Capítulo 30

1361 Words
Yasmin: Tá na hora de você tomar seu remédio – ela fala, saindo do quarto e deixando o Gringo ali comigo, só nós dois. Depois de alguns segundos, ela volta com uma garrafa d’água e três comprimidos. Se aproxima, se ajoelha na minha frente e tenta colocar os comprimidos na minha boca. Puxo os comprimidos e a garrafa das mãos dela e tomo sozinho. Nem fodendo que vou deixar essa mina me cuidar desse jeito. Tô bem já! Ela fica sem graça e se levanta devagar, mas tô nem aí. Não quero contato com essa mina, não sei nem qual é a dela. RD: Responde minha pergunta - falo um pouco alto. Yasmin: É o seguinte... eu já te conhecia, sabia que você era envolvido, porque eu já fui curtir baile no teu morro com a Stefany. E, por incrível que pareça, nesse dia ela ficou lá com o dono de lá – ela gesticula com a mão, aquele sorriso meio debochado no rosto – e você tava no camarote, bem perto de onde a gente tava. Yasmin: Nunca esqueci seu rosto. Por isso, quando eu vi que era você desmaiado no volante e no meio da rodovia eu te reconheci. E não pensei nem duas vezes pra ajudar. RD: Tu passou, viu meu carro e bancou a heroína – pergunto, com uma certa ironia só pra ver se ela se perde na história que tá contando. Gringo: Tá pegando pesado com ela, pô. RD: Fica na tua – corto ele sem pensar duas vezes, o olhar firme nele, já mostrando que não engoli essa p***a. – Depois tu vai explicar como tu conseguiu entrar fácil aqui. E não vai ser pra mim, não vacilão. Vai explicar essa p***a pro Terror. Vejo ele engolir seco, a cara dele já entrega que sabe o que está por vir. Se essa fita não fizer sentido, ele vai ser tirado de X9. RD: Eee? – pergunto, irritado, sem paciência – Vai direto ao ponto p***a. Yasmin: E foi isso eu parei meu carro e fui até o seu, foi quando te reconheci. Imaginei que devia ser alguma coisa grave, até porque cê tava com um ferimento na barriga que sangrava muito. Como sei como essas coisas funciona eu sabia que não podia te levar pro hospital e nem te deixar ali. Coloquei você no meu carro e trouxe pra cá, escondido do Yan. Com a ajuda do Diego, consegui uma casa do outro lado do morro, mais afastada. Meu irmão e os soldados dele não vêm muito pro lado de cá. RD: Nem fodendo que tu ia conseguir me trazer pra cá sozinha. Sou pesado e desmaiado, devo pesar o triplo. Nem colocar no teu carro tu ia conseguir! Inventa outra, p***a. Yasmin: Não fiz sozinha, tava com o Diego, meu amigo que estuda comigo. Foi ele que me ajudou a tirar você do seu carro. Se quiser, chamo ele aqui pra confirmar pra você – ela fala com calma, e eu dou uma risada de deboche. RD: Não precisa. Ele vai falar a merma coisa que tu. Acha que sou o****o? Yasmin: Por mais que você não acredite, a história é essa. Depois que você já tava aqui, entrei em contato com a Stefany, só que lá no teu morro tava tendo operação policial e ela disse que não conseguiria avisar ninguém. Não tava saindo de casa e nem conseguia contato com ninguém também. Então ela perguntou se ele podia vir – aponta pro Gringo –, foi aí que ele entrou aqui no morro com a minha ajuda. Ninguém aqui pode sonhar de onde vocês são. Mas trazer você pra cá foi a única coisa que pensei. Ela me encara firme, sem vacilar, como se quisesse me convencer na marra. A expressão dela não muda. Tento encontrar algum furo, alguma brecha nesse papo, mas a mina tá segura. E, pra ser sincero, até faz sentido. Yasmin: Ninguém aqui pode sonhar de onde vocês são. Mas trazer você pra cá foi a única coisa que consegui pensar na hora. Não dava pra deixar você morrer ali. – Ela diz, com aquele tom de quem tá meio na defensiva, mas ao mesmo tempo segura. RD: Se for pra mim morrer pelo teu irmão, podia ter me deixado morrer lá, p***a – falo, tentando me sentar com dificuldade. Gringo percebe e já me ajuda, me encostando na parede. O movimento faz tudo doer, mas agora eu consigo pelo menos olhar em volta e planejar uma saída. – Eu tenho que sair daqui – murmuro, os olhos percorrendo o quarto de cima a baixo. Yasmin: Você não vai morrer! Gringo: Já tá tudo no esquema. Só estávamos esperando você acordar. Ela vai dar cobertura pra nós amanhã, quando for pra faculdade. RD: Como? Yasmin: Vocês saem no meu carro, ninguém aqui vasculha meu carro – ela fala com segurança. Olho pra ela, e penso que essa p***a é louca mermo. Se o o****o do irmão dela pega nós três aqui, é capaz de sobrar até pra ela. O cara é psico, neurótico pra c*****o! Só de pensar nele descobrindo que a irmã tá ajudando um rival, já dá pra imaginar o inferno que vai virar. Mas essa ideia de sair escondido no carro dela, por mais arriscada que seja, é o único plano que também consigo pensar agora. E, vamos falar a real, já tô fudido mesmo. RD: Espero que tu não esteja de caô pro meu lado, hein, mina – falo, encarando ela direto, meus olhos cravados nos dela, que pra falar a verdade é de um verde lindo. O cara é feio mais a irmã dele é mó gostosa! Yasmin: É só pensar... por que eu te salvaria, arriscaria minha pele pra deixar você morrer depois? Não faz sentido, né? – Ela me encara, com uma expressão irônica, como se estivesse me desafiando a ver a lógica dela. – Era mais fácil ter te largado lá dentro daquele carro. Porque lá sim você ia acabar morto ou preso pelo que fez. Ela joga essa na minha cara, e tenho que admitir, faz sentido. Mas não é por isso que vou baixar a guarda pra essa mina não. Ainda tô desconfiado, e minha cabeça não para de rodar, tentando entender qual é o real interesse dela. RD: Não sei, tu que tem que me falar. Qual o seu interesse em fazer essa p***a toda. Porque ainda não tô acreditando 100% em tu não. – falo firme, o olhar cravado nela, e ela só revira os olhos, como se tivesse cansada de tentar me convencer. Yasmin: Já falei, não ia deixar você morrer lá. Fiz o que eu achava certo. RD: Sei... e tu lá sabe da minha vida pra vir jogar as coisas na minha cara? – aponto o dedo na direção dela – Quem fala muito morre cedo, fica esperta. – O tom é firme, carregado de ameaça. Mas ela da de ombros ignorando minha ameaça. Essa mina é atrevida demais, tá maluco. Yasmin: Se eu não tenho medo do meu irmão, vou ter de você? – ela manda, me encarando de cima, cheia de atitude. O Gringo solta uma gargalhada alta, que morre na hora que olho sério pra ele. – E outra coisa, você tinha era que estar me agradecendo, em vez de tá aí falando bosta. Solto uma risada, desacreditado, e vejo ela sair do quarto, deixando eu e o Gringo sozinhos, um olhando pra cara do outro. Gringo: Tenta relaxar aí, tu já esforçou pra c*****o. Vou pegar alguma coisa pra tu comer. RD: Pode crer. Depois me passa o celular? Gringo: Tô sem, mano. Não dá pra trazer celular, cê sabe como é. Mas vejo com ela se ela te empresta o dela. RD: Tá mec – murmuro, e ele sai, me deixando sozinho ali, com a cabeça a milhão. Fico ali encostado, a dor ainda presente, mas agora é a mente que não para. Penso na Any, no meu filho... Agatha deve tá desesperada, achando que fui de ralo. Se passaram quinze dias, e todo mundo deve tá achando que eu virei história. "c*****o, mano... dormi demais, parceiro."
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