O REI CAPÍTULO 1
O sol descia incandescente sobre Afhany. Ela já caminhava horas sobre a indomável areia do deserto.
Parou um pouco para tirar o suor da testa e olhou em sua volta. Nada havia além de areia. Viu suas pegadas e notou desolada que estava andando em círculos.
Resolveu caminhar um pouco mais, apesar de sua sonolência. Mas m*l deu alguns passos, notou um ponto branco no horizonte, que se aproximava. Era um cavaleiro vestido todo de n***o, montado em um garanhão branco.
Afhany abriu um sorriso. Ia morrer com certeza. Já estava tendo alucinações.
Foi seu último pensamento antes de cair desacordada.
Afhany abriu os olhos e viu uma mulher de pele morena em trajes árabes, debruçada sobre ela. Fechou os olhos novamente. Deus! Onde estava? Pensou, voltando a abrir os olhos ao ouvir vozes falando num dialeto desconhecido.
Olhou em volta, e então notou a presença de mais pessoas. Havia um rapaz que ela calculava que tinha uns dezessete anos sentado em uma cadeira aos pés da cama, e um senhor todo de branco que lhe lançou um sorriso assim que percebeu que era observado.
_Boa tarde! Esta se sentindo melhor? Ele lhe perguntou amistoso.
Afhany apenas balançou a cabeça.
_Bem, meu nome é Alfred, sou médico. O senhor Moisés encontrou-a no deserto e a trouxe para cá... Creio que teve muita sorte.
Afhany já não mais o escutava. Lembrava-se da terrivel situação que a levou ao deserto. Fechou os olhos desesperada. O que ia fazer agora? Não tinha dinheiro, nem familia e o que era pior, nem pra onde ir.
_Senhorita... Senhorita!
O médico interrompeu seus pensamentos.
_Tudo bem, senhorita?
_Sim. Eu... Bem obrigada por ter me salvo do deserto.
_Não ouviu nada do que disse? Eu sou o médico que a atendeu. Foi Moisés o homem que salvou sua vida.
_Moisés... Agradeça-o então por mim.
_Terá chance de faze-lo pessoalmente. Pedi para trazerem uma sopa pra senhorita. Deve estar com fome.
_Onde... Estou?
_Na minha casa.
Afhany levantou um pouco a cabeça para observar o rapaz que havia a respondido e falado pela primeira vez.
_Meu irmão a trouxe para cá. Aliás - Disse ele se aproximando. - Meu nome é Matheus.
Afhany observou-o curiosa. Cabelos negros como os olhos, pele morena, e um forte ar de arrogância ainda em desabrochamento.
_Quantos anos tem Matheus?
Ele corou visivelmente.
_Oh! Desculpe, não pretendia ser indelicada.
_Não há porque se desculpar. Entendo que veio de longe e não tenha conhecimento dos costumes daqui, por enquanto... Mas satisfazendo sua curiosidade, tenho 19 anos. Sou o caçula.
De repente a porta se abriu, e uma senhora entrou articulando e dizendo alguma coisa no estranho dialeto, e tal como entrou, saiu.
Alfred voltou-se para Afhany.
_Desculpe-nos senhorita, mas temos que nos retirar agora, mais tarde virei vê-la novamente.
Sairam todos.
Afhany se sentia cansada demais para estranhar a atitude. E até achou melhor um pouco de solidão, para clarear a mente. Mas sua solidão não demorou muito tempo. Logo a porta se abriu, e um homem alto, com vestes árabes e um turbante na cabeça entrou. Ignorando-a, se olhou num espelho grande pendurado na parede e retirando o turbante devagar, jogou-o sobre a cadeira em que Matheus estivera sentado.
Afhany prendeu a respiração. O homem era fabuloso. Uma versão mais madura de Matheus. Os mesmos cabelos e olhos negros, o queixo quadrado, e o ar arrogante. E o corpo era mais musculoso e transpirava virilidade.
_Então? Gostou do passeio pelo deserto?
Afhany olhou-o assustada. Esse era com certeza o tal de Moisés, que a tirou do deserto. Era claro que era irmão de Matheus .Mas Matheus não tinha esse timbre rouco e nem esse tom sarcástico na voz.
_Desculpe tê-lo incomodado. - Afhany respondeu timidamente.
_Incomodado?! Nem imagina o trabalho que me deu procura-la, e quantos homens tirei de seus afazeres para encontra-la.
_Me procurar? Não estou entendendo... Como sabia que estava..."perdida"?
Ele a olhou zangado.
_Não é permitido as mulheres daqui fazerem perguntas a homens! Devem apenas responde-los.
_Mas não faço parte "das mulheres daqui"! - Ela disse começando a se irritar.
_Está bem. você está certa. Mas primeiro me conte sua história, depois respondo as suas perguntas.
_Não quero falar sobre mim.
_Bom... Se não contar, não poderei intervir na sua segurança...
_O que quer dizer com isso?
_Quero dizer que no meu reino, as leis são severas para escravos fugitivos.
_Seu reino?
_Minha paciência esta se esgotando mocinha! Ele disse furioso. - Me conte sua história e depois esclareço suas dúvidas.
Ele jogou o turbante no chão e pegou a cadeira colocando-a próxima da cabeceira da cama.
_Começe! Era uma ordem. Afhany não sabia porque mas tinha medo dele. Assim resolveu contar sua história.
_Bem, eu nasci na Ilha do Vél, mas não tenho boas lembranças, pois não conheci meus pais. Fui vendida ainda pequena e criada numa casa, com uma família de caracter duvidoso... O homem que nos criava, pois eramos cinco crianças(todas meninas), nunca permitiu que tivessemos amigos ou namorados, não tinhamos permissão para sairmos sozinhas, apenas na sua companhia. Suas ordens tinham que ser seguidas á risca, e as outras crianças, como eu, eramos severamente castigadas se não o obedecessemos.
_E eram castigadas frequentemente?
_Sim. Tinhamos muito medo dele, e acontecia "coisas"quando ele estava por perto.
_Coisas?
_É. Como cair, tropeçar em alguma coisa, escorregar... Era estranho porque ele parecia nos odiar, mas ficava louco quando nos machucavamos, ele sempre foi mais severo comigo. Assim que se completavam dezesseis anos, as moças iam saindo e dando lugar á outra criança. Não entendia porque até dois meses atrás, quando completei meus dezesseis anos. Ele apenas me criava por um bom preço pago pelo rei que me comprara quando ainda era criança. Ele me contara rindo e dizendo que tive sorte porque o rei era o cliente mas rico que já tivera e que apesar de que eu viveria como uma concubina, estaria envolta em muitas riquezas. Não era esse o futuro que sonhei pra mim, então quando a caravana que me trazia se descuidou, eu fugi.
_Mas, não estava acorrentada?
_Sim, mas eles nos tiravam as correntes para que pudessemos fazer nossas necessidades. E não se preocupavam muito com uma fuga, pois diziam que o deserto era traiçoeiro e assassino, quem fugisse não sobreviveria.
_E eles tinham razão.
_Não! Não tinham! Eu sobrevivi.
_Porque a encontrei a tempo.
_Mas também não me importava de morrer. A morte ainda era melhor que o futuro que me aguardava.
_Não penso assim...
_Claro! O senhor é homem... Afinal... como foi que me encontrou? Porque disse que me procurava?
Ele sorriu sarcástico.
_Sinto informa-la, Afhany, - Ele frizou bem o nome dela - que sua fuga não foi vitoriosa.
_Porque diz isso? Como sabe meu nome?
_Querida... O "rei"que te comprou esta na sua frente, agora.
Ela o olhou assustada.
_Esta blefando! Não pode ser verdade!
_Mas é verdade. E lhe digo mais, assim que a caravana chegou com a notícia de sua fuga, eu prometi que seria castigada por tamanha ousadia.
_Castigar-me?
_Sim, mas como ainda está muito debilitada, se dará quando já estiver instalada nos dominios do comcubinato.
_Como pode ser tão monstruoso? Comprar pessoas, como se fossem animais? Peças para seu divertimento? - Ela disse indignada e revoltada por seu destino a perseguir.
_Não foi eu que inventei os escravos. E você só foi comprada para que se cumpra o ritual da virilidade, que é feita de ano em ano, durante três anos. Você é a ultima. Depois poderei buscar minha noiva, para nos casarmos.
_E o que será feito das outras três? - Ela disse esperançosa de que seria libertada.
_Continuaram sendo minhas concubinas. Não vejo motivos para me desfazer de meus "brinquedos" já que me custaram caro... Se enjoar de alguma, dou-a para meus serviçais, não é uma ótima idéia?
_Seu humor é n***o como sua alma! - Ela disse cuspindo no chão.
Ele pegou seu queixo e apertou-o com força.
_Linguinha afiada... Vou adorar cada minuto de espera para saborea-la... Acho que vai me divertir mais tempo que as outras.
Ele a soltou e se levantando voutou-se para sair.
_Espere, por favor!
_O que quer? Ele perguntou sem se virar.
_Não tenho dinheiro, mas poderia paga-lo pelas despesas que teve, com serviços.
_Serviços? Ele voltou-se interessado. - Que tipo de serviços sugere?
_Posso lavar, fazer trabalhos de camareira e também sei cozinhar e tecer.
_Já vai trabalhar muito... Mas na minha cama. E se te serve de consolo, a fortuna que me custou não me deixou nem um décimo mais pobre.
_O senhor me enoja! Seu porco! Vai ter que me forçar, e nunca serei sua de verdade. Pode ter meu corpo mas nunca meu afeto.
Ele riu sardônico.
_Não preciso do seu afeto. Ele não me interessa. Já o seu corpo... Vou lhe dar uma amostra de que não me dará muito trabalho... "força-la".
_Não se atreva a tocar em mim!
_Ah, me atrevo sim.
E num segundo ele a agarrou pela camisola fazendo-a levantar na cama a beijou violentamente. Suas mãos avançaram por baixo da camisola e alcançou seus s***s. E abruptamente soltou-a a jogando de volta na cama.
_Cuidado com sua lingua, se quer ficar com ela. Não me desafie. Me pertence e deve aceitar. - Ele disse ofegante e surpreso com sua própria reação.
_Nunca aceitarei. - Ela disse teimosa, mas no fundo, ela sentiu uma onda gigantesca de atração por ele.
Ele a olhou friamente.
_Problema seu. E saiu.
Afhany passou a mão nos lábios inchados. Que pena! É um homem atraente... Poderia conquista-la se quisesse... Talvez em outras circunstâncias... Mas o que estava pensando?!Aquele homem iria violênta-la! Tinha que fugir dali, deveria ter um jeito... E tinha que pensar em algo logo. Mas e se não conseguisse? E se tentasse fugir e fosse pega? Aquele homem era perverso, que castigo poderia lhe impor na sua ira, por tê-lo desafiado com duas fugas? Não podia se esquecer que estava numa terra distante, sem amigos em que pudesse confiar para ajuda-la, e sem ajuda era impossivel. O jeito era aceitar resignada o seu destino... Mas faria com que ele se arrependesse do que lhe fizera! Faria da vida daquele homem um inferno!Descobriria seu ponto fraco e não lhe daria paz, até que ele a mandasse de volta ou a matasse.
Uma senhora entrou no quarto com uma bandeja, contendo chá e biscoitos. Colocou a na cama, e muda como entrou saiu. Afhany estava cansada, mas comeu tudo, e dormiu sem pensar em mais nada.
Afhany após alguns dias já se sentia melhor e aprendera um pouco da lingua com Matheus, que estava sempre fazendo-lhe compania. Afhany com a intuição própria feminina, descobriu que Matheus estava apaixonado por ela. Afhany, pensando numa vingança contra seu irmão, alimentava aquela paixão, lhe dizendo palavras carinhosas e lhe elogiando, como se também estivesse apaixonada.
Uma manhã Matheus entrou no quarto e ao contrário das outras vezes, estava triste e muito calado. Afhany insistiu e acabou descobrindo que dali a dois dias ia começar o ritual da virilidade. Onde Moisés iria lhe tomar posse. Afhany ficou desesperada, não queria aquilo. Mas Matheus deixou escapar que nesse ritual era importante que a mulher fosse donzela. Se não fosse ela teria que ser devolvida. De posse dessa informação, ficou a imaginar uma forma para escapar ao futuro que a aguardava. Se ele a devolvesse, assim que chegasse em sua terra poderia fugir do homem que a criara, com mais facilidade, pois lá conhecia mais pessoas e todos os costumes. Olhou para Matheus e decidiu o que deveria fazer. Teria que seduzir Matheus.
_Matheus... Preciso lhe confessar meus sentimentos... - Disse fingindo timidez.
Ele se aproximou. Seus olhos, antes tristes, brilhavam de ansiedade.
_Não sei se devia lhe dizer...
_Diga por favor!
_Eu... me apaixonei pelo senhor...
Ele sorriu feliz.
_Também me apaixonei, e também queria lhe dizer. Como é corajosa de me confiar seu amor... Nós ficaremos juntos! há muito que penso em te-la.
_Mas Moisés não permitirá...
_Está enganada! Pensa assim por que não sabe dos nossos costumes.
_Vai me pedir a ele?
_Vou. Como m****o legítimo da familia posso lhe pedir um favor e o primeiro ele não pode negar.
Não era o que Afhany queria, mas Matheus seria fácil controlar, e podia exigir que fossem passear em sua terra depois de casados, e lá ela fugiria.
_Então, vamos nos casar?
Ele a olhou confuso.
_Mas... Não podemos nos casar!
_Disse que me pediria a ele, se ele o presentear, podemos nos casar... ou não me ama?
_Claro que amo, mas mesmo assim não podemos nos casar. É impossivel.
_Porque?
_Pelos nossos costumes, posso pedir-lhe somente depois do ritual da virilidade, só ai poderemos ficar juntos, mas antes não pois a senhorita pertence aos bens diretos dele, pertencerá á ele sempre.
_Mas não disse que me pediria a ele? - Afhany o fitou sem entender nada.
_E vou pedir! Mas apenas poderei compartilhar-la na cama. E não poderia me casar com você porque não tem sangue nobre. Mas prometo que será a minha concubina preferida. Moisés não se importará de dividi-la pois já tem muitas.
Afhany ficou petrificada. Ele a queria mas somente como uma diversão. Teria que seduzi-lo para ser devolvida. Era sua última chance.
_Matheus... Quero lhe pedir algo... Gostaria que me beijasse pois não consigo tê-lo tão perto e não poder toca-lo...
_Oh minha querida! Estou ansioso também! Mas temo que devamos esperar até o ritual. Depois que lhe pedir lhe darei quantos beijos quizer...
_Não Matheus! Por favor não me faça esperar mais... Eu lhe quero tanto...
_Não devia falar assim. -reprovou. - Se Moisés a ouve...
_Se Moisés ouve o que? Uma voz possante adentrou o quarto, como um trovão.
_Senhor?! Matheus estava assustado. - Eu...Já estava de saida.
Matheus fez uma reverência e saiu apressado. Afhany achou-o covarde. Com um suspiro voltou o rosto para o outro lado. Não queria encarar Moisés.
_Quer dizer que está ansiosa? Não imaginava que era tão ardente... Ele disse frio, num tom que indicava sua furia.
Afhany o fitou assustada. Quanto será que ouvira de sua conversa?
_Seu irmão é muito atraente. - Ela mentiu. Na verdade sentia mais emoções perto de Moisés, mas nunca confessaria isso.
_Levante-se!
Afhany olhou-o zangada.
_Não manda em mim!
_Não me desafie! Meus suditos virão vesti-la para o ritual sagrado da virilidade.
_Mas... Esse ritual, não seria daqui a dois dias? perguntou lembrando-se da informação de Matheus.
_Vejo que está bem informada. Mas diante da ardência de minha pupila, temo que seja profanada antes do tempo, por isso vou adiantar o ritual.
_Não pode fazer isso!
Ele deu uma gargalhada e saiu. Após alguns minutos o quarto estava cheio de gente. Deram-lhe banho de rosas, pintaram-na, fizeram a maquiagem e assim que estava pronta sairam todos a deixando a sós. Mirou-se no espelho. Estava irreconhecivel. Seus cabelos lhe caiam como cascata pelas costas. A maquiagem lhe dera um ar selvagem, a roupa lhe era estranha. Apenas algo em ouro para lhe tapar os s***s e a parte mais intima, e em seus braços, mãos, pernas e pés, fizeram-lhe tatuagens de dizeres que não conhecia. De repente sentiu-se cansada. Lembrou-se do chá que alguém lhe trouxera e resolveu toma-lo.
Depois que tomou o chá, sentiu-se bamba, seu corpo relaxou, e tinha a sensação que nada ali era real...
O chá! Devem ter colocado alguma d***a no chá.
Vieram busca-la. Ao contrário de tudo que vira, ou imaginava até então, levaram-na para uma sala, onde haviam apenas cinco pessoas. Uma delas era Moisés, que estava semi-nú. A visão chocou Afhany. Ele vestia um tipo diferente de tanga, parecia aquelas que os indios usam, e era feita de ouro, assim como os braceletes e as tornozeleiras. As outras pessoas estavam com uma espécie de vestido branco com detalhes também em ouro em suas vestes. Eram dois homens e duas mulheres. Moisés estava ao centro e um casal de cada lado. Todos seguravam vasos de ouro nas mãos. Ao fundo, uma mesa nua, mas com dizeres e desenhos que Afhany desconhecia, e uma imagem de um deus de ouro, com cara de tigre.
A sensação de irrealidade aumentou. O deus foi retirado da mesa e colocado com reverência no altar que havia na frente da mesa. Um lençol fora colocado forrando a mesa. Moisés estendeu a mão num mudo convite e ela caminhou para ele como se suas pernas tivessem vontade própria.
Ele a abraçou, e nesse momento as pessoas ali presente, começaram a bater seus pés no chão e a entoar uma canção, no compasso de seus pés.
Seus lábios se juntaram e as pessoas começaram a jogar o liquído do vaso em seus corpos.
Afhany sentiu um estremecimento ao sentir a lingua de Moises invadir sua boca com i********e. A canção, os bate pés e o liquido frio em suas costas, lhe deu letargia, e logo depois um excitamento, que nunca havia experimentado, uma vontade de ser possuida, invadida. Moisés a pegou pela mão e a levou para a mesa. Deitou-a e a despiu das poucas coisas que usava lentamente.
Assim que ficou nua, a música parou, os batuques dos pés também. Afhany olhou em volta. As quatro pessoas estavam ao redor da mesa e diziam coisas como se celebrassem algo. Moisés a devorava com o olhar, enquanto a apalpava, diante de todos. Voltou a olha-lo nos olhos e o que viu a fez sentir medo. Ele estava nú, e seus olhos antes tão negros, estavam vermelhos. Seus cabelos compridos estavam soltos e só agora ela percebera que tinha um brinco na orelha com forma de um tigre, e ele obsevava-a como um animal feroz e faminto.
A letargia passou. E o excitamento também. Só queria fugir dali, do medo e da humilhação de ser possuida na frente daquelas pessoas.
Começou a espernear e a gritar, mas logo suas mãos foram presas e seus pés também. Não demorou a descobrir o que estava acontecendo. As pessoas que lá estavam a seguravam, seus gritos foram abafados pelas palavras que diziam todos ao mesmo tempo. Apavorada, sentiu que abriam suas pernas. Uma dor lacinante a invadiu assim que Moisés a penetrou com violência. Soltou um grito que ecoou por todo recinto, agora que o silêncio dominava o ambiente. Afhany sentia o sangue escorrer pelas pernas e as lágrimas quentes pelo rosto, enquanto Moisés continuava a invasão, alheio, mas com o olhar de triunfo.
Afhany fechou os olhos e só os abriu novamente quando sentiu que aquele peso não estava mais sobre si. Levantaram-na e a gritaria começou novamente, enquanto colocavam um robe de seda vermelho em seu corpo e marcavam sua testa com tinta branca.
Moisés pegou o lençol onde deixara a a marca de sua pureza e abrindo a porta exibiu-o as pessoa que estavam esperando do outro lado da porta, e essas começaram a dançar felizes. Afhany considerou tudo bárbaro demais. E ficou se perguntando onde estaria realmente.
Foi levada ao palácio, onde a apresentaram seu quarto e a trancaram dentro dele. Afhany olhou desolada para o quarto ricamente mobiliado. Nada a compensaria. Era uma prisioneira.
Logo apareceram algumas mulheres e a colocaram na banheira com água perfumada. Se sentiu melhor, mas não conseguia esquecer o que havia lhe ocorrido.
Acabado o banho, foi tirada da agua e envolvida num roupão e levada para a cama e deixada sozinha. Sem observar o ambiente com atenção, deitou-se e dormiu imediatamente.
Quando acordou, sentiu um corpo quente colado ao seu. Nem precisou abrir os olhos para saber quem era.
Se recriminou a descobrir que lhe agradava o calor daquele corpo.
Das outras vezes que a possuiu aquela noite, Moisés se mostrara mais carinhoso, mas Afhany se recusava a deixar que seus encantos a seduzisse. Se deixou possuir como uma autônoma.
_Você é muito fria, mas irei quebrar esse gelo...
_Queria que lhe correspondesse depois de tudo que me fizera?
_Não me importa se me corresponder ou não... Tem o corpo mais lindo que já vi, e contento-me em poder desfruta-lo.
_O senhor é mesmo o homem mais nojento que tive o desprazer de conhecer.
Ele se levantou.
_Descanse Afhany! Á noite vai precisar de toda essa energia que tem na lingua para me satisfazer... Acho que devia mandar arranca-la... - Ele disse sério e pensativo. - Mas ela será de grande valia nos prazeres que imagino para nós dois.
Moisés saiu, mas deixou Afhany pensativa. Levantou-se devagar e foi mirar-se no espelho. Realmente era bonita. Seus cabelos eram vermelhos da cor do fogo e tinha os olhos verdes e um corpo bem proporcionado. Só não era muito alta. Mas tinha certeza que sua aparência ia ajuda-la. Era a única arma que tinha. Iria se vingar. Voltou para a cama e acabou adormecendo.
Acordou sentindo que alguém passava a mão em seu cabelo. Aliviou-se ao deparar com o sorriso afetuoso de Matheus.
_Oi! Disse ele alegre.
_Oi... Que bom que é o senhor.
_Acho que não se deu muito bem com meu irmão...
_E como poderia? Ele me comprou e humilhou!
_Sabe que já a pedi?
_E ele aceitou?
_Disse que lhe dividiria comigo. Mas só depois da semana da virilidade.
_Ele tem muitas outras concubinas?
_Até que não... Com você soma três.
_E elas são "divididas" também?
_Não, elas vivem a brigar por sua companhia...
_Que horror! Elas nunca se revoltaram de viver essa vida?
_Revoltar? Mas do que está falando? Todas são felizardas, por serem escolhidas, pois tem vida de rainha e são as mais belas de todo o mundo. Seus valores são inestimáveis.
Afhany estava cada vez mais chocada e perplexa. Como alguém podia aceitar um homem que a usava como um brinquedo caro?
_Afhany, se arrume que vou leva-la para conhece-las. Vou sair para que se vista e volto já.
Afhany esperou que ele saisse para se levantar. Vestiu uma roupa qualquer, sem prestar muita atenção na riqueza das vestes em seu armário. Logo Matheus voltou e começaram uma verdadeira excursão pelo palácio. Sem querer Afhany acabou por se interessar pelo lugar, que era cheio de histórias e mitos dos antepassados. Cada cômodo, cada móvel, cada objeto tinha sua história. Depois de caminharem por quase todo o palácio, pois Matheus lhe revelou que para lhe mostrar todo o palácio precisaria de pelo menos dois dias, foram por um corredor enorme que levava aos aposentos da primeira concubina. Nesse corredor haviam muitos retratos de reis. E perguntou á Matheus quem eram. Matheus contou com orgulho.
_Esses são nossos antepassados. Vou lhe contar um segredo. Todos os grandes reis da nossa família tinham poderes ocultos concedidos pelo nosso deus Théo. Théo é o deus da magia e poderes ocultos.
_Que poderes?
_Eles podiam ver como alguém ficaria no futuro. Se seria belo ou não. Era assim que os reis escolhiam as concubinas e esposas mais belas para seus filhos. Foi assim que meu pai a escolheu para Moisés. Os reis viajavam o mundo inteiro, escolhendo as concubinas e esposas assim que seus filhos nasciam. Compravam e nomeavam um guardião até que tivessem idade para servir ao filho. Mas meu bisavô achou que esse poder era muito pouco, ele almejava outros poderes, e então consultou o deus Théo sobre se era-lhe possível, e o deus exigiu que lhe conseguisse uma mortal por quem tinha se tomado de amores e essa mortal era a concubina preferida de meu bisavô. Com muita tristeza ele a sacrificou e ofereceu-a ao deus que ficou muito contente e cumpriu sua palavra e acrescentou a ele e a sua geração também o poder de ler mentes e adivinhar o futuro, mas a concubina que se tornou também uma deusa e suas palavras se tornaram mágicas, ficou furiosa e junto com os poderes mandou uma maldição... Poderíamos adivinhar o futuro, mas nos transformaríamos em tigres ferozes toda vez que usassemos esse poder. E toda vez que nos deitassemos com uma mulher teríamos que satisfazer primeiro o g**o da fera. Por isso que temos que realizar até hoje o ritual da virilidade. Pois a fera que existe em nós exige que a saciemos.
_Por isso que existe aquela imagem de tigre onde fui violentada? E agora me lembro... Os olhos de seu senhor estavam... Diferentes.
_A fera exige que a moça seja donzela. E é verdade. Nossos olhos mudam de cor toda vez que nos deitamos com uma virgem.
_Mas isso é apenas lenda. Não podem de verdade ler nossas mentes!
_Não é lenda, Afhany. Saiba que nunca me enganou. Li sua mente. Mas a desejo assim mesmo. será minha. Mas não vai tirar muita vantagem disso.
Afhany o olhou intrigada e confusa. Então ele sabia que ela pretendia usa-lo para se vingar?
_Venha! Ele disse abrindo uma porta.
Para a mente de Afhany, aquela porta era seu caminho para a liberdade. No entanto, seu coração sincero lhe dizia que aquilo era apenas o princípio. E que nada mudaria sua real condição. Atravessou a porta e viu o luxo do corredor a sua frente, sabendo que estava presa aquilo para sempre.