando estiver pronta para voltar. — Obrigada. — Subi o caminho de pedras, admirando o paisagismo. A casa era elaborada sem ostentação; gostei. Na grande varanda envolvente, Andrew esperava encostado à porta. Não disse nada — não precisava. Pelo maxilar rígido e pela postura tensa, percebi que estava irritado. Seu humor sombrio e implacável era mais sexy do que deveria ser. Que pena que eu era o alvo pretendido.
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