Cheguei em casa e fui direto para meu quarto.
Precisava acalmar meu coração. Sentia-me eufórica.
– Audrea – mamãe bate a porta – seu pai quer falar com você. Ele está no escritório – diz e sai.
Mamãe estava estranha demais.
Desço e bato na enorme porta de madeira de sua sala.
– Entre – diz.
Entro e deparo-me com ele com a cara enfiada no jornal.
– O senhor queria falar comigo?
Ele continua lendo.
– Sente-se.
Acomodo-me a sua frente, e depois de alguns minutos, ele larga o jornal e me encara.
– Quer dizer que você aceitou pensar na proposta de Benicio?
– Sim.
– Que bom. Fico feliz – feliz? – ouça Audrea, já percebi que você não é como as outras moças, sei que têm o gênio forte que nem o meu, mas, quero que saiba que, por mais que não acredite em mim, tudo o que faço é para seu bem. Então, eu sei que você tomou gosto por trabalha com crianças, e eu quero lhe fazer uma proposta; se aceitar casar com Benicio, lhe darei o antigo prédio do orfanato – olhei-o sem acreditar – mandarei reformar e você poderá reabri-lo.
– Está querendo dizer que, o futuro de muitas crianças abandonadas de Salvatore, dependem da minha resposta? – ele deu de ombros – isso é um absurdo pai. Jamais aceitaria – digo e levanto.
– Pensei que isso fosse um dos ensinamentos de Cristo – paro e o encaro – ajudar o próximo.
Contive-me diante de suas palavras e saí.
Voltei para meu quarto, e por mais incrível que parecesse, acabei analisando a situação.
Sim, adorava trabalhar com crianças, e acima de tudo, amava ajudá-las. Mas, eu não seria capaz de me sujeitar a tal coisa.
Desvencilhei-me de tais pensamentos, e tornei a pensar no cair da noite, que parecia não chegar.
Logo após o jantar, mamãe e papai se recolheram. Esperei algum tempo para que pudesse sair.
Segui pela cozinha para fazer o mínimo de barulho.
– Audrea? – sinto meu coração gelar ao ouvir sua voz.
Viro e a encaro.
– Aonde vai a essa hora?
– Que susto Alda – digo pondo a mão no peito – vou dar uma volta.
– A essa hora? – indaga desconfiada – porque não sai pela porta da frente?
Engulo em seco.
– Alda – aproximo-me dela – por favor, só não conte nada a eles. Prometo que lhe explico, mas, outra hora. Tudo bem?
Ela me olha receosa, mas concorda.
Sorrio e abro a porta.
Teria de seguir a pé, não podia correr o risco de que alguém ouvisse o barulho do cavalo.
Segui rápido. A caminhada seria um pouco longa, mas, só de pensar que logo estaria frente a frente com Albert, o cansaço sumia, e em seu lugar surgia uma força de v*****e imensa.
Depois de vinte minutos de caminhada, recostei-me a árvore que indicava a fronteira de Salvatore, com o vasto campo aberto.
O céu estava perfeitamente estrelado, a lua estava cheia e enorme. Todo o campo estava iluminado.
Depois de alguns minutos, comecei a olhar ao redor e ficar preocupada. Quando de repente, vejo um animal n***o surgir da escuridão e vir em minha direção.
Sorrio.
Quando o animal parou a minha frente, desceu de cima dele, quem eu tanto esperava.
Ele estava com vestes comuns, mas, com um enorme chapéu preto sob a cabeça.
– Pensei que não viesse – digo.
Ele sorri enquanto prende o cavalo a árvore.
– Precisava que todos dormissem – diz.
Ele se aproxima e sorri.
– Também tive de esperar todos dormirem…
Respirando fundo e notei sua expressão mudar.
– O que foi?
– É que, isso é errado.
– Mas, estamos apenas conversando…
– Sim, mas, olhe a nossa volta. Estamos sozinhos.
– E?
– E, isso não é certo. Você foi pedida em casamento e…
– E eu não aceitei. Albert, preciso que entenda que estou apaixonada por você.
– Audrea, isso é errado…
– Eu sei. Mas, quando o vi pela primeira vez, quando me deparei com estes olhos, me vi diante das portas do paraíso – ele sorri sem jeito.
– Não posso mentir e dizer que não sinto nada por você, mas, não me convém lhe dizer o que sinto.
– Então, me pediu pra vir até aqui, para dizer que apesar de eu lhe dizer o que sinto por você, de admitir meus sentimentos, você negará o que sente?
– Sim. Isso mesmo.
Bufo e dou-lhe as costas.
– Audrea – diz tocando meu braço.
– Não toque em mim, por favor.
Estava com raiva.
– Acho melhor eu ir pra casa – digo – boa noite.
Sigo meu caminho, mas não vou longe. Ele segura meu braço.
– Por favor, não deixe que isso interfira nos seus serviços a igreja. Precisamos muito de você.
– Não se preocupe, continuarei com os meus serviços normalmente.
Solto-me de sua mão e sigo pra casa.
Depois alguns metros, olho para trás e vejo-o se afastar.
Sinto lágrimas escorreram por meu rosto.
– Está tudo bem senhorita? – sinto meu coração disparar.
– Gilbert? O que faz aqui?
– Estava caminhando, aproveitando a noite. E pelo visto, a senhorita também.
Enxugo as lágrimas rapidamente.
– Sim.
Passo por ele e sigo meu caminho.
– Mas, é muito perigoso Audrea, uma jovem tão bonita sozinha na noite…
Audrea? Desde quando tínhamos tanta i********e?
– Ah, mas, esqueci, você não estava sozinha – paro abruptamente – pelo visto o padre também gosta de um passeio ao ar livre.
Encaro-o como quem queria dizer “o que quer com tudo isso?”.
– Não sei do que está falando…
– Sabe – ele se aproxima – vi vocês dois naquele dia.
Engulo em seco.
– Você não viu nada Gilbert.
Ele sorri maliciosamente.
– Têm razão, eu só acho que vi algo, mas, não tenho certeza…
– O que você quer? – indago rispidamente já entendendo o jogo dele.
Ele se aproxima e toca uma mecha de meu cabelo.
– Quero o que ele não quis.
– Como é?
Gilbert avançou sobre mim e agarrou meus ombros.
– Quero tudo o que aquele i****a abriu mão.
– Me solta! – berro.
– Pode gritar, ninguém vai ouvir você.
Ele me apertou ainda mais contra si e tentou me beijar.
Contorci-me, e ele acabou por me derrubar.
– Não! Gilbert, pára!
Ele abriu os cordões que seguravam a parte de cima de meu vestido.
– Por favor, para! Eu dou o que você quiser…
– Tudo o que quero está bem aqui…
Quando ele pôs a mão por de baixo do meu vestido, fechei os olhos esperando o pior.
Mas, senti apenas quando ele foi arrancado de cima de mim.
– Venha – Albert me ajudou a levantar.
Gilbert estava caído, mas já se levantava.
– Não pense que o pouparei só porque é padre.
– Se tocar nele, mandarei que meu pai dê um jeito em você.
Todos conheciam a fama de papai. Ele era conhecido por ser um pai de família, mas, que conhecia pessoas que não devia.
Gilbert se retesou.
– Vá embora – diz Albert.
Gilbert bufou.
– Isso não acabou ainda… – diz e sai correndo.
Só respiro aliviada quando ele some da minha vista.
– Porque está aqui? – pergunto.
– Voltei pra falar com você.
Ajeito meu vestido o mais rápido que consigo.
– Obrigada – digo chorando.
Ele se aproxima e me abraça.
– Não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido.
– Não pense nisso – diz passando a mão nas minhas costas.
Afasto-me um pouco e ele enxuga algumas lágrimas.
Ele olhou fixamente em meus olhos, e eu pude ver o quanto ele queria aquele contato.
Abaixo a cabeça, reconhecendo que tudo aquilo era um grande erro, mas ele põe a mão em meu queixo e me faz olhar pra ele.
– Albert, eu…
Ele me calou com um beijo suave, que logo se tornara quente demais.
Afastei-me dele e o fitei seriamente.
– Não podemos. Lembra?
Ele se reaproxima.
– Eu sei, mas… – diz passando a mão em meu rosto – isso é tão bom…
Deixei-me levar por seu toque suave.
– Por favor, não brinque comigo – digo.
Ele sorri e segura meu rosto com as duas mãos.
– Jamais farei isso com você Audrea. Sei o que meu coração quer, e por mais que isso seja um erro, eu preciso saber se é realmente real, pois só tentando saberemos se nossos sentimentos são verdadeiros.
Ele tinha razão, mas, ele não estaria apenas dizendo isso para me conquistar e me usar, pois, ele jamais teria coragem de deixar o sacerdócio por minha causa. Ou teria?
Ele uniu nossos lábios novamente, e todos os pensamentos negativos, todas as dúvidas, foram se dissipando. Deixando apenas um imenso espaço para o d****o.