Capítulo 02

3118 Words
Procurei por cada canto do banheiro até que encontrei uma caixa de primeiros socorros. De dentro dela, retirei dentro duas gazes, uma usei pra retirar todo o excesso de sangue e a outra, com o auxílio de um esparadrapo, coloquei em cima da cruz. Com todo o sangue removido, dava pra ver que era uma cruz com ramos de rosas meio avermelhadas ao redor. Sai do banheiro e caminhei em direção as escadas na esperança de o casal ter ido embora, contudo, eles ainda estavam presentes e discutindo. Ao ver-me no início da escada, pararam de conversar e me encararam com largos sorrisos em seus lábios. A mulher aparentava estar na casa dos quarenta anos, com cabelos castanhos e alguns fios brancos por conta da idade, olhos grandes e negros, rosto marcado por diversas linhas de expressões. Ela parecia feliz, completamente oposto do homem ao seu lado. Ele aparentava estar horrorizado e com medo. Seu olhar oscilava entre mim e a sua mulher, temendo que alguma coisa acontecesse ou até mesmo pedindo ajuda. — Quanto tempo eu não vejo você! — Eles disseram em uníssono deixando-me confusa. — Parece que não está reconhecendo a gente. — Não respondi, apenas afastei-me da escada e caminhei o mais rápido que podia em direção ao meu quarto. A cruz com rosas em minha barriga junto com a sensação em meu peito, ardia de uma maneira inimaginável. Deitei-me na cama na esperança daquele ardimento acabar, mas diferente do que eu pensava, ela fez foi aumentar fazendo-me suar. Fechei meus olhos e como mágica, adormeci rapidamente, mesmo não estando com nenhum sinal de sono. " — Há cartazes de duas meninas desaparecidas, vocês novamente mataram pessoas? — Uma voz familiar fez-me abrir meus olhos no mesmo instante, percebendo que eu estava em outro ambiente. Era um cômodo com móveis antigos, semelhantes ao da casa que eu estava. — Estou cansada de vocês estarem fazendo isso... Eu não criei vocês assim! — Lembrei-me do sonho anterior de uma garota correndo e dois homens aparecendo, matando-a sugando todo seu sangue. Era a continuação? — Elas que vieram com a gente, mesmo nós comentando que não éramos pessoas normais! — Uma voz masculina soou um tanto relaxada e como se não importasse. — Eu esperava mais do sangue delas de qualquer maneira. Argh, era horrível! — Se era r**m para vocês, por que mataram elas? — A voz feminina aumentou seu tom mostrando a quão indignada e com raiva estava. — Dá um tempo, a gente nem tem tanta culpa assim! — Uma outra voz masculina soou no mesmo tom que o anteriormente, completamente despreocupado. A mulher não disse mais nada. Escutei seus passos pesados saindo do cômodo e em seguida uma porta sendo fechada bruscamente. Estava atrás de uma enorme poltrona e ao olhar para minhas vestes, percebi que trajava um vestido antigo de cor azul claro com vários detalhes espalhados por ele na cor dourada, além de um espartilho super apertado, impedindo-me de respirar corretamente. — Está sentindo esse cheiro? — Um deles indagou e de repente alguém segurou meu braço. Soltei um grito enquanto era puxada do local em que estava escondida. — Você novamente? — Olhei nos olhos do menino que me segurava pelo o braço, percebendo que era o mesmo da pintura da casa. — Quem é ela? — O outro menino perguntou e eu o encarei, percebendo também que ele estava na pintura. — O cheiro do sangue dela é bom... Quero experimentar! — Não chegue perto de mim, seu imundo! — Depositei um soco na perna do menino, fazendo-o se afastar de mim sorrindo largamente em minha direção. — Sério Kaim, fique longe dela! — O menino que segurava meu braço disse em um tom autoritário. — Deixa de ser egoísta Johen, temos que dividir! — O outro menino disse melhorando a sua postura sem ao menos retirar os olhos de mim. — Você não sente não... — O menino ao meu lado disse totalmente sério. — O aroma do sangue dela não é familiar para você não? Afastei-me rapidamente do menino, vendo uma faca em cima da cômoda do quarto. Peguei-a e rapidamente passei na palma de minha mão, vendo o sangue se espalhando pela minha mão e pingando no chão." Acordei totalmente ofegante sentindo uma leve ardência em minha mão. Olhei para ela encontrando o corte. Pressionei minha mão posta no corte, afim de estancar o sangramento, fazendo-me soltar um gemido de dor. — Não era um sonho... Mas que merda é essa!? — Indaguei para mim mesmo percebendo que era de noite. — Eu dormir tanto assim ou estou em um sonho ainda? Levantei-me da cama e acendi a luz do quarto procurando nas gavetas algo para colocar em minha mão. Com um pouco de dificuldade, consegui encontrar um tecido de cor branca. Enrolei-o em minha mão enquanto tentava controlar minha respiração ofegante e o suor que descia pelo o meu rosto e corpo. Estava cansada daqueles sonhos sem explicação, sem ao menor nexo. No andar debaixo escutei algo caindo assustando-me e em seguida o relógio soando por toda a casa. Abri a porta do meu quarto e sai dele com um certo cuidado, aproximando-me em passos lentos do relógio que marcava três da manhã, mas assim que marcou três e uma da manhã, começaram a se mover de forma estranha. Dentro da caixa, começaram a girar rapidamente sem marcar qualquer horário, parecia que a qualquer momento, pela a sua velocidade, iria levantar voou. Vindo da cozinha, pude escutar a torneira aberta. Perguntei-me mentalmente se era meu irmão e com o coração na mão, aproximei-me da escada vendo tudo no escuro no andar debaixo, sendo que a única luz acessa era a do corredor. Não era meu irmão, mas mesmo assim eu desci as escadas lentamente, mas antes, liguei o interruptor acendendo as luzes do andar. Segui o barulho da água caindo parando na porta da cozinha. Abri a porta lentamente vendo aspectos fantasmagóricos de mulheres com vestes de empregadas lavando as vasilhas sujas. O grito que queria sair da minha boca travou-se em um nó em minha garganta enquanto meu coração batia mais rápido do que qualquer outro momento de minha vida. Eu tinha que sair dali. Sair o mais rápido que eu podia. Dei um passo para trás e a madeira se rangeu logo abaixo de meu pé esquerdo. No mesmo instante, lentamente, elas se viraram para me encarar. Soltei um gemido baixo dando novamente outro passo para trás, mas então suas expressões que antes era somente mórbida, se transformaram em algo totalmente assustador com todo o olho preto, marcas apareceram pelos seus corpos, rasgando suas vestes, algo de cor preto saia de sua boca e nariz, enquanto no cômodo o cheiro de algo podre tomava conta. Elas vieram em minha direção, tentei correr, mas minhas pernas por conta do medo travaram e eu não conseguia fazer absolutamente nada, apenas apertar mais o corte em minha mão na esperança de que se for um sonho, eu iria acordar. De repente elas pararam em minha frente olhando fixamente para atrás de mim. Engoli o seco enquanto meus olhos marejavam vendo-as realizarem uma reverência, mostrando para mim que se tratava de alguém totalmente superior delas. — Devia está dormindo e não aqui embaixo! — Uma voz masculina soou atrás de mim arrepiando cada fio do meu corpo. — E-Eu... E-Eu acabei de acordar... E ouvi um barulho aqui em baixo... — Exclamei fazendo pequenas pausas tentando formular as frases em minha mente, mas falhou, pois sentia a respiração pesada em minha nuca, fazendo meus cabelos se moverem para frente. — Sobe... AGORA! — Um vento mais forte moveu os meus cabelos e sem que eu pensasse duas vezes, sai correndo. Subi as escadas correndo em direção ao meu quarto, mas antes da abrir a porta do quarto escutei o barulho de uma porta se rangendo. — Que se dane essa casa maldita! — Murmurei para mim mesmo adentrando o meu quarto, tentando controlar meus batimentos cardíacos. Rasguei as cortinas que ficava ao redor da minha cama afim de evitar com que mais alguma coisa me atacasse através dela. Deitei-me na cama e me cobri com a coberta até a cabeça. Estava com medo e não tinha ninguém pra contar ou compartilhar o que eu estava sentindo, a única pessoa era meu irmão e ele nem acreditava em mim. Fechei meus olhos tentando desfocar minha atenção das coisas que tinha acontecido comigo, mas a ardência na palma de minha mão, impedia-me de fazer tal coisa.   O dia tinha amanhecido e o corte ainda estava em minha mão. Eu e meu irmão não havíamos trocado nenhum tipo de palavra ou até mesmo olhares. Optei por não comer nada, pois sempre que eu encarava a comida na minha frente lembrava-me daqueles fantasmas mexendo na cozinha. Levantei-me da cadeira e sai da cozinha subindo as escadas. Caminhei no corredor onde eu havia ouvido uma porta se abrindo e para minha infelicidade, ela ainda estava aberta. Aproximei-me dela colocando minha cabeça dentro percebendo que se tratava de uma biblioteca com uma maravilhosa iluminação do sol em todo o canto. Estantes repletas de livros de todos os tipos, capas e tamanhos. Fiquei surpresa ao ver um cômodo tão lindo em uma casa tão horripilante. Adentrei-a olhando em volta à procura de algo que esclarecesse todas as minhas dúvidas. Encarei as prateleiras e somente um livro no meio de todos os outro chamou minha atenção. Um livro completamente preto com uma pedra de rubi reluzente em sua lateral. Peguei-o e aproximei-me da mesa para ver o que estava escrito nele. — Oh... É um diário! — Murmurei para mim mesmo ao ver a primeira página. — Que letra linda! Por que as pessoas de antigamente tinha a letra tão bela assim? O diário relatava sobre todas as vítimas que eles haviam matado, como elas reagiam e se contorciam ao sentir as presas deles em seus pescoços. Como eles conseguiam atrair elas para a casa deles sem deixar nada explícito e como era vê-las morrer em seus braços implorando para que eles parassem. Parecia mais um livro de terror do que um diário, mas eu continuei lendo para ver o que se tinha no final dele. Comecei a ler com cuidado em uma parte que mencionava uma menina completamente diferente das outras. Ela foi para a casa deles sabendo que eles eram vampiros, mas não tendo em mente todas as pessoas que eles mataram. Em vez de matá-la sugando todo o sangue dela, optaram apenas por uma taça do seu sangue que era mais doce e cheiroso, totalmente oposto dos das outras meninas. Na hora que ela estava indo embora um deles matou-a quebrando sua cabeça, com medo de que ela contasse para alguém aquele lado deles e que isso chegassem na mãe adotiva deles.  Na próxima página o menino que escreveu o diário disse que se arrependeu de permitir que seu amigo matasse-a, adquirindo um enorme remorso e que em na próxima reencarnação dela, ele de alguma maneira, iria proteger ela na busca de acabar com a sua dívida e remorso que a cada dia aumentava quando ele se lembrava dela. Ao final da página, ele disse que ela havia chamado a atenção dele de uma maneira inimaginável além de despertar sentimentos em relação aos seres humanos que ele nunca pensaria que sentiria em toda as épocas que viveu. Virei a página novamente e escutei algo metálico movendo-se nas folhas, retornei a virar as páginas em busca do barulho e para minha surpresa eu encontrei um colar no meio daquele diário. Ele era de ouro com um belo rubi em forma de gota como pingente. Tentei pegá-lo, mas assim que eu toquei a correntinha meu dedo foi queimado no mesmo instante. — Droga! — Xinguei o colar pegando minha chinela e movendo-o novamente para dentro do diário com medo de ser queimada novamente. Atrás de mim, senti uma respiração pesada e fria, causando-me calafrios só de imaginar quem era o indivíduo atrás de mim. Um vento frio naquele ambiente fechado moveu os meus cabelos para trás. Uma mão saiu de trás de mim e moveu-se até o colar, encarei-a vendo que a sua carne estava toda decomposta e o odor que liberava era insuportável. Meu coração começou a bater mais rápido e meus olhos marejaram, quando a mão moveu meus cabelos para poder colocar o colar em meu pescoço. — Isso lhe pertence... — Uma voz masculina grave soou atrás de mim arrepiando os pelos da minha pele. — Minha princesa! — Queria gritar pelo o meu irmão, mas eu e meu orgulho não deixou. Senti a respiração sumir e lentamente virei-me para trás não encontrando absolutamente nada, apenas marca de queimadas atrás de mim. Olhei em volta e percebi que a biblioteca maravilhosa estava toda queimada, não possuía nenhum livro nas prateleiras todos queimados no chão.  Levantei-me rapidamente da cadeira percebendo que o único livro que não havia sido queimado foi o diário de um dos meninos. Passei a mão em meu pescoço sentindo o colar. Corri em direção a porta, mas parei em frente dela olhando para o diário na mesa queimada. Sentia que havia algo importante nele e eu com certeza me arrependeria se deixasse-o para trás.  Peguei e saio do quarto em passos rápidos, escutando a porta atrás de mim fechar-se lentamente e fechando com brutalidade. Virei para trás não encontrando a porta que eu tinha entrado e saído. — Pai nosso que estás no céu... — Comecei a orar enquanto caminhava para o meu quarto, com os meus pelos completamente arrepiados e o medo instalado em me coração. — Seina, onde você vai? E como conseguiu esse colar? — Meu irmão indagou assim que eu trisquei na maçaneta da porta principal. — Que zumbido de mosquito chato! — Resmunguei pronta para girar a maçaneta, mas suas mãos me impediram. — O que você quer mosquito? — Você não pode ir lá fora agora, aqui dentro é mais seguro para você! — Ele disse e eu arqueei minha sobrancelha incrédula. — Seguro? Com vários espíritos que se alimentam do meu medo. Poupe-me Suno! — Encarei-o fixamente e ele continuou com a sua expressão séria. — O que que tem eu sair da casa para ver o exterior dela? Já que desde que eu cheguei aqui não pisei o pé fora nenhuma vez! — Aqui é mais seguro! — Repetiu novamente e eu revirei os olhos para ele. — Só me obedeça, afinal é para a sua segurança! — Vai usar essas palavras com outra pessoa. Eu não me esqueci das suas palavras e nem esquecerei! — Tirei suas mãos bruscamente das minhas e tentei girar a maçaneta, mas novamente ele me impediu. — QUAL É O SEU PROBLEMA? Esqueceu que eu tenho que aprender a cuidar de mim, afinal como você disse, não ficará muito tempo ao meu lado. — Não começa com o seu mau-humor não! — Resmungou ele olhando para o meu colar, aproximando uma das suas mãos para tocá-lo. — Cuida da sua vida que eu cuido da minha! — Segurei sua mão antes de tocasse o colar, deixando-o surpreso com minha atitude. — Tira esse colar... — Ele disse assim que eu fiz menção que ia subir as escadas. — Nem sei como você encontrou ele, mas ele não te pertence... Não mais! — Lembrei-me no mesmo instante da pessoa atrás de mim dizendo que ele pertencia para mim. Ignorei e subi as escadas. — SEINA! — O que ele quer que eu faça nessa casa? Não tem livros, internet, televisão, absolutamente nada! — Murmurei para mim mesmo parando ao lado do relógio, escutando um instrumento tocando, dando-me uma nostalgia enorme, mesmo ninguém da minha família saiba tocar algo.  — Venha... — Uma voz sussurrou ao meu ouvido e em seguida um vento passou pelo o meu corpo. — Eu posso acalmar seu coração aflito e magoado!  — Eu vou nada, já assisti muitos filmes de terror para a informação de vocês! — Exclamei sentindo minha visão adquirir uma penumbra estranha, fazendo-me xingar mentalmente esses fantasmas. Fechei os olhos rapidamente para dissipa-la, mas ao abrir, o cenário onde eu estava havia sumido completamente. Estava no meio de um corredor com uma luz bem em cima de mim, no final do corredor possuía uma luz bem fraca, mas se algo passasse lá dava para ver nitidamente. De repente escuto algo se arrastando atrás de mim, virei-me na hora não encontrando nada. A respiração de uma pessoa bateu em meu ouvido e eu vire-me para ver o que era, mas novamente não encontrando anda. Pela segunda vez o barulho atrás de mim soou só que com mais intensidade. Antes que eu realizasse algum movimento brusco, correntes gélidas foram colocadas em minha garganta, derrubando-me no chão e sufocando-me lentamente. — ME SOLTA! — Gritei levando minha mão para trás, ao senti-la sobre algo, puxei sem pensar duas vezes.  Encarei minha mão encontrando um pedaço de pele humana decomposta com larvas vivas andando nela tranquilamente. Joguei o pedaço da pele para longe, ouvindo um grito de dor atrás de mim e as correntes sendo apertadas ainda mais. — NÃO... — Tentei-me soltar dela, mas parecia que a cada movimento que eu realizava, apertava cada vez mais elas. — Eu vou exorcizar todos vocês! Escutei passos vindo em minha direção e para minha surpresa as correntes foram lentamente se afrouxando em meu pescoço, permitindo-me respirar. Olhei para cima vendo uma silhueta masculina e bem vestida em minha frente, arrastei-me mais para trás com medo. — Não se preocupa... — Esse homem disse e se agachou em minha frente, permitindo ver sua face e chegar à conclusão que era o Johen, vulgo vampiro dos meus sonhos e da pintura da sala de estar. — Irei cuidar de você, pelo menos tentarei em busca de apagar o remorso por ter deixado meu amigo te matar de modo tão c***l sendo que você não era perigosa! — Gritos de dor soou de longe, fazendo-o olhar de soslaio para trás. — Agora você tem que correr! — Olhou para mim com as suas pupilas completamente vermelhas, enquanto lá atrás vinha várias mulheres com aparência horrenda em sua direção. Antes que eu falasse alguma coisa, uma mão tocou o meu ombro e tudo a minha volta sumiu como mágica. Olhei para trás vendo que era o meu irmão com um semblante preocupado. — Estou bem... — Exclamei levantando-me rapidamente do chão, ficando tonta e com uma falta de ar enorme. Levei minhas mãos ao meu pescoço, sentindo-o ainda gelado por conta das correntes. — Eu acho! — Fui em direção ao meu quarto com dificuldade.   
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