Só pelo andar do Felipe, e a cara fechada. Não precisou nem dele abrir a boca pra todo mundo ao redor olhar pra ele.
Felipe: p***a, Manuela! Que merda é essa de não atender o celular? Tô te esperando há mais de duas horas na frente daquela merda! – Ele dispara logo que se aproxima e em voz alta.
Minha cara queima de vergonha.
Minha vontade é sumir na hora. Sinto os olhares cravados em mim. Olho de canto pra Bia, que já me encara p**a, deixando claro que não vai ficar calada. Ela detesta o Felipe.
Manu: Felipe, eu não te vi e também não tinha como adivinhar que você estava me esperando. A gente saiu tão distraída conversando que nem percebi seu carro parado lá – Digo baixo, tentando o acalmar e tirar a atenção que já estava em nós.
Felipe: Não viu? Como assim? Eu tava parado na sua frente. – Ele gesticula exageradamente e falando muito alto.
A sensação é que eu tenho é como se eu tivesse cometido algum crime. Pelo jeito que ele me olha e fala comigo.
Bia só espera ele terminar e já entra na conversa, porque nunca que ela deixaria passar a oportunidade de falar umas poucas e boas pra ele.
Bia: Dá pra baixar o tom, moleque? Fala direito com ela, meu irmão. Tá pensando que você é quem pra falar assim com a garota? Abaixa a bolinha. – Ela fala alto, cruzando os braços e o encarando.
Mas o Felipe ignora. Ele ta tão puto comigo que parece que só eu existo na frente dele. O olhar dele é intenso, daquele tipo que causa medo.
Felipe: E o celular? Nem isso você viu? Cansei de ligar nessa merda. Liguei umas mil vezes! Cê tem noção de como isso me irrita?
Sinto um nó na garganta crescer. Odeio quando ele faz isso. Quando me trata como se eu tivesse que dar explicação de cada passo que eu dou. É angustiante.
Manu: Eu não vi o celular.
Bia: Já chega! Tá bom, né? Cê quer falar mais ou já deu? Ela já explicou. Agora vaza daqui o, bonitão.
Ele respira fundo, passa a mão nos cabelos, ainda nervoso. Fala com o tom mais baixo, tentando se controlar.
Felipe: Eu só queria saber se você tava bem. Não custa nada me avisar. Sabe que o Terror tá seguindo você, te ameaçando, sabe que esse cara é um louco, desequilibrado e perigoso. Ele tá querendo te matar pô – Ele fala e sua voz agora é baixa e tranquila.
Bem diferente do que estava a minutos atrás.
Manu: Eu tô bem. Não sabia que você estáva lá. Você não avisou que viria. E a gente já conversou sobre isso, Felipe. Não quero você me buscando nos lugares.
– Minha voz sai firme, mas baixa, porque já tô morrendo de vergonha.
Ele abaixa a cabeça, concordando. Não diz nada, mas o jeito dele ainda me deixa desconfortável. Parece que tá remoendo algo, e eu sinto o olhar da Bia nele.
Manu: Agora vai embora e depois a gente conversa.
Felipe: Vamos comigo, o carro tá estacionado aqui perto. – aponta pra onde ele veio.
Antes que eu possa responder, sinto a mão da Bia apertar meu braço e a olho me comunicando pelo olhar com ela.
Manu: Não, eu não quero ir com você. E, pra ser sincera, acho que a gente precisa dar uma afastada, Felipe.
– Falo de uma vez só.
Ele n**a e do nada começa a chorar igual uma criança. As lágrimas escorrem, e ele tenta limpar com as costas da mão.
Felipe: Manu... – sua voz sai rouca, mas ele não termina a frase e me olha, com os olhos vermelhos e molhados, como se estivesse esperando que eu voltasse atrás.
Fico parada, sem saber exatamente o que fazer. Ele parece que vai falar algo, mas desiste. Apenas vira as costas e sai andando.
Isso não tá normal. Não é relação saudável de amizade. A gente não tem nada, e ele age como se fosse meu dono, como se fosse meu namorado e tivesse algum direito sobre mim.
Vou precisar conversar sério com ele. Mas depois, hoje não. Depois dessa vergonha toda, não consigo nem olhar pra cara dele direito.
Bia: Tá vendo? Eu tô te avisando que esse daí é maluco. Se afasta desse cara pelo amor de Deus Manu. Tá claro que ele tem um probleminha, mana. Sai fora dele enquanto é tempo. – Comenta comigo e eu concordo.
Ajeitando a bolsa no ombro.
Manu: Lá vem meu ônibus.
Sorrio pra ela, meio sem jeito, e damos um abraço rápido antes de eu subir no ônibus. Me sento no fundo, encosto a cabeça no vidro gelado e fico olhando pela janela, vendo a paisagem passando rápido
e pensando em como eu tenho imã pra homem perturbado.