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1023 Words
Passei o restante do dia recolhida a meu quarto. Na hora do almoço desci, e não encontrei papai. Mamãe dissera que ele tinha um almoço com os fornecedores. Voltei para meu quarto e andei pelo recinto. A cena de Albert montado naquele cavalo não me saía da mente. Sento junto a mesa e tento me concentrar, mas, fora em vão. Sigo até a janela e fito o extenso pasto. Fecho os olhos e vejo a cena se repetir. O cavalo se aproxima e ele me cumprimentando. – Meu Deus… – abro os olhos e sinto algo florescer dentro de mim – o que é isso… – ponho a mão em meu coração e sinto-o bater forte. Respiro fundo e sigo para a mesa. Palavras. Palavras. O que dizer sobre este sentimento que floresce em meu coração? Não consigo entendê-lo, muito menos saber de onde ele vem. Na verdade, sei de onde ele vem. Ele vem daqueles belos olhos azuis radiantes, que tanto me encanta e me deixa sem fôlego. Ouço batidas na porta e escondo o diário. – Audrea querida – mamãe entra no quarto – você tem visita. – Quem é? – Marieta. Marieta Antares. Uma velha amiga que sempre se gabava por ter feito um bom casamento. Desço e encontro-a admirando as esculturas de madeira que papai mandara fazer. – Marieta, que surpresa. Ela veio ao meu encontro e cumprimentou-me. – Você está tão diferente – diz andando ao meu redor – está mais linda, mais, mulher… Sorrio envergonhada. – O que a traz aqui? Sentamo-nos no sofá. – Vim saber como você está. Passou tanto tempo longe… – Estou bem, e você? – Bem, como lhe disse naquela carta, estou casada e muito feliz – ela abre um enorme sorriso – tenho duas lindas meninas, uma bela casa, uma carruagem toda minha e joias a v*****e. – Que bom, fico muito feliz por você. Ela sorri. – E você querida, já está noiva? – Não – respondo rapidamente. – Mas, porque? – Acabei de chegar Marieta, não pensei no assunto ainda. – Ora – diz rindo – você não tem que se preocupar com isso, deixe que seu pai faça isso. – E porque eu deixaria que ele se preocupasse com meu futuro? Posso eu mesma fazer isso. Marieta me olha sem entender. – Bem, só quis dizer, que… – Sei o que quis dizer – interrompo – que em uma sociedade como a nossa, pleno século dezoito, onde as mulheres estão aos poucos conquistando o seu lugar, eu devo me submeter as vontades de meus pais, para que o nome de minha família não fique m*l falado. Marieta me encara como se eu falasse uma barbárie. – Bem, eu… – as palavras lhe faltaram. Sorrio com seu jeito. – Marieta querida – mamãe se aproxima – mandei preparar um chá – diz sorridente. – Dispenso – digo ao me levantar – com licença. – Aonde vai Audrea? – indaga mamãe. – Terminar meu plano de aula para amanhã. Subo as escadas e deixo as duas sozinhas. Não muito tempo depois, mamãe adentra. – Porque falou aquelas coisas para Marieta? Estava de cabeça baixa e me limitei a responder. – Que coisas? Mamãe vem até mim e fecha meu caderno. – Olhe pra mim – encaro-a e sua expressão era de nervosismo – nunca lhe pedi nada, mas, agora reivindico este direito; peço que tenha um pouco mais de respeito conosco. Como pode dizer que nossa opinião de nada vale? – Não disse isso. Disse apenas que posso decidir meu futuro sozinha. – Decidir seu futuro sozinha? – ouço a voz de papai. Ele entra no quarto e ri. – Quem você pensa que é? – indaga – sou seu pai, não apenas opino em sua vida, como decido o que é o melhor pra ela. – O melhor? – rebato – pra você; porque pra mim, ir para um convento e passar oito de minha vida lá, não foi minha escolha! – Foi sim! Você agiu durante anos como uma criança mimada e inconsequente, mas, agora, basta! Deixaria para lhe comunicar no jantar de amanhã, mas, lhe adianto logo, casará com Benicio. Quer queira, quer não. Ele me olhou com a mais veracidade que podia existir. Ele deu as costas e mamãe o seguiu. Quando mamãe bateu a porta, e deixei que uma lágrima caísse. Decidi não descer para jantar, e por sorte, ninguém mais me incomodou. Acomodei-me em minha enorme cama que tanto sentira falta e fitei o teto por alguns instantes. Benicio não era um partido que podia se chamar de “impróprio”. Ele fazia o tipo ideal. Ideal para aquelas que tem como objetivo de vida, se casar. Virei para o lado, e mais uma vez o belo par de olhos azuis me vieram a mente. Desvencilhei-me de tais pensamentos, ao perceber o quanto era errado. Mas, ao mesmo tempo que sabia que estava cometendo um erro por tais pensamentos, sentia-me alegre por saber que na manhã seguinte, encontraria aqueles olhos lindos, acompanhado daquele sorriso meigo e acolhedor. Logo o sono chegou e deixe-me levar por bons sonhos. Na manhã seguinte, pus-me de pé. Após fazer minha higiene, separei dois vestidos e os pus em cima da cama. Analisei os dois, e acabei escolhendo um amarelo-claro, com detalhes dourados. Desci as escadas e segui para a cozinha. Encontrei Alda aprontando o café. – Bom dia Audrea. – Bom dia Alda. – Porque está de pé tão cedo? Pego duas maçãs e as enrolo em um pano, e as ponho em minha bolsa. – Preciso chegar cedo a igreja. Darei aulas para as crianças. Alda sorri. – Quer um pouco de café? – Não. Peguei duas maçãs e as como, assim que chegar lá. Alda sorri e eu me despeço. Entro na carruagem e sigo meu rumo. Ao passar pela enorme porta, ponho-me de joelho e faço uma breve oração. Sigo para a sala que Padre Albert me indicara e arrumo algumas coisas. Tiro as maçãs e como uma. Analiso os livros que eram utilizados. – Chegou cedo – ouço uma voz atrás de mim.
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