Passei o restante do dia recolhida a meu quarto.
Na hora do almoço desci, e não encontrei papai.
Mamãe dissera que ele tinha um almoço com os fornecedores.
Voltei para meu quarto e andei pelo recinto.
A cena de Albert montado naquele cavalo não me saía da mente.
Sento junto a mesa e tento me concentrar, mas, fora em vão.
Sigo até a janela e fito o extenso pasto.
Fecho os olhos e vejo a cena se repetir.
O cavalo se aproxima e ele me cumprimentando.
– Meu Deus… – abro os olhos e sinto algo florescer dentro de mim – o que é isso… – ponho a mão em meu coração e sinto-o bater forte.
Respiro fundo e sigo para a mesa.
Palavras. Palavras.
O que dizer sobre este sentimento que floresce em meu coração?
Não consigo entendê-lo, muito menos saber de onde ele vem.
Na verdade, sei de onde ele vem.
Ele vem daqueles belos olhos azuis radiantes, que tanto me encanta e me deixa sem fôlego.
Ouço batidas na porta e escondo o diário.
– Audrea querida – mamãe entra no quarto – você tem visita.
– Quem é?
– Marieta.
Marieta Antares. Uma velha amiga que sempre se gabava por ter feito um bom casamento.
Desço e encontro-a admirando as esculturas de madeira que papai mandara fazer.
– Marieta, que surpresa.
Ela veio ao meu encontro e cumprimentou-me.
– Você está tão diferente – diz andando ao meu redor – está mais linda, mais, mulher…
Sorrio envergonhada.
– O que a traz aqui?
Sentamo-nos no sofá.
– Vim saber como você está. Passou tanto tempo longe…
– Estou bem, e você?
– Bem, como lhe disse naquela carta, estou casada e muito feliz – ela abre um enorme sorriso – tenho duas lindas meninas, uma bela casa, uma carruagem toda minha e joias a v*****e.
– Que bom, fico muito feliz por você.
Ela sorri.
– E você querida, já está noiva?
– Não – respondo rapidamente.
– Mas, porque?
– Acabei de chegar Marieta, não pensei no assunto ainda.
– Ora – diz rindo – você não tem que se preocupar com isso, deixe que seu pai faça isso.
– E porque eu deixaria que ele se preocupasse com meu futuro? Posso eu mesma fazer isso.
Marieta me olha sem entender.
– Bem, só quis dizer, que…
– Sei o que quis dizer – interrompo – que em uma sociedade como a nossa, pleno século dezoito, onde as mulheres estão aos poucos conquistando o seu lugar, eu devo me submeter as vontades de meus pais, para que o nome de minha família não fique m*l falado.
Marieta me encara como se eu falasse uma barbárie.
– Bem, eu… – as palavras lhe faltaram.
Sorrio com seu jeito.
– Marieta querida – mamãe se aproxima – mandei preparar um chá – diz sorridente.
– Dispenso – digo ao me levantar – com licença.
– Aonde vai Audrea? – indaga mamãe.
– Terminar meu plano de aula para amanhã.
Subo as escadas e deixo as duas sozinhas.
Não muito tempo depois, mamãe adentra.
– Porque falou aquelas coisas para Marieta?
Estava de cabeça baixa e me limitei a responder.
– Que coisas?
Mamãe vem até mim e fecha meu caderno.
– Olhe pra mim – encaro-a e sua expressão era de nervosismo – nunca lhe pedi nada, mas, agora reivindico este direito; peço que tenha um pouco mais de respeito conosco. Como pode dizer que nossa opinião de nada vale?
– Não disse isso. Disse apenas que posso decidir meu futuro sozinha.
– Decidir seu futuro sozinha? – ouço a voz de papai.
Ele entra no quarto e ri.
– Quem você pensa que é? – indaga – sou seu pai, não apenas opino em sua vida, como decido o que é o melhor pra ela.
– O melhor? – rebato – pra você; porque pra mim, ir para um convento e passar oito de minha vida lá, não foi minha escolha!
– Foi sim! Você agiu durante anos como uma criança mimada e inconsequente, mas, agora, basta! Deixaria para lhe comunicar no jantar de amanhã, mas, lhe adianto logo, casará com Benicio. Quer queira, quer não.
Ele me olhou com a mais veracidade que podia existir.
Ele deu as costas e mamãe o seguiu.
Quando mamãe bateu a porta, e deixei que uma lágrima caísse.
Decidi não descer para jantar, e por sorte, ninguém mais me incomodou.
Acomodei-me em minha enorme cama que tanto sentira falta e fitei o teto por alguns instantes.
Benicio não era um partido que podia se chamar de “impróprio”. Ele fazia o tipo ideal. Ideal para aquelas que tem como objetivo de vida, se casar.
Virei para o lado, e mais uma vez o belo par de olhos azuis me vieram a mente.
Desvencilhei-me de tais pensamentos, ao perceber o quanto era errado.
Mas, ao mesmo tempo que sabia que estava cometendo um erro por tais pensamentos, sentia-me alegre por saber que na manhã seguinte, encontraria aqueles olhos lindos, acompanhado daquele sorriso meigo e acolhedor.
Logo o sono chegou e deixe-me levar por bons sonhos.
Na manhã seguinte, pus-me de pé.
Após fazer minha higiene, separei dois vestidos e os pus em cima da cama.
Analisei os dois, e acabei escolhendo um amarelo-claro, com detalhes dourados.
Desci as escadas e segui para a cozinha.
Encontrei Alda aprontando o café.
– Bom dia Audrea.
– Bom dia Alda.
– Porque está de pé tão cedo?
Pego duas maçãs e as enrolo em um pano, e as ponho em minha bolsa.
– Preciso chegar cedo a igreja. Darei aulas para as crianças.
Alda sorri.
– Quer um pouco de café?
– Não. Peguei duas maçãs e as como, assim que chegar lá.
Alda sorri e eu me despeço.
Entro na carruagem e sigo meu rumo.
Ao passar pela enorme porta, ponho-me de joelho e faço uma breve oração.
Sigo para a sala que Padre Albert me indicara e arrumo algumas coisas.
Tiro as maçãs e como uma.
Analiso os livros que eram utilizados.
– Chegou cedo – ouço uma voz atrás de mim.