Manu narrando
Enquanto Bruna me puxa pela mão, não consigo parar de me perguntar por que não pensei melhor antes de sair de casa. E mais: será que todo mundo aqui já sabe exatamente o que vestir pra esses tipos de comemorações? Porque eu, definitivamente, não sei.
Bruna: Anda logo, Manu! — Ela grita por cima das conversas e da música, sem nem olhar pra trás. Ela parece flutuar pela multidão, cumprimentando todo mundo com aquele sorriso confiante que só ela tem.
Eu? Bem, tô só tentando não tropeçar no meu próprio pé.
O cheiro doce de bebida misturado ao suor de alguém próximo é quase sufocante. Luzes coloridas piscam lá em cima na laje, criando sombras que dançam pelas paredes estreitas. É confuso, caótico... E Bruna parece no auge da animação, então resolvo engolir minha vontade de reclamar mais do salto.
Manu: Bruna, sério... Eu vou cair daqui a pouco! — Reclamo, tentando manter o equilíbrio enquanto desvio de um cara com um copo na mão que quase derrama tudo em mim.
Ela finalmente para e vira pra mim com aquele olhar dela, cheio de exagero e drama:
Bruna: Ah, pelo amor de Deus, Manu! Você tá maravilhosa! Para de reclamar desse salto e aproveita! — Diz, rindo enquanto ajeita o cabelo.
Suspiro e dou uma olhada ao redor. É impossível ignorar o quanto todo mundo parece estar no seu melhor. Mulheres com roupas curtíssimas desfilam com vestidos justos e muito bem maquiadas. Homens sem camisas, correntes no peito, armados... Todo mundo parece saber exatamente o que está fazendo ali. Menos eu.
Bruna percebe minha hesitação e segura meus ombros, inclinando o rosto pra me encarar bem de perto:
Bruna: Olha pra mim. — Ela sorri, daquele jeito encorajador. — Você tá incrível! E, se ele estiver aqui hoje... Ele vai babar por você.
Meu coração dá uma batida estranha ao ouvir isso. Terror? Será que ele realmente está ali? Não que eu esteja pensando nisso... Tá, talvez um pouco. Ok, muito. Mas quem pode me culpar? Ele ignora todas as minhas mensagens hoje. Nem uma mísera visualização. Também não vê a foto que postei nos stories.
Manu: Bruna... Tomara que ele esteja bem — murmuro, ajeitando o vestido preto justo que parece gritar “olhem pra mim”.
Ela ri alto, me dando um tapinha no ombro:
Bruna: Relaxa, amiga! Ele tá ótimo, e hoje é o teu dia de brilhar. Agora vem logo, antes que eu te deixe pra trás.
Subimos alguns degraus até a laje, onde a música está ainda mais alta. As luzes azuis, vermelhas e amarelas piscam feito competição de qual é mais intensa, e a vista... Ah, a vista! O morro brilha como um céu estrelado no chão escuro da noite. Por um momento, esqueço do salto apertado e só observo o cenário à minha frente, tentando absorver aquele instante.
Mas aí vem aquela sensação. Aquela que faz o coração acelerar e a mente rodar sem motivo aparente. Alguém está me observando. Eu sinto.
Meus olhos começam a procurar automaticamente. Será que é ele?
Passo os dedos entre os cabelos, na tentativa de me distrair e afastar essa sensação. Volto minha atenção pra Bruna, que está no balcão pegando dois copos de uma bebida colorida.
Bruna: Toma isso aqui. — Ela me entrega um dos copos com um sorriso travesso. — Agora esquece esse salto e esse homem, pelo menos por cinco minutos! Hoje você vai se divertir... Nem que eu tenha que te carregar no colo!
Rio, apesar da dor insuportável nos pés. Pego o copo e dou um gole.
Talvez ela tenha razão. É melhor focar no presente.
Enquanto caminhamos com os copos nas mãos, tentando passar pela multidão, Bruna para tão bruscamente que eu quase caio em cima dela, entornando boa parte da minha bebida.
Manu: Ai, que merda! – Reclamo, olhando para minhas pernas molhadas. O líquido escorre pelo vestido, e tento limpar com a mão, sem muito sucesso.
Levanto o olhar e percebo que Bruna continua parada, travada no mesmo lugar. Seus olhos estão fixos em algo, ou melhor, em alguém. Sigo seu olhar e sinto meu coração apertar. Lá está ele: Terror. E não está sozinho.
Ele está sentado em uma mesa, rodeado de gente, mas o que chama minha atenção é a mulher pendurada no seu pescoço. O jeito como ela o beija faz meu estômago revirar. E pior: é a forma que ele me olha depois de afastá-la. Direto nos meus olhos. Um olhar tão intenso que quase me faz esquecer da cena à minha frente.
Desvio o rosto, sentindo o sangue subir para o rosto. Minha mente grita uma só palavra: i****a. Eu me sinto uma completa i****a por ter passado o dia inteiro esperando uma resposta dele, enquanto ele está aqui. Fazendo isso.
Antes que eu possa processar qualquer coisa, Bruna solta minha mão e avança como um furacão em cima dos dois. Em questão de segundos, ela já está rolando no chão com a morena que está acompanhada do L7.
Bruna: Qual é, sua vagabunda? Tá fazendo o que com o meu marido? Eu vou te matar sua p**a. – Ela grita enquanto agarra os cabelos da mulher com uma mão e soca o rosto dela com a outra.
O som ao redor muda na hora. As conversas cessam, e o barulho da confusão toma conta. Algumas pessoas começam a se afastar, outras gritam incentivando a briga, como se fosse um show ao vivo.
Eu fico ali, parada, tentando entender o que está acontecendo. Meu coração ainda está acelerado, mas agora é uma mistura de vergonha e um pouco de desespero.
Manu: Bruna! Para com isso! – Grito, tentando me aproximar dela, mas o empurra-empurra das pessoas dificulta cada passo. Olho por cima e vejo a Any tentando puxar a Bruna pelos braços.
Any: Tá maluca Bruna? Vem c*****o.
L7: Para de me fazer passar vergonha! Solta ela, p***a! – Ele grita, tentando separar as duas, mas Bruna está fora de si.
Terror, por outro lado, continua parado no mesmo lugar. Seu olhar está fixo em mim.
Finalmente, consigo chegar perto o suficiente para agarrar o braço de Bruna. Any me olha sorrindo e retribuo o sorriso. Puxamos a Bruna com toda a força que temos, tentando afastá-la da confusão.