- Aquilo foi muito esquisito. - comentou Evelline.
- Nem me fale. - respondeu Ethan.
Os dois estavam em um corredor esperando para serem atendidos pelo Doutor Clay.
- O que você sentiu naquela hora? Parecia que você tava pegando fogo.
- Aquilo não me queimava, pelo contrário, eu me senti mais forte do que nunca enquanto estava naquele estado.
- E o que era aquela coisa que apertou sua mão? Ela te chamou de o que mesmo? Extraordinário?
- Você tem mais perguntas do que eu tenho de respostas. - ele riu.
Então a porta do consultório do Doutor Clay se abre, e uma enfermeira aparece.
- Ethan Miles?
- Sou eu.
- O Doutor vai atendê-lo agora.
Ele acena com a cabeça para Evelline, e ela fica sentada esperando por ele ali.
Ao entrar no consultório, Ethan encosta a porta, e o Doutor Clay estava sentado na cadeira em sua mesa, virado de costas enquanto lia a ficha médica de Ethan.
- Ethan, se você está aqui tão cedo, isso significa que os remédios não funcionaram, não é? - ele falava enquanto limpava seus óculos em um pano.
- Funcionaram, sim. - ele mentiu.
- Isso é ótimo, muito bom mesmo. Dentro de alguns dias você vai estar... - ele parou de falar assim que se virou e viu Ethan.
Parecia outra pessoa, Ethan estava mais forte e saudável como nunca antes. O Doutor Clay ficou boquiaberto.
- ... novinho em folha. - ele completou.
Ethan ficou olhando pra ele, tão confuso quanto.
- Ahn... eu acho que seria interessante se nós... fizessemos alguns exames, pra ter certeza que você está bem. - recomendou o médico.
- Eu ia propor a mesma coisa.
O Doutor Clay fez uma série de testes rápidos, principalmente exame de sangue, também examinou o braço e o abdômen de Ethan com raio x, e não tinha nem uma cicatriz. No resultado do exame de sangue, aquela bactéria tinha desaparecido completamente do corpo de Ethan.
Lendo a nova ficha, Clay não conseguia expressar nada, Ethan não sabia quem estava mais confuso entre ele e o médico.
- Ok, eu estou prestes a rasgar meu diploma. Me conta, como você conseguiu isso tão rápido assim? - disse o Doutor, rindo.
- Pelo visto milagres ainda acontecem, Doutor Clay.
- Como profissional eu diria que milagres não existem, mas você está aqui na minha frente, então...
Ethan franziu a testa.
- I-Isso é fantástico, é o que quero dizer. Meus parabéns.
- Obrigado.
- Bom, eu... preciso atender outros pacientes.
- Sim, claro.
Ethan saiu do consultório e encontrou Evelline.
- E? - perguntou ela.
- E é o que parece.
Ela pôs a mão sobre a boca, perplexa.
- Isso é muito doido.
- Duvido que você vá conhecer um cara mais interessante que eu um dia.
Ela riu, então eles saíram do hospital.
- Então, esse cara super interessante teria um número de telefone?
- Eu ia pedir primeiro.
E então eles deram seus números um pro outro.
- Preciso ir pra casa estudar agora, se é que vou ter cabeça pra isso. - disse Evelline.
- Se não tiver, a gente podia sair... sei lá, talvez se conhecer melhor.
- Vou pensar no assunto. - ela deu uma piscadinha pra ele.
- Até mais, então.
- Até.
Assim que Evelline foi embora, Ethan pensou em pegar o caminho de volta pra casa, mas ele ainda não estava convencido do que tinha acontecido, então ele decidiu testar outras coisas.
Primeiro, ele foi até a conveniência mais próxima e comprou o primeiro doce de amendoim que encontrou. Amendoim era o que Ethan mais tinha alergia, aquilo fazia ele sentir seu rosto inteiro arder e ficar cheio de espinhas.
Logo que comprou, ele deu uma boa mordida no doce e esperou um tempo, e pra surpresa dele, ele não sentia nada, só o gosto do amendoim.
Aquilo era fantástico, mas ainda não era tudo. Ethan precisava ter certeza.
Ele foi até o clube onde o time Striker treinava, uma área grande com vários campos e quadras, com um prédio grande no meio e o brasão de águia vermelha do time no topo. Ethan entra e se dirige diretamente até a quadra de beisebol, onde tinha alguns jogadores no meio de um amistoso.
Um pouco apreensivo, ele se aproxima da grade e pede a eles:
- Deixa eu tentar acertar um lance.
Os jogadores se entreolham e riem, então um deles passa o taco para Ethan, e ele entra no campo.
O arremessador jogava a bola pra cima e ela caia de volta na mão dele, enquanto isso, ele encarava Ethan, que se ajeita na posição para rebater a bola.
- Só vai ter uma chance, Miles.
Ethan acenou com a cabeça e se preparou.
O jogador arremessou a bola, e pra surpresa de Ethan, ele conseguia ver claramente a direção que ela estava vindo, e sem nem pensar duas vezes, ele gira o taco e acerta a bola com força até demais, e isso acaba atirando a bola bem alto, e só depois de alguns segundos ela cai no chão de novo.
Os jogadores ficaram boquiabertos, ninguém esperava isso de Ethan Miles.
Um jogador veio correndo pra cima dele, e Ethan se lembrou de que deveria correr até a base branca, e assim ele fez, saiu correndo tão rápido que o jogador sequer teve a chance de se aproximar dele, e então encostou na base branca, marcando o ponto.
Ethan olhava para suas mãos, não acreditando no que tinha acabado de acontecer, assim como todos os jogadores no campo, que não tiravam os olhos dele.
Ele logo tratou de ir embora, mas quando estava se aproximando da saída do clube, ele viu Mary de longe, e ela também o viu, mas ficou parada no mesmo lugar, só olhando pra ele.
Imediatamente Ethan foi na direção dela:
- Mary, eai!
- Ethan, você está... bem?
- Claro, eu estou ótimo.
Mary respira aliviada e diz com um sorriso:
- Graças a Deus.
- Não te vi mais depois do que aconteceu, senti sua falta, pensei que você fosse vir me visitar.
- Ah... eu tentei, mas...
- Ocupada com o trabalho?
- Não, eu...
Ele ficou olhando pra ela.
- Sua mãe achou que não seria adequado se eu ficasse perto de você.
- Minha mãe?
- Ela pediu pra que eu ficasse longe. Eu entendo ela, por minha culpa você levou um tiro.
- O'Que? Não, não, não, isso não é sua culpa, tá legal?
- Ela disse que você tava entre a vida e a morte, tive medo de não poder te ver de novo. Nunca vou me esquecer do que você fez por mim Ethan, também nunca vou poder agradecer o suficiente.
- Um abraço seria ótimo.
Ela sorriu, então eles se abraçaram.
- Preciso ir andando agora. Fique por perto, Mary.
- Claro. Só vim até aqui pra ver o Thomas.
- Hm... é mesmo?
- Para com isso.
Ethan riu.
- A gente se esbarra por aí, então.
- Até lá.
Depois que Ethan saiu do clube, ele foi direto pra casa, onde Sherry estava prestes a surtar procurando por ele. Até que a campainha toca, e Sherry vai imediatamente abrir, e dá de cara com Ethan, e assim como todo mundo, ela ficou perplexa de ver ele completamente recuperado de repente.
- Mãe, eu...
Ela não quis nem ouvir, e já abraçou ele forte e chorando.
- O-Onde você... ? Como você...? - ela m*l conseguia falar.
- Acho melhor você sentar.
Ethan contou toda a história sobre a entidade e o auditório, também sobre o diagnóstico do Doutor Clay e o teste na partida amistosa de beisebol.
- Acho que você ainda está meio febril, filho. Por que não se senta e toma uma água...
- Você não tá me escutando, mãe. Foi exatamente isso que aconteceu.
- Espera que eu acredite nisso?
Ele acenou com a cabeça que sim.
- Olha, por que não vamos em outro médico, pra ter uma segunda opinião? Só pra ter certeza de que está tudo bem. - disse ela.
- Eu já sabia de tudo, mãe. Desde que eu já estava pra morrer até o próximo mês, eu li a ficha.
Sherry engoliu seco.
- Soube também que você proibiu Mary de me ver, ela não é culpada do que aconteceu, mãe.
- Escuta Ethan, você não tá entendendo...
- Eu tô sim, compreendi tudo perfeitamente. Você é a mãe mais coruja do planeta, o que é compreensível, entendo seu medo de que alguma coisa aconteça comigo, você ficou assim desde que o meu pai morreu. Mas eu já sou crescido, não precisa ficar me protegendo o tempo todo.
Sherry desvia o olhar, tentando esconder seus olhos se enchendo de lágrimas. Ethan se sentou perto dela e segurou a mão dela.
- Nós sofremos muito quando ele morreu, éramos ricos e de repente ficamos pobres. Seu medo de me perder é enorme e eu sei disso mãe, mas não desconte isso nos outros, a Mary é tão vítima quanto eu.
Sherry tentava segurar as lágrimas.
- Ei, eu tô bem, tô ótimo agora.
Ela olha pra ele, que sorria muito contente. Então Sherry enxuga as lágrimas dos olhos, respira fundo e se recompõe.
- Ok, você está certo. Me perdoe, filho.
Ele acenou com a cabeça.
- Somos só eu e você agora, mãe. Você é a única família que eu tenho, sem você eu estaria completamente sozinho.
Emocionados, eles se abraçam.